sexta-feira, novembro 19, 2010
O Jogador
“O Jogador” foi escrito na mesma altura em que “Crime e Castigo”. Este segundo iria abordar originalmente os problemas causados pelo alcoolismo, porém a história cresceu noutra direcção e tornou-se algo diferente. Apesar de a temática do álcool ter sido mantida a partir de alguns personagens, deixaria de ser o cerne da história (ver Crime e Castigo). Isto apenas para referir que estes dois livros nasceram da ideia de vícios, “Crime e Castigo” do álcool e “O Jogador” do jogo, neste caso em particular focando-se na roleta.
A história tem início com a chegada de Alexei Ivanovich, o narrador, a Roletemburo, uma cidade Alemã conhecida pelos seus casinos. Nela encontra-se já hospedada a família daquele que é conhecido por General, uma família Russa na qual Alexei trabalha como tutor. Ao chegar começa logo a desconfiar de várias atitudes por parte do General, que se revelam algo desesperadas no que toca a dinheiro, e das suas mais recentes companhias, entre as quais o francês De Grieux, que Alexei detesta, e a Madamoiselle De Cominges uma mulher lindíssima que parece ter conquistado o coração do pobre General. A pouco e pouco Alexei começa a desvendar o que se passa, principalmente quando percebe que Polina, a enteada do General e sua amada, também está envolvida e poderá precisar de ajuda.
A relação que Alexei e Polina mantêm é verdadeiramente particular ou talvez particularmente verdadeira. Alexei é um homem astuto e até bastante orgulhoso, no entanto, não hesita em humilhar-se perante Polina. Ele ama-a tanto que se tornou seu escravo, fazendo tudo o que ela lhe pedir, mesmo que isso inclua atirar-se de um precipício abaixo. Esta foi a forma que Alexei encontrou de passar o máximo de tempo com ela, tornando-se numa espécie de seu confidente. Infelizmente para ele, Polina despreza-o, mas por vezes, em alguns preciosos momentos, Alexei jura que consegue vê-la como mais ninguém e isso para ele é inestimável.
Dostoevsky era também, um entusiasta da roleta, por isso a sua descrição do jogo e, mais importante, de um jogador, são rigorosíssimos. Aquela impaciência que se sente por nunca mais chegar a hora de podermos jogar, os minutos que se transformam em horas tão rápido que quando nos apercebemos já passámos um dia inteiro a jogar e curiosamente sem sentir necessidade de mais nada. A frustração da derrota que nos enfurece e não nos deixa parar e aquele perigoso sabor doce, Oh tão doce e passageiro, da vitória. Tudo isto são sentimentos que são comuns na vida de um jogador, seja o jogo da roleta, ou do poker ou de outro qualquer, quem já jogou de certeza que já os vislumbrou e quem é jogador vive-os todos os dias.
Para terminar a cereja no topo do bolo, a ironia das ironias, “O Jogador” foi escrito para pagar as dívidas de jogo do autor. Caso não terminasse o livro a tempo o seu cobrador ficaria com o direito de publicar as suas obras durante 9 anos sem qualquer tipo de remuneração.
PS: Depois de o ler acabei por ir ao “Estoril Film Festival”, onde fui ver o “Scott Pilgrim VS The World”. No final acabámos por ir espreitar a sala de jogo, fiquei a olhar para a roleta, ao vivo e a cores, pela primeira vez. Nunca foi um jogo que me tinha atraído…até agora. Não joguei claro, mas tenho de experimentar um dia. Não se preocupem está tudo controlado, não há problema, a sério que não há é só vencer uma vez e ir embora, depois nunca mais volto não me deixo enganar como os outros, até tenho um método e tudo é que as probabilidades vão por água abaixo com o desgaste do material, é só descobrir quais os números em que a bola cai mais e apostar nesses, é isso, descobri, está feito, até uma próxima.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Acho que já te tinha dito que este livro era bom. Acho que não só os calhamaços de colocar debaixo da perna da mesa que são bons em Dostoyevski. Neste livrinho tão pequeno tens uma história bastante rica em pormenor, em caracterização de personagens, etc., etc. Também gostei muito na altura em que o li :)
Já tinhas sim :)
A quantidade não é sinónimo de qualidade concordo com isso. Adorei ler este livro.
Já agora outra analogia entre este e o Crime e Castigo. Por isso SPOILERS para quem não os leu:
O Jogador é um livro mais leve e descontraído mas o final deixou-me tristíssimo. Uma pessoa até pode imaginar o final de um livro com este título mas estava tão entretido na história que o autor puxou-me o tapete nos últimos capítulos foi tudo repentino.
O Crime e Castigo foi ao contrário, é mais pesado mais esgotante, o despero de Raskolnikov ao longo do livro mostra-nos como sofre, mas o final foi mais feliz. é verdade que ele acaba preso, mas tem Sónia e há uma promessa de uma nova vida, Raskolnikov tem uma conversão no final que termina o livro com um grau de esperança.
Pronto queria dizer isto nada de especial :P
Sim, concordo contigo. Eu já me lembro vagamente de "O Jogador". Queria reler era "O Idiota". Tens de ler esse. Até agora é o meu favorito.
O Idiota vai ser o próximo dele, ams ainda tneho de o comprar ou esperar que o pai Natal o ofereça :)
Enviar um comentário