terça-feira, março 26, 2013

De rouille et d'os


Em português "Ferrugem e Osso" é o mais recente filme de Jacque Audiard, realizador de "Un prophète" e "De battre mon coeur s'est arrêté". Ambos filmes bem conceituados mas que ainda não tive oportunidade de assistir. Contudo, "De rouille et d'os" apresentou-me um realizador inteligente, sensível e que dá vontade em conhecer mais e mais.

Este é um Drama com d maiúsculo! Saímos do cinema com a sensação de um cansaço físico, o coração sofreu e com ele o resto do corpo. Mas, o filme de Audiard não cai em exageros melodramáticos, sendo muito sóbrio, maduro e realista/actual. Um belo filme de onde destaco uma das cenas finais, falo da conversa ao telefone entre os protagonistas, uma entrega soberba da parte de Matthias Schoenaerts à sua personagem. Tanto ele como Marion Cotillard estão fantásticos nos seus papéis criando uma relação memorável entre duas pessoas "quebradas" que encontram uma na outra, o seu porto de abrigo.

segunda-feira, março 25, 2013

MiniZine Nº2 Março de 2013


 As edições Sanktio Comix estão de regresso com o lançamento do MiniZine 2. De momento este fanzine apenas se encontra disponível em formato digital, cujo download gratuito pode ser efectuado aqui, ou consultado no final deste post.

Para terem mais informação sobre este e outros projectos, não deixem de passar pelo blog de Chaka Sidyn (Bruno Campos).

Segue o comunicado de imprenssa:

O MiniZine Nº02 está finalmente disponível.

Após um primeiro número onde predominava o drama urbano o segundo número apresenta também duas histórias de ficção-científica e acção.

Pode ser literal ou só sentimental, mas o luto é algo que todos fazemos, e em alguns casos, várias vezes. Os pormenores podem variar, mas o essencial permanece sendo esses aspectos que são explorados em as 5 fases do luto, uma história ilustrada por Armando Mártires.

Os invasores do Espaço, como o próprio título indica é uma história de ficção-científica ilustrada por Peebo Mondia que evoca o espirito das histórias da EC Comics da década de 50. Depois de séculos de subserviência, obediência e exploração os escravos de D€U$ pegaram em armas clamando pelos seus direitos em Revolução, uma história ilustrada por Rafael Desquitado.

Os argumentos e balonagem das 3 histórias é da responsabilidade de Chaka Sidyn, sendo a ilustração da capa da autoria de Quico Nogueira. 

Bruno Campos e Alexandre Rolo












MiniZine Nº2 Março de 2013
Um edição Sanktio Comix
Autores: Chaka Sidyn, Armando Mártires, Peebo Mondia, Rafael Desquitado e Quico Nogueira.
Formato: 28 páginas 10,5x16 cm
PVP: Edição Digital Gratuita


sexta-feira, março 22, 2013

Star Trek: Into Darkness - Trailer



"Star Trek: Into Darkness" será histórico nem que seja pelo simples facto de ser o primeiro filme da saga em que vamos torcer pelo vilão.

Starring:

- Sherlock Holmes;
- Sylar;
- Robocop.

Also Starring:

- Chau
- Eomer
- Tim Bisley
- and also a blue chick from Avatar

quinta-feira, março 21, 2013

Rugas


Mais uma novidade editorial chega ao nosso mercado, desta vez pelas mãos da Bertrand, que edita “Rugas”, do autor espanhol Paco Roca.

É um livro lindíssimo, com uma história que tem tanto de divertida como de assustadora, onde as páginas transbordam de emoção. Falei deste livro na Rua de Baixo e podem ler mais sobre ele aqui. Mas em tom de síntese, quero apenas dizer que o livro me fez chorar - solto a palavra batoteiro para quem já leu -, porque não há elogio mais forte que lhe possa dar. É mesmo muito bom.

E agora tenho passado a semana toda a ouvir isto:




Crulic: The Path to Beyond


O mais recente filme da romena Anca Damian, “Crulic: The Path to Beyond”, foi exibido esta semana no festival MONSTRA no âmbito da competição de longas metragens.

Neste filme, Anca Damian, pretende dar-nos a conhecer a história de um conterrâneo seu, Claudiu Crulic, um romeno que aos 33 anos de idade faleceu numa prisão polaca devido a uma greve de fome. O filme começa com a notícia da sua morte que, pela voz de Vlad Ivanov, nos irá recontar a história da sua vida a culminar neste fatídico e trágico dia.

Para saberem mais sobre o grande vencedor do festival MONSTRA (prémio melhor filme) - e o qual aconselho fortemente a sua visualização - falei dele aqui.

quarta-feira, março 20, 2013

Fairy Quest: When 1984 meets Fabletown


"Fairy Quest: Outlaws" é a BD mais recente do argumentista Paul Jenkins e do desenhador Humberto Ramos. Há três coisas que quero salientar brevemente neste livro.

A primeira já mencionei no título. Qual a probabilidade de o livro que pegasse a seguir ao "1984" ser uma clara inspição vinda da história de Orwell? Pensei que não seria grande, mas para meu espanto aconteceu. Em "Fairy Quest: Outlaws" as fábulas vivem em comunidades e são forçadas todos os dias a reproduzirem as suas história sem nunca se poderem desviar das mesmas. Caso o façam serão severamente castigados por Grimm o ditador lá do sítio. Para manter as fábulas na linha Grimm conta com uma força policial chamada "Think Police" - numa clara alusão à "Tought Police" de "1984". Em casos mais drásticos as fábulas mais rebeldes sofrem lavagens cerebrais, esquecendo tudo porque passaram e retornando aos seus papéis, mais uma vez a influência da obra de Orwell é mais que notória, é a base de toda a história.



Em segundo lugar venho salientar que este é mais um projecto nascido graças ao Kickstarter, uma forma que parece cada vez mais promissora para a realização de vários novos projectos. Quem contribuiu para o projecto teve direito a uma edição em capa dura da história completa. Os restantes podem adquirir em formato comic (2 comics), onde o primeiro já se encontra disponível nas lojas de BD e tendo sido editado pelo selo "BOOM". É possível que haja edições, ou venha a haver, em capa dura deste livro, mas para já desconheço-as.

Por fim, há que salientar que após um novo boom de vampiros e depois zombies, parece que os contos de fada vieram para ficar durante uns tempos, que o digam a série "Once Upon a Time" e os três filmes sobre a branca de neve: "Mirror Mirror", "Snow White and the huntsman" e, mais recentemente, "Biancanieves".
No que toca a reinventar fábulas o rei, para mim, continua a ser o senhor Bill Willingham que em 2002 publicou pela Vertigo essa mítica série - que ainda continua - que é "Fables".


terça-feira, março 19, 2013

Dostoiévski e Tolstói


 Muito se escreveu, muito se escreve e muito se escreverá sobre aqueles que são considerados os dois maiores nomes da literatura Russa. Existem até livros (pelo menos um) que discutem os dois autores em particular. Várias discussões em que - como se de uma competição se tratasse - se procura "o melhor". Sobre isso, nada melhor que colocar uma citação de cada autor sobre o trabalho do seu conterrãneo. Porque sabe mesmo bem ver o prazer que ambos tinham no trabalho um do outro e isso sim é que importa, não quem chega primeiro à linha de chegada, pois isto nem sequer é uma corrida.


Anna Karenina is sheer perfection as a work of art. No European work of fiction of our present day comes anywhere near it. Furthermore, the idea underlying it shows that it is ours, ours, something that belongs to us alone and that is our own property, our own national 'new word'or, at any rate, the beginning of it.

Fiódor Dostoiévski



Just recently I was feeling unwell and read House of the Dead. I had forgotten a good bit, read it over again, and I do not know a better book in all our new literature, including Pushkin. It’s not the tone but the wonderful point of view – genuine, natural, and Christian. A splendid, instructive book. I enjoyed myself the whole day as I have not done for a long time. If you see Dostoevsky, tell him that I love him.

Lev Tolstói in a letter to Strakhov, September 26, 1880.



segunda-feira, março 18, 2013

From Up on Poppy Hill


No festival MONSTRA foi apresentado um dos últimos filmes oriundos do famoso estúdio Ghibli, falo de “From Up on Poppy Hill”, de Gorō Miyazaki. Pelo nome é simples fazer a ligação familiar, Gorō é o filho de um dos nomes mais importantes da animação japonesa Hayao Miyazaki. Um nome que se prova poderoso e para isso basta confirmar a maior afluência que se deu no São Jorge para a visualização deste filme. Claro que, se por um lado o nome Miyazaki veio abrir várias portas a Gorō, por outro, eleva a fasquia dos seus filmes a um patamar muito elevado – não há bela sem senão.

Apesar de o filme ser realizado por Gorō Miyazaki também conta com o envolvimento do seu pai, que juntamente com Keiko Niwa esteve responsável pelo argumento do filme, uma adaptação do manga de Chizuru Takahashi e Tetsurō Sayama. Num filme em que a paternidade tem um papel tão importante, esta colaboração entre pai e filho torna-se ainda mais especial.



O filme desenrola-se nos anos 60 num Japão pós-guerra. Umi Matsuzaki é uma jovem estudante de liceu que vive e trabalha na pensão Coquelicot Manor. A sua vida é, na sua maioria, rotineira. Todas as manhãs Umi levanta-se para preparar o pequeno-almoço, mas não sem antes içar algumas bandeiras num mastro, enviando mensagens para o seu falecido pai, um marinheiro que morreu durante um ataque na Coreia. Daqui segue-se a escola e depois Umi regressa aos serviços domésticos da pensão.

Tudo isto muda quando Umi conhece Shun Kazama que, graças ao seu carisma e dedicação, rapidamente conquista o coração da menina. Shun, juntamente com alguns colegas seus, está envolvido num protesto que pretende salvar a Quartier Latin, uma casa histórica que o director escolar tem a intenção de demolir e que os alunos ocuparam para os seus vários grupos de estudo – literatura, química, filosofia (mesmo que tenha apenas um membro), entre outros.

Ao Umi conhecer a famosa Quartier Latin identifica-se com a causa tornando-se uma peça essencial nesta batalha. E assim, com o objectivo de salvar o edifício, Umi e Shun vão cada vez mais se aproximando um do outro, acabando por descobrir que a vida de ambos já estava ligada ainda antes de se terem conhecido. 



”From Up on Poppy Hill” tem todo um ambiente muito saudosista. Começando pelo argumento que nos remete imediatamente para uma determinada fase dourada da nossa infância, bem como o retrato de um Japão mais antigo. Em termos da animação é de salientar a atenção dada aos cenários, nomeadamente às paisagens, algo que poderá estar intrinsecamente ligado à primeira área profissional do realizador, que se formou na escola de agricultura da universidade Shinshu, antes de ter enveredado pelas pisadas do pai. Gorō, afastou-se cedo da animação por considerar que nunca atingiria o nível do seu pai, felizmente nos últimos anos acabou por reconsiderar e baseando-nos neste filme, ainda bem que o fez.

Independentemente da qualidade da história, sempre directa e que se desenvolve sem grandes surpresas, “From Up on Poppy Hill” possui um certo charme de tempos passados, de sentimentos puros e de causas justas, que é absolutamente irresistível. No seu âmago é um filme carregado de bons sentimentos, que nunca são demais recordar.

Publicado originalmente na Rua de Baixo no âmbito do festival MONSTRA 2013.

Fringe - Temporada 2



SPOILERS

Tendo já começado a ver a terceira não convém deixar passar muito tempo mais para assinalar a conclusão de mais um capítulo desta série.

Vou começar pelo pior dizendo que "Fringe" não é perfeita, recorrendo por vezes a facilitismos demasiado grandes e esquecendo-se até de passar episódios - a dada altura nesta temporada surge um episódio que claramente era cronologicamente anterior. No entanto, "Fringe" continua a crescer em qualidade prendendo-nos cada vez mais a ela, quanto mais a sua "narrativa principal" se revela. Walter, Olivia, Peter, Astrid e Broyles, já são "família".

Como já deu para perceber esta segunda temporada é melhor que a primeira. O duplo episódio da season finale a recordar "Lost" é do melhor que a série nos deu. Digo a recordar "Lost" não só por ser duplo, mas porque tem aquele grande momento "We need to go back" - só que desta vez entre Olivia e Peter.

Um excelente episódio que nos leva finalmente a conhecer melhor o outro lado. Só estranhei a façanha de William Bell ser suficiente para levar Walter e companhia de regresso a casa, pensava que "os poderes" de Olivia seriam indespensáveis. Talvez mais um buraco no argumento da série, talvez não.

John Noble continua impecável como Walter - sem este homem não haveria Fringe - e desta vez ainda nos deu uma outra personagem excelente e tão diferente da sua, o Walternate. Anna Torv cresceu a olhos vistos, já nem me lembro porque não me impressionou no início. E continuo a gostar do Peter de Joshua Jackson que desta vez se deparou, finalmente, com a verdade sobre a sua origem, estava ansioso por este momento.


Nota: Atenção que ver demasiados episódios de Fringe seguidos pode resultar em sonhos torbulentos.

domingo, março 17, 2013

MONSTRA 2013: SEGUNDO DE CHÓMON – RETROSPECTIVA


Uma das retrospectivas mais aliciantes, a decorrer no festival MONSTRA, foi a de Segundo de Chómon. Considerado o realizador espanhol mais importante da era do cinema mudo e cujos famosos truques de câmara lhe valeram comparações com Georges Méliès, tendo sido até alcunhado de “O Méliès Espanhol”. É perfeitamente lógico, se não mesmo, inevitável comparar os trabalhos de ambos os realizadores, contudo, é de salientar que, se Méliès foi um pioneiro no campo da edição, Chomón, foi-o no da animação.

Mais sobre esta retrospectiva - um dos pontos mais fortes do cartaz deste ano - aqui.

sábado, março 16, 2013

Who Framed Roger Rabbit na MONSTRA




Porque nunca é demais lembrar, "Who FRamed Roger Rabbit", vai passar amanhá às 20h00 no Cinema City Alvalade no festival MONSTRA. Este é um dos melhores filmes dos anos 80, uma verdadeira pérola cinematográfica que para mim é o maior triunfo de Robert Zemeckis (este e o Back to the Future).

Um dos filmes que mais vi na vida e que tenho descurado das listas que construí de filmes da minha vida, onde este merece certamente um lugar.

A quem puder ir, não percam a oportunidade de recordar porque os anos 80 trouxeram tanta diversão e criatividade ao cinema.

Entretanto aproveito para sublinhar a qualidade do cartaz deste ano que tanto em termos de clássicos como de novos projectos está muito bem servido. Falarei sobre mais filmes quando os artigos que fiz sobre os mesmos forem publicados na Rua de Baixo.

sexta-feira, março 15, 2013

MONSTRA 2013 – Brasil e Espanha


Este ano o festival MONSTRA teve não um, mas dois países convidados - Brasil e Espanha - o que resultou em duas sessões de abertura.

Na primeira, a do Brasil, destaque para a curta “Rai Sossaith” (2011) de Thomas Larson e "Um Outro" de Chico Liberato, um dos realizadores homenageados e presentes no festival.

Na sessão de abertura dedicada a Espanha exibiu-se "O Apóstolo" filme galego em stop-motion que muito tem dado que falar (também passou pelo Fantas). Mas antes tivemos direito a uma curtíssima viagem no tempo sobre o cinema de animação espanhol com  a exibição de “Electric Hôtel” (1908) de Segundo de Chómon e “Sinsis” (2012) de Carmen Lloret.

Para saberem mais podem ler aqui o artigo que escrevi sobre ambas as sessões e que já se encontra disponível na Rua de Baixo.

quinta-feira, março 14, 2013

Kick Ass II - Trailer



Aqui está o trailer de "Kick Ass II" na sua versão para homens com pêlo no peito aka red band trailer.
Parece que Count Vronsky e Carrie estão de regresso para continuar a missão que haviam começado no primeiro filme. Ela cresceu um pouco e ele tem os abdominais todos no sítio.

terça-feira, março 12, 2013

Genesis - A Trick of the Tail


"A Trick of the Tail" de 1976 é o sétimo disco dos Genesis e um que marca mais um ponto de viragem na carreira desta banda. Trata-se pois do primeiro álbum lançado após a saída de Peter Gabriel depois de "The Lamb Lies Down On Broadway". Nesta fase os membros dos Genesis são: Tony Banks, Mike Rutherford (membros fundadores), Steve Hackett e Phill Collin.

Como podem ver pela imagem todo o design da capa é de grande qualidade, onde aproveito para salientar o papel que contém as letras, recheado de desenhos oriundos da capa principal e que contribuem para enaltecer toda a componente ligada à imagem, algo que sempre me pareceu ser uma preocupação da banda.

Mas mais que qualidade estética, "A Trick of the Tail", é um grande álbum de música e que afastou os fantasmas de que com a saída de Gabriel os Genesis teriam "terminado". Longe disso - e isto vem de um fã incondicional da fase com Peter Gabriel - este álbum foi a prova viva de que os Genesis se encontravam vivos, de boa saúde e arecomendarem-se, afinal de contas, não era só Gabriel que fazia a banda.

Collins que assume a voz principal prova também que tem o estofo necessário para o papel. Um álbum icónico e indespensável para quem gosta desta banda que tantas mudanças sofreu ao longo dos anos.

Daytripper




Podia ser a canção dos Beatles, mas não. "Daytripper" é um dos trabalhos de BD mais consagrados da dupla Fábio Moon e Gabriel Bá, dois irmãos gémeos do Brasil - "O Gabriel é o que usa sempre chapéu" avisam-me no Festival Internacional de BD de Beja para os distinguir facilmente.

Ora ao fazer uma visita ao blog Leituras do Pedro descobri que  "Daytripper" vai ser distribuido por cá pela panini, o que é uma excelente notícia. Mal posso esperar


segunda-feira, março 11, 2013



Sequência musical do filme "Holy Motors", um dos meus momentos preferidos do filme.

sexta-feira, março 08, 2013

Nineteen Eighty-Four




O primeiro livro que me aventurei a falar aqui no blog foi “Animal Farm” de George Orwell. Foi também o primeiro livro (prosa) que experimentei ler em inglês. Trata-se de um livro especial por uma data de particularidades pessoais, mas acima de tudo porque é uma obra fascinante e uma lição de vida também.

Segue-se a leitura de “1984” um livro cuja importância a nível humano é tão ou maior que a nível literário. O livro de Orwell contém uma mensagem tão forte e tão educativa que devia ser uma leitura obrigatória para todos nós. A maior prova de que marcou a História é a de que hoje em dia todos – mesmo quem não leu – o conhecem, o seu impacto foi tão grande que ainda hoje determinadas nomenclaturas do livro continuam a ser usadas, veja-se o caso do termo “Big Brother”.  É também uma obra muito influente, onde rapidamente nos lembramos de “V For Vendetta” na banda desenhada, de “They Live” no cinema ou dos Rage Against The Machine na música (atente-se na letra de “Testify”).

A narrativa tem início com a chegada de Winston – o protagonista - a casa. Acompanhamo-lo enquanto sobe as escadas e passa pelos posters do líder – quase omnipresente - Big Brother. Ao entrar em casa Winston encosta-se imediatamente à janela de costas para uma espécie de televisão. Winston está de costas para a televisão porque ao contrário das nossas (quero crer) têm tanto a capacidade de emitir imagem como de a receber. Ele não pode manter as costas voltadas eternamente, seria um acto suspeito, porém, nem que seja por um minuto apenas, Winston consegue observar o mundo pela sua janela sem ter de se preocupar com os contornos que a sua face assume, deixando cair momentaneamente a sua "máscara".

War is peace.
Freedom is slavery.
Ignorance is strength

É um início sublime pois todos os pormenores das acções de Winston rapidamente nos situam na acção da história. Estamos em Airstrip One uma cidade que em tempos passados pertenceria a Inglaterra, mas que hoje faz parte dos domínios de Oceania uma das três grandes potências que dominam o mundo e que se encontram em permanente estado de guerra. O cenário é o de uma das distopias mais assustadoras que li, onde o ataque à liberdade humana é tanto físico, como mental.

Em “Animal Farm” o autor retratou a formação de uma sociedade e o seu posterior desenvolvimento numa ditadura. Fê-lo de forma alegórica usando os animais de uma quinta para representar as diferentes classes sociais. Desta vez em “1984” o regime totalitário já está implementado quando começamos a leitura, aqui o importante não é debruçarmos-mos na criação de uma ditadura, mas antes na sua manutenção no poder, indefinidamente – o objectivo do partido.

If you want a picture of the future, imagine a boot stamping on a human face—forever.

O desenvolvimento das ideologias políticas inerentes ao partido – apelidado de “The Party” – são muito bem desenvolvidas e fundamentadas pelo autor que tem um trabalho exemplar na criação desta sociedade futurista - futurista na altura (felizmente nada disto aconteceu) -, mas que poderia ter sido imaginada hoje. O autor chega até a construir uma nova linguagem - o newspeak - que pretende  tornar-se a língua oficial de Oceania e que consiste na destruição de uma série de palavras a fim de destruir uma série de conceitos. Desta forma mesmo aqueles que tiverem pensamentos rebeldes não conseguirão transmiti-los por palavras – é quase um voltar ao ponto de partida.

É neste tipo de pormenores que a obra de Orwell se eleva à excelência. Veja-se por exemplo a importância da profissão de Winston. Segundo o partido quem controla a mente do Homem controla a realidade. Sendo assim, aquilo em que o Homem acreditar aconteceu e é aqui que entra um factor crucial na governação do partido, que é o controlo do passado. Se o futuro é escrito pelos vencedores podemo-nos questionar da veracidade daquilo que nos foi ensinado, porém, em Oceania este mote é levado ao extremo. O Partido está constantemente a alterar a documentação referente aos acontecimentos que ocorreram, de forma a estarem sempre de acordo com as medidas e acções do mesmo, afinal de contas, o grande líder “Big Brother nunca poderia estar errado. O passado tornou-se assim maleável e obsoleto.

He who controls the past controls the future. He who controls the present controls the past.

Claro que é preciso ter sempre em mente que todas estas acções funcionam porque são utilizadas em conjunto e não separadamente. A alteração do passado é possível porque ninguém o questiona e aqueles que têm bases para o fazer rapidamente são excluídos da sociedade. Aqui também exerce um papel determinante o conceito de doublethink*, termo criado por Orwell e escrito em newspeak que consiste, por parte do individuo, na aceitação de dois conceitos contraditórios como estando correctos. Parece complicado de exercer, porque é complicado de exercer, pelo menos para nós enquanto livres-pensadores. 

Neste sentido nunca é demais reforçar a qualidade da construção desta sociedade por parte do autor que delineou tão bem o papel das três classes imutáveis na História – a alta, média e baixa - bem como da interminável guerra entre as três potências mundiais para a manutenção deste regime.

Neste ambiente temos a história de Winston (classe média) um homem que teima em manter o seu espírito livre, insistindo que deve haver mais na vida do que aquilo que lhe é ensinado. Um homem que tem noção das consequências das acções do partido e que está disposto a abdicar de tudo para as impedir. Winston sabe que uma revolução não nascerá da noite para o dia, que é trabalho de gerações e gerações, contudo, é a própria humanidade, tal como a conhecemos, que está em perigo de extinção, e esta é uma luta que para ele vale qualquer sacrifício.

If you can feel that staying human is worthwhile, even when it can't have any result whatever, you've beaten them.

As personagens secundárias com que Winston interage, ainda que poucas – não é suposto haver muita interacção –, são fundamentais para nos darem diferentes visões das várias pessoas que povoam esta distopia. Atente-se por exemplo no conceito de família, cada vez mais erradicado pelo partido, mas que ironicamente usa a expressão "Big Brother" para apelidar o seu líder.

1984 é um livro que tem tanto de excepcional como de sufocante, é uma história que mexe com os nossos sentimentos mais primários e que nos continua a marcar por muito tempo após a sua leitura (são estes os melhores livros).1984 em uma palavra? Imprescindível.



* para uma definição mais ampla do conceito doublethink coloco um excerto do livro:

To know and not to know, to be conscious of complete truthfulness while telling carefully constructed lies, to hold simultaneously two opinions which cancelled out, knowing them to be contradictory and believing in both of them, to use logic against logic, to repudiate morality while laying claim to it, to believe that democracy was impossible and that the Party was the guardian of democracy, to forget, whatever it was necessary to forget, then to draw it back into memory again at the moment when it was needed, and then promptly to forget it again, and above all, to apply the same process to the process itself – that was the ultimate subtlety; consciously to induce unconsciousness, and then, once again, to become unconscious of the act of hypnosis you had just performed. Even to understand the word 'doublethink' involved the use of doublethink.

quinta-feira, março 07, 2013

We Need To Make Books Cool Again


Como sempre Waters no seu estilo inconfundível.

Gosto da ideia de tornar os livros cool novamente. Tenho andando a pensar em actividades desde que li esta frase. De momento criei com uns amigos um clube de leitura, vamos lá ver se vai resultar. Tentarei ir falando de todos os livros escolhidos, o primeiro foi o "1984" de Orwell.

quarta-feira, março 06, 2013

O Regresso a "The Dreaming"



Porque este ano regressa uma das séries mais épicas da BD - The Sandman - é caso para dizer o mesmo que Jack disse a Kate no final da terceira temporada de Lost: WE HAVE TO GO BACK!



Aproveito e mostro os autógrafos que tenho relacionados com a obra, todos de Dave Mackean. O primeiro é um desenho de Morpheus feito no Festival de Beja e o segundo um desenho - também Morpheus - no primeiro volume da edição absolute e que foi feito no festival da Amadora.






segunda-feira, março 04, 2013

Los Olvidados



O nome Luís Buñuel tornou-se sinónimo de surrealismo no cinema. Ninguém hoje discute a exploração desta corrente artística na sétima arte sem mencionar o nome do realizador espanhol. No entanto, acima de tudo, Buñuel era um realizador de cinema, um que não tinha receios de experienciar e que durante a sua carreira explorou uma série de géneros diferentes.

 “Los Olvidados”, apesar de conter elementos surrealistas, é na sua génese um filme profundamente realista, algo que era essencial a fim de desenvolver o seu objectivo, podendo ser incluindo no movimento artístico do realismo social. Logo a início o narrador alerta-nos para o problema em questão, a pobreza na infância, um problema que será demonstrado numa história – apresentada como real – que decorreu na Cidade do México, mas que poderia ter decorrido num outro lado qualquer. O narrador é também muito claro em afirmar que este filme tem apenas o intuito de evidenciar este problema e não de o resolver, as respostas, essas, cabem a todos nós procurar e descobrir, porque “Los Olvidados” pode ser um filme, mas o problema é muito real.

O filme tem início com o regresso de El Jaibo, um jovem delinquente que fugiu de uma casa de correcção e se reúne com o seu antigo grupo, onde rapidamente assume a posição de líder. De momento aquilo que mais o move é a procura por Julián quem ele crê ser o responsável pelo seu encarceramento. Todos no grupo admiram a sua tenacidade, todos incluindo Pedro, aquele que verá a sua vida intimamente ligada à de El Jaibo quando o assiste na sua sede de vingança.


 A pobreza pode levar a vários cenários de terror, incluindo ao próprio abandono de um filho como é o caso do rapaz que ganha a alcunha de ojitos. Todas estas crianças têm uma história, um passado que as conduziu até onde estão hoje e todas estas histórias poderiam ser, cada uma delas, um outro filme, contudo, aqui é a história de Pedro que é revelada, aquela sobre qual Buñuel se debruça. Quando conhecemos o seu ambiente familiar – vive com a mãe e os irmãos – percebemos rapidamente que Pedro cresceu sem o sentimento mais importante no desenvolvimento de qualquer criança, o amor. Como alguém refere no filme, às vezes deviam ser os pais a ser presos e não os filhos. Mas, “Los Olvidados” não pretende julgar, pois por mais condenáveis que as acções da mãe de Pedro sejam também ela é uma vítima da sua própria realidade.

Alfonso Mejía está soberbo no papel de Pedro, o rapaz tem um brilho nos olhos que nos faz instantaneamente acreditar nele sem serem precisas palavras ou acções, é um sentimento que paira no ar e nos faz saber que dada a oportunidade Pedro será um dos bons, que por muito que a sua moral tenha sido corrompida, o seu coração ainda está no sítio certo.

Vencedor do prémio de melhor realizador em 1951 no festival de Cannes, “Los Olvidados” é um daqueles filmes que após visto fica connosco para sempre, nunca mais nos largando.


Nota: Este texto foi publicado originalmente no site da Rua de Baixo, onde fiz uma perninha na secção de Cinema para falar de um clássico da sétima arte à minha escolha.

domingo, março 03, 2013

MONSTRA 2013


Este ano a MONSTRA regressa maior do que nunca com, não um, mas dois Países a serem homenageados. Falamos do Brasil e de Espanha, dois Países, que segundo Fernando Galrito, o director artístico do festival, estão em termos de animação “muitos mais ligados à sua etnologia e etnografia, do que outras cinematografias internacionais”.

Para saberem mais sobre o que este festival nos irá trazer cliquem aqui para ler o que escrevi na "Rua de Baixo" ou consultem o site oficial. Quero só salientar que este ano irão ser exibidos, no campo dos mais antigos: "Akira", "Who Frammed Roger Rabbit" e “Hotaru no Haka” (“Túmulo dos Pirilampos”).
 

Festival Future Shorts Portugal





O "Future Shorts Portugal" é um festival dedicado às curtas-metragens e que corresponde à edição de Inverno das "Future Shorts". Trata-se de um evento que ocorre por todo o mundo a cada três meses.


A edição de Lisboa será realizada no Teatro do Bairro, dia 15 de Março (sexta) pelas 21h00 e irá apresentar 7 curtas.

Para mais informações consultem a página de facebook do festival aqui e do evento em si aqui.

sexta-feira, março 01, 2013

Lazy



"You and me all we want to be is Lazy."