quarta-feira, abril 30, 2014

Optic Nerve #12



Adrian Tomine é um dos autores que se encontra em destaque na loja Mundo Fantasma e ainda bem, pois até à data o seu nome era-me completamente desconhecido. Senti-me tentado a trazer várias das suas obras, mas desta vez - tem de ser - fui ponderado e trouxe este floppy, o número 12, e a peça mais barata em exebição. Pois há que conhecer primeiro.

Tomine parece ser um nome bem consagrado na indústria alternativa norte-americana e só por esta amostra já percebi porquê. Neste Optic Nerve o autor traz-nos três curtas. A primeira, A Brief History of the Art Form Known as Hortisculpture, é uma divertida história sobre um jardineiro que se aventura a misturar duas formas de arte distintas na tentativa de criar algo novo e diferente. O formato é o dos cartunes dos Jornais - com um traço muito simples -, mas onde as tiras apresentam ligação entre si. Nesta história o autor aproveita para explorar o que é a Arte, sempre com um forte tom humorísitico. É a melhor das três.

Amber Sweet foca-se numa história sobre identidade, quando uma jovem rapariga vê a sua vida ser alterada por ser fisicamente muito parecida com uma estrela porno. Não tão inventiva como a primeira, é uma história que cumpre bem o objectivo a que se propõe. Em termos visuais, contudo, é a mais trabalhada e a única feita na totalidade a cores.



No final ainda temos um muito rápido bónus, com umas tiras autobiográficas em que o autor fala sobre a situação actual da indústria de BD norte-americana reforçando porque ainda publica neste formato: o floppy. A história não só é boa, como me fez aprender mais um termo. Não sabia que os fascículos, a que vulgarmente chamo apenas comics, são floppys.

Um excelente descoberta que continuarei a aprofundar certamente. Se quiserem conhecer mais sobre este autor, que costuma publicar no The New Yorker, cliquem aqui para ir à sua página oficial.

terça-feira, abril 29, 2014

Séries aos Quadradinhos #4


Quem diria que íamos para a 4º rubrica e prontos a continuar mais. O que começou como uma ideia para um post, tem-se tornado uma rubrica que nos tem dado muito gosto em fazer, não fossemos todos fervorosos leitores de BD.

Indo buscar a intro como de costume:

Na quarta edição de “Séries aos Quadradinhos” damos umas dentadinhas à socapa, viajamos no alto mar, combatemos o crime com sete miúdos especiais, deixamo-nos deslumbrar por mitos e lendas e terminamos num mundo pós-apocalípticos sem homens.

Para verem as sugestões cliquem aqui.

quarta-feira, abril 23, 2014

The Grand Budapest Hotel


Os bilhetes para o "país das maravilhas" de Wes Anderson já estão disponíveis. Ver um novo Anderson é sempre como mergulhar num outro Universo, um que o realizador tem desenvolvido e alargado ao longo da sua carreira. A cada filme, cada vez conhecemos mais locais e mais personagens que povoam esse mundo que se encontra dentro da mente deste criador.

Nota-se que cada vez mais o realizador tem tido um comportamento algo obsessivo-compulsivo com os seus filmes. Tudo é cada vez mais controlado e não há um respirar fora do sítio. Os planos são medidos ao milímetro e desta vez até os cenários expressam uma maior artificialidade. Como o João Lameira escreveu no À Pala de Walsh, também eu acredito que não deve existir quase diferença nenhuma entre o plano idealizado na mente de Anderson e aquele que acaba por ser filmado. Nem todos poderão gostar disto, mas a verdade é que até agora Anderson tem triunfado sempre naquilo a que se propõe filmar e "The Grand Budapest Hotel" é mais uma peça de valor para a sua colecção.

O gang de Anderson marca todo (ou pelo menos a maioria, não conheço todos os filmes) presença, nem que seja por escassos segundos. Existe uma ligação entre estes actores e o realizador, onde todos ganham com estas aventuras. Ralph Fiennes estreia-se neste Universo e imeditamente se integra nele como se sempre tivesse feito parte do mesmo. O seu M. Gustave é uma personagem 100% Andersiana e Fiennes interpreta-o com a maior das graças. Este cavalhaeiro, que é a prova de que ainda existem homens bons em tempos bárbaros, vai-se tornar, se não o fez já, uma das personagens mais icónicas do realizador.

Gustave ao lado de Tony Revolori parte numa série de aventuras mirabolantes, que envolvem uma prisão um templo de monges e até uma sociedade secreta de membros da hotelaria (a verdadeira maçonaria). Esta dupla de protagonistas são quase uma espécie de "Dom Quixote e Sancho Pança" se este fosse escrito por Anderson (com as respectivas diferenças claro).

Os vilões a cargo de Adrian Brody e William Dafoe são tenebrosos, em particular o segundo. Sempre que surgem em cena mancham o ecrã com a sua aura negra, cobrindo todo o rosa e roxo harmoniosos do hotel e dos protagonistas. O humor esse continua no topo, sempre dito nos momentos certos com um simplicidade que apenas contribui ainda mais para a sua graça.

Wes Anderson está de volta e que boa notícia que isso é.

terça-feira, abril 22, 2014

Captain America: The Winter Soldier


Vou começar pelo que considerei o menos positivo. A história do Winter Soldier sabe a pouco, ou melhor dizendo, nota-se que quiseram usar esta personagem numa outra história já definida. De facto a unica coisa que trouxeram das BDs do Brubaker foi mesmo o Winter Soldier. Falam da sua origem, mas a sua história é pouco abordada e tem mínimas menções ao facto de estar associado à Rússia. Isto é importante nem que seja para justificar porque tem a estrela vermelha no braço, é que não é porque fica mais bonito com ela. Mas as coisas funcionam, os vilões deste filme meteram os dedos em todo o lado e por isso a história vai sendo desenvolvida e as peças encaixam.

Agora salto para o melhor. Este é o melhor filme da Marvel no que toca a sequências de acção. Os realizadores cortaram no CGI e isso deu frutos. Temos aqui acção filmada à boa moda antiga e a dinâmica e tensão fazem-se sentir como nunca antes nestes filmes. O actor que interpreta o Winter Soldier está fantástico, tem uma presença imponente e trabalha com a sua faca como se tivesse nascido com ela. Chris Evans volta a provar porque foi um grande casting, ele É o Captain America.

A ajudar temos o regresso da Black Widow (a bela e letal Scarlet Johanson) e a famosa introdução do Falcon, o primeiro super-herói afro-americano (pelo menos das grandes editoras). Anthony Mackie entra muito bem no papel e rapidamente se torna mais um membro que merece ser permanente neste elenco que a Marvel anda a reunir.

No fundo é mais um produto ao qual a Marvel nos tem habituado, dos melhores até. Nesse sentido é completamente honesto (sim estou a pensar no Man of Steel), aspirando a ser maioritariamente uma boa dose de diversão. Tem elementos de espionagem e até toca em temas sérios e de valor. Estou a falar da questão entre a liberdade vs a segurança. Não vai debatê-la profundamente, mas é algo que lhe fica bem, em particular à personagem do Cap, alguém que passou a vida a lutar pela liberdade do povo e que agora neste séc. XXI acorda num mundo muito diferente daquele que idealizou. 

Para quem segue a série "Agents of S.H.I.E.L.D.", a narrativa deste filme está interligada com os acontecimentos dos últimos episódios. Aqui a Marvel soubre aproveitar as potencialidades do filme para criar uma ponte entre este e a série.

Gabriel Garcia Marquez (1927-2014)


Tomei consciência de que a força invencível que impulsionou o mundo não são os amores felizes mas os contrariados.

em Memórias das minhas putas Tristes.

segunda-feira, abril 21, 2014

Hawkeye, Vol. 1: My Life as a Weapon


Esta tem sido das séries da Marvel que mais tem dado que falar e compreende-se porquê. Acho que é preciso salientar que "Hawkeye" está a ter uma dose de elogios tão alta por ser a série que é dentro de um universo de super-heróis. Fosse esta uma série fora da Marvel, sobre um agente secreto qualquer e provavelmente não teria sofrido tanta atenção. Pois por muito bom que "Hawkeye" seja, também não é nenhum inventor da roda.

Dito isto, também há que dar mérito aonde ele é devido. Matt Fraction consegue pegar nesta personagem e torná-la uma das mais interessantes da Marvel na actualidade. Esta é a história de Clint Barton um dos poucos membros dos Avengers que não tem poderes e que por isso mesmo é dos frequentadores mais assíduos de hospitais. Fraction é um grande argumentista que tem uma escrita arrojada, muito bem humorada e que tem sempre especial atenção ao desenvolvimento das suas personagens. Ele está a traçar um caminho promissor para este herói aguçando-nos a curiosidade em querer continuar a lê-lo. É um argumentista que tem estado em alta nos dias de hoje e num registo mais original aconselho uma série que tem na Image chamada "Sex Criminals", mas sobre essa falarei mais tarde.


Outro grande trunfo de "Hawkeye", aliás não há trunfo maior, é termos David Aja no desenho. Dá vontade de ler o Hawkeye sempre desenhado por ele. Já agora uma palavra de apreço ao trabalho de Matt Hollingsworth na cor, em perfeita harmonia com o desenho e num registo que privilegia o roxo e violeta - as cores de marca desta personagem (até nos Converse All-Star pois claro). O trabalho dele merece tantos elogios como o de Aja. Se a história é boa, com estes desenhos e cor, o resultado ainda é mais aconselhado.

A substituir Aja nos números #4 e #5 temos Javier Pulido que faz um trabalho muito competente, mas que não deixa a mesma marca em nós, isto sem o Aja não é mesmo a mesma coisa. No final o volume contém ainda uma história dos Young Avengers por ter sido escrita por Matt Fraction (com desenho de Alan Davis). Trata-se de um pequeno extra, bem diferente do estilo deste "Hawkeye".

Uma palavra ainda para as capas que têm um design simples e extremamente certeiro.


O Mercador de Veneza

Estava mais do que na hora de entrar nas peças de William Shakespeare (entenda-se entrar por começar a lê-las). Para primeiro livro deste autor aconselharam-me "O Mercador de Veneza", o que me parece ter sido uma excelente sugestão para começar. É uma peça simples e muito divertida. Curiosamente, acabei por começar por uma das mais polémicas de Shakespeare, uma vez que é acusada de anti-semitismo por causa da forma como a personagem Shylock, o vilão, é abordada.

Se calhar convém contextualizar este tipo de obras, "O Mercador de Veneza" foi escrito entre 1596 e 1598 e segundo os historiadores é um retrato fiel dos costumes, esterótipos e preconceitos da altura. Fosse em Inglaterra ou em Itália, o preconceito para com os judeus era real. Aliás o retrato de Shylock por Shakespeare é tudo menos orginal, já existindo uma série de personagens "tipo" como esta em obras mais antigas.


SPOILERS

Shylock é um judeu rico que explora outros a partir dos juros que aplica nos seus empréstimos. No início deste livro, António, o homem que dá título à peça, recorre aos seus serviços para poder dar dinheiro a um grande amigo seu, Bassânio. Como Shylock despreza António, sentido-se humilhado pela forma como este o tem vindo a tratar, arranja forma de criar um contrato em que António terá de pagar com um pedaço da sua própria carne, caso não devolva o dinheiro no prazo acordado. O livro foca-se muito no quanto Shylock não é capaz de mostrar mesericórdia perdoando a dívida de carne.

Quais as verdadeiras intenções do autor ao retratar Shylock desta forma tão cruel é que se mantêm uma incógnita. Seria Shakespeare um filho do seu tempo e, devido ao contexto em que foi criado, acreditava que os cristãos eram mais dotados de compaixão? É a conversão de Shylock no final, a sua tentativa de final feliz? Ou, por outro lado, aproveita Shakespeare esta generalização do povo judaico para mostrar o quanto somos todos, enquanto Homens, iguais? Depois de nos apresentar uma personagem odiosa como Shylock, no final do livro Shakespeare escreve-lhe um dos discursos mais poderosos de toda a peça, quando este compara os judeus aos cristão, mostrando que todos sangramos, todos comemos e todos sentimos o mesmo, culimando no facto de os cristãos também se vingarem daqueles que lhes querem mal.Shylock vai mais longe dizendo ainda que a vilania da vingança foi-lhe ensinada pelos próprios cristãos.
Nunca vamos ter uma prova definitiva sobre as intenções de Shakespeare, se realmente ele queria provar um ponto maior ou apenas criar uma simples comédia. Prefiro a ideia de uma visão mais profunda, claro. Acho que o poder desse discurso de Shylock faz-se sentir e que é muito possível que Shakespeare quisesse instruir melhor o povo que assistia às suas peças, fazendo-os questionar o estado das coisas. Ou então pode ser, simplesmente, um filho do seu tempo, como a maioria de nós é.

If you prick us, do we not bleed? if you tickle us, do we not laugh? if you poison us, do we not die? and if you wrong us, shall we not revenge?

Algo do qual esta obra não beneficiou foi do facto de ter sido usada como propaganda no regime nazi, em particular a personagem Shylock. A associação ao governo de Hitler é um daqueles tipos de sugidade que mancham algo para a vida.

Mas "O Mercador de Veneza" tem vida além de Shylock, pois também na história de Portia, Shakeaspere cria uma personagem feminina fortíssima, sendo a mais perspicaz de toda a obra. Adorei a ideia dos três cofres diferentes, cada um com uma mensagem e onde num deles se encontra guardada a imagem de Portia, correspondendo à sua mão em casamento, caso alguém o escolha. Portia é uma personagem encontadora e que demonstra possuir uma grande consciência da sua realidade. Quando aquele que ama vai tentar a sua sorte ao escolher um dos cofres, Portia tenta atrasá-lo, a fim de aproveitar mais tempo na sua companhia, uma vez que se errar na escolha este é forçado a abandonar o seu castelo imediatamente. No final é quem acaba por salvar o mercador de Veneza (António) onde todos os outros falharam ao tentar.

Também me parece que Shakespeare retrata nesta obra a paixão homosexual de António pelo seu grande amigo Bassânio (que casa com Portia). Nota-se uma grande intimidade entre os dois e a minha leitura leva-me a crer que é algo propositado. Claro que Shakespeare não pode explorar isto de forma directa, estamos em pleno século XVI, afinal de contas. Os tempos eram outros.

Por fim, é de salientar não só a mestria da escrita de Shakespeare, mas também o seu enorme conhecimento da situação que se vivia em Veneza, criando um retrato fidedigno da altura. Uma palavra de apreço ao tradutor desta edição da "Lello" que tem uma secção de notas muito boa e cujo nome acrescentarei aqui, quando voltar a ter o livro nas mãos.

House of Cards - Temporada 2


Se a primeira temporada de House of Cards foi um dos grandes momentos televisivos do ano passado, a segunda parece confirmar, não só o estatuto da série, como repetir o feito para 2014.

Que grande regresso este de Frank Underwood uma das personagens mais odiosas da TV. Um vilão que dá gosto ver agir, manipulando todos à sua volta como um verdadeiro terror político. A cena final, que fecha o último episódio é "a" cena da temporada e podia fechar "House of Cards", ficávamos muito bem servidos.

A opção é continuar e tendo em conta os acontecimentos, prevejo que a terceira temporada seja o início do declínio, a queda de Underwood. Dizem que é maior quanto mais alto se sobe.

Tecnicamente continua com uma escrita exímia, um leque de personagens muito bem representados e uma realização muito competente. Quem gosta de TV e não anda a ver isto, é porque anda a dormir (ou não gosta do género).

quinta-feira, abril 17, 2014

Noah


Como havia acontecido com "The Fountain", Darren Aronofsky volta a espalhar a sua nova história em dois meios distintos: o da BD e o Cinema. Desta vez o autor optou por editar o livro em França pela Le Lombard. Mais recentemente já saiu a edição em inglês pela Image Comics e por isso aqueles que como eu ainda não tinham lido isto por se safarem melhor no inglês do que no francês, já o podem fazer.

"The Fountain" havia sido editado originalmente pela Vertigo, no tempo em que Karen Berger ainda era editora. Foi ela quem juntou Aronofsky com Kent Williams, uma parceria que fez tanto sentido e prova quanta sensibilidade esta senhora tinha para a BD. Mas a Le Lombard não ficou atrás ao escolher Niko Henrichon (Pride of Bagdad) para trabalhar neste "Noah". Henrichon volta a brindar-nos com mais um trabalho excepcional da sua autoria e que é quanto a mim a componente mais interessante deste "Noah". Num pequeno aparte o facto de a Image estar a publicar isto em inglês, leva-me a reforçar o quanto esta editora tem dominado (dominado em termos de boas opções e ideias), prova disso são as nomeações aos Eisner Awards que mostram como esta editora está na vanguarda dos comics norte-americanos. Por outro lado é com alguma tristeza que vejo a Vertigo a perder tanto terreno, mas pelo menos parece estar a ter alguns títulos de interesse (além do novo Sandman).

Aronofsky volta também a trabalhar com o escritor e neurocientista Ari Handel, desta vez tanto na BD como no filme "Noah". Anteriormente já tinham trabalhado juntos no argumento do filme "The Fountain".

Em relação à história, é a parábola biblíca sobre Noé, o homem que juntamente com a sua família foi o único sobrevivente do grande dilúvio. A abordagem de Aronosky é uma distinta certamente, mas não deixa de ser a história de Noé, que, sinceramente, nunca foi das minhas predilectas. Em relação a esta abordagem em particular tem pontos interessantes, mas quase todos na segunda metade do livro, pois a primeira, apesar de visualmente impressionante, deixa mais a desejar. 

No início somos apresentados ao homem que é Noé, à sua família e a parte da civilização desta Terra, uma muito pequena que serve para nos mostrar o quanto o Homem seguiu um caminho negro e o quanto Noé se encontra no outro espectro. Aronofsky toma muitas liberdades ao criar esta sociedade que parece beber de uma qualquer atmosfera apocaliptica de ficção-científica. Acho que li algures uma evocação ao "Mad Max" e parece-me bem empregue a comparação.

 
O mais relevante vem na segunda metade do livro quando o dilúvio se inicia. Noé compreende que tanto a luz como as trevas vivem no coração do Homem e que a única forma de eliminar essa escuridão do planeta é eliminando o Homem. Isso leva-o a seguir um caminho tenebroso que o colocará em directo conflito com a família durante a viagem na arca. Aqui largamos o lado mais aventureiro e entramos no campo do drama que o autor domina melhor.
Um aspecto bastante interessante é que apesar de estarmos no campo das parábolas biblícas, quando se menciona a origem da vida, temos uma clara alusão ao evolucionismo (mesmo que surjam os bíblicos Adão e Eva). Isso é claro quando se mostra uma célula que parece ser o LUCA (last universal common ancestor) e também na evolução das espécies.

É, como referi, uma abordagem muito particular à história da arca de Noé. Foi uma surpresa ver Aronofsky a pegar neste conto, não o sabia tão entusiasta de uma das histórias mais apocalipticas da Bíblia. Mesmo assim esperava mais desta BD. Se o filme for assim, arrisco-me a dizer que será o mais fraco na sua carreira até à data. Claro que visualmente acredito que deslumbre, pelos menos estas páginas, graças ao traço e cor de Henrichon, cativam. Visualmente algo que me pareceu desnecessário foi a utilização excessiva de pontos de interrogação para reforçar as expressividade de determinadas personagens.

Nisto tudo quem se safou muito bem foram os peixes (animais marinhos vá).


quarta-feira, abril 16, 2014

Saga: Volume 3

Queria só deixar um pequeno apontamento, referir que o volume 3 de "Saga" já se encontra à venda e que estas aventuras continuam um mimo. Isto cai que nem gingas.

Já agora aquela página com a Sophie e o Lying Cat tem de ser das cenas mais carinhosas que o Brian K Vaughan  escreveu e a Fiona Staples desenhou.

Agora é que vai custar esperar até haver um volume 4...

terça-feira, abril 15, 2014

Já Vi(vi) este Filme


A Inês Moreira Santos do blog Hoje Vi(vi) um filme lançou-me um desafio muito divertido. Falar de um qualquer filme no qual tenha revisto ou revivido algum momento da minha vida.

Porque a realidade e a ficção se cruzam constantemente, gostei muito da ideia de partilhar e conhecer, também, uma série de situações destas. Quantos de nós nunca viram um filme e se identificaram mais com determinada cena ou personagem?

Pois bem, a minha cena escolhida pode ser lida aqui. Se quiserem ver todas cliquem aqui.

True Detective (Temporada 1)


"True Detective" será certamente uma das séries mais faladas este ano e isso prende-se, maioritariamente, com dois grande factores (não, não estou a falar do segundo episódio). O primeiro tem a ver com a qualidade da série e o segundo com o facto de "True Detective" ter algo a dizer sobre a aproximação do cinema e da TV.

O cinema e a TV, apesar de serem produtos ditintos, devido às suas semelhanças acabam muitas vezes por serem, inevitavelmente, comparados. É uma discussão bastante interessante comparar estes dois meios de contar histórias a partir de imagens e por vezes torna-se até díficil separá-los. Por exemplo, quando a versão director's cut de "Florbela" ou "Mistérios de Lisboa" foi exibida em formato mini-série, estamos perante cinema ou TV?

Um dos grandes aspectos que distingue a TV e o cinema tem de ser o tempo. Uma série divide-se em vários episódios o que lhe permite ter muitas mais horas de narração. Também por causa deste sistema, acabam por ser várias as pessoas a realizarem os episódios o que afasta as séries de um cunho mais pessoal na realização, algo muito mais característico do Cinema. Quando "True Detective" chegou apresentou-nos 8 episódios, todos maravilhosamente realizados por Cary Joji Fukunaga e esse cunho pessoal, essa especificidade estética foi o que sobressaiu primeiro na série de Nic Pizzolatto. O plano sequência que fechou o quarto episódio será recordado em 2014 como um dos melhores momentos de TV de certeza.

Em relação à história é Pizzolatto quem assume a caneta a tempo inteiro. Um autor que começa a escrever de forma literária mas que já tinha experimentado o bichinho da TV ao escrever dois episódios de "The Killing". Com "True Detective" Pizzolatto conta-nos a história de dois homens, dois detectives que estiveram envolvidos na resolução de um crime monstruoso durante 17 anos. A narração é assim alternada entre o passado e o presente. Os crimes bebem inspiração de romances obscuros como "The Yellow King" e, claro, da própria realidade. Há uma carga de simbolismo muito forte em "True Detective" e estando a falar de uma área da qual estou longe de ser conhecedor, sei que para mergulhar a fundo em toda esta mitologia ainda me falta decifrar muita coisa.

Mas "True Detective" não está escrito de forma a interessar apenas aos fãs e conhecedores de determinados rituais pagãos. Foi com muito entusiasmo que segui as vidas de Rust e Marty, duas personagens extremamente bem construídas e interpretadas por Matthew McConaughey e Woody Harrelson, respectivamente. Todo o ambiente da série entra-nos na pele de uma maneira arrepiante e juntamente com as prsonagens mergulhamos naquilo que de mais assustador existe neste mundo, nas trevas que existem no coração do homem e no que pode acontecer quando essas trevas são libertadas.

domingo, abril 13, 2014

Killer Joe (2011)


William Friedkin não é para os fracos de coração, é um daqueles realizadores cujo trabalho tem um impacto visual que fica connosco para sempre. E Cinema é isso mesmo, a utilização de imagens em movimento para contar uma história. Ora Friedkin é exímio na arte da realização, sendo um autor frontal, directo e sem rodeios.

O seu mais recente filme "Killer Joe" passou algo despercebido e culpa disso é também da distribuição. Uma pena que o realizador de filmes como o "The Exorcist" e o "French Connection" não tenha tido o seu filme distribuido por cá. Uma pena, porque é mais um trabalho formidável e visceral do realizador que merece toda a nossa atenção.

Num dos papéis principais temos Matthew McConaughey, como Killer Joe. É muito possível que McConaughey seja melhor actor hoje do que há 10 anos atrás. Uma questão de ter mais prática. Mas sempre o achei muito competente e se a sua carreira parece estar agora no auge isso deve-se a uma cuidada atenção da sua parte (ou do agente) na escolha de papéis. "Killer Joe" é mais uma prova de como McConaughey se encontra na mó de cima. a fazer-lhe companhia temos um leque bem forte, com Emile Hirsch, Thomas Haden Church, Gina Gershon e Juno Temple.

"Killer Joe"é sobre uma conspiração familiar para matar um ente querido e receber o dinheiro do seguro. Uma história simples e muito bem contada. O nível de realização e edição são fantásticos e a prova de que Friedkin continua a ser um realizador extremamente estimulante de seguir.

E aquela sequência com a asa de frango? Nunca mais ninguém vai ao KFC sem se livrar dessa na cabeça.

quinta-feira, abril 10, 2014

Living Will #2 - Lançamento


O segundo tomo de "Living Will" vai ser lançado já neste sábado no festival "Anicomics". Como prometido, depois do vermelho, segue-se o azul.

Segue o comunicado de imprensa:

 
APRESENTAÇÃO

Anicomics Lisboa 2014

Sábado, dia 12 de Abril, às 14h
Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro (Auditório) Telheiras, Lisboa

LIVING WILL #2

Chegar a um ponto em que já não restam muitos anos de vida é quase tão assustador como perder a companheira de sempre. O velho Will continua a fazer o seu melhor para lidar com isso, não porque se importa com o futuro mas porque aceitou como missão resolver todas as pontas soltas que foi deixando. Morrer sem peso na consciência terá de ser o seu testamento e a sua derradeira missão. Não tem muita gente a quem possa chamar amigo, honestamente nem sequer tem sido a mais agradável das pessoas nos últimos anos, mas está disposto a revisitar uma amizade muito antiga. Neste segundo número ficaremos também a conhecer Betty Bristow, uma apresentadora de TV que está à beira do precipício. Depois de uma vida de remorsos, tudo o que quer é remediar-se para trazer equilíbrio à sua existência. Se ao menos fosse tão simples…” “Living Will” é uma série de 7 mini-comics de 16 páginas publicados pela Ave Rara, integralmente em inglês, com argumento de André Oliveira e arte de Joana Afonso.

P.V.P: €2,95 

contactos:
http://averaracomics.tumblr.com/
averara.mail@gmail.com 






terça-feira, abril 08, 2014

O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha II


A segunda parte deste monumento literário foi publicada 10 anos após a primeira. O que me apanhou de surpresa foi o facto da primeira parte existir dentro do livro. Passo a explicar. Quando Dom Quixote regressa às suas lides cavaleirescas com Sancho, rapidamente descobre que tem andado a circular um livro com as suas aventuras. Ora esse livro é precisamente o mesmo que nós, leitores, lemos, ou seja, a primeira parte do "Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha". Nada que seja estranhado por Dom Quixote uma vez que os Cavaleiros estão habituados a ter as suas façanhas impressas e imortalizadas em livros.

Cervantes vai ainda mais longe nesta mistura entre a ficção e a realidade. É após o tempo em que saiu o primeiro livro um outro escritor - sem consentimento e conhecimento de Cervantes - publicou uma suposta continuação destas aventura. Esta segunda parte falsa também existe nesta história e é muito mal vista pelos olhos dos seus protagonistas (espelhando os do autor também) que não se revêem nesses feitos que lhes são atribuidos. Perto do final Cervantes até une Quixote com uma das personagens desse outro livro, colocando-os frente a frente. Aqui está "Dom Quixote" a ser também um trabalho de meta-ficção.

Nesta nova saída da Mancha por parte de Dom Quixote, existe uma grande diferença em relação às duas anteriores. É que desta vez o cavaleiro é reconhecido por todos aqueles que leram ou ouviram falar do seu livro. Como é exactamente o mesmo que lemos todos sabem que ele é louco e são muitos os que se aproveitam disso para o enganar e rir-se às suas custas. São situações tremendamente engraçadas, mas elaboradas à custa de uma série de enganos que fazem aos dois protagonistas. A forma como as pessoas se aproveitam da locura de Dom Quixote para proveito próprio é um dos grandes temas desta segunda parte. Ainda assim as coisas parecem ser piores para Sancho cujo pêlo leva das boas por causa das falsidades que outros plantam na mente de Dom Quixote.

SPOILERS

Por falar em Sancho Pança, que maravilhosa personagem, quem o viu e quem o vê no final deste livro. Surpreendemente sempre conseguiu ser Governador de uma Ínsula (tecnicamente não era uma Ínsula). Sancho Governador surpreendeu muito com os seus bons juizos, mas passar fome como passava, não era vida para ele e poucos dias durou o seu governo.

No final os seus amigos sempre conseguem convencer Dom Quixote a regressar a casa. Claro que para isso tiveram de o vencer segundo as regras da cavalaria exigindo que durante um ano abdicasse das armas. Como o bom cavaleiro que é Dom Quixote cumpriu o que lhe era suposto, mas abdicar desta vida foi demasiado para si e ao regressar não demorou muito a perder as forças e a aproximar-se da sua morte. Nos seus últimos momentos recupera a sanidade, crítica severamente os romances de cavalaria e volta a responder pelo seu nome de baptismo Alonso Quijano.

No final temos uma bela despedida de Cide Hamete o suposto escritor destas aventuras, que não é nada mais nada menos do que Miguel de Cervantes: "Para mim somente nasceu Dom Quixote, e eu para ele".

 Gostava de fazer justiça a esta obra com as palavras que escrevo. Talvez numa outra altura com maior disponibilidade. Pelo menos deixo aqui algum testemunho, para não deixar de mencionar aqui um dos melhores trabalhos literários que acompanhei. Escolho este verbo porque Dom Quixote e Sancho Pança são personagens tais que me despeço deles agora como se me despedisse de dois amigos. Agora continuarei eu a seguir as pisadas desse cavaleiros, que por mais louco que fosse, também foi um dos melhores homens a pisar a terra.

Séries aos Quadradinhos #3


Na terceira semana de “Séries aos Quadradinhos” viajamos até ao velho Oeste para logo em seguida darmos um pulo a um futuro sombrio em que 15% da humanidade morreu infectada com um novo e mortal vírus. Depois disto era mesmo preciso juntarmos uma equipa de detectives bem humanos e uma super-equipa de personagens clássicas da literatura para conseguirem solucionar o caso de um amor separado pelo tempo e pelo espaço.

Cliquem aqui para espreitar.

quinta-feira, abril 03, 2014

Veronica Mars (2014)


No TVDependente falo sobre o filme "Veronica Mars". Para quem via e gostava da série este é um acrescento obrigatório. Para todos os outros, não vale a pena verem isto.

Podem ler o texto aqui.

terça-feira, abril 01, 2014

The Immigrant (2013)


James Gray não será dos nomes mais conhecidos, mas está a cada vez mais a tornar-se um dos grandes realizadores da actualidade.

"The Yards" e "We Own The Night" são os filmes que lhe conhecia (falta-me ainda o primeiro "Little Odessa") e com os quais fiquei muito impressionado. A forma como filmou ambas as histórias mostram-nos que estamos perante alguém com uma grande noção de estilo e conteúdo. Ainda não vi o seguinte "Tow Lovers", mas parece ser um filme que se marca pela mudança na carreira do realizador que aqui parece abandonar os polícias e os gangsters.

2013 foi ano de novo filme seu que teve estreia no Estoril Film Festival, com a presença do realizador. O filme é "The Immigrant" que com pena minha não vi nessa altura, mas vi agora.

"The Immigrant" mostra-nos que Gray continua em grande forma a querer contar-nos histórias trágicas entre pessoas. Aqui a relação é entre a imigrante polaca Ewa Cybulski (Marion Cotillard) que chega aos Estados Unidos e se vê envolvida nas teias de Bruno Weiss (Joaquin Phoenix) um homem que inicialmente parece preocupado em ajudá-la mas que na realidade sempre teve a intenção de se aproveitar da sua boa vontade. Tudo isto torna-se muito mais à medida que Gray desenvolve a relação entre estes dois, mostrando-nos que são personagens muito mais complexas do que inicialmente aparentavam. Fantástico. Um filme a não perder.