Desde que foi construída, em 1992, a "Image Comics" tem vindo a afirmar-se cada vez mais no mercado de BD, mais especificamente no norte-americano. A ínicio a editora parecia prometer mais do que cumpria. Devido a um acesso muito limitado conheci pouco dos seus primeiros trabalhos, mas tenho a sensação que mesmo com bons desenhadores a maioria acabava por pecar no argumento.
Hoje já não digo o mesmo. Esta editora está a editar algumas das séries mais estimulantes da actualidade e parece aberta às mais variadas ideias por parte dos seus artistas. Esta linha editorial contribuiu para uma "Image" que hoje em dia tem um programa vastíssimo, juntando séries completamente diferentes sobre o mesmo tecto.
Em Março de 2012 esta editora começou a publicar mensalmente o novo projecto de Brian K. Vaughan e Fiona Staples, intitulado simplesmente "Saga". Havia algo de intrigante e misterioso neste nome e nas suas imagens de apresentação. Sem saber do que se tratava ia descobrindo inúmeros elogios a esta história que se traduziram na vitória de vários prémios. Também em 2013 "Saga" voltou a encabeçar as listas das melhores BD's desse ano. Dito isto, já estava mais do que na altura de confirmar todo este hype. Lidos os dois primeiros volumes, não só o confirmo, como o sublinho. "Saga" é realmente um dos trabalhos originais mais interessantes que surgiu nos últimos tempos.
A base da trama nasce de uma guerra entre dois povos, os de Landfall que são cientificamente desenvolvidos e os de Wreath, uma das luas de Landfall e cujo povo é dedicado às artes mágicas. Os primeiros distinguem-se por ter asas nas costas e os segundos por terem cornos na cabeça, à semelhança dos demónios da ficção. Este confronto entre ciência e magia, prolonga-se ao longo da galáxia acabando por envolver outros mundos nesta guerra sem sentido.
A história segue assim as vidas de Alana e Marko - ela de Landfall e ele de Wreath. Duas personagens que se tornam desertoras, uma vez que a sua relação nunca será aceite por nenhum dos seus povos. Dois pacifistas que compreendem a via errada da guerra e que se juntam para proteger aquilo que mais têm de precioso no Universo, a filha recém-nascida, cujo nome vos deixarei descobrir ao lerem a história, uma vez que acaba por desempenhar um papel na mesma.
Como já deu para perceber, Vaughan decidiu explorar tanto elementos da ficção científica como da fantasia, misturando-os. Se de um lado pode, surgir seres oriundos do "Reino dos Robôs", por outro também iremos encontrar fantasmas e até florestas encantadas com árvores-foguetões. É precisamente nesta mistura que "Saga" se torna um objecto diferente e especial.
Após construir um universo imensamente rico e diversificado, Vaughan consegue também povoá-lo de uma série de personagens interessantes. Apesar de o príncipe Robot IV estar incubido de caçar Alana e Marko, é impossível não nutrir empatia por esta personagem, cuja cabeça é um televisor. Robot IV é das personagens mais perspicazes de toda a trama, e tenho ideia que a sua opinião sobre esta guerra poderá sofrer grandes alterações ao longo da narrativa. Há uma série de acontecimentos que mostram que Robot IV não é um forte entusiasta de matança sem significado. Outro aspecto hilariante é o facto de por vezes surgirem imagens de filmes pornográficos no seu visor - não surgem nos momentos mais oportunos.
Se Robot IV é um aliado de Landfall com a missão de capturar os protagonistas, faz sentido que haja outro do lado de Wreath com a mesma missão. Este será The Will, um caçador de prémios que é contratado para esse efeito. Não há dúvida de que qualquer caçador de prémios terá de ser, até certo nível, um monstro. Mas, como o narrador salienta, há uns piores do que outros. Por isso mesmo é fácil criar empatia com The Will, porque até certo grau existe humanidade dentro do mesmo. Em adição está sempre acompanhado do seu Lying Cat, um felino com a capacidade de detectar mentiras. A relação de amizade que se desenvolve entre os dois é um dos aspectos que mais gostei na sua história.
Quanto a Fiona Staples, não conhecia o seu trabalho, mas quanto mais avançava nesta saga, mais impressionado ficava com o mesmo. Que excelente combinação esta entre argumentista e desenhador. Tanto o desenho como as cores assentam perfeitamente nesta, já por si, simbiose de estilos.
Sem qualquer dúvida, este é muito aconselhado. Se gostarem do primeiro, vão adorar certamente o segundo. Quanto a mim já aguardo ansiosamente pelo terceiro volume que é editado este ano.
5 comentários:
é desta que vais ler o "y: the last man" :)
Eu gosto dele, já tinha lido o Pride of Bagdad e possivelmente outras coisas, por isso a imagem que tneho dele é bem positiva.
O Y foi sendo adiado por questões monetárias e depois surgem outras coisas e uma pessoa esquece-se :P
só li o "y" porque a net permitiu. aliás, quando descobri, já tinha publicado seus 60 volumes...mamma mia...
tenho o mesmo problema com o sandman, que ainda não li.
o que é certo, mesmo sem ler, seguir a obra do vaughan é "obrigatório"!
:)
Adoro :D Leitura recomendadissima!
Fiz logo a pré-compra do Volume 3 tal é o vício :D
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