segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Doctor Who: Especiais 2008-2010



SPOILERS


The Doctor: There's an old Earth saying, Captain. A phrase of great power and wisdom and consolation to the soul in times of need. 
Captain Addams: What's that then?
The Doctor: [shouts] Allons-y!!!


De forma a dar tempo a Steven Moffat para assumir as rédeas de "Doctor Who", após o término da quarta temporada, Russel T. Davies planeou apenas episódios especiais para o ano de 2009. Como David Tennant decidiu sair ao mesmo tempo que Davies, estes últimos episódios seriam a despedida de ambos e isso faz-se bem notar nestes episódios que vão crescendo gradualmente em termos de tensão e emoção.

No especial de Natal "The Next Doctor" temos mais um conto de esperança que envolve o regresso dos Cybermen a este Universo, no ano de 1851. Um episódio que se torna divertido graças à história em torno de Jackson Lake que se apresenta como "The Doctor" com a sua companheira Rosita. Como Davies é um homem de grande espectáculo, desta vez traz-nos como problema final um Cybermen gigante. Com este homem é sempre tudo em grande, questiono-me aonde ele poderia ir mais se continuasse a planear as temporadas de "Doctor Who".

"Planet of the Dead" também é um daqueles episódios leves e cómicos, apesar de todo o mistério em torno do enredo. O que gostei mais foi da nova espécie criada, capaz de criar wormholes. Todo o design daquelas criaturas é não só funcional como assustador e mal foram introduzidos o episódio assumiu logo um tom mais tenso, mas não o suficiente para o colocar na lista dos melhores. É aqui também que se dá mais um pedaço da profecia sobre a morte do Doctor: "ele baterá 4 vezes antes...".

Contudo, é em "Waters of Mars" que o suspense volta a dar cartas, como Davies havia conseguido em "Midnight" (temporada 4). O Doctor vai parar à primeira base humana em Marte, um daqueles pontos fixos no tempo que resulta na morte de toda a equipa. Ele sabe que não se deve envolver, que este é um momento crucial na História da Terra, mas...

Acho que nunca antes o Doctor havia focado que a maior parte do tempo está em fluxo e que os pontos fixos existem, mas são a minoria. O desastre que levou à destruição da base tem origem num vírus que se encontrava na água. A criação deste novo pesadelo funcionou muito bem e teve aquele nível de terror que apenas criaturas como os Vashta Nerada conseguem transmitir. Como se consegue derrotar um vilão composto por água? Como o Doctor diz, a água vence sempre. Pode demorar milénios, mas nada a pára: " água mole em pedra dura....".

Apesar de saber melhor o Doctor acaba por salvar três membros da tripulação, mas não sem antes explicar as consequências à Capitã. Estes especiais são marcados por um Doctor que anda sozinho. Depois de todos os acontecimentos passados o Doctor abandonou a ideia de ter uma Companion para não causar tragédia a mais ninguém. Um Doctor sozinho é um Doctor mais vulnerável ao seu lado negro. Quando ele decide salvá-los, decide quebrar as regras impostas pelos Time Lords, pois ele agora é o único e o supremo. Esse nível de poder é algo que nenhum Homem ou Time Lord deve ter e essas regras existiam por uma razão. Felizmente a Capitã Adelaide Brooke compreende o erro do Doctor e suicida-se. Por muito trágico que isto tenha sido é um despertar para ele, um que era muito necessário. Mais do que nunca compreendemos neste episódio que o Doctor pode tornar-se o seu pior inimigo, nunca antes o tínhamos visto assim.




E por fim temos "The End of Time", um especial dividido em duas partes que tem a tarefa mais árdua de toda a série até agora: a despedida de Russel T. Davies e David Tennant. A ligação entre criador e personagem é imensamente forte, este é o Doctor que Davies prefere e a partida de um simboliza a partida do outro.

Uma característica de Davies é que ele gosta de ir colocando referências ao longo dos episódios para depois concluir a história num épico de proporções magnânimas. As suas season finale envolvem sempre acontecimentos tão devastadores que parece sempre que os heróis estão perdidos, até ele introduzir algo que salve o dia, algo que normalmente assume proporções divinas, como quando a Rose absorveu o time vortex da Tardis, ou quando a crença da humanidade no Doctor o libertou das amarras do Master. Na temporada passada Davies já nos tinha trazido os clássicos Daleks com o plano mais ambicioso e devastador de todos: a destruição da existência em todos os universos. Para ajudar o Doctor, Davies reuniu todos os Companions que ele foi tendo na série, a malta de Torchwood e até a Sara Jane Smith. Depois de um final tão bom, o que poderia vir a seguir? Quem é que Davies iria trazer no confronto final de Tennant?

Antes, um pequeno aparte. Gostava de ver os Daleks triunfarem uma vez, numa versão falsa. É que os Daleks vivem para exterminarem. Depois de conseguirem ser a única espécie nos universos, qual o próximo passo? Não há. Eles são uma espécie criada para a guerra, não têm lugar noutra situação. Não os imagino a casar e ter filhos, a ver TV e ir às compras. Mas continuando...

A primeira parte começa a ser narrada pela voz poderosa de Timothy Dalton e é nesta narração que percebemos que vamos estar perante algo diferente, único e especial. O Doctor volta a ser convocado pelos Ood, como estes haviam previsto. Todo o universo está em perigo e só o Doctor lhe pode valer.

O primeiro inimigo a surgir é o "The Master". Adorei este Time Lord, o episódio em que ele despertou na terceira temporada e o facto de ouvir aquele tambor dentro da cabeça, foram momentos que definiram muito bem esta louca personagem - uma espécie de Moriarty do Doctor. Neste seu regresso não me conquistou particularmente, a personagem tinha morrido e teve de voltar através de um ritual de ressurreição que não funcionou na perfeição, deixando-o com traços de Skeletor. Contudo, o seu papel é essencial nesta história e há medida que avançamos nela cada vez mais a personagem vai trabalhando melhor o material que tem.


Claro que o regresso do Master só por si não chegava. O Doctor já o enfrentou e depois dos últimos acontecimentos só havia algo que Davies ainda não tinha explorado. Uma das raças mais antigas e poderosas da existência: os Time Lords! Acho que todos nós, já nos havíamos questionado sobre uma possível aparição e finalmente Davies responde às nossas preces. Ficamos a conhecer melhor o que aconteceu a esta espécie ancestral e ao porquê das acções do Doctor que optou por aprisioná-los na Time War. 

Em relação ao Master fechou-se o círculo aqui, explicando que a batida que ele ouve, foi implantada pelos próprios Time Lords para um dia poderem regressar. Este povo que foi transformado pela guerra e por isso mesmo aprisionado pelo Doctor, prepara-se para ascender a um outro nível de consciência, eliminando tudo o resto. Aqui as forças do Doctor unem-se às do Master e juntos expulsam os Time Lords, aprisionando-os novamente. Dos Time Lords aprisionados, apenas dois se mantiveram contra Rassilon (Timothy Dalton), o fundador desta sociedade (houve uma terceira que foi morta por ele). Serão esses dois os pais do Doctor?

No final do confronto, o Doctor emerge assim vitorioso, sem recorrer à violência e, surpreendentemente, vivo. A felicidade espelhada na sua cara é imediata, ele conseguiu, ele venceu e sobreviveu… até que ouve as 4 batidas que foram profetizadas. 4 simples batidas de Wilfred, o avô de Donna Noble e companheiro desta sua última aventura. O Doctor sempre pensou que morreria na batalha, mas não, ele morre para salvar o velho Wilfred, que se aprisionou numa câmara também para salvar outra pessoa. Uma câmara prestes a ser inundada por uma dose massiva de radiação, uma câmara que obriga sempre um homem a estar lá dentro e cujos problemas técnicos não deixam o sonicscrewdriver salvar o dia. Uma escolha difícil, mas que nunca foi realmente uma escolha para o Doctor.

Ao contrário do 9º Doctor, este 10º é alguém cuja paixão pela vida é muito maior. Apesar de ambos terem um lado de profunda tristeza, o Doctor de Eccleston aceitou a sua morte de forma mais serena. Ele é o Doctor que vem da guerra, talvez aquele que tenha inicialmente aprisionado para sempre o seu povo e talvez por isso mesmo seja mais amargurado na sua vida (apesar de também ter os seus momentos de diversão). Já o 10º apesar de toda a sua tristeza e trevas, é alguém que adora a sua vida e que não a quer largar, por isso ao contrário do seu antecessor vai a gritar e espernear.

 
A despedida de Tennant é muito sentida e foi até agora o momento que mais me emocionou. Davies nunca esqueceu as personagens que passaram pela série e deixou o seu Doctor visitá-las a todas para se despedir, fazendo uma última acção para os ajudar a todos. A visita à descendente de Joan Redfern apanhou-me desprevenido, adorei. Já agora, não conheço a fase da Sara Jane Smith, mas será que existe possibilidade de o seu filho ser do Doctor?

Depois da despedida aos seus Companions, o Doctor recebe uma última visita, a dos Ood, que se despedem dele entoando o seu cântico. Depois a regeneração acontece e tão intensa como nunca antes vista. A própria Tardis é destruída por dentro, tal é a força desta despedida, que teve realmente de tudo. Há que tirar o chapéu a Davies, ele deu todo o seu coração neste momento. Sai David Tennant e entra Matt Smith. Nunca a morte foi tão precursora de vida como em “Doctor Who”. Depois da regeneração estar concluída, toda a dor e tristeza desaparece. Este é um novo Doctor, entusiasmado em conhecer a sua nova vida. Smith parece preencher bem os All –Star de Tennant, vamos ver como corre a sua aventura.

A regeneração que foi algo pensado apenas quando o 1º Doctor teve de sair do papel, foi uma decisão que mudou para sempre a série, dando-lhe um leque infinito de possibilidades. Cada Doctor é diferente e único. A própria série foi também mudando como o seu Doctor e olhando para a antiga, podemos ver que há vários estilos distintos entre elas. Davies não fez um reboot em 2005, ele continuou a partir da antiga. Uma série que bebe da mitologia antiga, mas que tem o seu cunho pessoal, um que apesar de toda a diversão se distingue por assumir um tom negro. Há muita tristeza na história de Russel T. Davies, mas como Sally disse em "Blink": "Sad is happy for deep people".

Estas regenerações vêm sempre carregadas de um misto de emoções. A tristeza em vermos um Doctor que amamos partir e o empolgamento que também existe em ver um novo a nascer. Fico contente por Tennant ter tido direito a tudo o que merecia e agora abraço a nova fase da série. Steven Moffat é um homem que já provou ser capaz de tudo na TV (Coupling, Sherlock) e que tem alguns dos meus episódios favoritos de "Doctor Who". Estou ansioso e mal posso esperar.

De resto, nunca vos esquecerei Russel T. Davies e David Tennant. Sem vocês isto não tinha sido o mesmo.

ALLONS-Y!!!!!!!!!!!!!!!!

2 comentários:

tadeu disse...

finalmente li todos teus textos sobre o doctor. até aqui.
agora a viagem começa com smith e a certeza que regresso mais tarde, para ler os restantes :)
o "face of boe" resume bem como o trabalho do davies, suas pistas, valem bem o programa.
a importância de não deixar passar nada.
donna noble é imbatível. torci mesmo por ela.
emocionei-me com a despedida do tennant...
bom, agora é tempo de "geronimo". dito isto...allons y! :)

Loot disse...

eheh são textos que a dada altura foram escritos em tom de maratona :P

Agora toda a série vai mudar, o estilo do Davies e do Moffat em termos de planeamento é diferente. Mas isto é bom, a série mantém-se interessante e diferente.

O Smith consegue fazer o impossível que é não nos deixar a pensar no Tennant. Ele agarra na personageme torna-a sua.

Agora a Donna é a companion com o final mais triste (desta nova leva), uma vez que o da Rose melhorou consideravelmente :D
Gosto muito da Donna Noble.

E é impossível uma pessoa não se emocionar com a despedida do Tennant se viu os episódios para trás. Uma bela despedida para um Doctor brilhante.

Agora venha o futuro que vai trazer o 11º e os Pond :D