SPOILERS
I love humans. Always seeing patterns in things that aren't there.
The Doctor
Após a série "Doctor Who" ter
terminado em 1989 existiu uma tentativa em a revitalizar anterior à
de Russel T. Davies que começou em 2005. Falo do filme de 1996 com Paul McGann como o
8º Doctor. Este filme foi uma co-produção entre a BBC Worldwide, a
Universal Studios, a 20th Century Fox e a American network Fox. O produtor Philip Segal
tinha bastante interesse na possibilidade de fazer regressar esta
personagem numa série que seria produzida pela Fox (a única a mostrar interesse), mas a produtora só
aceitou, primeiro, na realização deste telefilme. Nesse sentido
este filme serviria como uma espécie de piloto, que se obtivesse
resultados favoráveis daria inicio a mais uma série e nova fase do Doctor. Como
já se sabe, não teve o êxito desejado e acabou por não dar em nada. Mas, curiosamente, o 8º Doctor acabaria
por ser um triunfo bastante grande.
Se não estou em
erro este é o primeiro produto televisivo de "Doctor Who" a ser filmado
fora do Reino Unido. E quase que era o primeiro a ter um Doctor cuja
nacionalidade não fosse inglesa. Tom Hanks, Harrison Ford e Jim Carrey
foram nomes que recusaram, por exemplo. Hanks recusou por ser grande fã
da série original e achar que não devia ser um americano a interpretar
este papel. Ford por sua vez não queria trabalhar em televisão e Carrey
achou que seria odiado pelos fãs porque não conhecia a série. Foram
mesmo muitos os nomes que poderiam ter preenchido este papel, mas a
escolha recaiu sobre Paul McGann, a escolha mais feliz em todas as
relacionadas com este projecto, diga-se de passagem. A título de
curiosidade, Christopher Eccleston foi convidado para ser o 8º Doctor,
mas recusou. Alguns anos mais tarde regressaria na pele do 9º.
Se
o objectivo deste filme era conseguir o regresso da série, então há que
dizer que as opções em torno da sua história foram más. Em 2005
quando Davies trouxe "Doctor Who" de volta, ele não nos inundou no
piloto com a mitologia da série. Ele foi apresentando-a ao longo dos
episódios de uma forma que entusiasmasse os fãs antigos mas que
introduzisse os novos também. Ora no filme realizado por Geoffrey Sax,
tal não acontece. Existem os óbvios piscares de olho ao passado que são muito bons e
podem estar lá à vontade, contudo, quando falamos de referências que envolvem directamente a narrativa então o caso complica se estamos a ter em conta espectadores que estão a entrar
neste universo pela primeira vez. Começar o episódio com a sentença do Master pelos Daleks
e com uma regeneração é muito giro para quem via a série, mas para novos espectadores duvido. Mesmo eu que vi a série antiga considerei algumas opções
estranhas, como o facto do Eye of Harmony só poder ser aberto por olhos
humanos. Ora isso está relacionado com uma acção do 6º Doctor, ou seja,
quem não sabe vai apenas achar uma opção tola. Como este existem
outros exemplos, por exemplo, como é que o Master sobrevive naquele
estado? Até acho que isto só foi explicado em noutros formatos
posteriormente e não na série. Aliás como este filme foi mantido na mitologia em outras
histórias do Doctor (noutros formatos) alguns dos seus acontecimentos
foram explicados e de certa forma corrigidos.
Tendo
em conta isto, não surge como surpresa que o filme tenha ficado aquém
das expectativas quando estreou na América e que tenha obtido resultados
bem melhores no Reino Unido. Mas talvez tenha sido pelo melhor, talvez
uma produção americana de "Doctor Who" não tivesse corrido tão bem. É
verdade que houve um grande esforço por parte de Philip Segal para
manter o filme coerente dentro da mitologia. Até o 7º Doctor foi
convidado para entrar no início do filme mostrando a sua regeneração no
8º. Mas mesmo assim alguém teve a ideia de inventar que o Doctor é meio-humano.
Posteriormente isto foi desmentido numa história em BD, mas não deixa
de se notar que foi uma daquelas situações em que tentaram arranjar a melhor desculpa possível para se
esquecer esta opção - que na altura foi propositada.
Em
relação ao filme a sua história decorre durante a passagem de ano de
1999, capturando assim a atmosfera do novo milénio que se aproxima. Depois do Master ter esgotado as suas regenerações
foi julgado e exterminado pelos Daleks. Como último pedido quis que os
seus restos mortais fossem enviados para Gallifrey pelo Doctor. O 7º
Doctor acede ao pedido, mas parece que as várias alterações que o Master
fez ao seu corpo o alteraram (isto não é explicado no filme) e parte de
si sobreviveu possuindo, posteriormente, um humano (Eric Roberts).
Contudo, parece que o corpo humano não é capaz de manter o Master e
começa a degradar-se, algo que foi muito pouco focado no filme porque o
Roberts não quis usar a maquilhagem necessária por dar muito
trabalho....pois... (que porcaria).
Quanto ao Doctor
acaba por perder a vida devido a uma série de acidentes. O 7º Doctor é conhecido por ser um grande mestre de
planos e aqui acabou por ser alvejado ao sair descontraídamente da Tardis, purodescuido e azar do destino. Há uma forte ironia nesta situação. Posteriormente,
morre na mesa de operações porque o operam achando que é um humano e
não sabendo que tinha dois corações fizeram asneira. Aqui temos outro
momento muito estranho, o Doctor parece regenerar depois de ter
morrido... Engraçado que depois o 8º também morreria sendo reanimado pela irmandade de Karn para se poder regenerar.
A história não é muito apelativa e
dificilmente estimularia novos espectadores. O final também deixa bastante a desejar. Mas há uma coisa que o
filme faz muito bem e que por isso a sua visualização vale bem a pena: a criação do 8º Doctor. Paul McGann entra muito bem no papel e
facilmente se imagina uma série de aventuras televisivas lideradas por
ele. Há carisma, diversão e até sedução. Tenho ideia que este é poderá ser o
Doctor mais romântico de todos. Talvez isso tenha sido uma alteração
vinda da América, pois este Doctor não perde tempo a fazer uma coisa que
as suas versões anteriores não faziam, beijar as Companions. Claro que McGann teve pouco tempo de antena para desenvolver mais o seu Doctor, mas este deixa sem dúvida uma forte marca. Gosto particularmente da cena em que saca da arma a um polícia e para este fazer o que ele quer aponta a arma não a ele, mas a si próprio ameaçando alvejar-se. O pacifismo do Doctor em grande estilo.
Para
quem só viu a nova série é uma oportunidade também de ver um Doctor que
não tem o peso da Time War nos ombros - ainda. O 8º evoca partes de
futuras versões, sendo bastante eléctrico e excêntrico, mas sem aquele
peso, aquela aura que se fazia sentir muito quando Davies trouxe o
Doctor de volta. Aqui é interessante ver o 8º Doctor no mini-episódio
"The Night of The Doctor", onde este já viveu durante a Time War e as
evolução da personagem é bem notória. Em livros e audios existem muitas histórias que mostram essas mudanças no Doctor causadas pela guerra (nunca li nem ouvi nenhuma).
Curiosamente,
apesar de o 8º Doctor ser o que menos apareceu em TV, foi o que mais
apareceu noutros formatos. Isto ocorre porque o 8º é a encarnação desde
1996 até 2005. O que também contribuiu muito para esta situação foi o
facto de as produções Big Finish não poderem utilizar prévios Doctors,
então todo o material que publicaram foi com o 8º. O próprio McGann teve um papel activo participando em vários audiobooks.
Contudo,
em relação a este material o facto de ser canon ou não manteve-se em
dúvida. Até porque houve decisões, pelo menos no filme, que não eram
grande espingarda para a série. Em 2005 com o regresso de "Doctor Who" à
TV, ficou claro que o 8º Doctor foi sempre considerado como oficial.
Não sei se esta opção foi feita porque as várias aventuras do 8º eram
boas demais para serem esquecidas, ou se foi
pelo simples facto de McGann ter sido um Doctor merecedor de tal
lembrança. Em 2013 quando Moffat o trouxe de volta a sua autenticidade
perante a mitologia ainda ficou mais forte. É que o 8º é um Doctor muito
interessante, não só porque foi das versões que viveu mais, mas porque
apanha o início da Time War. No fundo são as suas acções que dão origem à
criação do War Doctor e, posteriormente, ao seu envolvimento na guerra
terminando-a.
A Tardis está bem diferente da versão que a conheço. A sala de controlo está mobilada o que a faz parecer mais um lar e lhe dá um ambiente algo steampunk. Vemos também, tanto no ínicio, como no fim, o Doctor a ler "The Time Machine" de H.G. Wells. Gostei deste toque, se o Doctor conhece tanto do nosso mundo artísitco, teria de tirar algum tempo para ler os nossos livros, admirar os nossos quadros e por aí fora. Apesar de o Doctor que conheço ser por norma uma pulga eléctrica,a sua 7º versão (pelo menos) parece mais calma, talvez pelo peso da idade.
Antes de terminar queria só referir que neste filme vemos que a regeneração pode causar amnésia temporária o que me remete para o que acontece no final de "The Time of The Doctor" quando aparece Peter Capaldi.
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