SPOILERS
Amy Pond: I thought... Well, I started to think you were just a mad man with a box.
The Doctor: Amy Pond, there's something you better understand about me 'cause it's important and one day your life may depend on it: I am definitely a mad man with a box.
A temporada 5 marca mais uma fase regenerativa, não só do Doctor, como da própria série. Depois de dizermos adeus a Russel T. Davies e a David Tennant, é tempo de abrir os braços para receber Steven Moffat e Matt Smith.
Apesar da tristeza natural de uma despedida, o sentimento de que "Doctor Who" ficaria em boas mãos tornava-nos, ao mesmo tempo, expectantes. Moffat já nos tinha dado alguns dos melhores episódios da série e Smith teve uma entrada triunfal quando surgiu pela primeira vez. São escassos minutos, mas minutos onde Smith nos faz enxugar as lágrimas e sorrir. Cuspindo numa Tardis em chamas e gritando "Geronimo" aí vai ele a cair e nós seguimo-lo.
A mudança no leme da série fez-se logo sentir no primeiro episódio, "The Eleventh Hour", o episódio introdutório ao novo Doctor, mas também à nova Companion, nova Tardis, nova roupa (e sim Laços são altamente), novo tema musical e até novo sonic screwdriver - já agora novos efeitos especiais também. Nesta história podemos encontrar, pelo menos, duas características que já haviam sido vincadas por Steven Moffat nesta série - durante a era de Davies. Ele gosta de explorar as potencialidades das linhas temporais e gosta de nos mostrar um Doctor com uma presença imponente. Em relação à primeira atente-se, por exemplo, às semelhanças entre a história do Doctor e da Amelia Pond com a do Doctor e da Reinette em "The Gir in the Fireplace" (Temporada 2). Em relação à segunda é claro que a forma como o Doctor se apresenta aos seus adversários do planeta Atraxi nos recorda a que havia feito aos Vashta Nerada em "Forest of the Dead" (Temporada 4).
Independentemente disso tudo a relação que nasce entre o Doctor e Amelia Pond neste "The Eleventh Hour" é absolutamente deslumbrante e digna de figurar entre as mais belas histórias de encantar (se estas puderem ter sci-fi, monstros e afins). Como é que estas raparigas podem conseguir não ficar encantadas com esta personagem que surgiu nos seus momentos de maior aflição para as salvar? É impossível. Posso afirmar já que terminada a temporada este continua a ser o episódio que mais me marcou e um daqueles que merece figurar na lista dos melhores da série.
Todos os Doctors são diferentes e, principalmente, por isso faz sentido que todos tenham o seu predilecto, aquele por quem nutrem maior empatia. Mas independentemente disso há que dar o mérito à série de ter conseguido criar sempre Doctors fascinantes (restringindo-me à série de 2005) cujo actor foi tremendamente bem escolhido. Matt Smith logo no primeiro episódio dele prova-nos isto tudo que estou a dizer, ele é "o" Doctor e um dos melhores. Smith acaba por ser também o Doctor mais novo na história da série e isso vai além do físico. Estamos a falar de uma personagem com cerca de 900 anos, mas que neste corpo mais juvenil acaba por trazer um certo espírito infantil e destrambelhado aos episódios, mantendo, ao mesmo tempo toda aquela experiência de vida. Smith consegue captar todas estas nuances maravilhosamente. Obviamente que se nota também neste Doctor muita coisa de Moffat, para começar no humor. Estamos a falar do criador da hilariante "Coupling" e, de facto, há aqui falas divertídissimas. Outro aspecto que achei curioso é que como o Doctor é um génio - com uma mente que trabalha a mil à hora -, por vezes o Moffat retrata-o de uma forma que me faz lembrar o seu Sherlock na série da BBC, até a forma como determinados planos nos mostram uma qualquer dedução remetem para a série mencionada.
Aliado à ruiva, que esperou por ele desde criança, o Doctor continua assim as suas aventuras em "The Beast Below", episódio onde tivemos de tudo um pouco: o excelente humor, uma trama misteriosa e uma resolução cheia de bons sentimentos. Um episódio tão bom que peca por no final se esquecerem que aquela baleia parece alimentar-se de humanos e isso foi um problema que ficou por resolver. Tudo bem não é claro, mas a dada altura afirmam que deitam para a sua boca as pessoas menos produtivas ou os opositores. Vamos ainda a dois episódios e tanto o Doctor como a Companion parecem perfeitos um para o outro e para nós.
"Victory of the Daleks" é menos apelativo, apesar de nos mostrar que o Doctor é amigo de Winston Churchill. Mas mesmo tendo sido dos episódios mais fracos da temporada, há que reconhecer que estes têm sempre graça. Veja-se "The Vampires of Venice", já o vi em listas de piores episódios, mas tem frases tão, mas tão divertidas que não vejo como se pode não gostar dele.
Pelo meio dos dois anteriores ainda tivemos "The Time of Angels" e "Flesh and Stone", uma história que trouxe duas personagens de volta e que foram criadas por Moffat: River Song e os Weeping Angels. Sobre os Angels, não esperava um "Blink 2" e felizmente não o tivemos. Moffat deu a conhecer um pouco mais as criaturase teve a sufocante ideia de colocar um weeping angel
escondido numa gruta rodeado de outras estátuas. Posteriormente saberíamos que
não era bem assim, mas essa componente narrativa foi bem planificada e trouxe
novamente um dos episódios mais sufocantes. Os Weeping Angels são exímios
nisso.
Agora concentremo-nos em River Song. A ideia de ter uma
personagem importante na vida do Doctor (estou cada vez mais convencido que é a sua mulher)
a encontrar-se com ele em diferentes momentos do tempo (de cada um) é genial. Para
ser ainda mais interessante seria engraçado ter diferentes versões do Doctor a encontra-la
e não só uma. Por isso Moffat aproveitou para introduzir a personagem com o
David Tennant, que acabaria por ser a primeira vez que o Doctor a conheceu e,
consequentemente, a última. Agora a personagem volta a surgir e interagir com
Matt Smith, mas espero que não seja este
o Doctor que ela conheceu primeiro, seria ainda mais giro se houvesse pelo
menos mais uma versão, por exemplo, a 12º com Peter Capaldi. Mas isso o futuro
o dirá.
Nestes episódios ficamos a saber que River está presa porque
matou um dos melhores homens do Universo. Terá sido o Doctor? Será ela a
causadora da sua próxima regeneração? O storytelling de Moffat é realmente
empolgante, ele atira-nos uma série de possibilidades à face e é impossível não
querer devorar os episódios. Infelizmente no final é que nem tudo é resolvido
da melhor forma, mas já lá vamos. Outro aspecto a salientar é que Moffat parece mais interessado em criar novos vilões, ao invés de ir beber à mitologia antiga para os eventos principais.
No final dos anjos quando Pond e o Doctor se encontram no quarto dela, na véspera do seu casamento com Rory, temos um daqueles momentos que nos provam o quanto ele não é humano. Como é que ele conseguiu resistir aos encantos de Miss Amy Pond? Só mesmo sendo um ser extraterrestre. É a partir daqui que Rory se junta ao gang, uma adição que tem especial ênfase em "Amy's Choice" que se trata de mais uma peça exemplar de um episódio de "Doctor Who". Repleto de mistério é um episódio que nos coloca a distinguir entre sonho e realidade, aproveitando para desenvolver melhor estes novos companions e também este novo Doctor. O final foi soberbo e até tivemos direito a vislumbrar o lado negro do Doctor de uma forma que nunca tínhamos visto antes. Este é um ponto que a série parece não querer esquecer, ou seja, o facto de que há um lado perigoso dentro do salvador do Universo e que isso pode ser o seu pior inimigo.
"The Hungry Earth" e "Cold Blood" trouxeram-nos os Homo Reptilia, criaturas que evoluiram a partir dos répteis e se encontram a viver debaixo da Terra. Um episódio que podia ter marcado a diferença no Tempo, criando um tratado entre os Homo Sapiens e os Homo Reptilia mais cedo, mas que acabou por ser involuntariamente sabotado por uma humana. Foi um episíódio que se aventurou muito no lado da fantasia, mas que me parece ter resultado. Ainda que não se destaque entre os melhores, valeria sempre a pena pela forte componente sociológica. No final tivemos a morte de Rory que se sacrifica pelo Doctor. Aqui como já sabia que ele iria aparecer no futuro, não temi pelo rapaz, cuja quimica é cada vez maior na série.
Depois, antes do grande final, tivemos "Vincent and The Doctor" e "The Lodger", que se destacam também entre os favoritos da temporada (não, da série toda). Existem vários géneros de episódios nesta série e a interacção com personalidades históricas é um clássico. Vincent Van Gogh ficará registado como uma das personalidades que mais marcou o universo de Who, aquele final com ele a vislumbrar admirado o sucesso que terá no futuro foi mesmo muito poderoso. Como não gostar deste trio de aventureiros?
"The Lodger" deixou Amy um pouco de lado (e em perigo) e focou-se mais no Doctor cujas aventuras foram dignas de uma sitcom ao estilo de "Terceiro Calhau a Contar do Sol". Divertídissimo episódio e o mistério em questão, do qual esperava pouco, até foi bem engraçado.
Por fim chegamos à conclusão daquilo que começou a ser revelado em "The Eleventh Hour". Ao longo de toda a temporada a racha que vislumbramos no quarto de Amy foi ficando cada vez mais vísivel. Por vezes o seu poder até eliminava pessoas da existência, era como se estas nunca tivessem nascido sendo esquecidas por todos. Este tenebroso poder foi crescendo, bem como referências à caixa de Pandorica e à destruição da Tardis. Tudo planeado para despoletar no episódio duplo: "The Pandorica Opens" e "The Big Bang".
Russel T. Davies era conhecido por criar finais de temporada épicos. Em cada temporada ele elevava mais a fasquia acabando por colocar os heróis num canto. A única forma de estes se salvarem e ao Universo, por norma, envolvia um acontecimento quase divino. Apesar de o estilo ser tão diferente entre Davies e Moffat, o segundo acabou por se aproximar do primeiro na parte do "colocar os heróis num canto". Também Moffat criou uma situação estimulante mas muito dificil de o Doctor superar. De forma a dar a vitória aos heróis, ele não introduziu compenentes divinas, mas mexeu com aquilo de que mais gosta, o Tempo. Infelizmente isso não me convenceu. Já sabemos que aqui o tempo não é linear, que acontecimentos como os que ocorreram em "Blink" podem acontecer. Contundo, quando o Doctor é salvo da prisão porque uma versão sua do futuro o ajuda, parece batota por parte de Moffat. Ele não pode recorrer sempre a este mecanismo, soa a repetitivo e, neste caso, tirou poder ao episódio. Foi um golpe fácil e não esperava isso dele, até porque Moffat sabe trabalhar bem os seus enredos, aquele momento em que vemos o Doctor ir ter com Amy no episódio dos Weeping Angels foi um dos momentos mais formidáveis do episódio. Também adorei que os vilões do Doctor formassem uma aliança, algo nunca
visto até aqui, mas que se compreende tendo em conta que toda a existência está em jogo. Ainda assim porque não matar o Doctor em vez de o prender?
Quantoa o resto, é normal que os acontecimentos sejam grandiosos, que seja necessário um Big Bang 2 para salvar o mundo e que Amy não esqueça o Doctor para ele não ficar fora desta nova criação. Tudo isto é "Doctor Who" e faz parte deste majestoso épico de fantasia. Quem diria que a vida de Pond estavam tão ligada a toda a temporada? E como não adorar o Rory de plástico que vestido de centurião romano vigiou Amy durante 2000 anos?
A ameaça nesta season finale foi digna de ser equiparada com qualquer uma das de Davies. Contudo, Moffat gosta de complicar mais as coisas e isso pode ser muito interessante. Claro que para complicar é preciso trazer resoluções à altura e apesar de a história fluir muito depressa, de uma forma geral acho que o espectador preenche aquilo que lhe falta. O meu maior problema foi mesmo aquele já mencionado. Moffat não pode recorrer sempre ao mesmo truque. De resto nem tudo foi resolvido, ainda há mistérios por decifrar, mas isso agora é para a próxima temporada.
No geral, adorei a temporada, contudo se já contava com as qualidades de Moffat, agora enquanto showrunner, também lhe começo a detectar os defeitos, que todos temos - Davies também tinha os seus. Estamos claramente perante uma direcção diferente, mas uma igualmente estimulante. Venha a 6º temporada e:
GERONIMO!!!!!
4 comentários:
"Contudo se já contava com as qualidades de Moffat, agora enquanto showrunner, também lhe começo a detectar os defeitos"e lamento dizer que vais notar ainda mais.
Atenção, eu adoro o homem e adoro a visão que ele deu à série. Mas às vezes quer tanto impressionar que acaba por se perder no meio de tanta genialidade...e isso notou-se muito na segunda metade da sétima temporada. Mas, enfim..ainda te falta muito :)
Quinta temporada é um mimo. Foi a minha primeira e foi amor à primeira visualização. Gosto muito da sexta também, principalmente por causa dos SILENCE e da mitologia da River Song, pelos Pond, ahh e tens o famoso episódio dedicado à TARDIS escrito pelo Gaiman :)
Confesso que estou com inveja...quem me dera estar a ver isto de novo pela primeira vez :p
"From the way I see it, every life is a pile of good things and bad things. The good things don’t always soften the bad things, but vice versa the bad things don’t always spoil the good things or make them unimportant. And we definitely added to his pile of good things."
Ah e já agora a descrição perfeita do Matt Smith pelo Moffat:
“Eccleston was a tiger and Tennant was, well, Tigger. Smith is an uncoordinated housecat who pretends that he meant to do that after falling off a piece of furniture.”
Claro o Moffat já deu várias vezes provas da sua qualidade. Mesmo no Doctor Who, durante a era Davies alguns dos melhores episódios são da sua autoria. Não tenho a certeza se todos entram no meu leque de favoritos, mas sei que muitos sim.
Como Showrunner é normal que os defeitos se notem mais, mas adorei a 5º temporada e tb estou a adorar a 6º (faltam-me 4 eps). Há sempre eps que são uns furos abaixo, mas as temporadas são bem planeadas e muito estimulantes. Fico a roer as unhas para saber o que vai acontecer. Agora tem havido sempre um momento ou outro onde ele peca (acho), mas tb o Davies tinha os seus lol.
A segunda metade da sétima deve ter a ver com a Clara. Sei que a história da personagem não tem conquistado a malta. Mas pronto para já os meus problemas com a série são poucos. Por exemplo nesta 6º acho que podia ter sido dedicado algum tempo à emoção dos Pond em relação à filha. Compreendem-se as decisões, mas deviam ter desenvolvido mais esse campo. Mas sobre isso alargo-me ao falar da sexta.
Essa frase é porreira, porque é a imagem que tenho do Eccleston e do Smith. O primeiro é o que tem o aspecto mais feroz fisicamente e à primeira vista, mas os outros dois são igualmente poderosos de forma diferente. Diria até que o Tennant se encontra algure sno meio destes dois.
Ah e o episódio dos Silence foi brutalíssimo, com a morte do doctor (que sabemos que não vai acontecer, mas não faço ideia do que vai sair dali).
Da River achaava a história muito bonita, mas não estava nada à espera para o que descobri nos últimos eps.
E há poetas na série há, essa frase que citas também é das mais bonitas :)
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