SPOILERS
Those reports of the sunspots and the solar flares, they're wrong. It's not the Sun, it's you. The sky is full of a million million voices saying, "Yes, of course we'll help." You've touched so many lives, saved so many people, did you think when your time came you'd really have to do more than just ask? You've decided that the universe is better off without you. But the universe doesn't agree.
River Song
O especial de Natal "A Christmas Carol" é por vezes citado como pertencendo ao final da quinta temporada, ou como sendo o episódio zero da sexta. Como, salvo excepção, tenho falado deles seguindo a segunda opção, aqui não será diferente. O importante é que "The Christmas Carol" foi surpreendente. O conto de Dickens tem sido adaptado até à exaustão, por isso não estava mesmo a contar que este fosse tão bom, mas Moffat volta a provar que a sua imaginação e escrita são ímpares. Ele faz a diferença e traz-nos um episódio mágico, clássico e carregado de espírito Natalício.
Antes de avançar na temporada vale a pena espreitar os curtos "Space" e "Time", nem que seja pela interacção de duas Amy's.
Começando a sexta temporada propriamente dita temos os soberbos "The Impossible Astronaut" e "Day of the Moon". Caramba Moffat sabe mesmo introduzir uma temporada. Temos de tudo aqui, um mistério em torno da morte do Doctor - que será seguido toda a temporada -, a introdução de novos vilões assustadores - Os Silence - e uma história em tudo épica. Como é que uma pessoa aguenta a esperar pelos episódios depois de uma introdução destas? Nós vemos uma versão futura do Doctor a convidar os seus amigos para assistir à sua morte e mesmo sabendo que ele não morrerá, passamos grande parte da temporada a imaginar como se irá safar. E aquela miúda no final a regenerar? Quantas unhas foram roídas até se descobrir que é River Song? Excelente. Curiosamente, desta vez foi o início que teve um episódio duplo e não o final. Outro aspecto que é preciso reconhecer no que toca ao talento de Moffat é a sua capacidade para criar vilões. O conceito dos Silence é assustador - que mais tarde se provariam ser uma ordem reiligosa - e a forma como o episódio se uniu à história daquele ano foi maravilhoso. Grande utilização de Nixon e grande Canton Everett Delaware III um ex-agente do FBI que se torna um parceiro muito importante do Doctor. Gostava de o rever no futuro.
O que vale toda a espera é que os episódios até chegarmos ás respostas foram muito bons. O seguinte "The Curse of The Black Spot", nem parece tanto, sofrendo de consideráveis erros narrativos. Literalmente há um marinheiro que é esquecido na história e há um segmento em que o Doctor parece usar o Sonic Screwdriver em madeira (mas talvez houvessem partes de metal no baú, enfim deixemos este pendente). O episódio até é divertido, mas este tipo de falhas deu um pequeno travo amargo ao mesmo.
Finalmente vi o primeiro episódio - "The Doctor's Wife" - escrito por Neil Gaiman para a série. Que a Tardis é uma personagem essencial desta série, sempre o soube, mas nunca antes tínhamos tido uma interacção tão grande entre os protagonistas como neste episódio. É Gaiman, por isso já se sabia que a fantasia e o romance iam imperar. Gostei muito e ainda tivemos a recordação da antiga versão desta nave extraordinária.
"The Rebel Flesh" e "The Almost People" tem uma ideia incrível ao brincar com o conceito da clonagem. Este é mais um estudo sociológico da natureza humana, onde o Doctor tenta a todo o custo fazer prevalecer a razão. Também Rory tem um papel determinante no lado dos bons. Fantástica a ideia de criar também uma cópia do Doctor que acaba por responder da forma esperada, afinal tem a mesma personalidade. É pena que no final as coisas se simplifiquem, as cópias que morrem são dos humanos que sobrevivem e vice versa. Também a forma como o segundo Doctor parte é algo brusca. O final vale muito pelo twist nos Doctors, que não sendo surpreendente, foi importante e emotivo. Depois descobrirmos o porquê dos testes de Amy Pond darem positivos e negativos em relação à sua gravidez. Ela já não está connosco há uns bons episódios.
Algo bem vincado nesta série de 2005 é que o Doctor é um pacifista. O 10º ficou bem conhecido tanto pelo seu lado altruísta, como pelas suas mudanças de humor, principalmente, quando atacam os seus amigos. Há um lado incrivelmente negro nele que pode despertar. É discutível se o 11º é tão pacifista como o seu antecessor uma vez que já armou um planeta contra uma espécie alienígena (os Silence). É discutível porque não sei realmente se havia outra solução e o que os Silence fizeram é imperdoável.Contudo, uma coisa não questiono no 11º e é a sua fúria. Quem se mete com os seus amigos terá de responder também perante a fúria deste Time Lord. Apesar de o 10º já o ter feito por vezes, acho que o 11º Doctor utiliza mais a estratégia de se deixar subestimar agindo de forma descoordenada e infantil, ele é realmente o Rei neste departamento.
"A Good Man Goes to War" mostra-nos o salvamento de Amy Pond. Um episódio que tem uma construção absolutamente notável. O Doctor reúne uma série de amigos para juntar uma equipa de valor e também os seus companions nos mostram como já se tornaram parte desta mitologia. Rory sempre será "The Last Centurion" e Amy "The Girl Who Waited". Aqui também tivemos a introdução da ordem dos "Headless Monks", que, surpresa das surpresas, não têm mesmo cabeça!
Este episódio marca também o dia em que descobrimos que River Song é a filha dos Pond e aqui só aponto um defeito. Compreende-se que o Doctor não deva ir procurar Melody Pond (nome original de River Song) enquanto bebé, uma vez que já se sabe que ela está envolvida em pontos fixos do tempo. Ela é demasiado importante no futuro, para se mexer no seu passado. Porém, Amy e Rory são os seus pais e esta questão devia ser colocada e discutida. Amy quando perde a filha fica destroçada, mas mal descobre que é River isso passa-lhe demasiado rápido.
Isto volta a notar-se em "Let's Kill Hitler" outro daqueles episódios que me apanhou de surpresa. Pensava que ia ser focado na questão de matar ou não Hitler e que o Doctor teria de explicar novamente o que é um ponto fixo no tempo. Mas não, Hitler é muito secundário aqui e curiosamente ia sendo morto por engano não fosse o Doctor. O Doctor salvou - sem querer - Hitler, a expressão na sua cara é impagável. Num ritmo muito acelerado descobrimos mais sobre a história de River Song. Aproveito para referir que não estava nada à espera destes desenvolvimentos. Já sabia que Song não veria o Doctor sempre na direcção contrária à sua linha temporal, uma vez que este ainda tem que lhe dar um sonic screwdriver. Mas que os Pond teriam um filho com características de Time Lord, essa foi puxarem-me o tapete. Apesar de o ritmo frenético nos dar um episódio sempre a abrir - no bom sentido - por outro acho que faltou desenvolvimento na relação Doctor/River Song. Por fim vale muito a pena salientar a introdução do "Teselecta" um robô pilotado por humanos encolhidos e que pode assumir a forma de qualquer pessoa. Este robô oriundo do futuro e que exerce justiça aos criminosos do passado surge-nos como a resposta para o dilema da morte do Doctor. Esta é uma forma possível e credível de ele sobreviver. O futuro provaria que estava correcto, mas nada disso arruinou o final, muito também pelo espírito que Matt Smith traz a isto, ele construiu um Doctor absolutamente brilhante.
Seguem-se quatro episódios isolados até ao grande final. "Night Terrors" relembra-nos "Fear Her" (Temporada 2), mas com um desenvolvimento mais bem conseguido. A ideia por detrás de "Fear Her" era boa, mas tenho-o na memória como um dos episódios mais aborrecidos da série. "Night Terror" não ficando na lista dos melhores superou bastante o anterior. Em "The Girl Who Waited" voltamos, novamente, aos episódios de topo. Porque além da trama ser muito estimulante, existiu um grande foco nas personagens. Adoro os Pond e ver Rory a ter de escolher entre uma versão mais velha da sua mulher e aquela com quem esteve à uns minutos atrás foi de partir o coração. Só é pena que depois de terem acontecido, estes eventos pareçam não ter feito uma mossa tão grande, deviam ser mais abordados na vida dos Companions. Mas são importantes e têm uma função. O Doctor volta a reflectir sobre a sua existência e companhia. A prova é que mesmo que Rory não tenha desistido destas viagens, o Doctor acaba por deixar os Pond após "The God Complex".
"The God Complex" foi mais um evento claustrofóbico, que desta vez mexeu com os maiores receios de todos nós. Além disso a questão do complexo divino também foi bem trabalhada, se inicialmente parecia uma coisa, com o passar do tempo percebemos que o título remete-se mais para o nosso Doctor. Não ficámos a saber qual o maior receio do Doctor, mas algo me diz que era ele próprio.
A química entre o Doctor e Craig já tinha sido bem provada em "The Lodger" (Temporada 5), por isso foi com bastante agrado que recebi novamente a reunião destes dois. A história em si dos Cybermen disse-me pouco. Apesar de clássicos não são dos vilões que mais têm marcado os episódios. Nunca voltaram a ser tão grandes como no épico final da segunda temporada. Mas pela interacção entre o Doctor e Craig o episódio valeu bem a pena. No final ficamos a saber de onde veio o tal chapéu de cowboy.
Por fim chegamos a "The Wedding of River Song" e tudo que Moffat planeou vai-se encaixando. O nome do Doctor tem vindo a tornar-se cada vez maior no Universo e por isso um nome cada vez mais temido. Para alguns povos até a palavra Doctor está associada a Mighty Warrior por sua causa e isso não é de estranhar. Assim ao longo da temporada o Doctor foi voltando àquele estado de dúvida sobre si próprio. Ele já tem demasiados fantasmas que o assombram e por isso não precisa de mais e larga os Pond enquanto é tempo. A companhia deste louco com uma caixa azul pode ser fatal. Por todo o desenvolvimento nesta direcção gostei muito do seu casamento com River Song, em especial aquele momento em que ela lhe mostra as várias respostas que obtiveram do Universo quando pediram para ajudar o Doctor. Ele pode estar a pensar que o Universo não precisa de si, mas o Universo discorda. Sim ele é o louco que viaja numa caixa azul, o louco que dedica a sua vida a salvar os outros, vezes e vezes, sem conta. Que Universo estaria melhor sem ele? Doctor é aquele que ajuda e esse significado ficou bem mais gravado no Universo do que guerreiro.
Tal como Davies, Moffat também gosta de reunir uma série de personagens que passaram pela vida do Doctor, claro que são as personagens das suas temporadas. Pode soar estranho que quando o Doctor se despede dos seus melhores amigos, apenas convide os Pond. Onde está, pelo menos, Martha Jones? Ora bem, deve estar a viver a sua vida. Este é um novo Doctor, que mesmo nunca esquecendo ninguém, acaba por ter de ir seguindo a sua vida, enquanto os outros também. Todos envelhecem e morrem, enquanto ele continua. É claro que isto não deixa de ser uma série e seria extremamente complicado manter sempre todas as personagens a aparecer, mas graças à regeneração do Doctor muita coisa consegue ser renovada na série e fazer sentido, que jogada de mestre. De qualquer das formas foi muito boa a menção a Brigadier Lethbridge-Stewart - um grande amigo do Doctor desde a segunda regeneração - e aos Companions da era Davies. Vale a pena mencionar também a forma como Amy deixou a Madame Kovarian morrer. Nada daquilo acabou por acontecer, mas finalmente vimos a fúria da mãe Amy Pond.
Na 5º temporada, pela primeira vez, não tivemos de nos despedir de ninguém. Nesta sexta o desenrolar dos acontecimentos também não surgiu como um adeus definitico (esta palavra é sempre relativa nesta série), por isso acho que a equipa vai continuar na 7º temporada por mais alguns episódios pelo menos.
Antes de parar de escrever queria ainda mencionar a forma como o 11º não queria morrer. Sendo bastante diferente do 10º são Doctors que se tocam em determinados pontos e outro é nesta vontade de viver. O 9º sempre proclamou o quão grandiosa é a vida, mas sempre teve uma aura mais melancólica em torno da sua pessoa. Uma aura que os outros também carregam, mas que conseguem não mostrar tanto pela razão apontada no início deste parágrafo.
Agora fica no ar a grande questão, aquela que traria o silêncio se fosse proclamada:
DOCTOR WHO?
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