quinta-feira, novembro 21, 2013

Susana (1951)


Da negra tempestade surge Susana, com seu corpo angelical e alma demoníaca. É recebida pela família Guadalupe que lhe dá abrigo e carinho. Como se fosse um membro da família Susana é assim integrada naquela dinâmica familiar tão celestial. Mas os símbolos estão lá, Susana é o mal, no dia em que chega à quinta um potro morre e uma égua adoece, se isto não fosse  claro o final volta a reforçá-lo, tudo fica bem sem a presença de Susana.

Ela é a serpente do paraíso em contraste com a família perfeita e católica (até o nome do filho é Jesus) e o efeito sedutor que tem nos homens, não demora a fazer-se sentir. Susana sabe que a sedução é algo que lhe vem de forma natural e manipula o seu dom a seu bel-prazer. Em pouco tempo, não há homem na quinta que não saiba quem ela é e que não sonhe com ela. O problema de ser demasiado sedutor é que por vezes seduzimos mesmo quando nem tentamos.

Toda a família cai em tentação, cada um à sua maneira e, no entanto, apenas Susana é recriminada como sendo "o diabo", a culpada. Ela que nos é apresentada como prisioneira num reformatório onde parece ser constantemente recriminada pelas suas acções, afinal de contas, não é pura nem virtuosa. O filme trata-a assim a partir de todos os simbolismos, mas será que a mensagem é mesmo essa por parte de Buñuel? Não é. Há aqui uma forte ironia em toda esta situação, mas uma ironia tão suave que fintou de forma genial a censura da altura como muito bem explica este belo texto de João Bénard da Costa que encontrei no Cine Resort.

Neste meu precurso pela filmografia de Luis Buñuel, chegou a vez de "Susana" o filme com a maior carga de sensualidade e erotismo que vi do realizador. A sensualidade e a nudez não são a mesma coisa e "Susana" não deixa de ser uma lição nesse campo, para muitos outros filmes que falham em capturar semelhante atmosfera.

O final recordou-me o de "A History of Violence" aquele regressar às origens como se nada se tivesse passado. Claro que neste caso o contexto é diferente e o final muito mais surreal e inverosimil. Uma coisa é certa: para passar a provação é sempre mais fácil remover a tentação.

Sem comentários: