segunda-feira, novembro 11, 2013

Pickpocket (1959)


Ao tomar conhecimento de que "Pickpocket" é um filme vagamente inspirado no livro "Crime e Castigo" de Dostoevsky, não hesitei e fui vê-lo imediatamente. Queria conhecer o cinema de Robert Bresson e dificilmente iria encontrar maior estímulo do que este. Já agora sei que devem existir uma série de adaptações cinematográficas do livro, mas nunca as vi.

Apesar da história do filme ser diferente - o livro de Dostoevsky mergulha mais fundo na psique humana - é fácil reconhecer sequências do livro que aqui ganham vida na personagem de Michel (Martin LaSalle).

No início do filme Michel é-nos apresentado como alguém que vive sérias dificuldades financeiras, como o quarto onde vive o bem exemplifica. Gosto particularmente do pormenor de ele nunca fechar a porta quando sai,  afinal de contas não existe necessidade, nada há que ele tenha merecedor de ser roubado.

Tal como Raskolnikov (Crime e Castigo) é um crente no Niilismo, neste caso na liberdade de escolha por parte de determinados indíviduos mais dotados mentalmente, liberdade essa que pode ir além da autoridade. Como Michel crê pertencer a esta elite de pensadores, recusa os esforços do seu amigo em lhe arranjar um emprego e segue uma vida de carteirista, a qual vai aperfeiçoando ao longo do filme.

Sempre achei que ao adaptar uma história como esta teria de se recorrer à utilização de "voz off", neste caso, do pensamento do protagonista. De facto Bresson assim o faz, mas é de salientar que muitos dos sentimentos e ideias do filme são transmitidos fisicamente, por gestos, olhares e expressões. É notória a atenção na forma como as cenas nos são apresentadas e na postura dos actores ao longo do filme.

Esta é uma história de culpa e redenção, onde um não existe sem o outro, pois não fosse o trilho ardiloso percorrido por Michel e este talvez nunca encontrasse a paz, o amor. é um filme dotado de grande sensibilidade que me faz terminar o texto salientando que esta escolha se confirmou como uma excelente porta de entrada ao universo cinematográfico deste autor.

2 comentários:

O Narrador Subjectivo disse...

Enorme filme. Sem dúvida que, apesar da voz off, Bresson nunca tenta traçar um perfil psicológico, é também por isso que qualquer acção tem ainda maior significado. Tens de ver mais Bresson :)

Loot disse...

Sem dúvida, nunca acho que abuse da sua utilização ou se apoie a ela como muleta narrativa.

Continuarei a ver certamente :)

Abraço