Cada vez mais se sente que as sessões clássicas no "UCI El Corte Inglês" vieram para ficar. Uma iniciativa que abriu as hostes com "Taxi Driver" e que continuou com "Lawrence of Arabia" e "From Here to Eternity". A preocupação na escolha dos títulos continua a mostrar-se cuidada, a encerrar o ano temos agora a estreia desse filme tão grande como a vida que é "2001 A Space Odyssey" e mais perto do Natal podem já marcar nas agendas o regresso de "Casablanca".
Vi este filme pela primeira vez em casa em DVD, tal como a maioria da minha geração. Posteriormente, vi-o na "Casa da Música" com a banda sonora tocada ao vivo pela orquestra do Porto, sem dúvida alguma uma visualização muito especial. Kubrick era um perfeccionista em todas as vertentes do processo de realizar um filme e a banda sonora não era excepção. Quem conhece o filme, sabe bem o quanto estas composições musicais fazem parte da estrutura do mesmo, da sua alma. Haverá início cinematográfico mais épico que este ao som de "Also Sprach Zarathustra" de Richard Strauss? Existe outro filme que conseguiu captar um bailado no espaço como o que vislumbramos aqui ao som de "An der schönen blauen Donau" de Johann Strauss? E o que dizer da perturbante "Requiem" de Ligeti que nos assombra ao longo da narrativa?
Se em termos musicais dificilmente voltarei a ter uma melhor experiência do que esta, em termos visuais não era o caso. Por isso desta vez não ia perder a oportunidade de ver "2001" numa sala de cinema (trata-se de uma versão restaurada digitalmente). Agora sim a imersão no espaço foi muito mais profunda, há determinadas cenas em que ganham um poder inegavelmente maior. "2001" é um filme para ser vivido numa sala de cinema, caso haja oportunidade, por isso esta é uma experiência imperdível para todos os apaixonados por Cinema.
São várias as virtudes de "2001", estamos a falar de um filme que marcou e até mudou o Cinema. Segundo João Lopes "2001" e "The Birds" de Hitchcock foram os filmes da década de 60 mais importantes no que toca aos avanços dos efeitos especiais. Nuno Galopim, outro dos apresentadores desta sessão de ante-estreia, também chamou muito bem a atenção para o facto de nunca antes, nem nunca depois, o cinema e a literatura de ficção-científica terem estado tão próximos como neste momento. Uma vez que estamos a falar de um filme escrito por Kubrick e Arthur C. Clark e que viria a dar origem num livro também.
(Spoilers)
Apesar de estarmos perante um filme que explora temáticas como a da existência humana, não deixo de achar curioso que a personagem mais bem desenvolvida em todo o filme seja um robô. "2001" pode ser tudo, mas não é um filme de actores, onde determinada interpretação nos tenha impressionado em particular. De facto este é talvez o ponto mais criticado do filme, a falta de uma maior caracterização de personagens e que levam a acusações de o realizador ser demasiado frio e cerebral. Há verdade nestas afirmações, "2001" não é esse tipo de filme, nem tem de ser. Contudo, considero mesmo que existe uma personagem muito bem construida e interpretada (pela voz de Douglas Rain) que é o Hal 9000. Curiosamente acaba por ser a personagem mais humana do filme, aquele momento final em que Dave está a desligar Hal é dos momentos que mais me arrepia a ver o filme, aquele "I'm afraid Dave" diz tudo.
(Fim de Spoilers)
No final acabei por conversar com amigos sobre a resposta Russa ao "2001", o "Solyaris" de Andrei Tarkovsky. Quis salientar este filme no texto porque não deixa de ser interessante reparar que a grande virtude do filme Russo reside precisamente no foco dado às personagens, estando longe da imponência visual de "2001". Apesar de um filme lembrar sempre o outro, estamos perante duas obras ímpares e muito distintas do Cinema em geral e da ficção-científica em particular.
A quem tiver a oportunidade, não a perca, certamente não dará o tempo por perdido. Não há nada como ver um filme destes no formato para o qual foi pensado e criado.
4 comentários:
Houve uma ante-estreia com o Nuno Galopim e o João Lopes?
tantos espaços com 6, 7 salas, podiam ter uma iniciativa semelhante. nem que fosse uma vez por mês já que muitas vezes um cineclube é um "estranho" para os mais desatentos.
não sabia desta iniciativa do el corte, mas este merece uma ida ao cinema :)
saudações :)
João: Exactamente e foi ontem. Acho que todas as ante-estreias organizadas pela revista Metropolis tiveram os dois jornalistas a apresentar os filmes. Pelo menos na outra a que fui teve (Blue Jasmine).
Tadeu: Sem dúvida. Aqui não é uma vez por mês mas já vale muito a pena. Claro que em Lisboa temos a vantagem de ter a cinemateca que actualmente anda dedicada ao Fritz Lang e no Sábado será dia de Luis Buñuel. Excelentes opções não faltam :)
Ah. Só me resta lamentar não ter tido oportunidade de ir. Enfim, nem tudo está perdido; na Quinta poderei finalmente ver o meu filme preferido no grande ecrã :)
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