Woody Allen é um daqueles nomes que quanto mais se conhece, mais se adora. Agora sempre que me dedico a conhecer mais um pouco da sua filmografia os meus planos para ver um filme dele extendem-se em ver mais, como foi o caso este fim-de-semana em que vi três. Um filme de Allen por dia é uma alegria (estou a contar a sexta à noite).
Desde este post já vi o "Take the Money and Run" que é a segunda longa realizada por Allen e trata de uma história hilariante sobre o pior assaltante do mundo, Virgil Starkwell, interpretado, pois claro, por Woody Allen. Aquela cena em que Virgil (caramba até o nome é engraçado) ao assaltar o banco acaba por discutir a sua ortografia com o funcionário é um dos momentos mais icónicos do filme.
De seguida fui ao cinema ver "To Rome With Love", que mesmo estando furos abaixo do anterior "Midnight in Paris" é um filme bastante agradável e que gostei particularmente pela oportunidade de rever Allen na interpretação, que saudades.
Este fim-de-semana dediquei-me então aos seguintes, sobre os quais vou escrever muito breves apontamentos, porque de outra forma acabaria por não falar deles e são filmes que merecem ser espalhados como a boa nova:
Love and Death (1975)
Este é o filme com que Woody Allen encerra uma fase da sua carreira, uma mais ligada ao seu lado comediante. É verdade que o humor é algo que se mantém em quase todos os seus filmes, é parte essencial do seu charme, mas há uma clara distinção entre um Allen pré e pós-Annie Hall. Já o referi aqui, acho que a primeira fase de Allen também é genial, são filmes muito distintos dos futuros "mais sérios", mas que no seu género são do melhor que vi. Dificilmente imagino um filme que encerre melhor esta fase do que "Love and Death" que neste registo é Allen no seu expoente máximo. O filme tem um ritmo de piadas alucinante e, ainda por cima, vai buscar inspiração a alguns clássicos de literatura Russa, como obras de Tolstói e Dostoiévski - aquele diálogo final entre pai e filho sobre as personagens de Dostoiévski é fantástico. Posso estar a ser influenciado por o ter bem presente na memória agora, mas de momento parece-me o melhor filme de Allen pré-Annie Hall, pelo menos em termos de comédias malucas, as chamadas screwball comedies. Também se nota aqui, talvez pela primeira vez, o gosto de Allen pelo cinema de Ingmar Bergman, como se pode ver na sequência final da personagem de Diane Keaton, uma clara homenagem ao filme "Persona". A música, como não podia deixar de ser, tinha de ter uma forte identidade russa e o escolhido para a missão foi: Serguei Prokofiev. Curioso que pensava que "Match Point" era o primeiro filme com aquele teor tão negro de Allen e com uma banda sonora de música clássica em vez do típico Jazz usado pelo realizador. Agora após ter visto "Crimes and Misdemeanors" e este, já confirmei que estava errado nos dois pressupostos.
Sleeper (1973)
Este é o filme anterior a "Love and Death" uma viagem pelo mundo da ficção-científica e o primeiro em que entra Diane Keaton, cuja presença se manteria até "Manhattan". Miles Monroe (Woody Allen) é oriundo de 1973 e foi crio-preservado após complicações no hospital. Para sua grande surpresa vê-se despertado 200 anos no futuro por um grupo de rebeldes cuja missão é destronar o actual regime. Como Miles é o único humano que não está catalogado pode servir como um grande espião para a resitência. É mais um Allen cheio de momentos hilariantes que prima muito pela comédia fisica e também por isso mais reminiscente das comédias mudas - certamente que já quase todos passaram os olhos pela sua figura a imitar um robô. Gostei também particularmente do fim, quando Miles espelha a sua falta de fé no sistema político e na religião, referindo que as únicas coisas em que acredita na vida, são o sexo e a morte. As peripécias são sempre acompanhadas de um bom ritmo Jazz, com o próprio Allen no clarinete.
Manhattan (1979)
Já andava com o olho fisgado neste há muito tempo. Quando se fala de Woody Allen, todos mencionam "Annie Hall" e "Manhattan". Mas também por essa razão quis guardá-lo para ver posteriormente, como algo que guardamos com carinho para ver numa altura especial. Compreendo perfeitamente a paixão que o filme suscita, a bela Manhattan a ser filmada em preto-e-branco e os amores e desamores de Isaac, são Allen no seu melhor e adoro esta sua persona - quase de certeza auto-biográfica - de intelectual hipocondríaco. Allen tem dos melhores diálogos no Cinema, sempre com uma série de referências de valor. Lembro-me do seu primeiro encontro com Mary (Diane Keaton) em que discutem a sobre-valorização de certos autores, uma conversa excelente onde surgem nomes como os de Fitzgerald, Mahler e, claro, Ingmar Bergman. Se Isaac os defende a todos nota-se aqui, novamente, um destaque dado à importância que o autor dá ao cinema de Bergman, um dos realizadores por quem nutre maior admiração. É um filme ao qual é díficil não ficar rendido, Allen escreve muito bem sobre relações humanas e com uma cidade fantástica como pano de fundo. Um dos seus planos mais conhecidos tem de ser o dele ao lado de Keaton sobre a ponte de Brooklyn, após aquela longa e íntima conversa nocturna entre os dois e que foi posteriormente usada para o poster. A introdução ao filme é também uma cena marcante, enquanto visitamos a cidade Isaac tenta escrever o início do seu livro, uma história, que pelo que ele descreve, me parece ser a história de "Manhattan".
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