quinta-feira, novembro 29, 2007

A Última Obra-Prima de AARON SLOBODJ

José Carlos Fernandes é considerado por muitos, um dos maiores experimentalistas da banda desenhada portuguesa e em “A Última Obra-Prima de Aaron Slobodj” editada pela Devir em 2004, volta a sublinhar essas palavras. Apesar de esta obra não ser considerada por muitos como banda desenhada, não foi por isso que deixou de arrecadar o prémio FIBDA para melhor argumento de autor português em 2005.
O livro começa com uma introdução e notas biográficas sobre Aaron Slobodj, um suposto artista mais apaixonado pela destruição do que pela criação, e por isso mesmo, muito poucas foram as suas obras recuperadas, tratando-se de um verdadeiro desconhecido para a população em geral.
O universo imaginário que J.C. Fernandes criou em volta desta personagem está muito bem conseguido e a vida deste artista quer acreditemos que ele era um génio ou uma fraude é uma estória extremamente atractiva, é como se ele tivesse realmente existido. Mas J.C. Fernandes não se limita a criar a estória da vida de Aaron Slobodj, criando também estudiosos na vida deste artista que chegam a acusar o próprio J.C. Fernandes de uma má abordagem em relação ao modo como tratou neste livro a última obra encontrada do artista, que dá pelo nome de Big Bang. Falo do texto escrito pelo professor Zacharias Sontag em que este aborda o artista numa perspectiva maior, preenchendo alguns eventuais erros na introdução e pesquisa biográfica feitas por J.C. Fernandes, e do texto final em que nos deparamos com uma carta supostamente escrita pelo Dr. Edgar Snorkel (crítico de banda desenhada) em que avisa que “A Última Obra-Prima de Aaron Slobodj”, não passa de uma falsificação, acusando (in)directamente J.C. Fernandes de ser o falsificador.
Mas falando da obra em si, em que consiste afinal? J.C. Fernandes apresenta-nos um conjunto de 38 imagens e 38 fragmentos de texto, que Aaron Slobodj teria enviado para vários endereços, antes de morrer. Reunidos todos os fragmentos temos “A Última Obra-Prima de Aaron Slobodj”. Nesta obra redescoberta fica o desafio de encontrar um sentido para as imagens e texto, o próprio livro está construído para que possamos associar qualquer imagem a qualquer texto da forma que quisermos e aqui entra também uma grande componente da imaginação de cada um (ou não).
Refere-se na introdução feita pelo professor Zacharias Sontag, que a ideia de Slobodj, não seria apenas usar combinações de texto e imagem, mas também entrar com a componente do espaço e daí ter enviado para diversos endereços uma imagem e um pedaço de texto, relembrando que diferentes imagens e textos podem ter diferentes interpretações consoantes o país onde estão. É toda esta mística criada por J.C. Fernandes à volta de Aaron Slobodj que mais me fascinou neste livro.
E agora saindo um pouco do mundo imaginário de Aaron Slobodj (como se fosse possível), e discutindo se de facto as 38 imagens fazem algum sentido com os fragmentos de texto, é uma escolha que deixo ao leitor, claro que (como é referido) uma das ideias do autor pode ser a de simplesmente não ter sentido nenhum.
Concluindo, trata-se de uma obra bastante inovadora e experimental, não aconselhada a pessoas sem sentido de humor e principalmente sem imaginação (ou vice-versa).

Publicado originalmente em Rua de Baixo (Julho de 2006) por José Gabriel Martins (Loot)

6 comentários:

João Rosa disse...

É daquelas coisas para ler um dia, só não sei ao certo qual.
Parece ser muito interessante. JCF é provavelmente o melhor autor português.

Loot disse...

É um livro muito curioso no sentido em que a parte mais interessante da obra está nas notas iniciais e finais

Menphis disse...

É um livro que já tenho na mente para comprar já à algum tempo. Aliás, toda a obra de J. C. Fernandes parece-me muito boa.

Outra coisa, para quando um regresso do Rua de Baixo ?

Loot disse...

A Rua vai voltar, pode ainda demorar algum tempo mas o seu regresso está assegurado.

De qualquer das maneiras eu vou dando notícias :)

Unknown disse...

Tenho este livro comigo desde a Feira do Livro de 2006... e ainda não o li. Devo estar a guardá-lo para uma qualquer ocasião, que nem eu sei bem qual será...

Anónimo disse...

este livro parece ser bem confuso! é bom para ser lido em um manicômio quando o leitor estiver bem maluco!