
O livro começa com uma introdução e notas biográficas sobre Aaron Slobodj, um suposto artista mais apaixonado pela destruição do que pela criação, e por isso mesmo, muito poucas foram as suas obras recuperadas, tratando-se de um verdadeiro desconhecido para a população em geral.
O universo imaginário que J.C. Fernandes criou em volta desta personagem está muito bem conseguido e a vida deste artista quer acreditemos que ele era um génio ou uma fraude é uma estória extremamente atractiva, é como se ele tivesse realmente existido. Mas J.C. Fernandes não se limita a criar a estória da vida de Aaron Slobodj, criando também estudiosos na vida deste artista que chegam a acusar o próprio J.C. Fernandes de uma má abordagem em relação ao modo como tratou neste livro a última obra encontrada do artista, que dá pelo nome de Big Bang. Falo do texto escrito pelo professor Zacharias Sontag em que este aborda o artista numa perspectiva maior, preenchendo alguns eventuais erros na introdução e pesquisa biográfica feitas por J.C. Fernandes, e do texto final em que nos deparamos com uma carta supostamente escrita pelo Dr. Edgar Snorkel (crítico de banda desenhada) em que avisa que “A Última Obra-Prima de Aaron Slobodj”, não passa de uma falsificação, acusando (in)directamente J.C. Fernandes de ser o falsificador.

Refere-se na introdução feita pelo professor Zacharias Sontag, que a ideia de Slobodj, não seria apenas usar combinações de texto e imagem, mas também entrar com a componente do espaço e daí ter enviado para diversos endereços uma imagem e um pedaço de texto, relembrando que diferentes imagens e textos podem ter diferentes interpretações consoantes o país onde estão. É toda esta mística criada por J.C. Fernandes à volta de Aaron Slobodj que mais me fascinou neste livro.
E agora saindo um pouco do mundo imaginário de Aaron Slobodj (como se fosse possível), e discutindo se de facto as 38 imagens fazem algum sentido com os fragmentos de texto, é uma escolha que deixo ao leitor, claro que (como é referido) uma das ideias do autor pode ser a de simplesmente não ter sentido nenhum.
Concluindo, trata-se de uma obra bastante inovadora e experimental, não aconselhada a pessoas sem sentido de humor e principalmente sem imaginação (ou vice-versa).
Publicado originalmente em Rua de Baixo (Julho de 2006) por José Gabriel Martins (Loot)
6 comentários:
É daquelas coisas para ler um dia, só não sei ao certo qual.
Parece ser muito interessante. JCF é provavelmente o melhor autor português.
É um livro muito curioso no sentido em que a parte mais interessante da obra está nas notas iniciais e finais
É um livro que já tenho na mente para comprar já à algum tempo. Aliás, toda a obra de J. C. Fernandes parece-me muito boa.
Outra coisa, para quando um regresso do Rua de Baixo ?
A Rua vai voltar, pode ainda demorar algum tempo mas o seu regresso está assegurado.
De qualquer das maneiras eu vou dando notícias :)
Tenho este livro comigo desde a Feira do Livro de 2006... e ainda não o li. Devo estar a guardá-lo para uma qualquer ocasião, que nem eu sei bem qual será...
este livro parece ser bem confuso! é bom para ser lido em um manicômio quando o leitor estiver bem maluco!
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