terça-feira, abril 15, 2014

True Detective (Temporada 1)


"True Detective" será certamente uma das séries mais faladas este ano e isso prende-se, maioritariamente, com dois grande factores (não, não estou a falar do segundo episódio). O primeiro tem a ver com a qualidade da série e o segundo com o facto de "True Detective" ter algo a dizer sobre a aproximação do cinema e da TV.

O cinema e a TV, apesar de serem produtos ditintos, devido às suas semelhanças acabam muitas vezes por serem, inevitavelmente, comparados. É uma discussão bastante interessante comparar estes dois meios de contar histórias a partir de imagens e por vezes torna-se até díficil separá-los. Por exemplo, quando a versão director's cut de "Florbela" ou "Mistérios de Lisboa" foi exibida em formato mini-série, estamos perante cinema ou TV?

Um dos grandes aspectos que distingue a TV e o cinema tem de ser o tempo. Uma série divide-se em vários episódios o que lhe permite ter muitas mais horas de narração. Também por causa deste sistema, acabam por ser várias as pessoas a realizarem os episódios o que afasta as séries de um cunho mais pessoal na realização, algo muito mais característico do Cinema. Quando "True Detective" chegou apresentou-nos 8 episódios, todos maravilhosamente realizados por Cary Joji Fukunaga e esse cunho pessoal, essa especificidade estética foi o que sobressaiu primeiro na série de Nic Pizzolatto. O plano sequência que fechou o quarto episódio será recordado em 2014 como um dos melhores momentos de TV de certeza.

Em relação à história é Pizzolatto quem assume a caneta a tempo inteiro. Um autor que começa a escrever de forma literária mas que já tinha experimentado o bichinho da TV ao escrever dois episódios de "The Killing". Com "True Detective" Pizzolatto conta-nos a história de dois homens, dois detectives que estiveram envolvidos na resolução de um crime monstruoso durante 17 anos. A narração é assim alternada entre o passado e o presente. Os crimes bebem inspiração de romances obscuros como "The Yellow King" e, claro, da própria realidade. Há uma carga de simbolismo muito forte em "True Detective" e estando a falar de uma área da qual estou longe de ser conhecedor, sei que para mergulhar a fundo em toda esta mitologia ainda me falta decifrar muita coisa.

Mas "True Detective" não está escrito de forma a interessar apenas aos fãs e conhecedores de determinados rituais pagãos. Foi com muito entusiasmo que segui as vidas de Rust e Marty, duas personagens extremamente bem construídas e interpretadas por Matthew McConaughey e Woody Harrelson, respectivamente. Todo o ambiente da série entra-nos na pele de uma maneira arrepiante e juntamente com as prsonagens mergulhamos naquilo que de mais assustador existe neste mundo, nas trevas que existem no coração do homem e no que pode acontecer quando essas trevas são libertadas.

7 comentários:

Vidazinha disse...

Por acaso fiquei um bocado desiludida; achei que é uma série a ver mas não memorável.

A série tem muito boa qualidade estética e muito boas actuações mas depois... pouco sumo real. Os dois detectives são as únicas personagens bem desenvolvidas, o mistério central teve de ser muito bem espremidinho para dar pra temporada toda e mesmo assim teve de ser à custa de uma série de clichés e muitos buracos. No todo deixou-me uma sensação de falsa profundidade, como se estivesse a fingir ser mais do que é na realidade (tanto a série como os discursos do Rust).

Loot disse...

Achei a primeira metade da série formidável e em relação às personagens sempre me pareceu que o ênfase era nestes dois. Por isso sim, são muito mais bem desenvolvidos que os restantes. Mas a história é deles.

Quanto ao pouco sumo, percebo o que estás a dizer, mas não vou por aí, ainda me falta pesquisar mais a fundo a série. Dá-me a sensação que há muita coisa para ali metida que passa despercebida e que pode ir mais longe do que parece.

Não digo que salte logo para o leque de séries memoráveis. Será é definitivamente uma das mais lembradas de 2014.

Vidazinha disse...

(E já agora que é que foi aquilo das orelhas verdes? O tipo era algum Dumbo e não conseguia pintar sem enfiar as orelhas na lata da tinta? E é isso que deslinda a coisa?)

Loot disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Loot disse...

Na altura pensava que isso iam ser os auscultadores verdes. Também esperava mais da conclusão do mistério, mas talvez as coisas sejam assim tão simples.

Mas é como disse há ali umas quantas mensagens e pormenores, como o cadáver do pai dele, que simbolizam determinadas coisas.

Uma coisa que achei logo cedo, é que não estávamos perante um policial em que é suposto irmos descobrindo quem é o culpado. Não ia ser uma surpresa nesse campo, mas também sei que isto não invalida o que te estás a queixar :P

Vidazinha disse...

Eu até gostei e não tenho problemas em recomendar a série. Acho que o meu problema foi muito uma questão de expectativas criadas pelos primeiros episódios.

Mas não só em relação ao mistério. Por exemplo na evolução das personagens principais também. Por exemplo não percebi muito bem a deixa final do Rust: o que é que o deixou de repente tão positivo? Está bem que apanharam dois campónios (com décadas de intervalo, portanto muita gente morreu pelo meio)mas e os outros tipos? Não era suposto aquilo ser uma rede, uma tradição instalada, com tipos poderosos?

Em termos de enredo em si, o que safou a coisa pra mim foi a relação entre os dois detectives, que foi mais interessante do que quer a evolução do msitério quer a evolução individual das personagens.

Loot disse...

Exactamente a relação destes dois é do melhor da série. Mas ainda falta o teste do tempo antes de a situar devidamente no lugar.

A experiência de quse morte do Rust parece ter sido intensa, já não me lembro especificamente, mas ele voltou a ver ou a sentir qualquer coisa em relação à filha, até queria deixar-se ir e ter com ela. Mas foi mais do que isso, aquilo mexeu com ele e sente-se isso na cena final que o Rust está diferente.

No fim deixa uma mensagem positiva, não estava à espera realmente, e uma das coisas que esperava do mistério era que mergulhasse mais fundo na teia daquele degredo todo e não se tivesse ficado apenas por ali.

Mas mesmo a última frase, sobre o bem estar a vencer, sendo positiva é um positivo dentro do estilo do Rust.