Como havia acontecido com "The Fountain", Darren Aronofsky volta a espalhar a sua nova história em dois meios distintos: o da BD e o Cinema. Desta vez o autor optou por editar o livro em França pela Le Lombard. Mais recentemente já saiu a edição em inglês pela Image Comics e por isso aqueles que como eu ainda não tinham lido isto por se safarem melhor no inglês do que no francês, já o podem fazer.
"The Fountain" havia sido editado originalmente pela Vertigo, no tempo em que Karen Berger ainda era editora. Foi ela quem juntou Aronofsky com Kent Williams, uma parceria que fez tanto sentido e prova quanta sensibilidade esta senhora tinha para a BD. Mas a Le Lombard não ficou atrás ao escolher Niko Henrichon (Pride of Bagdad) para trabalhar neste "Noah". Henrichon volta a brindar-nos com mais um trabalho excepcional da sua autoria e que é quanto a mim a componente mais interessante deste "Noah". Num pequeno aparte o facto de a Image estar a publicar isto em inglês, leva-me a reforçar o quanto esta editora tem dominado (dominado em termos de boas opções e ideias), prova disso são as nomeações aos Eisner Awards que mostram como esta editora está na vanguarda dos comics norte-americanos. Por outro lado é com alguma tristeza que vejo a Vertigo a perder tanto terreno, mas pelo menos parece estar a ter alguns títulos de interesse (além do novo Sandman).
Aronofsky volta também a trabalhar com o escritor e neurocientista Ari Handel, desta vez tanto na BD como no filme "Noah". Anteriormente já tinham trabalhado juntos no argumento do filme "The Fountain".
Em relação à história, é a parábola biblíca sobre Noé, o homem que juntamente com a sua família foi o único sobrevivente do grande dilúvio. A abordagem de Aronosky é uma distinta certamente, mas não deixa de ser a história de Noé, que, sinceramente, nunca foi das minhas predilectas. Em relação a esta abordagem em particular tem pontos interessantes, mas quase todos na segunda metade do livro, pois a primeira, apesar de visualmente impressionante, deixa mais a desejar.
No início somos apresentados ao homem que é Noé, à sua família e a parte da civilização desta Terra, uma muito pequena que serve para nos mostrar o quanto o Homem seguiu um caminho negro e o quanto Noé se encontra no outro espectro. Aronofsky toma muitas liberdades ao criar esta sociedade que parece beber de uma qualquer atmosfera apocaliptica de ficção-científica. Acho que li algures uma evocação ao "Mad Max" e parece-me bem empregue a comparação.
O mais relevante vem na segunda metade do livro quando o dilúvio se inicia. Noé compreende que tanto a luz como as trevas vivem no coração do Homem e que a única forma de eliminar essa escuridão do planeta é eliminando o Homem. Isso leva-o a seguir um caminho tenebroso que o colocará em directo conflito com a família durante a viagem na arca. Aqui largamos o lado mais aventureiro e entramos no campo do drama que o autor domina melhor.
Um aspecto bastante interessante é que apesar de estarmos no campo das parábolas biblícas, quando se menciona a origem da vida, temos uma clara alusão ao evolucionismo (mesmo que surjam os bíblicos Adão e Eva). Isso é claro quando se mostra uma célula que parece ser o LUCA (last universal common ancestor) e também na evolução das espécies.
É, como referi, uma abordagem muito particular à história da arca de Noé. Foi uma surpresa ver Aronofsky a pegar neste conto, não o sabia tão entusiasta de uma das histórias mais apocalipticas da Bíblia. Mesmo assim esperava mais desta BD. Se o filme for assim, arrisco-me a dizer que será o mais fraco na sua carreira até à data. Claro que visualmente acredito que deslumbre, pelos menos estas páginas, graças ao traço e cor de Henrichon, cativam. Visualmente algo que me pareceu desnecessário
foi a utilização excessiva de pontos de interrogação para reforçar
as expressividade de determinadas personagens.
Nisto tudo quem se safou muito bem foram os peixes (animais marinhos vá).
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