terça-feira, maio 21, 2013
Afterschool (2008)
Em 2008 António Campos trouxe-nos a sua primeira longa-metragem intitulada "Afterschool". É um filme que se debruça sobre a geração dos vídeos cibernautas, a "geração youtube". O desenvolvimento da tecnologia tem repercurssões na nossa forma de estar, tanto pessoal como profissional. Os nossos hábitos mudaram com a introdução da internet, dos telemóveis, etc. Vivemos tempos de grande e rápida expansão tecnológica e por isso quanto mais rápido esse desenvolvimento maior o poço que separa as gerações umas das outras.
Campos focou-se então num aluno em particular, Robert, que tem um grande interesse e fascínio por vídeos. Vídeos com aspecto caseiro e artesanal, vídeos que pareçam genuínos e que com eles pareça que estamos a assistir a uma qualquer verdade ao contrário do mestre das ilusões, o cinema. E a maioria desses vídeos são de facto realistas, outros, fica a questão no ar.
Quando se envolve no clube de vídeo da escola, Robert acaba por filmar em directo a overdose de duas gémeas, uma tragédia que irá colocar a sua escola em alerta vermelho. Esta situação tem uma influência muito grande, mas inicialmente contida, em Robert, são várias as vezes que este assiste ao seu vídeo, onde o próprio aparece a ir ter com as gémeas nos seus últimos momentos, numa cena que tem o seu quê de intrigante e misteriosa.
Ao longo do filme vamos tentando compreender o que se passa dentro da sua mente e a forma como este acontecimento o marcou, há medida que vamos conhecendo também outros alunos e determindadas particularidades na gestão de uma escola privada - nada surpreendentes. Se "Afterschool" vale a pena pela mensagem e pela exploração destes temas, vale também pelo fantástico desempenho de Ezra Miller no papel de Robert, que já aqui mostrava ser um "natural born actor".
"Afterschool" tem um tom algo experimental, uma aproximação, em termos de estilo, entre a ficção e o documentário. Talvez criando uma ligação aos mesmos vídeos que tenta explorar. É muito curiosa a cena em que Robert mostra o seu vídeo de homenagem das gémeas que morreram. Também o seu vídeo é altamente experimental causando estranheza e repugnancia a um dos directores da escola que acaba por desenvovler outro projecto, mais tradicional, mais óbvio e banal. Este director podia ser a persononificação de Hollywood a recusar um filme destes que certamente teria uma abordagem bem distinta ao contar esta história, e que atenção, não teria de ser má, são cinemas distintos e é apenas isso que quero realçar.
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7 comentários:
É um grande filme, sem dúvida.
Bom texto!
A minha review: http://armpauloferreira.blogspot.pt/2011/04/cine-critica-afterschool-2008.html
Como nem sempre há tempo ou disponibilidade acabo por não falar de muita coisa que queria, assim quero ver se mudo isso nem que acabe por falar menos, desde que passe alguma coisa de valor, claro. Este filme já o vi há algum tempo e ontem decidi que tinha de escrever qualquer coisa sobre ele senão nunca mais e acho que é um filme que vale muito a pena ver.
Foi também bom ver como o filme passado este tempo todo ainda mantém uma forte presença em mim. É um filme que marca e fica connosco isso quer dizer qualquer coisa :)
Já passei pela crítica, que parece ter sido polémica nos comentários :P
Obrigado
Abraço
Ah e já agora, porque não quis que houvessem spoilers:
SPOILERs SPOILERs SPOILERS
muito bom o seu diálogo com a mãe ao telefone em que diz que acha que não é uma boa pessoa.
A sua explosão final quando anda à batatada com o colega de quarto.
Ah e aquela cena final que mostra o vídeo visto de frente :S
Epá! Recordo-me disso sim... já não vejo o filme há muitos meses mas é pujante todo o filme.
Penso mesmo que vale ainda mais quando revisto.
Acho que é um filme onde se aborda o individuo em formação mas onde este recebe estímulos desviantes, inclusive dentro da instituição que o deveria formar.
A própria critica ao video que o aluno fez, é castradora e é também proveniente de dentro da instituição que lhe ensina.
De certa forma, ele assiste a tudo o que é negativo como se nada disso o atingisse e é isso que o faz questionar se moralmente será uma boa pessoa...
Foram observações dessas que coloquei também na minha critica (e sim, aparece cada troll... na altura fiquei com a sensação de quem seria o estúpido inculto em cinema mas que se julga cinefilo mas... é anónimo. Já passou.).
Reparei que já era uma revisão e acho que sim que é filme a rever. É como dizes há essa sensação de realismo que passa e tudo mto actual. A instituição é responsável pelo tráfego de drogas ocorrer, sabiam dos hábitos de consumo das gémeas e nada fizeram porque os seus pais eram valentes dadores para a causa. Este é um daqueles problemas que é intemporal, infelizmente, a ganância.
E gosto mto do que o Ezra Miller fez aqui. Os vídeos, as conversas com o psicólogo o tentarmos compreender o que lhe ai na alma.
Eu muitas vezes acho que os anónimos são sempre alguém que "conhecemos", mas sim é não ligar, foi um comentário muito infeliz
abraço
Gosto bastante deste filme. E ainda não tive oportunidade de ver o Simon Killer, mas estou bastante curioso. No ano passado estive em Sintra numa masterclass do António Campos. Foi interessante. Ele refere que algumas das cenas entre o Robert e o psicólogo da escola foram totalmente espontâneas, com excepção de umas ínfimas linhas de diálogo. Foram ali desenvolvendo uma conversa (que se tornou numa das minhas cenas preferidas) totalmente ao acaso, conforme o que lhes surgia em mente.
Bem parece que o Ezra Miller anda a ser bem aproveitado para esta vertente mais violenta. Já viste o "We need to talk about kevin"? :)
Foi precisamente pelo Simon Killer que cheguei a este. Estive a informarm-se sobre o filme que acabei por não ir ver ao Indie, então fui buscar este.
Não sabia disso, há ali cenas muito boas, o falar mal das mães de cada um por exemplo lol
Eu conheci o Miller no Californication, um papel mais afastado destes, mas já o vi como Kevin e é assombroso, já percebo porque o escolheram devem ter visto este. Espero que não se prenda só a papéis mais voltados para esta vertente, mas que a domina é um facto.
Abraço
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