Se há personagens que dispensam apresentações, Batman é uma delas. Criado em 1939 por Bob Kane e Bill Finger, rapidamente se tornou um dos maiores heróis do género, influenciando uma série de futuros personagens.
São vários os autores que querem escrever pelo menos uma vez o Homem Morcego. Além da sua linha de comics tradicionais, são várias as graphic novels publicadas sobre o mesmo, muitas das quais livres das amarras da cronologia oficial. Veja-se o caso de "The Dark Knight Returns" de Frank Miller, um dos melhores livros do Morcego que não pertence à cronologia oficial da DC. Já "The Killing Joke" de Alan Moore e Brian Bolland, apesar da mudança drástica que trouxe a uma personagem em particular, foi englobada nessa continuidade. No fundo, oficial ou não, as graphic novels do Batman foram tornando-se algumas das minhas leituras predilectas, fortificando a minha predilecção pelas suas histórias.
Devido a essa liberdade com a personagem, surgiram algumas ideias bem interessantes e que exploraram a personagem em diferentes aspectos. O já mencionado "Dark Knight Returns" trouxe-nos um Batman velho que havia-se reformado há muito; "Black and White" por sua vez usou o morcego para contar histórias de 8 páginas a preto e branco, num estilo noir que em Batman faz todo o sentido. São várias as ideias que surgiram e continuam a surgir para escrever Batman, e valorizo muito mais esta procura por algo diferente do que as inúmeras repetições onde se conta a mesma história vezes e vezes sem conta.
No ano passado, saíram estas duas BD's, que podem não ser as melhores histórias de Batman, mas que valem a pena conhecer pela forma como, mais uma vez, experenciam com a personagem. Além disso nunca darão o tempo por perdido, porque a nível gráfico são soberbas.
Through The Looking Glass
E se o mundo de Bob Kane se misturasse com o de Lewis Carrol? "Through The Looking Glass" é uma divertida amálgama entre Gotham City e o país das maravilhas escrito por Bruce Jones e com desenho e cor de Sam Kieth.
A fim de contar uma história destas, o autor usou as drogas como utensílio (não nele que eu saiba). Ao Batman ser envenenado, começa a ter delírios com uma jovem menina loira (Alice) que o guiará em torno de um estranho mistério. Durante a viagem de Batman e Alice (que Bruce teima em chamar de Celia), Gotham funde-se - na sua mente - temporariamente com o país das maravilhas, bem como as suas personagens.
Esta não é de todo uma típica história de Batman, mas antes uma divertida e alucinada experiência carregada de referências à obra de Carrol. E claro, numa história que envolva a obra de Carrol, já sabemos qual o vilão que Batman terá de enfrentar.
Toda este delírio ganha vida sob o lápis de Sam Kieth, um desenhador com um estilo irreverente e que adoro. Fabuloso o trabalho de Kieth a recriar esta amálgama, incorporando traços das personagens do país das maravilhas nos cidadãos de Gotham. Para os fãs de Kieth ou de Carrol é uma peça obrigatória.
Death By Design
Chip Kidd é mais conhecidos pelos seus trabalhos como designer gráfico - contando com várias capas de BD no seu currículo, bem como os seus trabalhos à volta da BD (Peanuts: The Art of Charles M. Schulz', 'Mythology: The DC Comics Art of Alex Ross', 'Batman: Animated', etc.). Em 2001 lançou o seu primeiro romance (The Cheese Monkeys) e no ano passado escreveu pela primeira vez uma graphic novel intitulada "Batman - Death By Design". Nota-se logo pelo tema do livro que o escritor tem uma forte ligação à arquitectura, que aqui serve como base para toda a história.
Para esta história o autor inspirou-se em dois eventos reais, na demolição da estação original da Pensilvânia em 1963 e no terrível acidente em Manhattan no ano 2008, onde um guindaste colidiu com um edifício em construção. Kidd começou a basear-se na possibilidade de ambos os eventos estarem ligados e como seria se tivessem ocorrido em Gotham City numa era de ouro.
A história em si não tem nada de virtuoso, mas é bastante competente, colocando questões pertinentes sobre a política em torno das grandes construções. Num livro cuja base é a arquitectura, obviamente que o grande foco é dado à cidade, e Gotham City é tanto uma personagem em "Batman" como Alfred ou Selina Kyle. Desta vez o enredo gira à volta da estação de comboios Wayne, um edifício mítico que faz parte do legado de Thomas Wayne e que o seu filho está agora prestes a substituir. Bruce tem as suas razões, mas talvez não conheça todas as peças deste tabuleiro, pois Batman está mais preparado para proteger a cidade do que para construí-la. Além disto ainda podemos contar com a participação desse caos vivo que dá pelo nome de Joker.
No entanto é a nível do desenho de Dave Taylor que "Death By Design" surpreende. O trabalho a grafite de Taylor e o seu retrato de Gotham City com especial ênfase na construção dos prédios é arrebatador. Uma peça exemplar.
2 comentários:
Não tinha dado muita atenção e este e agora fiquei curioso.
O Batman anda a sofrer de sobre-exposição, em 2012 teve pelo menos 4 séries mensais e depois uma data de graphic novels, das quais ainda não consegui ler todas. É demais, nem vou seguir tudo.
Das mensais segui batman e detective comics. O 1º está no topo das leituras de 2012 - gosto muito daquele conceito, o 2º foi aceitável.
Das graphic novels li estas duas mais o earth one do Jones que me desiludiu. É preciso encará-lo como uma nova abordagem, porém parece-me completamente desnecessário.
Nestes dois, não irás encontrar as melhores histórias do Batman, mas em termos de desenho são excepcionais. Claro que quem não gosta do Sam Kieth deve afastar-se do Trough the looking glass como o diabo da cruz :P
E é engraçado ver o mundo de batman colidir com o de Carrol, a história tem uns pormenores muito engraçados.
Abraço
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