terça-feira, janeiro 29, 2013

Django Unchained


Gosto muito de Quentin Tarantino, a sua paixão pelo Cinema é contagiante. Gosto da sua noção de estética, da sua irreverência e da forma como filma. Mas, mais ainda, gosto da sua escrita, dos seus diálogos e das suas personagens.

Focando-me por exemplo em alguns dos seus últimos filmes, há determinadas cenas em particular, onde o realizador envereda por determinados aspectos da nossa cultura (popular ou não) que são absolutamente divinais. Relembremos o monólogo de Bill (David Carradine) em "Kill Bill 2" sobre o Super-Homem, a fim de provar um determinado ponto de vista, ou, no seu projecto anterior "Inglorious Basterds", aquela mítica cena em que o Major Hellstrom (August Diehl) descobre ter o papel do King Kong e desvendar os infiltrados pelo simples - mas denunciador - pormenor do Lt. Archie Hicox (Michael Fassbender) a fazer o número 3 com a mão.


[SPOILERS]


Em "Django Unchained" temos mais uma destas pérolas, quando o Dr. King Schultz (Christoph Waltz) se encontra a sufocar emocionalmente ao recordar a morte de um escravo por cães. Neste momento Schultz levanta-se interrompendo a música - não era a altura para se ouvir o seu conterrâneo Beethoven - e dirige-se à biblioteca. Aqui segue a conversa sobre o autor Alexandre Dumas e as suas respectivas raízes (o seu avô havia casado com uma escrava de origem Afro-caribenha). Uma conversa que tem origem no facto do escravo que Schultz recordava se chamar D'Artagnan. É uma das melhores cenas do filme, com um Christoph Waltz e um Leonardo DiCaprio nos seus melhores níveis. Apesar de ser um caçador de prémios implacável Schultz é um idealista, um lutador pelos direitos humanos e que, felizmente, não viverá para assistir aos massacres que haveriam de decorrer na sua terra Natal.

Gostei do Jamie Foxx e de todo o conceito do seu Django, - um escravo a vingar-se dos esclavagistas, o que há para não gostar? - bem como da sua luta pela mulher que ama. Mas, para ser sincero, todo o filme pende mais para as excelentes interpretações secundárias. Os já mencionados Waltz e DiCaprio, sempre que se encontram juntos adicionam uma carga extra de tensão a todo o filme criando um anti-herói e vilão dignos de perdurar na história. Mais tarde junta-se a eles Samuel L. Jackson no papel de Stephen o governante de Calvin Candie (DiCaprio) em mais uma interpretação magistral, os maneirismos e olhares de Stephen são tão reais que por momentos cremos que o actor nos deixou e que tudo que ficou foi a sua personagem, certamente uma das mais amargas que já interpretou. Nisto tudo ainda há tempo para uma perninha do grande Don Johnson.


Depois temos as influências cinematográficas de Tarantino, que são tantas que não devo ter apanhado metade. Ainda assim é de referir a sua admiração pelos Westerns e pelos filmes de Blaxploitation. E já agora o cameo de Franco Nero também foi bem bonito. Toda esta mistura de estilos gerou um filme muito diversificado, o que poderá não agradar a todos,  veja-se por exemplo a cena cómica com os Regulators (pré-KKK), tão diferente do resto do tom do filme, mas tão hilariante na mesma. A própria banda sonora junta Ennio Morricone e 2Pac, passando por outros compositores. Talvez, muitos estranhem o uso de Hip-hop num Western, mas isto é Tarantino e de tradicional só mesmo as homenagens.

3 comentários:

Nuno Amado disse...

É decididamente um filme a ver!
Gostaria de ter espaço para vê-lo no cinema...
:D

Abraço

(Adoro Tarantino...)

tadeu disse...

ola!
gostei do filme mas defino-o mais por momentos, como citas, do que pelo todo.
não sai extasiado do cinema como em outros filmes do Tarantino, mas ciente de ter visto um filme seu.
o diálogo do aperto de mão é dos meus favoritos.
tomara que não largue mais o mr Waltz. nasceu para estar na filmografia do Tarantino.
Ele e Jackson, só os dois num próximo filme é que era :)
abraço!!

Loot disse...

Nuno 'bongop' se possível é de ver no cinema, Tarantino é diversão garantida.

Tadeu, sim o filme separa-se muito bem em determinadas partes. E tb concordo que ele já fez melhor, mas é como dizes um Tarantino e isso sente-se e sabe bem.
Ele costuma ter belas prestações nos seus filmes, o Waltz foi a descoberta do século, os dois juntos são excepcionais. Mas reforço que o DiCaprio construiu um vilão maravilhoso ;)

Abraços