terça-feira, março 06, 2012

Penguin: Pain and Prejudice


No mês passado terminou a mini-série dedicada ao Penguin da autoria de Gregg Hurwitz (argumento) e Szymon Kudranski (desenho), composta por cinco comics.

O título é um óbvio trocadilho com o romance de Jane Austen. Não sei se ela iria apreciar a brincadeira, quem sabe, se a autora tivesse nascido noutro tempo até poderia ser uma ávida leitora das aventuras do cavaleiro das trevas. De qualquer das maneiras o título não está lá só porque fica bonito, ele faz todo o sentido, afinal de contas se há personagem neste universo que sofre com o preconceito desde que nasceu, essa personagem terá de ser Oswald Cobblepot.

Há quem diga que um herói só é tão bom quanto os seus vilões o forem. Nesse aspecto Batman tem uma galeria de arqui-inimigos invejável e é sem dúvida alguma um dos aspectos mais ricos nas suas histórias o que certamente também contribui para ele ser eleito como um dos melhores super-heróis do mundo, tal como aconteceu recentemente na revista Comic Heroes ou mais importante ainda neste blog aquando do torneio de melhor personagem de BD norte-americana.

Precisamente por termos aqui vilões que são acima de tudo excelentes personagens, aprecio bastante as investidas que fazem quando contam histórias dos seus pontos de vista. Neste aspecto a mais conhecida será "The Killing Joke" de Alan Moore e Brian Bolland que se debruça sobre aquele que é o vilão mais icónico, o Joker. Personagem que voltaria a protagonizar uma BD no mais recente "Joker" de Brian Azzarello e Lee Bermejo.


Agora chegou a vez de esta honra calhar a Oswald Cobblepot mais conhecido por "The Penguin" criado por Bob Kane e Bill Finger em 1941, tratando-se de um dos vilões mais clássicos e importantes na história do Morcego.

people hate what is ugly, what is weak.
it is a mirror of their own worst fears.
a reminder of what awaits us all.
sickness. frailty. death. the existential joke.

Esta mini-série tem uma estrutura narrativa similar à "The Killing Joke" no sentido em que alterna entre o presente e o passado do Penguin abordando a sua transição para o lado negro da vida. Prevejo por isso algumas comparações entre ambos os livros o que poderá até levar a abordagens do mesmo género para outras personagens e isso seria muito bem-vindo.

No que toca ao seu passado a personagem é-nos dada a conhecer a partir do seu nascimento, para nos mostrar que desde a sua primeira aparição neste mundo que a sua vida é manchada por preconceito. Oswald nasceu diferente e por isso é considerado por muitos uma aberração, incluindo o seu próprio pai. Tirando a sua mãe, Oswald nunca foi amado por mais ninguém e por isso não é de admirar que tenha desenvolvido uma relação muito dependente dela que se encontra hoje aos seus cuidados. Com o desenrolar da história vamos conhecendo como foi crescer naquele seio familiar e o que o levou a seguir por caminhos mais obscuros. Desde cedo Penguin consegue ser das personagens mais cruéis e ao mesmo tempo mais carinhosas de "Batman".

Actualmente Oswald Cobblepot é um dos grandes senhores do crime organizado de Gotham City e um dos mais temidos também. Devido à fortuna que herdou e às suas capacidades intelectuais conseguiu construir um império que impõe respeito, não se privando a nenhum dos seus caprichos. What Oswald wants. Oswald gets.

Pelo meio conhece Cassandra, uma jovem cega com quem ele cria uma ligação precisamente por ela não ser capaz de ver nele aquilo que o diferencia dos outros. E tratando-se ele de um verdadeiro cavalheiro rapidamente consegue cativar esta bela mulher.


Gosto particularmente da forma como focam a sua personalidade. Penguin não é certamente dos vilões mais físicos (mesmo que ele não se veja assim), mas é certamente dos mais cruéis sendo capaz de destruir a vida de qualquer um só por lhe dirigirem mal uma palavra. Mas, é também alguém que reconhece a bondade dos outros mostrando ser capaz de a valorizar e recompensar. Se a sua alma não estivesse tão contaminada pelo ódio que tem ao mundo, ele poderia ultrapassar os seus receios e criar uma nova vida. A conclusão da sua história amorosa, ainda que rápida, é intensa sendo um dos pontos altos desta história e que mostra o quão assustador ainda é para ele o preconceito dos outros.

pinguins can´t fly.
they are awkward on land. slow moving. uncoordinated.
so they adapt.
make do with what they have. play to their strenghs.
of all birds, they swim the fastest. dive the deepest.

Também gosto de ler o Batman a partir da perspectiva de outras personagens. Estamos na sua cidade e a qualquer momento ele pode mostrar os ares da sua graça. Desta vez não seguimos nenhuma investigação, Batman apenas aparece e mostra-nos aquilo em que ele é melhor. E o guardião de Gotham consegue ser ainda mais assustador quando estamos do outro lado.

Há ainda tempo para um convidado especial. Apesar de não ter nada a ver com a história há uma determinada personagem que faz um par de divertidíssimos cameos ao longo da trama. Cameos esses que são cada um mais esquisito que o outro, não fosse ele...

Aquilo que menos me entusiasmou nesta série foi a sua conclusão. Apesar de ter um grande momento, acabou por ser demasiado apressada e isso ressente-se no seu todo. Os desenhos de Kudranski são magníficos e o seu uso das sombras espelham bem o ambiente negro e gótico de Gotham bem como a alma torturada do Penguin, no que é uma excelente parceria entre o desenhador e o colorista John Kalisz. O mesmo vale para as capas, todas da autoria de Kudranski. Há momentos no último comic que o excesso de escuridão talvez esteja num tom demasiado carregado, mas fora isso, a arte é imaculada.

Hurwitz é um nome muito conhecido na literatura e que ganhou notoriedade graças aos seus vários thrillers. Mais recentemente esteve envolvido também na série "V". A sua carreira na BD é ainda curta mas tem dado nas vistas tendo já escrito "Punisher", "Moon Knight" e "Wolverine", entre outros.
Agora pela primeira vez entrou no Universo da DC Comics e logo pela porta da frente, naquela que é uma das suas sagas mais entusiasmantes, a do Batman.

7 comentários:

tadeu disse...

catano...atão cade meu comentário?
cá para mim foi o penguim... :)

ontem escrevi o quão agradado fiquei com esta surpresa e o modelo seguido "à lá" the killing joke que tão bem da cor a estante das bds.
não conhecia e pela amostra, texto, é uma boa leitura.

Loot disse...

Acho que foi um vilão mais tenebroso ainda...o blogger :S

Eu gostei muito e uma das vantagens de ter comprado em comics é que posso falar dele mais cedo.
É uma daquelas BD's que no fututo pode ganhar um certo estatuto de clássico ser a "killing joke" do Penguin. Mas isso só o tempo o dirá.

Abraço

P disse...

fiquei curiosa. :) mais por causa do nome. ;)

Loot disse...

É pena não dar para levar para o clube Jane Austen lol.

A história dá para ler sem ser seguidor do Batman o que é sempre bom para quem quer experimentar :)

P disse...

eu só newbie em comics.
Só leio Fables como se não houvesse amanhã. :)
Já vou no vol.4

Loot disse...

Isso não vale, já fui ultrapassado :(

Mas, é bom sinal quer dizer que estás a gostar :)

P disse...

Sim, a gostar imenso. :)

É fantástico mesmo. Nunca pensei gostar, e também leio rápido porque tenho uma fornecedora de fables privada. Ela tem 14 ou 15 volumes na casa dela. :)