David Soares tem construido uma sólida carreira tanto na Banda Desenhada como na literatura. É um nome que comecei a desobrir em BD na altura em que começou a ser editado pela "Kingpin Comics" com o álbum "Mucha" desenhado por Osvaldo Medina e com arte final de Mário Freitas. Um livro que me captou logo a atenção, uma vez que o género do Horror é algo que encontro pouco pela BD nacional. Posteriormente seguiu-se mais um pequeno conto com "o pEQUENO dEUS cEGO" desta vez com desenho de Pedro Serpa. Por razões distintas ambos os livros são bastante interessantes, mas com algo em comum, o facto de nos quererem fazer ler mais do autor, não só em termos de quantidade, mas uma narrativa mais longa também. Claro que temos sempre os seus livros de prosa para isso, mas esse é um campo no qual ainda não conheço o autor, ainda.
Além da qualidade da escrita, David Soares sobressai por ter criado um universo na BD - acredito que na literatura também - com uma forte identidade autoral. A sua escrita densa e carregada de simbolismo, aliada a temáticas obscuras e sombrias, reconhece-se rapidamente num livro seu, onde as influências de Alan Moore se fazem notar (imagino que não tenha sido ao acaso que foi escolhido para traduzir "A Voz do Fogo").
Numa vontade de conhecer mais do autor procurei obras suas mais antigas e li há cerca de uns meses duas publicadas pela sua extinta editora "Círculo de Abuso", falo de "Cidade-Túmulo" e "A Última Grande Sala de Cinema". Para minha grande surpresa ambas desenhadas pelo próprio (desconhecia essa sua faceta). Além das histórias gostei muito dos desenhos de Soares, que obviamente teriam de ser tão negros como a escrita. Ambos os livros estão carregados de mistério e são bastante aliciantes, mas a minha predilecção recai mais para "A Última Grande Sala de Cinema" (e aqui falo em relação a tudo que li dele). Um livro que alia o poder da BD à mitologia do Cinema e que pisca o olho a várias épocas históricas que o autor usa para criar falsas mitologias. É um livro muito forte onde demónios e Homens se encontram na... última grande sala de cinema.
Os desenhos de Soares adequam-se na perfeição ao tom da narrativa. Ora no caso de Pedro Serpa estamos perante um desenhador cujo traço é mais limpo e que substitui o preto-e-branco por um leque de cores coloridas dotando as BD's de um ambiente muito mais leve. Antes de continuar quero salientar que apenas conheci o trabalho de Serpa com "o pEQUENO dEUS cEGO". Uma vez que o desenho de Serpa é, à partida, bastante diferente dos ambientes criados por Soares, esta parceria podia anular-se uma à outra, mas não é o caso. É muito curioso ver o universo de Soares ganhar vida num registo como o de Serpa e daqui a poucos dias poderemos voltar a vê-lo acontecer.
"Palmas para o Esquilo" é o novo livro desta dupla que terá lançamento dia 14 de Setembro às 17H00, na loja da Kingpin em Lisboa (Rua Quirino da Fonseca, 16-B). a edição é, novamente, da "Kingpin" e a legendagem está a cargo de Mário Freitas. Trata-se de mais um conto curto com cerca de 56 páginas e o preço será de 10,99€.
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