quarta-feira, setembro 04, 2013

Luther - Temporada 3

 

SPOILERS

"Luther" foi uma série que prendeu o interesse logo no primeiro episódio, aquele que nos introduziria à bizarra e apaixonante relação que se iria construir entre o detective John Luther (Idris Elba) e a assassina Alice Morgan (Ruth Wilson). A apresentação ao protagonista revela-nos que estamos perante um detective capaz, dedicado e com métodos de trabalho questionáveis no que toca à leitura da Lei. Logo na cena inicial do piloto Luther hesita ao salvar um assassino, acabando por o deixar morrer. Não restam dúvidas, há linhas que o detective está disposto a dobrar, como o futuro bem o reforçaria. No entanto, não tenham dúvidas em relação ao seu profissionalismo, Luther apanha sempre os culpados - a forma como o faz é que pode entrar em discussão. Depois existe aquela paixão por David Bowie, nunca me vou esquecer da cena em que vemos Luther a reflectir sobre um crime inspirando-se no mesmo método que Bowie usa para compor canções. Se a personagem já era interessante, este tipo de pormenores torna-a especial, única. Depois temos em Alice o seu par, que acaba por ter tanto de rival como de companheira, mas a ela voltemos mais tarde.

É precisamente nas personagens que "Luther" tem um dos seus maiores trunfos, razão pela qual nos conquista tão rápido. Além das duas já mencionadas, também os secundários são muito valorosos, seja o fiel companheiro de Luther, Justin Ripley (Warren Brown), o sempre prestável Benny (Michael Smiley) ou o superior Martin Schenk (Dermot Crowley) que trouxe mais do que parecia à primeira vista. Isto para não sair da terceira temporada, porque é impossível esquecer o antigo companheiro de Luther, Ian Reed (Steven Mackintosh) que nos mostrou como uma pessoa se pode perder em tão escassos minutos. Contudo, tenho a sensação que por muito boas que sejam estas personagens, foram sempre substituíveis, salvo a excepção do próprio Luther e de Alice. Prova disso é que a ausência de Alice após a primeira temporada, não só se fez sentir como nunca foi devidamente preenchida. Nunca mais conseguiram criar uma nova personagem feminina que estivesse ao mesmo nível - ou sequer lá perto. Na segunda temporada o elemento feminino introduzido era diferente, em vez de assumir conotações amorosas com Luther assumia conotações paternais, mas mesmo sendo diferente não conquistou e prova disso é a sua imediata ausência na terceira temporada. Aqui regressou-se ao interesse amoroso, que parecia vir dotado de algum mistério ao início - algo que se provou falso. No fundo Mary (Sienna Guillory) até poderia vir a ser relevante, mas fica a sensação que só existiu para servir de isco num determinado arco narrativo, é pena.



Outro aspecto muito competente na série prende-se com o ambiente que cria e a forma como este envolve o espectador, em particular o tom soturno com que os arcos narrativos são apresentados e que se tornaram uma das maiores imagens de marca da série. Ainda me recordo na segunda temporada daquele início na gasolineira, quando um homem, aparentemente comum saca de um martelo e começa a causar o pânico. Havia todo um toque realístico que contribuia para tornar as cenas ainda mais tenebrosas. Nesta temporada tivemos mais dois fortes inícios (são 4 episódios no total, mas duas histórias). No primeiro tivemos aquele suspense do clássico assassino que se esconde debaixo da cama e no segundo a entrada em cena de um vigilante, quando tudo parecia perdido para um casal a ser atacado.

Confesso que esperava mais do arco do vigilante, nomeadamente da personagem em si. Tom Marwood (Elliot Cowan) entra em cena como se de um Frank Castle (aka Punisher) se tratasse, mas estraga tudo ao matar Ripley. Mais do que a morte da personagem, o que me desiludiu foi que Tom quebrou o código do anti-herói ao matar um polícia, caíndo assim no leque de vilões - havia outras possibilidades, um tiro na perna por exemplo. É que Luther também estica a corda da moral e por isso seria interessante ter um desenvolvimento diferente entre estas duas personagens, que não partilhando dos mesmos métodos poderiam até certo ponto respeitar-se. Isso termina quando Tom mata Ripley, até porque o que custa mais é quebrar a corda a primeira vez, depois disso…

Claro que isto foi apenas uma expectativa minha, que aproveitei para desabafar. Tendo em conta a opção escolhida, o seu desenvolvimento foi bom, mas também muito graças ao tão aguardado regresso de Alice, o trunfo que haviam guardado na manga. Na cena final percebemos também que chegámos ao fim de "Luther", que os criadores deviam ter este momento final já guardado há muito tempo na memória, para quando decidissem fechar as cortinas, dando assim um aparente final feliz a estes dois. Que ambos partilham uma forte intimidade, não há dúvidas, mas Alice não deixa de ser uma assassina e por isso a questão se Luther largaria tudo para estar com ela sempre esteve no ar. Talvez o mais racional é que a resposta fosse negativa, mas, ou porque os sentimentos muitas vezes partilham pouco espaço com a racionalidade ou porque pura e simplesmente os criadores queriam este final feliz para o herói, não foi o caso.


A série termina, mas já se fala num filme para trazer de volta estas personagens. Incluindo Ripley (será uma prequela portanto). Normal, Ripley é daqueles que a morrer também teria de ser no final, a evolução da amizade entre ele e Luther foi muito bem construída e nesta temporada ainda mais colocada em prova, sendo o ponto alto da primeira história, uma que alterna entre a caça a um assassino em série e uma investigação ao próprio John Luther que parece não se conseguir livrar de constantes ameaças ao futuro da sua carreira e vida pessoal.

Foram poucos episódios, 14 no total, e mesmo que a qualidade não se meça em números, a verdade é que não me importava nada de aguardar por uma quarta temporada (o final desta teria de ser adiado). Por fim, uma palavra em especial para a prestação de Idris Elba. Para quem já viu "The Wire" é impossível não ser fã do senhor e em "Luther" teve um dos seus melhores desempenhos, que não será facilmente esquecido.

Sem comentários: