sábado, outubro 13, 2012

Looper


"Looper" traz-nos uma interessante visão futurista do nosso mundo, ainda que algo insensata, na minha opinião.

Admitindo que, para as organizações criminosas, é difícil num determinado futuro, em 2074,  livrarem-se dos corpos das pessoas indesejadas - o que é de estranhar, com o aumento da tecnologia, formas de pulverizar organismos não hão-de faltar, mas admitindo que sim - porquê enviar os corpos para o passado, vivos? Porque não matar primeiro e ter um looper (assassino a cargo da máfia) que apenas tem de se livrar de um corpo que não existe no seu tempo ainda (2044)? Parece-me mais sensato, para não correr o risco de que ninguém fuja.

No entanto, o que me parece mais insensato ainda é o término de contrato de um looper. Tal ocorre quando enviam a sua versão do futuro para ser morta pelo seu "eu" do passado. Se querem que todos os loopers morram seria mais sensato enviarem-nos para outros assassinos, para assim garantir que ninguém hesita em matá-los. Qual de nós não hesitaria em matar-se a si próprio? É verdade que as vítimas são enviadas amordaçadas e encapuçadas, à partida tudo corre bem, mas eu sou assim, metódico e paranóico, e por isso começo o texto por aqui, para despachar estes pormenores "técnicos", até porque o filme é bastante bom e, no final de contas, isso é que interessa.

Rian Johnson e Joseph Gordon-Levitt voltam a unir forças após o excepcional neo-noir "Brick" (não sei se ele entrou no Brothers Bloom, mas se sim foi muito pouco). Desta vez Johnson aventura-se pelo campo da ficção científica, área em que Levitt também havia trabalhado recentemente em "Inception". Teremos nestes dois mais uma dupla realizador/actor de valor e a seguir? Parece-me que sim.

Se há coisa que o filme não me parece ser é surpreendente, depois de as regras do jogo nos serem apresentadas, há uma certa previsibilidade nas acções das personagens, no quem é quem, e como terá de terminar. Mas isso não me tirou o interesse em ver como as peças do jogo chegariam até à sua posição, gostei bastante da forma como as coisas se desenrolam.


Uma pena que as alterações emocionais e de valores que uma personagem sofre no passado, não se façam sentir na sua versão do futuro, com a mesma velocidade que as alterações físicas - magistralmente demonstradas numa ceda poderosíssima ao início do filme. Fosse isto assim e o final teria uma reviravolta mais inesperada, claro que é um jogo mais difícil de trabalhar, mais sujeito a erros, porque como a personagem de Bruce Willis explica há muitos caminhos possíveis a seguir e ainda não definidos, tanto pode ainda acontecer, mas... não consigo deixar de o imaginar.

Muito se tem falado da caracterização de Gordon-Levitt para ficar mais parecido com Bruce Willis. É algo que primeiro se estranha e depois se entranha. Não era necessário, se calhar nem era aconselhado, mas também não correu mal.

Os elementos são bem introduzidos ao longo do filme, para não surgirem destoados mais à frente arriscando-se a soar a falsos. A tensão é boa e o elenco fantástico (vale a pena estar atento ao jovem talento  Pierce Gagnon). É dos filmes de ficção científica modernos mais interessantes que vi nos últimos tempos (falta-me espreitar o "Moon"), esperemos que venham mais como este e melhores ainda.

7 comentários:

tadeu disse...

ola loot!
pareceu-me filme para iniciados. sai do cinema a pensar: "quanto melhor o trailer, pior o filme"
sim, estava com expectativa alta porque adoro o "brothers bloom".
mas não sei...previsível. esperava algo mais. esta foi a razão pela qual sai de casa para o ver: ser surpreendido. e não fui.
acaba por ser a caracterização do Levitt e as cenas com Bruce Willis a parte mais interessante. para mim.
ainda estou a pensar no infeliz que disse que isto era "o matrix desta década". julgar filme pela roupa...
ainda vislumbrei uma piscadela à "12 macacos" com Willis com um corte de cabelo "nuts" :)
enfim...venha o próximo

Loot disse...

O desenrolar da história não surpreende e o próprio conceito daquela sociedade tem as suas fraquezas como disse.

Concordo também que se andou a elevar demasiado a fasquia. Alguém disse que era o melhor filme de sci-fi depois do blade runner e esqueceram-se dessa pérola que mencionas, o Matrix.

Não é uma obra de 5 estrelas como as anteriores mencionadas. Mas no final é um bom filme e saí satisfeito do cinema, não deslumbrado, mas satisfeito. Talvez rever sem essa expectativa ajude no futuro, já me aconteceu com alguns :P

rui alex disse...

Eu gostei bastante do filme e penso que souberam equilibrar a história sem cair em erros que, concordo, são fáceis de cometer com as linhas temporais.
Sobre a nota sobre as mudanças emocionais do eu-passado serem reflectidas no eu-futuro, penso que tiveram isso em conta, o eu-futuro tem memórias e experiências que eu-passado não tem, são essas que o eu-futuro agarra.


*spoiler*
Sobre as regras da sociedade tambem torci o nariz, ser impossivel (ou entao desaconselhavel) matar alguem. Nesse caso caso não haveria necessidade de armas. Os maus neutralizam o heroi enquanto que à amada, efectivamente, a matam.

Loot disse...

a questão das mudanças emocionais era uma deambulação pessoal, nada mais. Seria algo complicado de gerir também e faz-me sentido que não aconteça, é que não ter um dedo é definitivo, agora outro tipo de escolhas estão em aberto. Mesmo assim saliento a cena em que o Willis se força a lembrar da amada porque o "nevoeiro" já está a ficar mais espesso.

Eu gostei bastante do filme. Mesmo que ache algumas coisas insensatas como disse, foi a sociedade apresentada e aceito-a desfrutando do filme em seguida. Até porque do futuro não vemos muito, basicamente não sabemos nada e foi o melhor que fez, para não ter de lidar directamente com determinadas questões que apontamos.

Mas, gosto sempre de falar disto, até porque se há filmes que dá para discutir, de ficção cientifica, são os que metem viagens no tempo :P

Abraço

Unknown disse...

Não tinha grandes expectativas relativamente ao filme e acabei por gostar. Do que tenho visto no cinema nos últimos tempos, até foi um dos mais razoáveis e interessantes que vi, por isso vou de encontro às tuas palavras no texto.

A história dos loopers e a tentativa de intriga com isso também achei que foi um bocadinho não convencedora, no sentido em que falas de não os mandarem mortos ou de lhes pedirem para matar o seu "eu" do futuro...mas mesmo assim não achei a história enfadonha, e de algum modo também não muito previsível, ou talvez peque ao sê-lo quando tenta não o ser; não sei se estou a fazer-me compreender...

Eu preferia o JGL sem caracterização, nem que seja porque as expressões eram difíceis de parecerem reais, mas também não acho que isso comprometa o filme por aí além ou a personagem...quanto a tentativa de ambiente futurista até gostei porque foi algo mais comedido do que vemos na maioria dos filmes, que é sempre a dar no "80"...só melhorava as tonalidades da estética, não gostei muito de ver na projecção, é talvez a parte mais fraca do filme.
Digamos que valeu a pena ver no cinema e que tomara que todos os filmes que andam por ai a ser disparados (principalmente indies de 2010, que as distribuidoras agora lembraram-se de mandar pros cinemas) fossem assim.

cumprimentos,
cinemaschallenge.blogspot.com

Loot disse...

Eles também não exploram muito o futuro, deixando sempre certas questões por responder e ainda bem. Mas, não foi nada que me incomodou, eu aceito a premissa e a partir daí desfruto do filme.

Acho que o pior foi a publicidade que o tentou aproximar de filmes como Blade Runner e Matrix, elevou a expectativa a muitos.

Mas é um filme bastante bom e competente. Acho que estamos de acordo em praticamente tudo ;)

Anónimo disse...

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