quarta-feira, março 14, 2012
Shame
Steve McQueen estreou-se com "Hunger" protagonizado por Michael Fassbender. Filme após o qual ambos saltaram para a ribalta. Mesmo que Fassbender já tivesse chamado a atenção no cinema, lembro-me dele em "300", foi com "Hunger" que se apresentou ao mundo como um dos melhores actores da sua geração.
Três anos depois, entre os quais nos brindou com mais algumas grandes personagens, Fassbender volta a juntar forças com McQueen, dupla esta que volta a reforçar a fé depositada neles anteriormente.
Depois de "Shame" não haverá dúvidas (se é que alguma vez houve além dos membros da academia de Hollywood) de que Michael Fassbender é um portento de actor. A forma como se entrega ao seu Brandon, como se revela "nú" face à câmara, e não falo de tirar a roupa, será certamente um dos melhores momentos de representação do ano. Porque "Shame" nunca seria metade do filme que é sem um protagonista capaz de nos dar um Brandon como Fassbender deu.
Não é de admirar portanto que McQueen já tenha planos para um terceiro filme, novamente com Fassbender, porque sempre me ensinaram que em equipa vencedora não se mexe. É bom ver uma dupla destas com tamanha química em cinema surgir.
"Shame" debruça-se sobre a vida de Brandon, particularmente sobre o seu vício pelo sexo. Seja através de prostitutas, pornografia ou engates de uma noite, Brandon tem uma necessidade compulsiva em relação ao sexo, uma necessidade que, como qualquer outra, precisa de ser satisfeita. Quando a sua irmã Sissy (Carey Mulligan), que ele tem vindo a ignorar, lhe surge em casa para passar uns dias com ele, toda a sua rotina, organizada de forma tão metódica, é abalada. À superfície é um encontro entre caos e ordem. Pior, a irmã liga-o a uma vida que ele quer esquecer, esconder debaixo do tapete e que nunca nos é revelada.
O vício de Brandon é como um buraco sem fundo, uma fome à qual se entrega dia após dia sem nunca a conseguir saciar. A sua vida no âmago é vazia, mesmo no sexo, não existe qualquer tipo de intimidade além da óbvia. Na única relação que tem no filme, ao começar a sentir uma breve brisa da realidade, deixa automaticamente de funcionar. Brandon pode ter uma mulher todas as noites, mas, sente-se inevitavelmente condenado à solidão. A vergonha em relação à sua vida e tão explícita no título é a dele.
A cena em que termina a noite com duas mulheres, após o confronto com a irmã, é de uma intensidade aterradora. Aquele grande plano na sua face foi um dos momentos mais trágicos a que assisti e a ousadia de toda a cena para a mostrar só valoriza mais o trabalho de McQueen.
A carreira de Carey Mulligan está também em ascensão, ainda há pouco a vimos em "Drive" e o seu próximo projecto é já no promissor "The Great Gatsby" de Baz Luhrmann. Neste filme a sua presença não passa despercebida. Se a início a sua personagem parece tão distante da do irmão com o tempo vemos que ambos partilham sérios problemas emocionais. Também Sissy tem uma necessidade que nunca consegue saciar que se manifesta numa enorme dependência pelos outros, algo que nunca acaba bem. Como será ver a nosso própria irmã humilhar-se perante terceiros? Brandon sabe bem que se há coisa que não é sensual, é o desespero.
Há ainda duas personagens cruciais neste filme. Uma é a cidade de Nova Iorque, onde aparentemente as práticas sexuais nas grandes vitrinas desta metrópole são actualmente práticas de culto, a outra é a banda sonora. A composição principal de Harry Escott e que já podia ter sido ouvida no trailer é arrebatadora, simplesmente perfeita na forma como ajuda a criar a atmosfera do filme e se torna parte dela.
Etiquetas:
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5 comentários:
Adorei este teu texto. adorei o último parágrafo e adorei cada segundo do filme..
Obrigado :)
É um filme que fica connosco e nos acompanha durante um bom tempo.
bjs
Também gostei muito do filme e o Fassbender... poça.
**
Acho que ninguém lhe fica indiferente ele é metade do filme ou mais :P
bj
Infelizmente nunca vi em 3D mas AQUILO não é sujeito a cgi
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