sexta-feira, março 30, 2012

Ghost World - Special Edition



Por vezes sinto que obras que se focam na adolescência são vítimas de algum preconceito. Se é para e sobre adolescentes, então não vale a pena perder tempo com elas, pois não se tratam de obras com o peso e maturidade da idade adulta. Tal como muitas pessoas se esquecem de como é ser criança, parece que também se esquecem de como é ser adolescente. Pois bem, "Ghost World" é um livro de BD sobre a adolescência, mais especificamente sobre a fase final, e impossível de conter, em que se transita para a idade adulta. E, surpresa das surpresas (ou não), é excepcional.

Da autoria de Daniel Clowes, foi originalmente publicada na sua série de BD "Eightball" e corresponde aos números #11-18. Posteriormente foi compilada sob o nome "Ghost World"e é hoje o seu trabalho mais aclamado, o que certamente se deve em grande parte à sua adaptação cinematográfica realizada por Terry Zwigoff.

A história segue Enid Coleslaw e Rebecca Doppelmeyer, duas amigas inseparáveis que passam os dias a observar as pessoas da sua cidade sempre num tom cínico e crítico. Ao lê-las é impossível não sentir uma certa nostalgia de tempos que já passaram e não voltam. Ambas terminaram o liceu e ponderam o que fazer no futuro. Rebecca agarra-se à ideia de que as coisas não vão mudar, que ela e Enid irão manter-se unidas e continuar as suas vivências juntas, mas nada é para sempre e tal ilusão começa a quebrar-se cada vez mais quando esta descobre que Enid se está a candidatar para uma universidade fora da cidade, o que eventualmente as afastará de forma permanente.

Por muito que Enid se esconda por detrás das suas desculpas, apontando o pai como a única razão da sua candidatura. Por muito que ela tente convencer Rebecca de que também está motivada a manter a sua amizade inquebrável, a verdade é que tal está longe da realidade. Enid anseia por uma mudança na sua vida e por mais que ame a sua amiga, esta está terrivelmente associada ao passado com o qual pretende cortar. No final não dá para ter o melhor de dois mundos e Enid precisa de escolher qual o caminho que quer realmente seguir. As escolhas são uma constante da vida e nem sempre tomadas de ânimo leve, quem nunca sentiu na pele os seus receios e aquela vontade sonhadora de pegar nas malas e simplesmente partir?

Todos nós nos lembramos também das nossas grandes amizades de liceu, como terminámos e assegurámos uns aos outros que manteríamos contacto, que continuaríamos inseparáveis. Mas, as vivências do futuro levam-nos para sítios distintos e o afastamento tende a ser o percurso mais natural. O mais estranho é quando posteriormente e por alguma razão reencontramos esses antigos amigos, constatando o quão diferentes nos tornámos uns dos outros. Como é possível termos sido tão unidos e agora sermos tão díspares? Tão distantes? Talvez por isto mesmo Clowes tenha feito, em tom de brincadeira, possíveis encontros entre a Enid e Becca adultas e que podem ser vistos no início desta edição especial.

Uma das questões mais colocadas ao autor, só podia ter a ver com a forma como ele escreve tão bem duas mulheres adolescentes. Nas suas próprias palavras ainda deve, a algum nível, pensar como um adolescente inarticulado e que aparentemente a distãncia para uma versão feminina não é assim tão grande. Afinal de contas tanto Enid como Rebecca são versões da sua pessoa, principalmente a segunda. Enid é também inspirada em várias mulheres que conheceu, principalmente na sua esposa, Erika, a quem dedicou esta obra.

No que toca à coloração, esta sofreu várias alterações ao longo do tempo. Originalmente, ou seja, nos tempos de "Eightball", o autor experimentou trabalhar a história em tons de preto e azul e posteriormente preto e verde. Nesta versão toda a história se encontra com a tonalidade azul esverdeada e negra.
Em termos de traço as personagens também foram mudando à medida que o estilo gráfico de Clowes evoluía. Por isso mesmo, aquando da compilação, o autor alterou vários dos seus desenhos para manter assim uma coerência na obra.
Pessoalmente sou um grande fã do estilo deste autor, gosto muito da forma como retrata as suas personagens, assumindo por vezes um tom caricatural. A cor é algo bastante diferente do habitual e que dota a história com uma luz bastante pessoal, como se estivesse quase sempre a anoitecer.

Agora sobre a edição especial. Esta contém uma grande quantidade de material extra, em termos de páginas, consistem em cerca do triplo em comparação com a própria história. Desde apontamentos do autor, passando por uma grande galeria com várias ilustrações, tiras relacionadas com Enid (como a "Little Enid"), capas, esboços e páginas da BD a preto e branco ou rubylith.
Para terminar temos ainda material relacionado com o filme, tal como anotações tanto de Clowes como de Zwigoff, fotos, posters e, a cereja no topo do bolo, o guião do filme, na íntegra, o qual esteve nomeado para os óscares.

Para quem, como eu, adorar tanto a BD como o filme e todo o universo de Daniel Clowes, acho que o investimento nesta edição vale bastante a pena. Claro que o mais importante é ler a história por isso edição especial ou não, o que importa é partir à descoberta deste mundo fantasma.

A finalizar deixo aqui um vídeo com um preview desta edição.

5 comentários:

cube disse...

e agora, no fim de semana, quero ler este livrito;)

Loot disse...

Ainda me falta prestar mais atenção ao material extra, mas ele está aqui à tua espera :)

tadeu disse...

tenho esta bd a tanto tempo...comprei sem saber ao que ia. a tal história da devir investir em condições nos quiosques.
o traço era estranho, nada apelativo mas gostei muito do resultado final.
depois, veio o filme e faz parte da mobília cá de casa :)
esta edição está impecável e confere a bd uma importância que surpreende.
abraço!

Loot disse...

Também gosto muito do filme. É um daqueles casos em que tanto a BD como filme merecem bem o lugar na mobília.

Abraço

Anónimo disse...

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