segunda-feira, novembro 07, 2011
Hunger
Já era tempo de riscar Hunger da lista, um dos filmes mais falados dos últimos tempos.
Trata-se do primeiro filme de Steve McQueen e conta com Michael Fassbender no papel principal.
Não é todos os dias que se assiste ao nascimento de uma dupla realizador/actor tão promissora. Sei que ainda é cedo para tal afirmação, mas após assistir a este filme e sabendo que além de terem terminado mais um (Shame, igualmente promissor) já se encontram a planear um terceiro, existe o sentimento no ar de que temos dupla.
Resta-me esperar que daqui a uns anos pensemos neles como num Wong Kar-Way/Tony Leung, Martin Scorsece/Robert de Niro e agora Leonardo di Caprio, Tim Burton/Johnny Depp, entre tantos outros. Seria um óptimo sinal se assim fosse.
O tema central do filme tal como o próprio título o indica é a fome, mais particularmente a greve de fome levada a cabo por vários presidiários membros do IRA e que foi iniciada por Bobby Sands (Michael Fassbender) a fim de todos recuperarem o seu status político, recuperando assim determinados previlégios que haviam perdido e aos quais têm direito segundo a convenção de Genebra.
Antes desta greve de fome existiram outros protestos levados a cabo pelos mesmos, inclusivé outra greve de fome, mas uma que acabaria por falhar. O filme introduz-nos a esta situação ao mesmo tempo que Davey Gillen (Brian Milligan) o mais recente membro do IRA chega à prisão, ou seja, enquanto está a decorrer o famoso protesto da sujidade, onde todos os presidiários desta causa sujam as paredes de fezes e deitam a sua urina pela porta para os corredores. Um protesto duro mas também condenado a falhar.
Apesar de a história se centrar nas acções de Sands, este só surge em cena vários minutos após o início do filme. Até lá é através de Gillen e do guarda Raymond Lohan (Stuart Graham) que conhecemos o funcionamento da prisão.
Salvo a excepção de algumas curtas cenas com Raymond Lohan todo o filme decorre sempre no mesmo espaço, o da prisão. Talvez a ideia disto seja a de nos sentirmos também presos àquele espaço sempre descrito através de imagens que não poupam na crueza daquele ambiente (ainda bem que este filme não é em 4-D).
O filme é dotado também de poucos e curtos diálogos, salvo a excepção da grande conversa entre Bobby Sands e o padre Dominic Moran (Liam Cunningham). Tal como os diálogos também a mudança de planos é curta. Veja-se precisamente esta cena, durante toda a conversa entre os dois a câmara mantêm-se imóvel mostrando-os sentados numa mesa a fumar enquanto discutem. No fim a câmara foca-se primeiro em Sands durante o seu monólogo final e termina focada no padre para nos mostrar o seu silêncio inconfortável, onde nem uma palavra é pronunciada, porque depois daquele monólogo já não há nada a dizer.
A última meia hora do filme, referente à greve de fome, é de uma intensidade enorme e mostra-nos mais uma vez que Fassbender é sem dúvida alguma um nome a reter.
Um filme cru, intenso e sem meias medidas para atingir o seu objectivo.
E agora depois da fome, anseio pela vergonha.
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3 comentários:
O filme é imensamente desconfortável mas aborda de forma bem eficaz e crua, como referes, o tema a que se propõe...o que o Homem pode fazer na luta pelos seus ideais, contrapondo-se ao horror da crueldade e violência humanas.
O Fassbender superou-se, foi uma interpretação brutal...e teremos realmente uma dupla a ter em atenção? Mal posso esperar para descobrir ;)
(Pontos extra para a tua última frase...ficou bem apanhado :p)
não li o post porque quero mesmo mesmo ver este filme e último dele. está para breve :) depois venho cá ler.
Catarina: Das capacidades do Fassbender não tenho dúvidas, pelos filmes todos que vi dele. Quanto ao realizador, gostei muito deste e o trailer do Shame é poderoso e as críticas confirmam tal poder.
Eu estou entusiasmado com o que estes dois podem vir a fazer :)
Obrigado pelos pontos extra ;)
Cláudia: Fazes muito bem, em ver e não ler :P
Eu sou igual raramente leio sobre um filme antes de o ter visto.
bjs
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