quinta-feira, novembro 17, 2011

Gonçalo M. Tavares


Já queria ter falado deste escritor há algum tempo por aqui, por isso não vou deixar passar mais uma oportunidade e aproveitar para o fazer agora, uma vez que queria também partilhar que Gonçalo M. Tavares vais estar este Sábado no Porto a iniciar o "Ciclo de conversas Porto de Encontro" que terá início pelas 17h00 e será no Palácio dos Viscondes de Balsemão.
Esta iniciativa visa promover a conversa com escritores e é organizada pelo jornalista Sérgio Almeida e promovida pela Porto Editora.

Para quem puder acho que vale a pena, já tive o prazer de conversar com o autor e recomendo.

Gonçalo M. Tavares é um nome que tem ganho cada vez mais ênfase no mundo da literatura portuguesa. Estava naquelas listas imaginárias que todos temos (alguns em papel até) para eu ler um dia, mas o tempo ia passando e nada. Este ano durante a feira do livro decidi que não passaria mais um minuto sem corrigir esta falha.





A Máquina de Joseph Walser





"Somos mais corajosos quando recebemos ordens fortes"

Comecei por ler A Máquina de Joseph Walser, um livro que pertence à colecção Reino composta por quatro ao todo. Este é o segundo na colecção mas todos podem ser lidos por qualquer ordem.
A história decorre durante uma qualquer guerra, onde tanto a história como a guerra têm início e conclusão ao mesmo tempo.
Gostei muito do livro, acho que Tavares escreve muitíssimo bem e tem uma grande capacidade para construir personagens. Pegando por exemplo em Jospeh Walser, um homem comum, completamente previsível e mecânico que se torna numa personagem absolutamente fascinante aos nossos olhos, com todas as suas peculiaridades e manias. Porque há fascínio no previsível e no banal, porque muitas vezes não olhamos duas vezes para algumas pessoas e não é por isso que deixam de ser verdadeiramente fascinantes à sua maneira, nós é que desconhecemos por completo o mundo que existe dentro delas.
A qualidade das personagens é crucial numa história e a forma como o autor as descreve ao pormenor, é fantástica. Além do protagonista ou do seu patrão Klober que sempre que entra em cena agarra o momento e faz com que tudo gire à volta dele, temos também uma outra personagem magistral que é a própria máquina de Joseph. Nunca sendo descrita na sua plenitude, nunca a conhecemos verdadeiramente, mas a sua imponência ao longo de todo o livro é sempre, fortemente, sentida.
De resto foi um dos livros com um dos finais mais coitus interruptus que li. Adorei o momento.






A perna Esquerda de Paris seguido de Roland Barthes e Robert Musil.





"Maria Bloom tinha aulas de paradoxos, duas vezes por semana, das seis às cinco e meia da tarde.
Nunca chegava a tempo porque chegava sempre adiantada."


O segundo livro foi A perna Esquerda de Paris seguido de Roland Barthes e Robert Musil. Editado curiosamente no mesmo ano que o anterior, 2004.
Este livro encontra-se dividido em duas partes.
Na primeira temos A perna Esquerda de Paris, onde a narrativa fragmentada nos conduz, através das personagens por diversas reflexões sobre a realidade em que funcionamos. Algo que já acontecia no anterior mas de uma forma mais ligada a uma história.
O final volta a ser um momento inesquecível.
Na segunda parte temos então Roland Barthes e Robert Musil, num formato totalmente diferente ao qual estamos habituados, no formato de uma tabela literária. Sim, porque a dada altura questiona-se no livro o porquê de termos de escrever em linhas se também o podemos igualmente fazer em tabelas.
Gostei muito da rebeldia, se é que lhe posso chamar isso, manifestada neste segmento.
Agora, sendo já este o segundo que li, posso reconhecer certos temas que o autor gosta de explorar, tal como as máquinas e também a matemática que faz sempre uma aparição religiosa nestes livros.

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