sexta-feira, janeiro 16, 2009

The Curious Case of Benjamin Button

O novo filme de David Fincher, que é o mesmo que dizer, um dos mais esperados do ano, chegou ontem às nossas salas de Cinema.
Se o primeiro trailer deste filme nos remetia para um Universo típico de Tim Burton, em grande parte culpa da música escolhida que relembrava Danny Elfman, a verdade é que "The Curious Case of Benjamin Button" pouco ou nada tem de Burton.
Era um filme apontado como "completamente distinto" da sua filmografia e nesse sentido confesso que esperava algo mais diferente. Nunca achei que se colaria à estetica de Burton mas sempre pensei que além do romance Fincher iria, pela primeira vez, enveredar também pelo mundo da fantasia o que, para minha surpresa, não foi bem o caso. Sem contar obviamente com o factor de que ninguém envelhece ao contrário, este filme é incrivelmente real, por vezes frio e cerebral como é já típico do realizador. Esta é acima de tudo a história de um homem que nasce diferente e como a sua "condição" lhe afecta o crescimento e as escolhas ao longo da vida.
No dia em que a grande guerra terminou, nasceu em New Orleans uma criança como nunca antes o mundo tinha visto. Apesar de em tudo ser um bebé, tinha um aspecto velho com todas as caracteristicas e enfermidades típicas de um homem com 80 anos a aproximar-se da hora da morte. Seu pai horrorizado pelo seu aspecto abandona-a nas escadas de, ironia das ironias, um lar da terceira idade. Lá é criado por Queenie (Taraji P. Henson) e passa a ser conhecido pelo nome de Benjamin (Brad Pitt).De todos os locais onde Benjamin poderia ter crescido, confesso que este foi provavelmente a melhor escolha. O seu aspecto velho e débil passava despercebido entre os outros residentes e poupou-lhe certamente anos de preconceito e ridicularização. Mas Benjamin era uma criança e isso era díficil de assentar nas mentes dos outros que a seus olhos apenas viam mais um idoso. Por isso não é de estranhar que a sua relação com Daisy (Cate Blanchett), a primeira criança que conhece e por quem se apaixona, não fosse bem vista por alguns, uma vez que um velho e uma criança não pertencem juntos. Mas Daisy sabia que Benjamin era diferente e que apesar da sua aparência mais velha, as suas almas eram da mesma idade.
A primeira parte do filme, que aborda o crescimento de Benjamin no lar, bem como as suas aventuras pelo mar fora ao lado do irrepreensível Captain Mike (Jared Harris), são qualquer coisa de maravilhoso. É durante este período que conhece algumas das personagens que mais marcarão a sua vida, como Ngunda Oti (Rampai Mohadi) um pigmeu que lhe explica o significado de ser diferente, Thomas Button (Jason Flemyng) ao lado de quem tem a sua primeira experiência com o álcool, Elizabeth Abbott (Tilda Swinton) o seu primeiro romance e o já mencionado Captain Mike parceiro de inúmeras aventuras tanto em mar como em bordéis, ups, queria dizer terra.
Seguindo esta linha de raciocínio a segunda parte do filme corresponde ao já esperado romance entre Benjamin e a personagem interpretada por Cate Blanchett, Daisy. A ideia é fantástica, duas pessoas apaixonadas que envelhecem em sentidos opostos e se encontram no meio. No entanto foram momentos que nunca chegaram a arrebatar-me por completo. Senti que faltou alguma paixão, talvez uma realização com menos cabeça e mais coração. Por outro lado parece-me claro que foram decisões conscientes por parte do realizador que não quis romancear demasiado a história, talvez para não perder o ar sóbrio e real que lhe conferiu.
Em termos técnicos o filme roça a perfeição e penso que o Óscar para melhor caracterização já está mais do que entregue. É surpreendente a qualidade da maquilhagem dos dois personagens principais ao longo das suas várias idades, bem como o retrato fiél das diferentes épocas que vamos atravessando.
"Levemente" baseado em um conto de 1921 de F. Scott Fitzgerald, esta é a história da vida de Benjamin Button. Um belo filme que infelizmente, na minha opinião, falha em elevar-se até ao patamar final, o patamar que o colocaria ao lado de outras obras memoráveis e que nos faria recordar "The Curious Case of Benjamin Button" como a obra-prima que devia ter sido.

PS: Foi impressão minha ou o Benjamin envelhece em tudo ao contrário excepto a nível sexual?

14 comentários:

Anónimo disse...

Ainda não tive a oportunidade de ir ver o filme mas pelo que tenho lido, tenho alguma curiosidade em ver. ;)

Excelente critica. :D

Abraço. :)

Nuno Amado disse...

Eu tou cómó OCP!
Mas tou muito curioso com o filme, embora já esteja de pé atrás quando dizes que é "levemente" baseado na obra de F. Scott Fitzgerald...

Abraço

Anita disse...

A mim arrebatou-me completamente!!!Acho mesmo brilhante a todos os níveis especialmente a nível romântico que pelo que percebi a ti decepcionou um pouco :(. Acho que o Pitt e a Cate têm uma química fantástica e conseguem transmiti-la na perfeição. É impossível não nos emocionar-nos com a sua história, especialmente com a sequência final.

A Blanchett está majestosa..."preenche" completamente o ecrã de cada vez que aparece ...já Pitt tem aqui provavelmente a interpretação da sua carreira até ao momento.

Não o considero o melhor filme de Fincher mas, acho que é o mais equilibrado sem dúvida!!!

Beijinho

PS: já viste o segundo episódio de Damages???Acho que ainda foi melhor que o primeiro e parece que vamos ter mais dores de cabeça nesta temporada:)

Unknown disse...

Comentando cronologicamente de acordo com a tua crítica:

* Ainda bem que este mundo de Fincher não se assemelhou em nada ao universo de Burton. Deu-lhe uma classe maior que de outra forma não poderia obter.

* Relativamente à segunda parte estou em desacordo :p A segunda parte arrebatou-me por completo quando a primeira não o tinha conseguido fazer. Aliás, só no fim do filme é que a primeira parte do filme fez perfeito sentido, ou melhor, para mim foi onde tudo se encaixou perfeitamente.

* Eu acho que será em tudo um filme memorável no que toca ao futuro.

* QUanto à parte da sexualidade, o que tu dizes faz perfeito sentido, mas pensando de outra forma, mesmo que ele não tenha muita stamina no inicio, não deixa de ser criança em todos os outros aspectos e quando chega à dita idade e descobriu o sexo, é normal que fique viciado e, sendo que foi a primeira vez, faz sentido que aguente, por mais velho que seja fisicamente... Mas não sei... É apenas um wide shot.

Mas em termos quantitativos quanto das ao filme?

Abraço

Loot disse...

OCP: Obrigado, e se puderes vê acho que vale a pena.

Bongop: Então porquê? :P
Mas como disse ao OCP se puderes vê, não vais dar o tempo por perdido :)

Anita: Como disse é um belo filme, mas sinto que faltou ali qualquer coisa para ser magestoso (para mim).
Por exemplo quando me lembro de filmes como "Novo Mundo" ou "the Fountain" houve neles um "click" que este não teve, estão para mim em diferentes patamares :P
A sequência final é de facto muito boa nada a apontar ;)
O Pitt é um actor que gosto imenso, não sei se é a sua melhor interpretação mas é muito boa.
O melhor de Fincher para mim é o Fight Club sem dúvida :D

PS: Ainda não vi o segundo devo ver amanha ;)

Fifeco:

* Não disse isso com tom perjurativo, apenas para salientar o tipo de filme. No entanto não me importava de ver Burton a pegar neste mundo de Benjamin :)

* Aproveito para salientar que a sequência final é muito boa, não me referia a ela quando falei no romance dos dois. Como já disse à Anita invejo-vos, mas faltou ali qualquer coisa para mim.

* Isso o futuro o dirá :P

* Sim não é por aí, achei apenas curioso pois pareceu-me um erro ;)

* Eu não costumo dar notas a filmes :P
Por isso é que tive especial atençao em escrever este comentário, para não falar apenas bem e pensarem que o considero uma obra-prima que não é o caso.
Se tivesse que lhe dar uma nota, acho que seria um 4 em 5 estrelas :)
Como disse eu achei que o filme tinha potencial para ser brilhante, mas acaba por não o ser.

Nia disse...

Não podia concordar mais: "frio e cerebral" e podia ter sido uma obra prima...

Saudações cinéfilas,
Nia

Athena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Athena disse...

Ainda não vi este filme mas confesso que estou cheia de curiosidade apesar de já ter lido algumas criticas que, à semelhança da tua dizem, faltar algo, "menos cabeça e mais coração". Acho a história do envelhecer ao contrário mesmo muito interessante e que pode ser utilizada de inúmeras maneiras enquanto metáfora. De modo que acho que vou ler o livro em que se baseou este filme primeiro para não ser influenciada pelo sentido metafórico (ou falta dele segundo alguns) do David Flitcher...xD

Loot disse...

Nia: À partida tinha tudo para o ser...
E eu que adoro tragédias :P

Athena: Tal como tu adoro a ideia, aliás este género de filmes tem tudo a ver comigo e ainda para mais é realizado por alguém que admiro bastante.
O conto não o li, mas pelo que percebi é muito diferente do filme, daí o "levemente" inspirado.
Tenta ainda apanhá-lo antes que saia da sala de cinema se puderes e depois conta-me o que achaste :P

Unknown disse...

Eu sei disse aquilo do Burton porque não sou fã dele. Eh eh.

Quanto à nota, consigo perceber perfeitamente a nota até porque a principio era essa que ia dar mas depois pensei nele e subiu. :p

O que não percebo é as notas de 1 ou 2 estrelas. Por muito que não se goste do filme há que reconhecer as suas qualidades todas e elas valem pelo menos 3 estrelinhas. Mas é só uma opinião claro.

Abraço

Loot disse...

Aliás como sei que não és grande fã de fantasia lembrei-me logo de ti depois de ver o filme e como deves ter preferido esta abordagem mais real.

Para mim quando alguém dá 3 estrelas a um filme se é uma nota positiva é porque o filme já vale a pena e há tantos filmes bons a quais daria 3 ou 4. Por isso seria injusto estar a dizer que este filme foi uma desilusão, não foi. Estava a contar era que fosse "perfeito" e por momentos tive o vislumbre de que podia ter sido...
Agora nada disto lhe tira a qualidade que tem nem que é uma das melhores sugestões em cartaz.

Quanto às notas, não sei que dizer, se alguém detestou toda a história do filme deverá dar nota positiva apenas pela sua qualidade técnica? Deixo isso ao critério de quem dá a nota.
Percebo que as notas dêem jeito para dar a entender rapidamente ao leitor o quanto se gostou de um filme, mas eu prefiro ler o comentário :P

abraço

Unknown disse...

Só para dizer ainda mais uma coisa sobre a questão das notas. Aconselho uma pesquisa pelo site de cinema do público e a crítica de um sr que deu uma estrela. É uma tarefa deveras curiosa.

Por oposição aconselho a leitura de um crítico do expresso que deu quatro estrelas à película.

Vê os contrastes e vê qual aquela que faz mais sentido. Acho que se torna interessante perceber até onde vai um crítico.

Abraço

Anónimo disse...

Eu gostei do filme, mas entendi o que você quis dizer sobre o trailer vender um filme e na verdade ser outro. Apesar da abordagem ser seca, não tem como assistir o filme de forma fria. Emociona em vários momentos. E creio que parte que mais atordoa é quando ele volta a juventude e constata que não pode ter um futuro, pois esse tempo já passou.

Valeu Loot.

Loot disse...

O segundo trailer já não tanto, mas eu não me importei com isso apenas afirmei no texto o género de filme que é. Achei interessante este ponto de vista realista que Fincher decidiu usar.
E sim é triste quando ele constata que não pode seguir a vida da sua filha :(

Abraço