quarta-feira, abril 30, 2008

I´m Not There

"I´m Not There" pretende abordar a vida do homem/lenda/poeta que foi/é/poderia ter sido, Bob Dylan.
Foram várias as propostas que existiram para se fazer um filme sobre a vida deste Senhor, mas acabou por ser a visão alternativa de Todd Haynes a conquistar a aceitação do músico, e depois de se ver o filme, independentemente de se gostar ou não, percebe-se perfeitamente porquê, uma vez que a ideia de Haynes é verdadeiramente aliciante.
Após o ter visto era impossível não me recordar de "Velvet Goldmine" essa obra de culto que nos mostra a visão do Glam Rock por Todd Haynes, e que visão explendorosa. Apaixonei-me por este filme na primeira vez que o vi, altura em que conhecia muito pouco sobre o movimento Glam. O filme fez-me querer conhecer mais e hoje David Bowie é um dos meus artistas de eleição e Oscar Wilde um dos meus escritores predilectos. Hoje posso ver o filme com uns olhos mais conhecedores, mas sei que é capaz de conquistar qualquer um e já com "I´m Not There" tenho as minhas dúvidas. É claramente um filme que será vivido de forma muito diferente consoante o conhecimento e paixão que se tem por Bob Dylan. Tal como em "Velvet Goldmine" ver este filme deu-me vontade de descobrir e ouvir ainda mais de Bob Dylan (e como adoro estes processos todos de descoberta). Porém e isto pode dever-se ao facto de já ter algum conhecimento da vida do artista, "I´m Not There" pareceu-me um filme mais díficil de ver para aqueles que pouco ou nada conhecem dele, no entanto, não quero com isto dizer que não possa ser apreciado pelos mesmos, aliás se este filme der vontade às pessoas de conhecerem mais sobre Dylan, então já cumpriu uma função.
O filme reparte-se por seis actores, seis pessoas diferentes que encarnam fases distintas da vida do homem/lenda/poeta.Marcus Carl Franklin interpreta um vagabundo com 11 anos cujo nome é Woody Guthrie, numa clara homenagem ao cantor folk de mesmo nome que inspirou Dylan a enveredar por esse género musical. O verdadeiro Woody Guthrie é aquele que é visitado mais tarde no hospital pela personagem de Marcus Carl Franklin.
Ben Whishaw é a figura mais poética do filme, recitando (numa entrevista?) várias frases ao longo do filme, frases poderosas que se entrelaçam com as várias estórias do filme. O nome desta personagem também foi escolhido em homenagem a alguém, neste caso um dos poetas favoritos de Dylan, falo do fascinante e alucinado Arthur Rimbaud.
A Christian Bale calhou poder interpretar duas fases da vida do artista, como Jack Rollins ele mostra-nos o Dylan profeta. Primeiro no início dos anos 60 durante a sua ascenção como estrela Folk e como cantor protestante com letras bastante políticas, estamos portanto na altura de "Blowin' In The Wind". E mais tarde na fase em que se converteu ao Cristianismo no final dos anos 70 onde experenciou com música Gospel. Para quem não sabe Bob Dylan é Judeu e caso não seja claro no filme esta sua fase Cristã não foi permanente, como disse mais tarde ele "encontra a religião e a filosofia na música".
Poderíamos dizer que Cate Blanchet teve sorte pois de todos deve ter sido a que mais material teve para estudar Dylan uma vez que o representa em uma das suas fases mais populares, no entanto por outro lado é a mais fácil de criticar pois o seu Dylan é o que está na memória da maior parte. A verdade é que nada disto interessa depois de ver o seu desempenho arrebatador. Blanchet está verdadeiramente arrepiante na pele de Jude Quinn, a fase "eléctrica" de Dylan. Como o próprio nome indica nesta fase Dylan começou a usar instrumentos eléctricos. Na altura gerou muita controvérsia e muitos dos seus fãs o chamaram de traidor, pois não esperavam tal mudança. Hoje em dia esta é considerada uma das melhores fases da sua carreira, foram nestes anos que ele compôs entre muitas o hino "Like A Rolling Stone". Nesta parte do filme é muito interessante assitir ao encontro com os Beatles, com o poeta Allen Ginsberg, com a senhora Coco Rivington e obviamente ao "duelo" com Keenan Jones, a quem mais tarde será dedicada a grande música "Ballad of a Thin Man". A escolha de Blanchet é a mais caricata uma vez que se trata de uma mulher, mas é ela curiosamente que acaba por ser fisicamente a mais parecida com Bob Dylan.Heath Ledger que apesar de ainda não ter desaparecido das telas já deixa muitas saudades, representa Robbie Clark um actor que representou em alguns filmes Jack Rollins (esse mesmo, o Dylan interpretado por Christian Bale). Aqui Ledger aborda através de Robbie Clark a vida familiar de Dylan, mais especificamente o seu casamento e divórcio com Sarah Lownds (que no filme tem o nome de Claire). Quando apareceram as filhas pensei que poderia também aparecer um rapaz, Jakob Dylan, mas afinal não.
Por fim temos Richard Gere como Billy The Kid, na parte do filme em que mais questões tive. Sei que Bob Dylan gosta muito dó personagem Billy The Kid e que até participou no filme de Sam Peckinpah, "Pat Garrett and Billy the Kid ", além de ter composto a sua banda sonora. Foi aqui que surgiu o clássico "Knocking on Heaven´s Door". É sem dúvida a parte mais bizarra do filme colocando esta versão de Dylan num Western alternativo. A personagem de Gere aparenta ser um erimita o que me faz pensar que esteja a interpretar a fase em que Dylan esteve ausente após o seu acidente de mota em 1966, acidente esse também falado no filme.
Mais uma vez a escolha de diferentes actores para interpretar diferentes fases da vida de Bob Dylan, foi um golpe de génio, mas não foi apenas na escolha de vários actores que as diferenças do filme terminam, a própria forma como Haynes escolheu filmar cada segmento é diferente. Por exemplo as cenas sobre as personagens Woody Guthrie, Robbie Clark e Billy the Kid são filmadas a cores. As cenas sobre Jack Rollins são filmadas em formato documentário a cores e em 16mm. Por fim as cenas com Jude Quinn e Arthur Rimbaud são filmadas a preto e branco, mas em estilos completamente distintos (não sei o termo técnico para a filmagem das cenas de Rimbaud, que se encontram naquele formato cheio de "grão").
O nome Bob Dylan ou Robert Allen Zimmerman (nome verdadeiro de Dylan) nunca são mencionados no filme e não fosse pela sua aparição numa imagem perto do fim, podíamos dizer que Dylan, verdadeiramente nunca "Esteve lá".
Para terminar posso dizer que para mim é um excelente filme, que acima de tudo não tem medo de arriscar e só por isso Todd Haynes já merece uma grande salva de palmas.

8 comentários:

nsalvador disse...

Eu acho que não passa tanto por conhecer a vida/obra do Bob Dylan...

Da minha parte não conhecia quase nada da "lenda". Aparte das músicas mais famosas... era zero...

Posso até dizer que tudo o que li sobre o que escreveste no post acerca do filme/Bob Dylan é novidade para mim, estou a "ouvi-lo" pela primeira vez e, no entanto, adorei o filme!!!

E porquê?
Porque gostei da música (costuma-se dizer que primeiro estranha-se e depois entranha-se! :P), gostei da filosofia e gostei da alucinação que é o filme...

Acho que, por exemplo, o Ben Whishaw entra logo a matar com grandes dicas... depois o puto também está em grande... epá todos...

Mas, lá está, vi o filme como se fossem vários estórias, apenas várias filosofias de vida, que se tocavam em vários pontos, não percebendo, mtas vezes, se o que estava a ver tinha acontecido mesmo ou se era inventado. E talvez por causa disse, a parte que gostei menos foi a parte em jeito de Documentário... :P

Mas pronto, saí do filme com vontade de conhecer um pouco mais do Bob Dylan! :D

Loot disse...

"É claramente um filme que será vivido de forma muito diferente consoante o conhecimento e paixão que se tem por Bob Dylan.(...) Porém e isto pode dever-se ao facto de já ter algum conhecimento da vida do artista, "I´m Not There" pareceu-me um filme mais díficil de ver para aqueles que pouco ou nada conhecem dele, no entanto, não quero com isto dizer que não possa ser apreciado pelos mesmos, aliás se este filme der vontade às pessoas de conhecerem mais sobre Dylan, então já cumpriu uma função."

No fundo é como disse ou não? ;)
E volto a sublinhar se te deu vontade de conhecer mais Bob Dylan então é excelente que assim ainda mudas de ideias e vens ao alive também :P

Abraço

Menphis disse...

Como sabes adorei o filme, fiquei a simpatizar mais pela personagem Rimbaud, adorei a música,etc. A parte que mais gostei foi mesmo a parte do Like a Rolling Stone", quando a Cate entra em palco e dispara as metralhadoras e depois a reacção dos fans, penso que ali, da maneira com está filmada, é poesia pura.

Quanto ao Alive...nunca mais chega, lá estou :)

Loot disse...

Além do que mencionas também gostei muito da parte do Heath Ledger, aquele diálogo à mesa sobre se as mulheres podem ser poetas ou não estava muito engraçado.

A cena da metralhadora é muito boa, como se costuma dizer mais vale causar má impressão do que impressão nenhuma. Fez-me lembrar o concerto do Curt Wild (Ewan Mcgregor) no Velvet Goldmine onde todo o ambiente e reacções do público são fantásticas.

Esta conversa sobre o "I´m not there" já me está a dar vontade de o rever :)

Eu estou a pensar que não irá esgotar, mas se calhar já devia ir comprar o bilhete.

Joana disse...

tenho de ver este filme porra
:')

cumprimentos

Loot disse...

Tens mesmo :P

bj

Bruno Cunha disse...

Acho este filme fabuloso e, como tu, acho que é um filme que não agradará a todos!
Também achei Blanchett a mais parecida com Bob Dylan e Ben Whishaw e as suas frases são estonteantes!

Abraço
Cinema as my World

Loot disse...

Sim é engraçado mas é uma mulher a que fisicamente mais se assemelha a Dylan neste filme :P

Ela também representa a sua fase conhecida o Dylan artista que o público conheceu e não o pai, o marido, etc.

Acho também que Todd Haynes não queria que todos os actores tivessem os mesmo tiques e fossem idênticos isso é claro.

É um belo filme e agora que me puseste a pensar nele fiquei com saudades de o rever.

Abraço