sexta-feira, setembro 05, 2014

O Mandarim



E todavia, ao expirar, consola-me prodigiosamente esta ideia: que do norte ao sul e do oeste a leste, desde a Grande Muralha da Tartária até ás ondas do Mar Amarelo, em todo o vasto Império da China, nenhum Mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu, o pudesses suprimir e herdar-lhe os milhões, ó leitor, criatura improvisada por Deus, obra má de má argila, meu semelhante e meu irmão!

Ia pegar no "Primo Basílio", mas um golpe do destino, colocou-me "O Mandarim" no colo primeiro (um golpe do destino aqui equivale a: um é meu e o outro é emprestado, logo teve primazia).

"O Mandarim" trata-se de uma história, que a partir de uma acção fantasista nos envolve numa enorme lição de vida. Tudo começa quando Teodoro, homem de classe média, se vê confrontado com a possibilidade de se tornar milionário com o mero tocar de uma campaínha. Qual o problema? Ao tocar na campaínha, um Mandarim morre. É uma ideia que tem sido explorada em outros meios, tenho quase a certeza que existe um episódio da "Twilight Zone" sobre isto e, também, um recente filme do realizador de "Donnie Darko" (um que não vi).

A ideia é muito simples e pretende mostrar-nos até que ponto Teodoro consegue realmente ser feliz ao ter recebido o dinheiro nestas condições. Aqueles que sofrem desse mal chamado consciência, provavelmente têm esta noção mais vincada, sabem que determinadas acções nunca terão o mesmo sabor se vierem contaminadas com venenos deste género. Porque somos mais felizes quando temos o coração livre. De qualquer das formas acabo por tender para o parágrafo final desta obra, achando, com pena, que a maioria iria mesmo tocar na campaínha, mas quem sou eu para atirar pedras enquanto não confrontado com similar situação.

É uma histórias bastante curta, sempre centrada numa única personagem, Teodoro. O homem cuja tentação do Diabo irá dar mote as acções desta histórias que decorrerão tanto em Portugal como na China, dois países que Eça de Queiroz descreve com detalhe e emoção.

No final fica sempre a lição, uma que todos já devíamos saber. Caminhem nesta vida orgulhosos, de coração aberto e NUNCA toquem nas campaínhas (a não ser que seja para entrar em algum lado).

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