She was Lo, plain Lo, in the morning, standing four feet ten in one sock. She was Lola in slacks. She was Dolly at school. She was Dolores on the dotted line. But in my arms she was always Lolita.
Tudo que escrevo por aqui é uma opinião de algo, num determinado momento da minha vida e tendo em conta o conhecimento que tenho sobre os assuntos. Nesse sentido, é desnecessário focar ao longo do texto frases como "na minha opinião", mesmo que já o tenha feito anteriormente. Além disso, se fosse reler hoje textos sobre determinadas obras, certamente que umas teriam crescido, outras diminuido no meu interesse e, quiçá, outras que se mantêm incólumes.
A minha área profissional não é nada a da literatura, tratando-se de uma paixão que tenho aprofundado a partir dos livros que vou escolhendo. Mesmo não sendo um especialista, considero-me um leitor interessado, e daquilo que conheço tenho de começar por dizer que "Lolita", de Vladimir Nabokov, é um portento literário. Um daqueles livros que mal o terminamos de ler, sabemos que entraram visceralmente na nossa lista de favoritos, qual tigre esfomeado a rasgar a carne de uma qualquer presa. Não é uma surpresa, verdade seja dita, este é um daqueles livros que tinha de ser obrigatoriamente muito bom para ser publicado nos anos 50, uma vez que aborda um dos assuntos mais controversos do mundo. O que me lembra que apesar de todos os problemas que se enfrentam no mundo, continuo a achar que caminhamos moralmente para a frente (lentamente mas para a frente). Que abolimos a escravatura e que, felizmente, já se percebeu há muitos anos que não é por uma mulher ter a menstruação que já tem maturidade para entrar na vida sexual adulta. Claro que me estou a focar na nossa realidade, ainda há países que sofrem muito com estas questões e outras.
Regressando ao livro e pasmem-se, ou não, "Lolita" é também um dos maiores romances que li. Porque chegados ao fim, não há dúvidas de que estamos perante uma história de amor. Uma que nunca devia ter existido, porque não há crime maior do que roubar uma criança da sua infância, mas ainda assim, uma história de amor. Em termos literários existe uma clara distinção na prosa que descreve os desejos proibidos do protagonista, Humbert Humbert e de outra personagem (que não posso revelar) que partilha dos mesmos pecados. Em Humbert Humbert há poesia e sensualidade nas suas descrições, enquanto que nas do segundo é a vulgaridade e deboche que imperam. Claro que é Humbert Humbert o narrador da história e estamos à sua mercê no que toca a descrição de factos. Porque no final há claras semelhanças entre ambas as personagens, mesmo que a segunda - o antagonista - seja, de facto, uma versão mais negra da primeira. Há humanidade nos monstros e é isso que torna tudo mais doloroso.
Além disto tudo, não contava que "Lolita" fosse também um policial, um daqueles que não se incomoda que a originalidade artística afaste leitores fiéis do género (brincando com palavras do autor). Toda a história é muito bem arquitectada, qual teia de aranha, em que pistas são espalhadas ao longo da trama para a grande tragédia final. É por isso mesmo um livro que pede obrigatoriamente uma segunda leitura (e certamente outras mais), para agora, com o conhecimento prévio de determinados aspectos, descobrirmos muitos mais pormenores maravilhosos que o autor foi semeando com tanta subtileza. A versão em inglês também ajudará, há uma tradução logo no prefácio que dificulta muito mais a sua segunda intenção. Já agora li a versão mais recente da "Relógio D'água" mas espreitei o inglês original, o qual será a próxima leitura quando voltar a pegar no livro.
A tradução de Margarida Vale de Gato, pareceu-me muito competente e, como a própria admite, há problemas cuja resolução ficará sempre aquém da obra inicial, a qual trabalha muito a lingua inglesa e francesa, bricando com as suas palavras. Se a segunda, por ser usada ocasionalmente, foi deixada no original, a outra só muito esporadicamente. Aqui confesso, em tom preguiçoso, que agradecia umas notas com o francês traduzido como acontece nos livros russos que tenho, mas pronto os diccionários existem para alguma coisa. Margarida Vale do Gato é também uma especialista em Edgar Allan Poe, algo que tinha de referir uma vez tratar-se de um autor tão importante na vida de Humbert Humbert.
Uma palavra ainda para um falso prefácio de um inventado John Ray Jr.'s, PhD. A partir daqui Nabokov cria uma ilusão de que esta história foi verídica. Em adição é mais um momento em que o autor demonstra a sua postura crítica em relação à psicoanálise.
Seja desprezível ou arrogante, Humbert Humbert é uma personagem fascinante que terei muitas saudades de ler. E quanto a ti Lolita, o meu coração ainda chora por ti, merecias muito mais do que tiveste da vida. Merecias ser feliz.
2 comentários:
E depois do Lolita (que é genial do inicio ao fim) li o Ada ou Ardor e nunca mais fui a mesma.
=]
Eu voltei ao Skyrim lol. Casei, comprei casa, enfim uma vida :P
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