terça-feira, janeiro 21, 2014
The Sandman: Overture
O texto seguinte contém SPOILERS GIGANTES sobre "The Sandman".
Como começar um qualquer texto sobre "The Sandman"? Talvez faça sentido alguma contextualização pessoal. Estou a falar de uma das obras pelas quais nutro um maior carinho, considerando-a sem hesitar como uma obra-prima e até à data o expoente máximo de Neil Gaiman enquanto autor, que inspirando-se numa série de mitologias e religiões, criou um universo esplendoroso em que todas elas existem e co-habitam. Segui as aventuras do Senhor dos Sonhos durante 10 volumes e foi das personagens que mais me custou abandonar quando a viagem chegou ao fim. Tal como o corvo Matthew, também eu sofri com a morte de Morpheus e também parte de mim se queria recusar a seguir Daniel - o seu substituto. Identifiquei-me sempre com as acções deste "pássaro", incluindo o momento em que ambos aceitámos que Daniel merecia a nossa atenção, carinho e, mais ainda, a nossa ajuda. Juntos acompanhámo-lo na sua nova jornada, aceitando-o como o Senhor dos Sonhos e, confesso, que fiquei muito sensibilizado quando o próprio recusou que o chamassem de Morpheus.
Posteriormente outras histórias de Sandman foram sendo contadas e editadas. Claro que as tenho a todas e posso confirmar que soube sempre muito bem reencontrar este velho amigo. Nunca senti que tais edições fossem exploradoras da carteira. Tinham objectivos, histórias para contar e faziam sentido. Algo que me deu sempre confiança nestas novas histórias é que eram sempre da autoria do pai delas, de Gaiman. Por tudo isso, quando "The Sandman: Overture" foi anunciado, um sorriso voltou a esboçar-se no meu rosto. Desta vez, Gaiman aventura-se numa prequela, explicando-nos a razão porque Morpheus é capturado no início de "Preludes and Nocturnes". Nunca questionei essa razão, nunca lhe senti falta, mas é Gaiman, é Sandman, contem comigo.
Não falei logo do livro mal saiu porque reservei a sua compra e estive à espera que chegasse, resisti ao digital para ler o comic em todo o seu esplendor e glória. Como reservei a edição especial ainda tive de estar mais um mês à espera. História engraçada esta a da edição especial. O que li na net sobre ela não estava totalmente correcto, pois afinal em lado nenhum disseram que era a preto e branco. Nada contra, sou acérrimo fã do preto e branco e por isso apaixonei-me imediatamente pelo livro. Porém, as cores de Dave Stewart são qualquer coisa de excepcional e também não podia ficar sem elas. Resultado: trouxe as duas versões. Parece que Sandman anda comigo sempre aos pares, pois além dos volumes tradicionais também comprei as edições Absolute (extras + nova coloração + histórias que não foram publicadas nos outros volumes) - não resisti.
Em relação ao primeiro número (o segundo sai algures este mês acho), posso dizer que fiquei muito bem impressionado. As primeiras páginas agarram-nos logo com uma grande força de tão maravilhosas e - pois claro - surreais que são. O regresso de Morpheus e de tantos outras personagens de Dreaming é um momento realmente especial para quem é fã da série. Não há dúvidas nenhumas que são eles, o tenebroso Corinthian, o sapiente Lucien, o divertido Mervyn Pumpkinhead e claro, o misterioso Senhor dos Sonhos. É preciso não esquecer que esta história decorre antes do aprisionamento de Morpheus. É importante ter isso em memória, porque esses anos de prisão viriam a mudá-lo de uma forma que nem o próprio se apercebeu no início e por isso neste "Overture" contem com uma versão mais arrogante e distante de Sandman.
No final, Gaiman puxa-me o tapete dos pés. Uma pessoa pensa que domina o universo de Sandman e depois fazem-me isto? Sempre achei, não sei porquê, que os Endless tomavam conta dos seus domínios ao longo do multiverso. Pois parece que não, que existe um específico de cada universo e é isso que descobrimos quando todos os "Dreams" são convocados - suspeito que um deles morreu. Teremos uma história a começar da mesma forma que a original terminou? O tempo o dirá.
Desta vez Gaiman faz-se acompanhar de J.H. Williams III, cujo trabalho é a todos os níveis um portento. A sua participação em "The Sandman" está aprovada com louvor e distinção. Se há dúvidas espreitem a edição a preto e branco, essas duas cores não enganam. A capa aqui exposta é da edição especial e da autoria de J.H. Williams III. Mas como a tradição manda existe uma - variante - de Dave Mackean, nome que foi responsável por todas as capas da antiga série.
Um início desta envergadura, promete uma grande série. Cá continuarei a dar notícias sobre a mesma, porque há histórias que são mais especiais que outras e esta, para mim, é mesmo muito especial.
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