quarta-feira, janeiro 22, 2014

Escrever


Creio que é isso que eu censuro aos livros em geral: o facto de não serem livres. Vêmo-lo através da escrita: são fabricados, são organizados, regulamentados, poderíamos dizer, conformes. Uma função de revisão que o escritor tem muitas vezes em relação a si próprio. O escritor, então, torna-se no seu próprio chui. Quero dizer com isso a procura da boa forma, quer dizer, da forma mais corrente, mais clara e mais inofensiva. Há ainda gerações de mortos que fazem livros pudibundos. Mesmo os jovens: livros encantadores, sem qualquer prolongamento, sem noite. Sem silêncio. Por outras palavras: sem verdadeiro autor. Livros diurnos, de passatempo, de viagem. Mas não livros que se incrustem no pensamento e que digam o luto negro de todas as vidas, o lugar-comum de todos os pensamentos.

Em "Escrever" temos reunidos cinco ensaios de Marguerite Duras: Escrever; A morte do jovem aviador inglês; Roma; O número puro e A exposição da pintura.

A início questionei-me se este livro teria sido a escolha mais certeira para começar a ler Duras, uma vez que a autora faz menção a outros livros seus que desconheço. Mas nada disto me tirou o grande prazer que foi esta leitura. Gosto da forma como ela escreve sobre a escrita, sobre a solidão e, pois claro, sobre a vida. Gosto da sua paixão, da sua independência e força. Sem dúvida uma autora a continuar a conhecer, uma autora que escreve, sem receio, livros livres.

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