terça-feira, janeiro 14, 2014

Black Hole


A encerrar o ano na parte da BD deixei as honras a "Black Hole" de Charles Burns, a mítica novela gráfica de horror sobre a adolescência.

A história decorre numa Seatlle em meados dos anos 70 e foca-se num grupo particular de adolescentes. "Black Hole" é assim um retrato sobre a fase da adolescência, com todos os excessos, descobertas e sentimentos de alienação que lhe são característicos. O que torna esta história única e especial, é a forma como Burns introduziu uma doença no seio destes adolescentes. Aquilo que vulgarmente é chamado por "The Bug" trata-se de um qualquer vírus transmitido por fluídos (normalmente por via sexual) que pode deformar o corpo dos infectados, das mais variadas formas. Por um lado existem infectados que apenas têm marcas nas costas ou no pescoço (se bem que neste caso é uma boca que fala), escondendo-as com roupa, mas por outro existem aqueles cujas mutações são em toda a face tornando-os ainda mais marginalizados.

Burns utiliza estas mutações, fruto desta doença misteriosa, para explorar o início da sexualidade na adolescência e a sua transição para a fase adulta. Em adição, se não se tratou de uma alegoria, pelo menos parece-me existir alguma ligação com o vírus bem real do HIV. A forma como a doença se transmite, a altura que a história decorre, entre outros pormenores, fazem o nome da Sida ecoar nas nossas mentes em várias páginas.

Graficamente, Burns explorar as marcas desta doença de uma forma surrealista e carregada de fortes símbolos, muitos deles sexuais, que dotam a este trabalho uma força extra. Quando referi que é a forma como o autor aborda esta história que a torna tão distinta, essa afirmaçãoprende-se muito com a o trabalho visual do autor, cuja utilização do preto e branco édas melhores coisas que já vi.

Infelizmente descobri que as edições completas desta história (da Pantheon Books), cortaram várias páginas das originais (que ao todo foram 12 números editados inicialmente pela Kitchen Sink Press e terminados pela Fantagraphics). Diz quem leu que há muito material essencial ao qual não temos acesso nestas. Agora acho que não vou descansar enquanto não tiver acesso a todo o material, para confirmar por mim. Contudo, é preciso salientar que adorei a sua leitura e não senti que faltaram coisas a contar.

"Black Hole" tem também sido alvo de interesse por parte da indústria cinematógrafica. Desde 2005 que se ouve falar numa possível adaptação, mas que por alguma razão não se tem concretizado. Uma vez que este livro espirra por todos os lados as palavras "Terror Venéreo", o primeiro nome que me vem à cabeça para realizar isto só podia ser o de David Cronenberg.

Sem comentários: