domingo, julho 22, 2012

X-Men: Filhos do Átomo


De regresso à colecção "Heróis Marvel", após o Homem-Aranha, seguimos para o segundo volume, dedicado aos mutantes mais famosos da BD, os X-Men.

Julián M. Clemente volta a assinar um bom prefácio. Mesmo não sendo estritamente necessário na apreciação das histórias eu gosto de as contextualizar e Clemente em poucas palavras consegue-nos dar uma boa imagem da evolução, não só na escrita dos X-Men, mas dos super-heróis em geral e que está na génese desta edição. Quando os X-Men surgiram na chamada Idade de Prata da BD (1956-1970), o que estava em voga era criar histórias curtas e fechadas, as próprias introduções às origens dos Super-heróis eram feitas no menor número de páginas possíveis. Como se pode comprovar na primeira aparição dos X-Men, a equipa já está formada, com Jean Grey a chegar ao instituto, fechando-a. Posteriormente isto foi mudando, hoje em dia, as origens são muito mais trabalhadas, todos aqueles que são fãs de uma personagem gostam de saber como estas "nasceram" (daí o delírio quando se anunciou a prequela de Star Wars). Também o formato das histórias mudou, hoje em dia os arcos não se pretendem fechar num comic apenas, mas estender por vários mais, tendo assim mais tempo para as desenvolver e explorar. Nesta compilação temos assim a série completa de "X-Men: Children of the Atom" editada em 99 com argumento de Joe Casey e desenhos de Steve Rude, Paul Smith e Essad Ribic, e que tinha por objectivo recontar a origem da primeira formação dos X-Men. Agora sim em 6 números teríamos uma descriação pormenorizada de como Cyclops e companhia se reuniram sob a tutela de Charles Xavier.

Estamos numa época complicada para os mutantes, cada vez mais surgem entre nós e consequentemente cada vez mais são revelados e conhecidos pelo resto do mundo. Com a maior revelação dos mutantes, grupos de ódio emergem das sombras sentido-se ameaçados enquanto espécie. Se o futuro da humanidade são estes novos Homo-Superior (apelidados assim por Magneto), o que será do futuro dos Homo-Sapiens? Extinção? Metzger é o homem que dá cara a um destes grupos que numa jornada em busca de poder, procura jovens confusos e influenciáveis para assim aumentar o número daqueles que apoiam a sua causa, uma causa baseada em medo e ódio, que infelizmente são fruto, como é costume, de uma enorme ignorância. O tema do preconceito é sempre interessante e relevante, na BD os X-Men foram um marco no que toca ao desenvolvimento deste assunto e o paralelismo com outras minorias natural, ainda que estejamos no campo da fantasia.

Com o crescendo ódio pelos mutantes a necessidade resposta é cada vez mais urgente, e aqui surgem duas facções completamente distintas. De um lado Magneto, que havendo perdido a fé na Humanidade se prepara para uma guerra, e do outro Xavier, que ainda acredita na co-existência das duas espécies e que começa aqui o seu trabalho em busca de jovens mutantes para os ajudar e treinar, preparando-os assim para esta causa. Este Xavier que aqui temos não nos surge tão inocente como na sua primeira aparição, mas estamos a falar de uma personagem cujos interesses foram amplamente explorada durante todos estes anos e esta sua versão parece-me encaixar bem dentro dessa linha.

Quanto aos alunos, certamente que todos os fãs vão gostar de ver as primeiras interacções entre eles. Scott Summers (Cyclops) é um órfão explorado pelo seu poderoso poder mutante, vítima de abusos e dotado de um poder perigoso, uma vez que não o controla, é um rapaz solitário que encontrará em Xavier mais que um amigo, um abrigo. Robert Drake (Iceman) apesar de vir de um ambiente familiar mais saudável, também é um dos solitários precisamente devido ao seu poder que se começou a manifestar. Bobby está sempre com frio escondido em corredores e tentando afastar-se dos outros, estando muito longe do Iceman brincalhão que conhecemos e adoramos, aqui é uma versão muito mais assustada e com tudo o que lhe está a acontecer, quem o pode julgar? Henry Mackoy é o total oposto destes dois, os seus poderes mutantes, os que se manifestaram até à data, dotaram-no de uma agilidade e força que o tornaram no melhor jogador de futebol do seu liceu. Hank é uma estrela, tem amigos, miúdas e até o cérebro (apesar de o esconder), ou seja, ainda estamos bem longe da sua versão mais peluda e azul.

A partir de Warren Worthington III (Angel) temos uma perspectiva de como o fenómeno mutante poderia afectar os famosos. Devido à sua fortuna Warren é conhecido em todo o mundo e capa de revistas. A dada altura começa a ser atacado pelos média quando é acusado de ser mutante, algo que pode mudar drasticamente a sua vida. Warren é de todos o primeiro a tornar-se um super-herói, bem antes de conhecer Xavier já voava pelas noites como Anjo ajudando os outros, é precisamente com ele que temos a primeira aparição do protótipo de um Sentinela, os robots que se tornariam icónicos enquanto imagem da perseguição aos mutantes. Por fim, há Jean Grey (Marvel Girl), a rapariga que guarda grande potencial dentro dela, recebe visitas frequentes do Professor Xavier que pretende recrutá-la para a sua nova escola para mutantes. Apenas no fim é que assume um papel mais preponderante, de resto está bastante ausente.

Um outro ponto de vista que faltava abordar era o de termos um dos humanos preconceituosos a descobrir que na verdade também é um mutante e, felizmente, este aspecto não foi esquecido pelo argumentista. Uma vez que os poderes mutantes normalmente se manifestam durante a adolescência, faz sentido termos um daqueles jovens seguidores de Metzer a descobrir durante esta história que afinal é um dos "inimigos" e a sofrer na pele o mal que o próprio pretendia aplicar aos outros, recebendo assim a sua maior lição de vida. Destaque também para a breve aparição de Reed Richards a comentar o fenómeno mutante, gostava de ter visto algo mais nesta linha.

A seguir a esta história temos um dos pontos mais fortes deste livro que é a possibilidade de ler a primeira aparição dos X-Men que ocorreu em 1963 e com argumento de Stan Lee e desenhos de Jack Kirby, duas lendas portanto. Em quase 50 anos muita coisa se passou neste grupo de mutantes, esta é a oportunidade de assistir ao início, não só destas personagens mas do próprio tema dos mutantes, atente-se que aqui Xavier acha que é o primeiro mutante e provavelmente até seria na mente do seu criador, no entanto, é bem sabido que existiram vários antes dele, a título de curiosidade aquele que é considerado o primeiro é En Sabah Nur, nascido no antigo Egipto e que hoje é mais conhecido pelo nome de Apocalypse. Nesta primeira aventura é-nos também logo introduzido aquele que seria um dos melhores vilões da Marvel de sempre, falo obviamente de Erik Lensherr o fantástico Magneto. É também de salientar a primeira versão gráfica de Iceman que nos surge como um boneco de neve quando usa os seus poderes, bem distante da sua versão mais estilosa de (literalmente) homem de gelo. No final ainda temos duas curtas histórias dos anos 60 de Roy Thomas e Werner Roth onde estes iam revelando um pouco mais sobre as personagens dos X-Men, nada de muito revelante, mas que tem sempre interesse para os fãs, falo por mim. Uma pena serem apenas duas.

Joe Casey aquando da criação de "X-Men: Childrens of the Atom" pretendia criar uma prequela com ligação directa para a primeira história do grupo e daí a colocação dessa mesma história a seguir a estas. No entanto, quando lemos tudo de seguida há qualquer coisa que não flui bem na transição e não estou a falar da componente estética, Steve Rude está muito bem utilizando um traço moderno mas a evocar os clássicos antigos. Rude só participaria até ao 3º volume, sendo posteriormente substituído por Paul Smith que seria também substituído por Essad Ribic no final. Mas, voltando à questão anterior, as minhas questões prendem-se a nível de argumento, a sensação que tive foi similar à das prequelas de Star Wars, havia buracos na história, coisas que não ligavam e tão simples que não se percebe porquê. Por exemplo, já que os autores terminam a história com a chegada de Jean Grey à mansão, precisamente porque a primeira história começa assim, porque é que não mantiveram a mesma roupa da rapariga? A própria Jean Grey surge-nos estranhamente tão diferente em termos de personalidade nas duas histórias que é impossível não notar, talvez longe de casa seja muito mais expedita. Outro aspecto que se faz notar é que na primeira história os X-Men já estão com o professor há mais tempo, já fizeram vários treinos na sala de perigo, no entanto, na prequela apenas haviam feito um e incompleto. É normal em 50 anos de histórias haver problemas com a continuidade, quem lê BD regularmente sabe bem disto, porém, neste caso acho que havia muita coisa que podia ter sido tida em mais atenção e que facilmente se alterava para uma melhor ponte ser feita entre as histórias.

Já que mencionei as gralhas no volume anterior é de salientar que neste são, felizmente, muito menores, e nesse sentido considero-a uma edição melhor. Quanto à tradução como não li nenhuma no original não posso comentar, mas a leitura fluiu muito bem e gostei da linguagem usada.

2 comentários:

André Azevedo disse...

Bom resumo deste volume e do seu contexto!
Como já li no original posso afirmar que a tradução está muito fiel e bem melhor que no volume anterior

Loot disse...

Obrigado.

Então comprova-se esta realmente é melhor nesse aspecto. Espero que as próximas também e que a do Aranha se tenha devido a uma maior pressa para sair aquando a estreia do filme, que é uma boa jogada em termos de marketing.

Abraço