segunda-feira, julho 09, 2012

Harvey Milk no Cinema

The Times of Harvey Milk (1984)




Este fim-de-semana foi dedicado a Harvey Milk, o primeiro político Norte-Americano, assumidamente gay a ser eleito para um cargo governamental.

Milk sempre se considerou, não como um político, mas como parte de um movimento. Neste sentido há até uma questão, pertinente, que ficou de fora do documentário (está no final alternativo), que é: Foi Harkey Milk quem fez História? ou foi a História que fez Harvey Milk?

Com os constantes ataques aos direitos humanos, mais especificamente aos direitos da comunidade gay, era necessário retaliar. Mais do que manifestações era importante ter alguém no governo a zelar pelos interesses desta minoria. Os negros tinham-no conseguido, os chineses também, era agora a vez de um gay ser eleito. Milk abraçou este objectivo em 1973 e com perseverança alcançou-o finalmente em 1977.

É evidente que o movimento gay é crucial na política de Milk e a sua vitória sobre a abominável "Proposition 6" (que visava a possibilidade de despedir professores gays, ou simpatizantes, dos seus cargos) possivelmente o seu maior feito em termos políticos. No entanto, não quero com este texto, de todo, reduzi-lo a um político que batalhava apenas pelos direitos da comunidade gay, pelo contrário. Milk lutava pelo que acreditava e a grande força da sua campanha, algo que ele não descurou, foi a luta por todas as minorias, sejam étnicas, com deficiências ou os idosos.

O documentário reúne uma série de entrevistas a pessoas que lhe eram próximas de diversas formas, seja profissional ou pessoalmente. Entrevistas, declarações, vídeos, etc. Graças às campanhas de Milk há muito material disponível sobre ele e que enriquecem substancialmente o filme. Após o seu assassinato o documentário, ao contrário do filme de Gus Van Sant, ainda continua a explorar o sucedido mostrando-nos como decorreu o julgamento de Dan White, o descontentamento gerado pelo resultado e uma busca por uma qualquer justificação do sucedido.

A ironia é que White termina a sua pena no ano em que este documento é lançado e que, já agora, venceria o Óscar nesta categoria. Dois anos depois White comete suicido.





Milk (2008)



Já era tempo de me actualizar com a filmografia de Van Sant, tenho perdido os seus útlimos filmes, e não é por falta de interesse.

Uma coisa que se torna clara neste filme é que o documentário acima serviu como base de pesquisa, afinal de contas, já contém imenso material reunido. Quase todas as aparições de Milk em vídeo, são reproduzidas no filme onde os seus discursos são transcritos na totalidade. Já agora Sean Penn faz um trabalho muito bom na pele de Harvey Milk.


Gostei, também do facto de aqui se dar atenção a muitas pessoas que não foram salientadas no documentário e que foram parte importante do movimento, como Cleve Jones ou Scott Smith. Em termos de informação o que o filme de Van Sant nos dá a mais é a parte da vida pessoal do político. As suas relações amorosas e de amizade, uma das quais acabou em tragédia e lhe foi emocionalmente devastadora.

O elenco é bastante bom com Josh Brolin no papel de Dan White, James Franco como Scott Smith e Emile Hirsh como Cleve Jones, entre outros.

Milk recebia variadas ameaças de morte, subindo a púlpitos para discursar com receio que pudesse ser a sua última vez e, no entanto, o perigo estava muito mais perto do que pensava não tendo sequer a ver com o movimento gay per se, ou pelo menos não directamente e de uma forma mais política do que preconceituosa, pelo menos foi assim que interpretei a situação. Tanto Milk como White, eleitos na mesma altura, surgiram como duas estrelas em ascensão. Milk prometia agitar o governo, prometia mudança e White era o típico rapaz de ouro Americano, conservador e familiar. No entanto, apenas um cumpriu com as expectativas. White não soube lidar bem nem com a carreira nem com a pressão sofrida pelo seu cargo e a pouco e pouco foi-se perdendo como político e posteriormente como pessoa. Brolin conseguiu captar bem essa espiral descendente que relatam em relação a White.

No filme ficou faltar referir que Dan White além de ex-polícia, era também ex-bombeiro, algo que invalidaria uma piada usada a dada altura.

O final, momento climax no documentário também, mostra a marcha efectuada em homenagem a Milk e Moscone. A resposta do povo a estes dois assassinatos foi de um respeito e carinho que não deixarão ninguém indiferente e que serve como lição de vida a gerações futuras.

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