sábado, abril 17, 2010

Dracula

Irei dividir o comentário sobre este livro em duas grandes partes. Na primeira irei abordar a história clássica criada por Abraham “Bram” Stoker e na segunda falarei desta edição em particular, a da "IDW", que contém ilustrações de Ben Templesmith e cuja capa podem ver na imagem acima.

Quando pensamos no mito do Vampiro há um livro que acima dos outros nos vem à cabeça, esse livro é precisamente "Dracula". Não só a obra mais famosa de Stoker mas arriscar-me-ia a dizer a obra mais famosa sobre o Vampiro.
Stoker utilizou uma forma original e diferente para contar esta história, fazendo-o através dos diários e cartas das várias personagens, sejam diários escritos ou gravados, e utilizando recortes de Jornais também. Saliento no entanto que nunca lemos nada através da perspectiva de Dracula, pois este não tem um diário, ou se tivesse, nós não lhe temos acesso. Este livro é como se fosse a reunião de todo o material que Mina, Harker, Van Helsing e companhia reuniram ao longo desta penosa aventura. Mas não saliento isto como um ponto negativo, Dracula sempre que surge é muito bem retratado e não seria proveitoso nem faria sentido para esta história sabermos tudo sobre ele e quais os seus planos, pois tiraria força e terror à personagem. Claro que assim em grande parte da história Dracula está ausente e a sua falta é sentida, mas a abordagem de Stoker foi, não só inovadora, como muito certeira.
O livro tem inicio com a viagem de Jonathan Harker até à Transilvânia onde irá conhecer o Conde Dracula com quem tem vários negócios a tratar, pois o Conde decidiu comprar terrenos em Londres e prepara-se assim para abandonar a sua terra Natal. Os primeiros capítulos são dos melhores momentos que esta história nos oferece. A viagem de Harker até ao castelo e a sua estadia e interacção com Dracula são momentos sublimes. O ambiente negro e tenebroso é todo ele muito bem captado por Stoker. Temos mistério, noite e magia que culminam na personagem de Dracula.
Entretanto do outro lado da Europa vamos conhecendo Wilhelmina "Mina" Murray a noiva de Harker que aguarda ansiosamente pelo regresso do seu amado. A personagem de Mina é bastante interessante, pois considerando-se uma típica mulher da era Vitoriana acaba por ser precisamente o contrário, uma grande feminista, mesmo que ela algures no livro o recuse. Mas Mina não vive na sombra dos homens, a sua inteligência é reconhecida e a sua voz ouvida por todos.
Para colmatar a ausência de Dracula temos o professor Abraham Van Helsing o misterioso médico da Holanda, o único a ter conhecimento dos Nosferatu e aquele que tem de provar a todos estes filhos do séc XIX que há mitos que são verdade e inexplicáveis aos olhos da ciência. Uma tarefa que se prova terrivelmente árdua, não só porque esta é uma geração que abandonou o pensamento metafisico, mas porque irá envolver os sentimentos pessoais de todos quando Lucy Wensterra, uma mulher amada por eles, cair nas presas do Conde.
Antes de terminar tenho de salientar também um dos melhores enredos do livro que são os que ocorrem no hospício, mais especificamente os que envolvem o doente Renfield. Através das notas do doutor John Seward vamos observando as diferentes alterações de espírito deste paciente que proporciona alguns dos melhores momentos. A sua obsessão pelo ciclo da vida é intrigante e posteriormente irá revelar-se mais do que aparentava a início aos olhos de John.
Apesar de existiram vários retratos de vampiros, há uma característica que se mantém em todos: "sangue é vida". Quando um vampiro usa as suas presas para morder a vítima e assim alimentar-se, poderá soar como um acto de bestialidade mas são cenas retratadas grande parte das vezes com uma enorme sensualidade e sexualidade. "Dracula" contém várias destas cenas cujo poder de sedução é inegável, veja-se por exemplo o poder que a mulher vampira ostenta sobre o homem mortal que cai facilmente rendido aos seus encantos.
"Dracula" será sempre uma referência para todos aqueles que gostam do género. É sem dúvida uma obra imprescindível e que se tornou um clássico. Muitos anos já passaram e muitos outros continuarão a passar e esta história nunca irá envelhecer e cansar. O maior imortal criado por Stoker não foi o personagem Dracula, mas sim este livro.
Em relação à edição antes de mais quero dizer que é péssima e que não aconselho a sua leitura a ninguém. Se querem ler "Dracula" não o façam com este livro. A edição é horrenda e carregada de erros. Faltam imensas palavras, frases e até um parágrafo (a edição é de 2009!!!). Aqui tenho de agradecer ao site enotes graças ao qual não tive de comprar outro livro. Basicamente quando o lia sempre que algo não me soava bem no "inglês" apontava num caderno e posteriormente corrigia com o auxílio do site mencionado. Isto para dizer que se alguém tiver o livro e ainda não o leu se quiser eu posso ajudar, pois tenho um documento em word com todos os erros que eu encontrei, com a página, parágrafo e linha em que se encontram e posso enviá-lo a quem quiser. Já corrigi o meu e no futuro será garantidamente uma leitura menos trabalhosa. Entusiasmei-me e corrigi também todos os typos que apanhei, mas com esses podia eu bem. Agora frases e parágrafos que faltam é que é realmente triste.
Não posso deixar, no entanto, de sublinhar que Ben Templesmith é um mestre no género do horror e as suas ilustrações são fantásticas e uma bela prenda ao longo da leitura, apesar de por vezes não estarem na ordem ideal pois antecedem-se um pouco em relação à cena em questão.
Templesmith opta, por alguma razão, por desenhar Dracula como no clássico de F. W. Murnau "Nosferatu" e quem leu o livro saberá que a sua descrição é bem diferente.
Dito isto acho que esta edição só deverá ser adquirida por aqueles que querem ter as ilustrações de Templesmith, caso contrário arranjem uma edição melhor.

6 comentários:

refemdabd disse...

Lembro-me que o tive na mão e só não o comprei exactamente pelas ilustrações do Templesmith, que eu aprecio bastante, por sinal. Afinal era o Drácula de Stoker, ou o Nosferatu (Conde Orlok) de Murnau (ou mesmo de Herzog)? Li o primeiro parágrafo e vi que deveria ser a versão de Stoker. Enfim, não me "cheirou" bem e não o comprei. Por ti, estou agora a ver que o meu instinto estava certo.

Loot disse...

Sim a história é a versão original de Bram stoker.

Epá a mim cheirou-me a rosas lol e fiquei tão contente quando o comprei. Normalmente só encontrava a edição traduzida da pinguim (que também é bem fraquinha aproveito pa avisar lol).

Já agora acrescentamos aí também o Dracula do Tod Browning imortalizado pelo Bela Lugosi :P

Abraço

Jubylee disse...

Eu li a versão original da Penguin e não achei erros - pelo menos no que toca a frases e parágrafos perdidos.

Desde que o li que se tornou num dos meus favoritos. A reler someday soon :)

Boa análise, como de costume :)

Loot disse...

Peço desculpa pelo erro, mas não era a edição pinguim que queria dizer mas a da Europa-América. Confundi porque é uma edição de bolso.

Esta sim é que queria dizer que era fraquita e também lhe falta pelo menos um parágrafo lol. Mas mesmo assim acho que está melhor do que a da IDW :P

Obrigado ;)

bjs

refemdabd disse...

A imortalização do personagem de Stoker pelo Tod Browning e especialmente pelo Béla Lugosi é, sem dúvidas, a mais famosa por óbvias razões do alcance de Hollywood e também por ser a primeira que romanceia o mito vampiro hipnótico e sedutor. No entanto, é, também sem dúvidas (pelo menos para mim), a mais "ridícula"; entre aspas com o devido desconto pela tenra idade do cinema. Tod Browning foi o grande precursor do cinema de terror, desde zombies a vampiros, ele foi dos primeiros (se não o primeiro, não sei, de facto!) e merece a minha vénia e profundo respeito. Em versões ainda ingénuas do vampiro
Rei prefiro bem mais as do Vincent Price ou mesmo Christopher Lee, embora sigam as pisadas do sucesso da imagem criada pelos pioneiros Tod e Lugosi.

Loot disse...

É verdade, apesar de não ter visto o filme e os outros que mencionas, a imagem de Dracula por Bela Lugosi é a mais popular e também não é nada a minha favorita.

Mesmo quem não conheça o filme original conhece aquela imagem, aquele fato e penteado foram imortalizados em dezenas de adaptações e animações :P

Já aos cinéfilos arrisco-me a dizer que o de Murnau é o que ganha.

Curioso que ninguém mete um bigode ao homem tal como Stoker escreveu lolol
(Coppola meteu mas só quando Dracula está na sua forma jovem).