quarta-feira, maio 05, 2010

Metropolis

É sabido que “Metropolis” de Fritz Lang contém cerca de 153 minutos, mas uma vez que a sua estreia em 1927 não foi popular, a fim de tornar o filme mais apelativo e, obviamente, lucrativo, cortaram imensas cenas para este ficar com apenas 90 minutos. Infelizmente mutias cenas se foram perdendo ao longo dos anos e nem todas vieram a ser recuperadas.
Quando estive em Berlim aproveitei a oportunidade para conhecer o seu Museu do Cinema, que é o local ideal para encontrar clássicos do Cinema alemão em DVD. Sendo assim e porque queria uma recordação do Museu trouxe precisamente “Metropolis”. Esta prometia ser a edição mais completa do filme até à data com cerca de 118 minutos. Apesar de ainda faltarem várias cenas nesta edição a solução arranjada para colmatar essa falha, foi dar uma explicação escrita do que se iria passar num tipo de letra diferente daquele em que a história é contada. Algumas dessas cenas foram recuperadas mas estavam em tão mau estado que não foram colocadas no DVD. A banda sonora é original composta por von Gottfried Huppertz.
Aparentemente há planos para lançar o filme novamente nos cinemas este ano juntamente com uma nova edição em DVD ainda mais completa com cerca de 25-30 minutos a mais que foram encontrados na Argentina (será esta a definitiva?). Quem sabe temos sorte e o filme passará nos grandes ecrãs portugueses também.
O filme de Lang é bem conhecido como sendo uma das grandes referências cinematográficas da ficção-científica e também por ser o filme mudo mais caro da História.
“The mediator between head and hands must be the Heart!”. Esta é a frase chave do filme, a mensagem que pretende transmitir ao contar os problemas entre a relação dos criadores e dos trabalhadores desta cidade futurista. “Metropolis” é uma cidade maquinal portentosa, mas que está longe de ser uma utopia. Enquanto os criadores moram na superfície da cidade, os trabalhadores têm de morar no subsolo. Temos portanto de um lado as mentes que planeiam o desenvolvimento, sem as quais não haveria evolução e do outro, igualmente importante, as mãos que mantêm as máquinas funcionais, máquinas sem as quais a cidade não pode funcionar tal como foi pensada. E nesta balança a vida dos que moram na superfície é claramente melhor à dos operários. Uma situação tipicamente capitalista.
Freder (Gustav Fröhlich) é o filho do fundador de “Metropolis”, John Fredersen (Alfred Abel) e durante toda a sua vida só conheceu a vida na superfície característica de todos os aristocratas. No entanto tudo isso está prestes a mudar quando vê Maria (Brigitte Helm) e a segue enamorado até à cidade subterrânea. Aqui Freder irá descobrir a dura realidade da vida dos operários. Angustiado e cheio de vontade em conhecer Maria convence um trabalhador, Georgy 11811, a trocar de roupas com ele substituindo-o nas máquinas. Mais tarde Freder assiste a uma palestra de Maria que tenta convencer a classe dos operários a não entrarem em motim, prometendo-lhes que “o mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração” e que esse mediador está para chegar.
“Metropolis” é visualmente assombroso, a cidade idealizada por Fritz Lang é de uma beleza estonteante e é impossível não ficarmos rendidos a ela. A cidade é também um personagem do filme, disso não há dúvidas.
O filme mistura realidade e sonho, por vezes os próprios personagens não sabem se o que estão a ver é real ou não, como é o caso de Freder quando assiste à explosão de uma das máquinas que mata vários trabalhadores. Nesta cena Freder vê a máquina como Moloch e a morte dos trabalhadores como um ritual de sacrifício. Neste sentido fiquei muito curioso em ler o livro escrito por Lang e sua mulher, Thea von Harbou, que de certeza desenvolverá mais alguns aspectos e ideias. É de chamar a atenção que os novos 25-30 minutos de filme que foram adicionados na “nova” versão tornam, aparentemente, algumas cenas do filme mais claras e desenvolvem melhor alguns personagens secundários, tais como Joseph e o Thin Man. Sem falar que finalmente vamos ver cenas míticas que até agora só tínhamos lido a sua descrição.
O tema do capitalismo mais especificamente das relações entre as diferentes classes bem como a sua conclusão é abordado de uma forma leve e sonhadora. Temos o filho do maior capitalista de todos a descobrir que afinal o mundo não é tão justo como pensava e enquanto se encontra como homem encontra também o amor, tem sempre de haver lugar para o amor. A maneira de olhar para o “coração” como o mediador perfeito é muito romântica, mas podemos sonhar com esse mundo não podemos? Afinal de contas o Cinema também é isto: sonhar.

8 comentários:

refemdabd disse...

Tenho a versão dos 118 minutos "Masters of Cinema series" e também andava ver se algum dia teria a sorte de vislumbrar o filme todo, por isso a tuas notícias são ouro sobre o azul :)

Quanto ao filme algum dia passar no cinema Português, só se for em algum festival! O que é lamentável.

Excelente escolha cinéfila, mais uma vez!

PS: tenho para ti o "Freaks" e o "Dracula" do Tod Browning; também tenho o Nosferatu (versão integral com banda sonora original) se quiseres.

Abraço.

Nuno Amado disse...

Épá... adorei esse filme!
E tenho a certeza que vi a versão curta. Vou ver se arranjo essa comprida que vocês falam.

Abraço

csa disse...

É um filme verdadeiramente fantástico! :)
Adoro o Nosferatu: uma maravilha! :) :)
Era bom era que eu conseguisse encontrar cópias desses filmes maravilhosos! :) :) :)

Loot disse...

Refem: Pois, todo infelizmente acho que nunca vai acontecer mas são de facto grandes notícias 25 minutos é muito.

Claro que quero esses filmes, aliás para ser sincero estive com este e com o "Nosferatu" na mão e trouxe o primeiro porque já tinha comprado o livro do Bram Stoker e achei que devia ser equilibrado e o Dracula já tinha tido qualquer coisa :P


Bongop: Sim tenta ver esta, mas se quiseres comprar eu guardava o dinheiro para a nova edição que vai sair este ano, se cumprirem o que li.

Csa: Acho que encontras facilmente, agora encontrar a preços simpáticos é que é mais complicado :(

Back Room disse...

Desde o Berlinale que se fala nisso. Seria óptimo passar em sala em Portugal, mas é muito pouco provável.

Loot disse...

É uma pena. Nunca contei com ele a passar no circuito comercial, mas sendo o clássico que é quero acreditar que seja exibido por cá.

Abraço

Guilherme dos Reis disse...

Olá, Loot. Interessante sua leitura do filme Metrópolis, com certeza um precursor da ficção científica no cinema.
Acrescentei seu blog aos links relacionados do meu blog, para que outras pessoas também possam conhecê-lo.
Abraços do Brasil!

Loot disse...

Obrigado ;)

Abraço