Como o experimentalismo é algo que se encontra muito presente no cinema de animação, pois na sua base sempre foi uma forma de arte onde se experimentava tudo, não deixa de ser muito interessante a ideia de passarem este “28” não na sua versão cinematográfica mas numa versão feita especialmente para o festival. A ideia passou por mostrar inicialmente o filme em silêncio e depois novamente com uma banda sonora composta por António Sousa Dias, de forma a revermos as mesmas imagens mas quem sabe experienciando-as de uma forma diferente, como se fosse quase um outro filme. Infelizmente a exibição ficou marcada com alguns problemas sonoros e por isso ficou prometida uma segunda exibição a decorrer na sessão de encerramento. Tanto José Xavier como António Sousa Dias estiveram presentes e partilharam algumas palavras com o público após a visualização do filme.
A Suíça, como é já bem sabido, é este ano o país homenageado pela MONSTRA. Nesta sessão de abertura, a retrospectiva de filmes suíços esteve a cargo de George Schwizgebel, um dos nomes mais importantes da animação contemporânea em geral e da Suíça em particular. Schwizgebel estudou em Genebra na “Escola das belas artes e das artes decorativas” e fundou em 1971 a “GDS” um estúdio onde produz e realiza filmes de animação.
A sessão contou com a apresentação do próprio realizador que nos proporcionou a visualização das suas 14 curtas-metragens, entre as quais se encontravam as muito aclamadas “La jeune fille et les nuages”, que nasceu da ideia de contar a história da “Cinderela” e ao mesmo tempo desenhar as nuvens que o autor conseguia ver do seu estúdio, e “L’Hommes sans ombre” que consiste na adaptação do conto de Adelbert von Chamisso, “L’Histoire merveilleuse de Peter Schlemihl”, uma história sobre um homem que vende a sombra ao diabo em troca de riqueza mas que fica condenado a vaguear sozinho pelo mundo ao descobrir que a sociedade o rejeitará por não possuir uma sombra.
Gostaria também de salientar brevemente outras das suas obras que por diferentes motivos me tocaram particularmente. Falo por exemplo da abordagem de Schwizgebel ao conto clássico “Frankenstein” em “Le ravissement de Frank N. Stein” que curiosamente nasceu não da influência do conto de Mary Shelley mas da vontade que o autor tinha em trabalhar com o compositor Michael Horowitz, que compunha música através da junção de fragmentos de som, uma técnica vulgarmente usada na animação, mas obviamente com imagens. Fascinante também foi a viagem pelo mundo da pintura em “Le sujet du tableau” que nos transporta ao longo de várias obras clássicas, desde Verner a Velázquez, num filme cuja ideia inicial era a de contar a história de Fausto que partiria à procura da sua amada Margarida com a ajuda de um Mefistófeles tornado agora pintor, mas que acabou por se tornar em algo completamente diferente. Para terminar falo ainda de “L’année du daim”, uma adaptação de um conto chinês que nos traz uma lição de vida contada de uma forma muito humorística e descontraída através de um veado e de um cão.
Ao longo desta retrospectiva foi-nos dada a oportunidade de entrar neste fantástico mundo de George Schwizgebel e também de um ponto de vista mais técnico observar a evolução e alteração das técnicas usadas por si ao longo do tempo. No entanto algumas das suas obras pediam algum tempo de introspecção, por isso ver 14 dos seus filmes de seguida foi sem dúvida uma experiência bastante intensa.
À saída da sala, já ao som da festa de abertura por parte do DJ RIDE, ficou a sensação de que o festival começou com o pé direito e que promete claramente muitas surpresas ao longo desta semana.
Texto publicado nas reportagens da edição de Março da Rua de Baixo.
Georges Schwizgebel - L'homme sans ombre
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