sexta-feira, março 28, 2014

Her (2013)

 
Quando fui ver "Her" imaginei um filme que se debruçasse sobre a relação entre o Homem e a Tecnologia,  um filme que nos mostrasse no que esta relação, cada vez mais próxima, poderia resultar num futuro próximo. Imaginei uma crítica social que mostrasse que o Homem cada vez mais se isola na frieza das máquinas, um isolamento que o remete para uma melancolia e depressão, pois não fomos feitos para estar sozinhos. Serviria "Her" como um aviso? De que não nos devemos afastar e esconder? De que é preciso ter cuidado com o caminho que o futuro está a seguir?

Bem, talvez sim, mas claramente não só. O filme que imaginei não foi o filme que vi. Claro que existe um enfâse nesse retrato social que nos mostra como estamos cada vez mais afastados uns dos outros. A dada altura Theodore observa pessoas a passar na Rua, todas juntas e todas afastadas, a conversar com os seus sistemas operativos ao invés de uns com os outros. Mas "Her" é mais que isso, diria até que a preocupação principal do filme é outra.

Neste ambiente mais futurista Spike Jonze desenvolveu as repercurssões da existência de inteligência artificial. Já muitos autores de ficção científica o fizeram, mas esta abordagem é bastante sóbria e não muito longe daquilo que um dia poderá acontecer e, por isso, talvez a identificação com este cenário seja mais imediata, mas não menos verdadeira que as outras. O que aconteceria se de facto a inteligência artificial existisse a este nível? Samantha torna-se uma entidade, não viva no sentido biológico da palavra, mas viva no sentido de uma consciência. Como tal, à semelhança de nós, Samantha vai crescendo e evoluindo, onde a única diferença é que o faz a uma velocidade muito superior.

É um filme muito interessante precisamente porque aborda esta possibilidade com honestidade, carinho e acima de tudo sem preconceitos. A preocupação social existe, mas não da forma que inicialmente imaginei. 
"Her" está mais interessado em desenvolver uma relação entre o Homem e a Tecnologia, mas uma enquanto duas entidades conscientes e neste filme isso resulta numa história de amor. "Her" pode ser sobre muita coisa, mas acima de todas as outras é uma história de amor genuína. Existe mesmo uma preocupação no facto de esta relação nunca poder ser carnal e as repercurssões que isso pode ter. Claro que isso também coloca questões constrangedoras. Que futuro há para a espécie humana numa relação destas? (num raciocínio mais preocupado com o futuro a longo prazo). "Her" aborda muita coisa, mas sem apontar o dedo, são questões que ficam no ar para serem reflectidas e valorizo-o muito por isso.

Não nos enganemos também de que a solidão é algo de novo, que a culpa é só das máquinas (criadas por nós). Mesmo aqui a personagem de Theodore mergulha nela devido a uma relação amorosa com a sua ex-mulher. É a dor e desilusão com o mundo que o afastam do mesmo e isso é algo muito humano. Phoenix está como é costume irrepreensível, mas também Scarlett Johansson. Apesar de a actriz nunca surgir fisicamente a sensualidade da sua voz tornam-na uma escolha óbvia e que resulta maravilhosamente bem.

Sem comentários: