quinta-feira, outubro 27, 2011

Uma injecção de Woody Allen

Este fim-de-semana passado foi dedicado a Woody Allen. Um realizador com uma filmografia tão extensa como invejável.




Bananas



Até agora ainda só tinha visto um filme da fase "pré-Annie Hall" de Woody Allen, o Every Thing You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask que se trata de um conjunto de divertidíssimas curtas.
Já tinha visto algumas cenas de determinados filmes também e adorado este tipo de humor que Allen praticava.
Bananas foi portanto um sucesso. O filme é hilariante do início ao fim.
Fielding Mellish (Woodie Allen) envolve-se amorosamente com uma fogosa activista. Quando o seu relacionamento termina, Fielding decide partir para a América do Sul até um país em opressão cujo grupo de rebeldes era apoiado pela sua ex-namorada (apoiado ideologicamente).
Fielding acaba por se encontrar envolvido numa disputa governamental entre a força ditatorial governante e a força libertadora rebelde que provam não ser tão diferentes assim. Um filme onde o humor é capaz de atingir níveis de parvoíce lendários (e digo isto como elogio) mas não descurando a crítica.
De salientar ainda que este é um dos primeiros filmes em que participa Stallone, futuro herói de acção, que aparece numa curta mas memorável cena.
Se rir é o mote então este é o filme a escolher.






Crimes and Misdemeanors




Costumo referir que considero Match Point o melhor filme de Woody Allen "pós-2000". Profiro tal afirmação por algumas razões. Nomeadamente porque, na minha opinião, é simplesmente o melhor filme de todo esse leque e porque é também o mais diferente da sua filmografia. O tom é mais negro que o habitual, o jazz é substituído pela clássica e não temos nenhuma personagem a encarnar Woody Allen, seja interpretado pelo próprio ou por outro.
Logo a seguir (depois do Scoop) veio Cassandra's Dream que se toca com Match Point em alguns pontos, principalmente no tom negro. Este não foi tão amado e concordando que não é melhor que o outro é bem capaz de ser o meu segundo favorito dele (de 2000 para a frente volto a lembrar). Ah e reforçou a minha ideia que o Colin Farrel é bom actor.

Isto tudo para dizer que desconhecia que Allen já tinha enveredado no passado por tais caminhos tão obscuros. Crimes And Misdemeanors já o tinha feito uns bons anos antes e com muita qualidade também.
Crimes and Misdeameanors divide-se em duas histórias. Numa temos Judah Rosenthal (Martin Landau) um famoso oftalmologista que começa a ter problemas com a sua obcecada amante e terá de decidir entre quebrar os seus ideais ou quebrar o seu casamento.
Do outro lado temos Cliff Stern (Woody Allen) um realizador de documentários que se vê obrigado a ter de realizar um sobre o seu pedante cunhado (Alan Alda).
No fundo temos aqui dois filmes completamente distintos que se tocam no final numa breve conversa entre a personagem de Landau e de Allen. De salientar que Martin Landau é um actor excepcional e aqui volta a brindar-nos com mais uma excelente interpretação.

Na primeira história temos então o "Match Point". Judah após ter consentido no assassinato da sua amante para preservar a sua vida, começa a ser assombrado pela sua educação judaica. Sente que lhe é impossível retomar a sua vida, pois nenhum ser humano tem o direito de tirar a vida a outro. Como pode alguém recuperar de um acto tão cruel? Tudo isto acaba por culminar numa fantástica resolução do seu espírito humano, onde o tempo assume uma importância fulcral.
A segunda história é uma típica aventura de Woody Allen, onde este deambula entre um casamente falhado e uma paixão intelectualmente estimulante. Tudo isto enquanto ridiculariza o seu cunhado pelo caminho e vai discutindo os problemas da sua vida com aquela que melhor o compreende... a sobrinha.






Whatever Works



A minha maior vontade em ver este filme prendia-se com a curiosidade de ver Larry David trabalhar com Woody Allen. Afinal David é uma lenda televisiva graças ao seu trabalho em Seinfeld, uma das maiores séries de comédia de sempre.
A sua personagem, Boris Yellnikoff, é um reformado professor de física e ávido defensor da teoria das cordas que após um divórcio e tentativa falhada de suicídio se encontra a viver sozinho.
Sozinho mas sempre na companhia da sua arrogância, fobia de doenças e desilusão pelo mundo. Boris diz logo ao início que não é alguém com quem vamos simpatizar, tal como Alvy Singer o fez em Annie Hall, Boris também quebra a barreira que divide espectador e filme. Boris é portanto uma pessoa com uma visão muito pessimista da vida e dos outros, mas sempre com um toque de humor nas suas tiradas certeiras e por vezes letais.
No entanto a sua vida está prestes a sofrer uma severa mudança quando decide dar abrigo a Melodie St. Ann Celestine uma rapariga do Mississipi cuja cultura entra em choque com a de Boris. Com o tempo e a influência de Boris ela acaba por se apaixonar por esta figura que assumiu um papel de mentor na sua vida. E é aí que depois chega a sua família em peso e as coisas ainda se tornam mais divertidas.
Um dos aspectos mais engraçados do filme é ver como a vida em Nova Iorque afecta esta família oriunda do Mississipi que foi educada de uma forma muito religiosa e conservadora.
Claro que o melhor está mesmo em Boris. Vê-lo interagir com os outros é sempre um momento a reter, inlusivé crianças., ninguém escapa aos seus rotativos psicológicos.





Midnight In Paris




Já que estou a escrever um post intensivo deste realizador vou aproveitar para falar do seu mais recente, também visto há pouco tempo.
Eu gostei bastante deste novo filme, que de uma forma leve e descontraída nos faz visitar Paris numa época (duas até) em que a arte fervilhava por todos os poros da cidade, conseguindo juntar nomes como F. Scott Fitzgerald, Pablo Picasso, Ernest Hemingway, Cole Porter, Salvador Dali, Luis Buñuel, T.S. Elliot, entre outros.
Gosto do Owen Wilson, ele é sempre uma mais valia nos filmes do Wes Anderson e gosto dele em Midnight in Paris a fazer de Woody Allen. Sim ele não é o Woody Allen, esse só há um, mas também não tinha de o ser.
É verdade que o filme segue um caminho relativamente óbvio em certos aspectos, a sua relação amorosa por exemplo, mas nunca nada disto me fez sentir que o filme perde por isso, até porque óbvio ou não é um caminho que faz sentido percorrer.
A personagem "pedante" volta a marcar presença, Allen deve adorá-los. Em Crimes And Misdemenors era Alan Alda, aqui é Michael Sheen. Uma daqueles personagens que nos faz questionar como podem ser tão populares entre o meio feminino.
Outra personagem que é preciso salientar é Paris. Uma cidade tão bela como esta dificilmente fica mal como pano de fundo seja em que situação for.
Já agora com um poster tão bonito é curioso que Van Gogh não surja a dada altura no filme, ao lado de Toulouse Lautrec. Era a oportunidade perfeita.

13 comentários:

João Lameira disse...

O Crimes and Misdemeanors é a grande razão por que não gosto do Match Point (que tem os seus próprios problemas, a começar pelo actor principal): é um filme de tal maneira bom que eclipsa o que o tenta "imitar". Dizes que tem dois filmes distintos dentro dele, mas, se reparares, a história cómica também é bastante negra - até mete o suicídio do filósofo. Mas sou suspeito, o Woody Allen dos anos 80 e 90, para mim, é imbatível. Se não viste, aconselho-te Husbands and Wives, Hannah and her sisters, Deconstructing Harry, Mighty Aphrodite, Everyone Says I Love You, Manhattan Murder Mystery, todos óptimos.

Só uma correcção: tiveste aí lapsus linguae, ou neste caso, um lapsus escritae, não é Larry Clark, é Larry David. A propósito, gostei bastante do Whatever Works, um dos melhores dos recentes.

Loot disse...

Olá João

Antes de mais obrigado pela correcção. Eu vi o Match Point primeiro então nunca tive essa sensação e até gosto do Jonathan Rhys Meyers, talvez culpa do Velvet Goldmine. Eu adoro o filme e tocar novamente nos mesmos temas é algo que o realizador faz muito. Desde que o faça com a mestria que é capaz não me importo :)

Quanto ao Crimes essa história é verdade que tem uma posição melancólica da vida no final, aquele filósofo que tanto defendia que a vida devia ser aproveitada acaba por cometer suicídio, contrariando tudo o que afirmava. Mas é um tipo de negro diferente, é mais uma desilusão da vida. Devia talvez ter sido mais claro nesse ponto. A outra história mexe mais com a nossa bússola da moralidade, com aquilo que o Homem é capaz de fazer e como tal se manifesta na nossa vida. É o mesmo tema de Match Point e de Cassandra's Dream e que se manifesta de forma diferente em cada um de nós, basta ver a personagem de Landau e Meyers e compará-la com a de Farrel.


Não vi nenhum dos filmes que mencionas e sei que ainda tenho um longo percurso a percorrer na sua carreira. Até porque o homem faz um filme por ano.

Além dos mencionados no post (incluindo o abc do sexo, Annie Hall, match e cassandra) já vi: sweet and lowdowm, Vicky Cristina Barcelona, Small time crooks, hollywood ending.
Como dá para ver ainda me falta imensa coisa :)

Abraço

João Lameira disse...

Eu adoro o Velvet Goldmine e acho que o Rhys-Meyers "vai muito bem" no filme, exactamente pelas mesmas razões que fazem dele um actor tremendamente mau em qualquer outro filme (verdade que não vi muitos mais).

Quanto ao Match Point, como escrevi, tem os seus próprios problemas: é uma espécie de Crimes e Castigo digest (nem falta o Rhys-Meyers a ler Dostoiévski), é demasiado óbvio e muito pouco subtil (também é verdade que essas são características do Woody Allen, mas nas comédias sentem-se menos), alguns diálogos são penosos, por vomitarem o tema do filme (um problema recorrente nos últimos filmes do realizador). Isto é o que me lembro, já não vejo o filme há uns anos. É engraçado que fales do Cassandra's Dream, que sofre dos mesmos problemas, mas que se aguenta melhor (também por causa dos actores) e, inexplicavelmente para mim, é menos considerado.

Quanto aos filmes que mencionei, recomendo-os vivamente. E ainda há outros: Purple Rose of Cairo, Zelig, Manhattan, Radio Days (talvez o meu preferido), o Sleeper (que também é pré-Annie Hall), o A Midsummer Night's Sex Comedy, e devem-me estar a escapar uns quantos. Uma coisa, nunca gostei tanto dos filmes supostamente sérios do Woody Allen e não lhes ligo tanto, alguns nem vi, como o September. São as minhas falhas.

Loot disse...

O Velvet Goldmine é dos meus filmes favoritos :D
Falei dele por causa do Rhys-Meyers mas o Ewan Mcgregor que entra no Cassandra's também anda por lá.

Eu adorei o Cassandra´s dream e em termos de elenco está muito bom o Farrel está um farrapo, completamente de rastos e do outro lado temos um seguro Mcgregor.
Agora fiquei a lembrar-me do Farrel no In Bruges outro grande papel, outro grande filme.

Mas tens razão foi subvalorizado na altura. Talvez por o Match Point ainda estar muito presente. Não sei.

Deste Midnight in Paris também já vi apontarem várias semelhanças com o Purple Rose of Cairo. Já o viste? e que tal?

Isto pouco a pouco vai lá. Nas prioridades dele tenho o: Take the money and run, Love and dead, Purple Rose of Cairo, Zelig, Manhattan, Radio Days e stardust memories.

João Lameira disse...

É pá, eu não gostei muito do Midnight in Paris. Por um lado, tinha expectativas, por outro é a outra vez a história do óbvio de que também falas, para mim, sinal de cansaço e alguma preguiça. Mas nunca se sabe, talvez se o vir outra vez, goste mais. Mas é complicado, o Woody Allen tem tantos filmes bons e de que gosto tanto, que acho pouco provável.

ψ Psimento ψ disse...

Este teu Post fez-me lembrar que preciso fazer um sobre cinema lá no Psimentos, há muito que não o faço.
Sempre conheci o Woody Allen de nome mas, só desde há uns três anos para cá é que comecei a embrenhar-me na sua cinematografia. Tem trabalhos que adorei tem outros que não gostei nada. Ainda não vi muitos dos seus filmes mais antigos mas para te dar um ideia, adorei o "Match Point" e desiludi-me profundamente com "Scoop" mesmo tendo o Hugh Jackman :p
Ainda não vi o Midnight In Paris mas vou faze-lo brevemente. Já agora, aqui há uns meses, ainda antes de conhecer o teu blog, pedi que me recomendassem um filme. Pedir alguém que nos recomende um bom filme costuma dar óptimo resultado. Por isso, o que me sugeres?
Abraços

Loot disse...

Dele o meu favorito até agora é bem capaz de ser o Annie Hall. Acho que esse sentimento em relação ao scoop foi geral, ainda não vi mas realmente não me "puxou".
Já agora para mim onde o Hugh Jackman está melhor é no The Fountain. Grande papel.

Quanto à sugestão. Se conhecer melhor os teus gostos acho que consigo ter mais hipóteses de acertar :P
Diz-me alguns dos teus filmes favoritos.
Mas para já então aconselho-te o Velvet Goldmine que é um dos meus predilectos. Sobre a ascensão e declínio de uma estrela do glam rock (inspirado no David Bowie).

Abraço

ψ Psimento ψ disse...

The Foutain é brilhante, já falei dele no blog. Não sei como passou tão despercebido. Além da excelente prestação do Hugh Jackman tem também uma brilhante interpretação por parte da Rachel Weisz.
Vou começar por esse Velvet Goldmine então.
Os meus gostos cinematográficos são muito variados, será difícil veres por ai, mas tenho preferência por aqueles filmes dramáticos e pesados que nos deixam a pensar. De qualquer modo o meu filme preferido é um filme que quase ninguém conhece chamado "Un amour à taire" mas também adoro "O Conde de Monte Cristo", "Cinema Paradiso", "A mulher do Viajante do Tempo" e evidentemente na área da animação, os "Toy Story" onde vejo um reflexo nostálgico da minha infância. E paro por aqui pois caso contrário a lista não terminava nunca.

ψ Psimento ψ disse...

PS: esqueci o "V for vendetta"

Veronica Electronica disse...

bananas!! \O/

Loot disse...

Sim também adoro o Fountain. Mas é daqueles filmes que percebo que tneha passado despercebido. Pelo tipo de história e porque só esteve em UM cinema no país a ser exibido.
Sempre gostei do Jackman, adoro o seu Wolverine, mas aqui é qualquer coisa de fenomenal. A dor que ele transmite pela mulher é de chorar as pedras da calçada lol.
Leste a BD? http://alternative-prison.blogspot.com/2008/02/fountain.html


O Velvet Goldmine também é subvalorizado na minha opinião. Passou despercebido mas é filme de culto. O Todd Haynes é grande visionário. Mais recentemente voltou aos biopics ficticios (mesmo que conteham traços de realidade), falo do I'm not there sobre o Bob Dylan. Uma ideia excepcional, mas o Velvet é melhor :P


O Un amour à taire é um telefilme estive a ver. Ainda mais desconhecido portanto. Vou espreitá-lo ;)

Ah e o filme do V é altamente mas o livro é genial :D

Abraço

Ruca! disse...

curioso ainda ontem também eu fui assomado por essa vontade de ver mais woody allens. e como ainda me faltam uns quantos reuni 4 para ver, entre os quais o crimes e misdemeanors. mas vou juntar à lista o bananas, que pelo que dizes vale a pena.
o whatever works achei hilariante. raramente o faço mas vi esse filme 2 vezes num fim de semana. o larry david é brutal.
o midnight in paris é delicioso nos pormenores das personagens históricas introduzidas e no geral é um bom filme, mas acho que o owen wilson podia ter feito melhor.
olha, aconselho-te o 'play it again sam'. é pré-annie hall mas já é da fase diane keaton. apesar do woody ter entregue a cadeira de realização ao amigo herbert ross, é um argumento de luxo dele e ele como tantas vezes faz um neurótico espectacular.
abraço.

Loot disse...

O bananas é um tipo de humor diferente dos seus outros filmes. Fez-me lembrar um top secret e os hot shots. Eu adorei.

O play it again Sam está em lista de espera porque quero ver o Casablanca primeiro (sim eu nunca vi este :S) e pelo que percebi o play it again tem imensas referências ao casablanca.

Mas só ouço falar maravilhas desse também.