segunda-feira, agosto 17, 2009

A Voz do Fogo

Alan Moore é um nome que dispensa apresentações no mundo da banda desenhada, sendo considerado por muitos como um dos melhores contadores de histórias nesta arte, eu incluido. Livros como "Watchmen", "V For Vendetta" ou "From Hell" são já clássicos da 9º arte conhecidos mundialmente, nem que para isso tenham contribuído as adaptações cinematográficas.
"A Voz do Fogo" (Voice of the Fire) consiste no primeiro (e até à data único) romance deste autor, que foi editado originalmente em 1996.
O livro encontra-se dividido em 12 capítulos ao longo de 6000 anos, começando no ano 4000 a.c. e terminando em 1996 d.c.. Todas as histórias decorrem no mês de Novembro e na zona de Northampton, cidade Natal e actual do autor, em Inglaterra.
O primeiro capítulo, "O Porco de Hob" (Hob´s Hog), é aquele de maior dificuldade na sua leitura uma vez que é narrado por um rapaz que vive no ano 4000 a.c.. Moore escreve-o de uma forma muito elementar utilizando recorrentemente o presente do indicativo de forma a dotar o rapaz de uma aura mais primitiva que é precisamente o suposto. Este jovem do "tempo da pedra" é um rapaz bastante ingénuo que após a morte da sua mãe é expulso do seu grupo e obrigado a desbravar as aventuras deste mundo sozinho.
Tratando-se do primeiro capítulo poderá afastar os leitores devido às razões mencionadas, o que é uma pena pois trata-se de um dos melhores do livro cujo arrepiante final compensará a atribulada caminhada.
As histórias apesar de completamente diferentes encontram-se ligadas entre si pela "Voz do Fogo". São contos carregados de violência e luxúria, onde corpos queimados e cabeças decepadas farão grande parte da sua simbologia. No que toca à luxúria Moore entra na cabeça dos personagens e explora os seus desejos sexuais sem pudores ou eufemismos de uma forma directa e crua que para muitos terá um sabor ordinário.
Passando pela vida de um emissário Romano, de um antigo Cruzado ou até do "mendigo poeta de NorthamptonShire" John Clare ou do mulherengo Alf Rouse, esta aventura conta com um leque de personagens fascinantes, terminando no próprio autor. Sim! Alan Moore é o protagonista do 12º capítulo onde se encontra precisamente a concluir o livro em questão, como sendo "o último acto de um ritual de fé e magia", citando Neil Gaiman.
Em jeito de conclusão esta é uma viagem pela História de Northampton carregada de magia e luxúria, onde o autor mistura realidade e ficção com a classe que lhe é habitual.
A edição portuguesa da "Saída de Emergência" foi traduzida por David Soares que nos presenteia com uma secção de notas sobre cada capítulo fornecendo-nos informação base sobre a mitologia usada nas histórias e algumas ideias do autor, algumas das quais já haviam sido exploradas em outros dos seus trabalhos como por exemplo na série de BD "Promethea".
O prefácio é da autoria de Neil Gaiman que aconselha o início da leitura ou no primeiro ou no último capítulo uma vez que se trata de um livro que pode ser lido em qualquer ordem. Eu optei, tal como David Soares, por seguir o caminho de um peregrino, ou seja, começando no primeiro e terminando no décimo segundo.
Uma vez que se trata de um livro carregado de simbologia e cuja linguagem nem sempre é a mais acessível optei por ler primeiro esta edição portuguesa, até porque como referi contava com alguns apontamentos. Agora após este contacto inicial com "A Voz Do Fogo" já me sinto mais preparado para pegar na obra na sua língua original, algo que definitivamente farei daqui a uns anos. Até lá quero aproveitar também para aumentar a minha cultura esotérica a fim de conseguir mergulhar mais fundo ainda neste mundo mágico e negro.
Este foi um livro que infelizmente passou despercebido do público. Talvez por ser escrito por um autor de BD ou por simplesmente desistirem logo a início, visto o 1º capítulo ser como havia mencionado o mais desafiante. A fim de cativar novos leitores a editora "Saída de Emergência" planeia lançar uma nova edição com uma nova capa e algumas surpresas (quem sabe com as ilustrações de José Villarrubia presentes na edição de 2004 da Top Shelf)). Já agora aproveito para sugerir que corrigam nesta nova edição algumas gafes que se encontram na actual, já que estão com "a mão na massa".

10 comentários:

DC disse...

Um rebuçado para o loot por ter chegado ao fim do 1º capítulo:P
As notas do David Soares são valiosíssimas para quem quiser perceber o universo do Moore. Aliás, acho obrigatório ler este livro (ou pelo menos as notas) para se entender bastante (não digo completamente porque só alguém com uma carga cultural semelhante ao Moore é que o entenderia no seu todo) o Black Dossier.

Na minha opinião, a principal razão para o insucesso do livro foi a falha na promoção do mesmo. É um livro que para ter sucesso teria que apostar no público-alvo mais interessado neste título: os bedéfilos. Apesar de haver algum público atento aos 2 mundos, são em número reduzido e imensos possíveis interessados nesta obra ainda hoje não sabem que este livro existe.

O Moore anda a trabalhar num novo romance, Jerusalem, que parece já ter mais de 1000 páginas além de um enciclopédia/história geral da magia (a real, Crowley, wicca, shamanismo, etc. e não a ficcional). Procura entrevistas onde ele fala do assunto, parece ser um projecto bem ambicioso e interessante.

Nuno Amado disse...

Eu tenho um certo problema para ler romances em inglês... perco a paciência!
E tenho perdido muitos e bons livros não editados em português devido a essa falta de paciência...

João Rosa disse...

Este é um clássico e já o conhecia há vários anos, mas ainda assim nunca o li. Se souberes quando a Saída de Emergência planeia lançar a reedição, agradecia que postasses aqui ou que me dissesses, Loot.

Nuno Amado disse...

Mas... está editado em português de Portugal?

Loot disse...

DC: Deves tar com o ego muito em alta é que nós os comuns dos mortais também gostamos de ler não precisamos de rebuçados para o fazer :P
E como já te disse o final do 1º capítulo é para mim um dos momentos mais bem conseguidos da obra.
Agora acredito que possa afastar leitores que ao espreitarem o início do livro o achem demasiado trabalhoso. Claro que quem sabe do que se trata e gosta de Moore vai lê-lo garantidamente.

Mas és capaz de ter razão em relação à sua promoção que foi quase inexistente.

O Black dossier ainda não li o que me lembra. Novidades sobre o nosso vol. 3?

Bongop: Ah eu sempre que possível gosto de ler o autor na sua língua original. E depois há a vantagem de melhorarmos a nossa aprendizagem de uma língua. Agora devia era fazer isto com outras línguas que não o inglês. Ando para começar a ler BD em francês mas ainda não em aventurei, o meu francês anda muito fraquinho mesmo.

E sim a Voz do Fogo está editado em português de Portugal pelo David Soares e a capa é precisamente a da imagem que coloquei.

Celtic: Quando tiver novidades aviso ;)
E tens de ler para depois falarmos sobre isto.

Abraços

DC disse...

Hoje ou amanhã vão chegar mais novidades. Será que estará lá o tão aguardado vol.3? Esperar para ver:\
Aos que quiserem ler este livro, faça-no em português. Só pelas notas do David Soares (se não fossem elas, acharia o livro uma seca) vale bem a pena. E se o 1º capítulo é algo penoso em português, não quero imaginar em inglês:P Imensas coisas que não iria perceber.

Loot disse...

Ah!!! Oxalá que sim isso é que era :D

Concordo, acho que ia perder muita informação se lesse em inglês. Porém agora, após o ter lido em português já me sinto mais preparado para o fazer em inglês. Mas isso fica para daqui a uns tempos agora quero que ele edite o "Jerusalém" de que falaste.

Abraço

tadeu disse...

ola loot.
onde compraste esta bd? sabes quando será editada novamente?
dele também li que tem um conto erótico a ser editado...
deve ser por isso que aparece pouco, tem uma catrafulhada de páginas para escrever :0))

Loot disse...

Olá

Este livro não é BD é prosa.
Comprei-o na Bertrand uma vez que é da Saída de Emergência.

Por mim pode continuar a escrever que ele é fantástico.
Por falar em erotismo nunca li o "Lost Girls" dele a ver se arranjo.

Abraço

tadeu disse...

vi o lost girl, algumas páginas online, porque foi notícia.
mas nada como ter a bd em mãos.
ganhei "watchmen" escrito em português! meus tios do brasil estão cá a passar férias e trouxeram, após pedido ;)
impecável!!
abraço!!