quarta-feira, maio 29, 2013

20th/21st Century Boys


Completar uma colecção traz sempre um misto de sabores, desdobrando-se entre um estupendo contentamento e uma melancólica despedida. Estamos a falar de um fim, de atingir uma meta e com ela descobrir, finalmente, o culminar de uma história, mas, como referi, não deixa de ser um fim, não deixa de ser um adeus. Após 22 volumes de "20th Century Boys" e mais 2 de "21st Century Boys" é hora de me despedir destes rapazes e prosseguir para novas aventuras. Mas antes de a despedida ser definitiva, vamos recordá-los.

Logo nas primeiras páginas lemos os acordes iniciais desse hino dos T-Rex também apelidado de "20th Century Boy". Se a obra de Naoki Urasawa aborda a passagem de séculos o seu título está mais que justificado. Porém, ele faz questão de não perder tempo em revelar a inspiração desta canção o que acaba por ser também uma introdução sobre o papel da música , em geral, nesta obra. Impressionante como a música tem tanta força numa BD, ou seja, num meio mudo. Mas a verdade é que tem, e tem mesmo muita.

A narrativa não é linear, o autor faz-nos saltar entre diferentes anos, especialmente entre a fase adulta e infantil dos protagonistas. Em miúdo Kenji e os seus amigos criaram um esconderijo secreto, um esconderijo onde se encontravam para ler mangá e sonhar com um futuro onde seriam heróis. Claro que para ser um herói é preciso haver um vilão e por isso Kenji e companhia imaginavam várias peripécias aterradoras das quais o mundo seria atacado. Anos mais tarde, a caminhar para o final do século XX, já todos estes rapazes (e uma rapariga) são adultos responsáveis, alguns casados e pais de familia, outros desaparecidos. Afastados dos seus sonhos de criança Kenji agora apenas se preocupa com o negócio da familia e com Kanna a sobrinha que ficou a criar. Porém, tudo muda quando Kenji começa a investigar a morte de um antigo amigo seu - Donkey - que estava a tentar avisá-lo dos perigos perpetados por uma seita intitulada "Os Amigos". O grande choque é quando Kenji se apercebe que este grupo está a seguir à letra os planos maléficos que ele inventou em criança e que usa como símbolo o mesmo que o seu amigo Otcho havia criado para o seu esconderijo secreto. A resposta só pode ser uma, a pessoas que está por detrás destes planos, "O Amigo" (como ele gosta de ser chamado), tem de, obrigatoriamente, ser alguém que teve contacto com o passado de Kenji. Mas quem?

É importanta salientar que os planos vilanescos foram criados por crianças e em adulto vê-los ganhar vida é muito curioso, principalmente porque há planos que só podiam mesmo ter saído da mente de miúdos.

Ao longo dos vários volumes Urasawa vai prendendo a nossa atenção como um mestre alternando cirurgicamente entre o que nos vai revelando no passado e no presente. A foma como planeia as pranchas é incrivelmente dinâmica e viciante, estamos sempre a querer saber o que vai decorrer na página seguinte. Apenas quando a identidade do amigo é descoberta é que conseguimos respirar um pouco, mas não por muito tempo pois rapidamente a história volta a carregar no acelerador. Para quem conhece os desenhos do autor, já saberá com a qualidade que pode contar, ou seja, fantástica. Urasawa volta-se aqui a afimar como um dos autores de mangá mais interessantes da actualidade, aliás, subtitua-se "de mangá" por "um dos autores de BD", ponto final.

O autor utiliza também um artífico engraçado na história, uma "realidade virtual" extremamente consistente e detalhada (e ficcional pois claro) criada a partir das memórias de alguém. Nesta realidade é possível no presente as personagens regressarem até à época em que eram crianças e até interagir com eles próprios. Uma forma de confrontar as duas realidades sem recorrer a viagens no tempo. Claro que na realidade virtual as personagens não deixam de ser programas de computador, mas como a sua autenticidade é tão grande é quase como se os jogadores tivessem mesmo voltado atrás no tempo.

Poder-se-à criticar a fraca memória que Kenji e companhia têm da sua infância, algo usado por motivos de tensão na história e por isso muito compreensível.

Para termos uma boa história precisamos de boas personagens e "20th century boys" reúne um valente grupo delas, na sua maioria homens e mulheres comuns que quando necessário se levantaram para serem os heróis que estavam destinados a ser (alguns levantaram-se mais tarde que outros). São tantos os momentos em que a emoção cresce quando os seguimos, em que tememos pelas suas vidas ou em que soltamos um forte grito de entusiasmo pelas suas peripécias. Acaba por ser também um enaltecimento aos bons, aos heróis, aqueles por quem passamos por vezes na rua sem sabermos. Fica o desafio a todos nós de sermos heróis também. Não é preciso combater o crime nas ruas para isso, basta olharmos à nossa volta, há sempre formas de ajudar. E se falharmos, há também sempre tempo de compensarmos, de corrigirmos. Vamos todos ser os melhores Homens que conseguirmos.



A título de curiosidade, existem três filmes de "20th Century Boys", que agora talvez espreite, pois fiz questão de ler primeiro, deixo também o mesmo conselho a todos vós. Mais do que ser surpreendente é a emoção que corre nas veias desta história, pois mesmo quando o argumento é previsível não deixa nunca de nos entusiasmar.

Este vai para a lista dos predilectos. Quanto às saudades, essas já começa a fazer-se sentir.

2 comentários:

Nuno Amado disse...

Na wishlist e em lugar de topo!
:D
Tou ansioso por começar a ler isto!
;)

Loot disse...

E merecido esse lugar, isto é muito bom e como sei que gostas de "Pluto" estou confiante que gostarás disto também :)

Abraço