sexta-feira, agosto 31, 2012

Thor: As Idades do Trovão


O deus (nórdico) do trovão nunca fez parte das minhas leituras, apenas quando fazia parceria com outros heróis ou nos Avengers. Talvez isto tenha acontecido por questões de disponibilidade porque sempre fui um entusiasta de mitologias e na altura que era miúdo isto não era assim tão fácil de arranjar. Peguei, muito mais tarde nos seus comics na fase de Strazinsky, quando Thor regressou dos "mortos" e a partir daí li mais algumas coisas que me levaram a tê-lo em melhor conta. gosto particularmente das histórias decorridas em Asgard onde a mitologia e a ficção se misturam em perfeita comunhão

Ora este volume reúne uma série de histórias (mais recentes, aqui os clássicos antigos ficaram de fora) onde toda a acção decorre nos mundos de fantasia da mitologia nórdica, deixando a Midgard (Terra) dos super-heróis, para outras edições.

Os primeiros arcos, "Ages of Thunder", "Reign of Blood" e "Man of War" retratam diferentes períodos de Ragnarok e trazem-nos um Thor mais próximo do da mitologia, ou seja, antes do seu exílio na Terra por parte do pai, acção essa com que uma das histórias termina. Estas histórias vêm no seguimento da ideia de que estes deuses nórdicos viviam em ciclos de Ragnarok para entretenimento de outras entidades, até Thor ter quebrado isto em Thor #80-85 (livro do qual já tinha o texto escrito e sem querer apaguei juntamente com outros volumes da série "Disassembled"). Curioso também que em nenhuma destas histórias Odin tenha a pala no olho, quer dizer que ainda não sacrificou uma das vistas em prol da sabedoria.

Gosto bastante dos desenhos destes três arcos, principalmente dos da autoria de Patrick Zircher que consegue captar na perfeição o tom de fantasia e poder esperados deste mundo povoado por deuses e gigantes, um trabalho magnífico.


De seguida temos a história sobre Skurge o Executor e o que realmente lhe aconteceu. Aqui a arte alterna de capítulo para capítulo entre estilos mais clássicos e modernos. Uma vez que a história mexe com o fabrico da realidade que está a sofrer alterações, estas mudanças na arte não só se justificam como valorizam a história. O próprio Loki alterna entre géneros, uma vez que esta história decorre na fase em que Strazinsky estava ao leme de Thor e na qual Loki voltou como mulher.

O argumento de todas as histórias é de Matt Fraction, excepto da última "The Trial of Thor" por Peter Milligan. Uma boa história onde aparentemente o deus do trovão enlouqueceu e anda numa maré de chacina. Destaque para a atitude de Odin quando lhe acusam o filho.

quarta-feira, agosto 29, 2012

domingo, agosto 26, 2012

The Amazing Spider-Man


O Homem-Aranha está de regresso para uma nova carreira no grande ecrã uma década após a sua estreia sob o leme de Sam Raimi. Tirando o terceiro filme, a incursão do Aranha no cinema por Raimi foi um grande sucesso e por isso, para muitos, um desperdício de tempo este recomeçar do zero. Há razões comerciais para este filme existir, a FOX precisa fazê-los para manter os direitos da personagem e em vez de um Spider-Man 4 optou-se por um novo início, assim nos surge "The Amazing Spider-Man".

Não sendo grande fã dos filmes anteriores (reconheço-lhes qualidades claro, Alfred Molina será sempre o Dr. Octopus) estava muito curioso em ver esta nova abordagem de Marc Webb, pois a escolha do elenco parecia-me muito mais lógica e nesse aspecto não saí nada desiludido do Cinema, o ponto mais forte deste filme são os actores.

Não é, obviamente, necessário que um actor seja um conhecedor de comics para interpretar uma personagem deste meio, Ledger e Fassbender mais que o provaram se para tal houvesse necessidade. Claro que tal conhecimento não faz mal nenhum também e foi uma surpresa ver como Andrew Garfield é tão apaixonado pela personagem (veja-se aqui), a pressão era então ainda maior, mas o actor que não se preocupe mais tal como sempre suspeitei tens tudo para ser um grande Peter Parker, e foste. Há uma modernização da personagem, algo esperado, o Aranha tem 50 anos afinal de contas (completados este ano e caso para dizer muitos parabéns). Aqui Parker usa lentes de contacto e estranhamente anda de skate e enfrenta o matulão da escola, são escolhas que a início me surgiram estranhas, mas que em nada estragam a personagem, como disse, opções. De resto temos um Parker perfeito, a sua inabilidade social e mais importante de tudo o seu humor. Uma das características fundamentais e mais amadas do Aranha é que ele tem sempre uma piada na ponta da língua, o uso recorrente ao humor para esconder também os seus receios, como tantos de nós o fazem. A ciência é outro dos aspectos fundamentais da personagem e esse pensamento científico marca uma forte presença no filme, ou seja, nem vale a pena realçar que os lançadores de teias voltaram para ficar.


Emma Stone como Gwen Stacy, foi mais uma sábia escolha, aliás um duplo triunfo, primeiro porque a química entre Stone e Garfiel é imensa e passa para nós, a relação entre estes dois foi o que mais gostei de ver. Outra excelente decisão foi precisamente o de iniciarem a vida amorosa de Parker com Gwen Stacy. Em Cinema não temos todo o tempo do mundo como na BD para desenvolver as personagens, mas Stacy é e continua a ser uma das personagens mais importantes neste universo e o primeiro grande amor do Aranha. O seu pai que na BD admirava tanto o Aranha aqui é um dos que o procura para trazer à justiça e o papel coube a Denis Leary. Gostei do seu desenvolvimento principalmente por causa do impacto que tem na personagem, o Capitão Stacy ajuda o Aranha a encontrar-se, pelo menos eu senti isso naquela conversa ao jantar.

E não se pode falar do Aranha sem se falar nos seus tios. Martin Sheen é um grande tio Ben, e não se preocupem com a falta da frase "com grande poder vem grande responsabilidade" é algo que também não veio no comic original mas cuja mensagem se compreende na perfeição. A tia May não teve tanto tempo de antena, mas Sally Field cumpre na perfeição e terá tempo de nos mostrar mais da sua personagem, pois se há coisa que se nota neste filme é que é algo pensado para uma continuação, há uma série de informações colocadas para nos fazer entrar neste "mundo". Muitos não gostaram disto, de perguntas sem respostas, mas se a trilogia correr bem penso que no final tudo ficará no sítio certo e compensará. De salientar também que aqui vemos um desenvolvimento no percurso de Peter Parker que começa a sua carreira como Aranha alimentado por uma sede de vingança e que pouco a pouco encontra o seu verdadeiro caminho enquanto herói.

É curioso que tanto no filme de Raimi como neste, o criminoso que mata o tio Ben assalta alguém que foi um completo idiota para o Peter Parker, digo curioso porque assim a audiência sente mais simpatia pelos motivos do Aranha não o travar quando tem hipótese.e que resultam na morte do seu tio. Mas, na BD não foi assim, o Aranha não fez nada porque achava que não lhe competia, foi arrogante e pagou muito caro por isso, o sentimento que passa é bastante diferente.


Tudo indicava que o Lizard ia ser um os próximos vilões de Raimi, mas acabou por surgir primeiro neste filme. Gostei da escolha de Rhys Ifans e de uma forma geral gostei deste Lizard, mas gostava que o vilão tivesse sido mais desenvolvido, faltou até uma cena de transformação com maior suspense, e pessoalmente mantinha-lhe a família, aspecto muito importante na história do Dr. Connors. Espero que mantenham a personagem nos restantes filmes para pequenos cameos. E já que disse a palavra cameo este filme tem provavelmente o melhor de todos com Stan Lee. Já agora espero também que continuem a dar atenção ao Flash Thompson, ele pode começar por ser o colega brutamontes do Parker mas cresce muito enquanto personagem e gostava que mantivessem isso.

Mal o Aranha surge e é rapidamente apelidado de ameaça pelo Daily Bugle. J.J. Jameson no seu melhor, mas que ainda não surge neste filme, vemos isto apenas pela capa de um jornal. Foi uma decisão consciente, J.K. Simmons havia marcado muito bem o papel e ia ser uma tarefa complicada substitui-lo. Neste filme Webb safa-se com a sua não inclusão, numa sequela é algo que terá de resolver. Apesar de ser apelidado como uma ameaça, o grupo de pessoas que vai salvando em Nova Iorque acabam por vê-lo pelo herói que é criando assim uma relação entre o aracnídeo e um grupo desta comunidade. Raimi já tinha mostrado isso e Webb também não se esqueceu.

As cenas de acção convenceram-me, adorei os movimentos do Aranha pela cidade de Nova Iorque, a noção de equilíbrio que ele tem, as posições aracnídeas e a forma como usa as teias, está tudo lá directamente da BD para o grande ecrã, achei magnífico. A banda sonora podia ser melhor, no entanto.


O filme é bom e até acho que marca a sua posição nos filmes de super-heróis alto, no entanto, saí do cinema a sentir que podia ter sido ainda melhor, que o argumento podia ter sido mais bem desenvolvido e com mais calma, pois senti-o por vezes apressado a saltar de cena em cena.

Claro que o maior defeito deste filme, até nem é culpa sua, ou seja, é o facto de ser um reboot prematuro. Por muito que Webb tenha mudado a história da sua origem, focando aqui os seus pais, a verdade é que há lugares comuns aos quais ele não podia fugir e isso soa a repetitivo.

quarta-feira, agosto 22, 2012

The Great Gatsby


Este era um daqueles livros que queria ler há mesmo muito tempo, por várias razões: porque é uma obra amplamente conhecida e referenciada, porque queria conhecer a história de Gatsby e a escrita de Fitzgerald ou até mesmo porque D'Angelo fala do livro na segunda temporada de "The Wire". A questão assolava-me, quem é este Gatsby? De onde vem? E porque é que parece susciptar tanto fascínio nas pessoas. Pois bem, questões respondidas.

Gatsby turned out all right at the end; it is what preyed on Gatsby, what foul dust floated in the wake of his dreams that temporarily closed out my interest in the abortive sorrows and short-winded elations of men

O livro é narrado pela personagem Nick Carraway, um jovem veterano da 1º Guerra Mundial que se muda para  West Egg, Long Island. A casa que aluga é justamente ao lado de uma portentosa mansão onde são dadas as maiores e mais regulares festas da actualidade, cujo anfitrião e morador é, nada mais nada menos, do que Jay Gatsby.

Estamos no início dos anos 20, mais especificamente 1922, uma altura prolífica para os Estados Unidos economicamente falando e também a idade do Jazz, foi nesta altura que o género se insurgiu em força no país, espalhando-se pelo resto do mundo. F. Scott Fitzgerald, como até pode ser visto no último filme de Woody Allen, era um contemporâneo destes anos e um ávido conhecedor e participante da vida boémia da altura. Para conhecer uma época. não há nada como ter vivido nela e por isso o autor está em casa quando escreve "The Great Gatsby".

Everyone suspects himself of at least one of the cardinal virtues, and this is mine: I am one of the few honest people that I have ever known

Após conhecermos um pouco melhor Nick, não demora muito a este começar a participar nas festas do excêntrico e misterioso milionário que tem como vizinho, acabando, eventualmente, por travar conhecimento com o mesmo. Claro que nada disto se trata de uma coincidência, não há frutos do acaso no que toca a Gatsby cujo plano de vida foi delineado com tanto afinco e dedicação. É, apesar de tudo, um homem de imponente resolução e transformação.

Como e de onde surge Jay Gatsby? À primeira vista um veterano da 1º Guerra e um homem de Oxford. Um milionários por herança? ou talvez por contrabando, estamos afinal de contas no tempo em que saiu a lei da proibição da venda de álcool no país e que fez tantos enriquecer tão depressa. Para alguns Gatsby pode ser até um assassino, ilações que acabam por não passar de boatos, mesmo que acidentalmente tivessem pisado na verdade.

Uma coisa é certa, Gatsby - que personifica o sonho americano - provou-se um homem diferente do que esperava e com um objectivo muito mais sonhador do que antecipava. E num tempo (se não em todos os tempos) em que as pessoas vivem de ilusões e aparências, Gatsby consegue destacar-se dos restantes. Destaque esse que provém não da honestidade, mas de uma força colossal das suas ilusões, um poder tal que faz com que o maior iludido seja, tragicamente, o próprio.

They're a rotten crowd....You're worth the whole damn bunch put together

As descrições tanto espaciais como emocionais não deixam margem para dúvidas de que estamos perante um grande escritor. Porque há grandes contadores de histórias e grandes escritores e Fitzgerald é ambos. Há sempre um qualquer prazer nas suas frases, uma riqueza nas suas frases que nos fazem sentir e tremer como só um grande maestro das palavras consegue.

O livro é dedicado, como só podia ser, a Zelda, esse grande amor do autor. Para escrever "The Great Gatsby" é preciso conhecer o poder e a loucura provenientes das grandes paixões, repetindo-me, o autor estava a jogar em casa.

There must have been moments even that afternoon when Daisy tumbled short of his dreams -- not through her own fault but because of the colossal vitality of his illusion



quinta-feira, agosto 09, 2012

Capitão América: A Lenda Viva


Nunca fui grande leitor do Capitão América, sempre privilegiei outros super-heróis em prol deste, afinal de contas, não dá para os ler a todos. Com o 3º volume da colecção "Heróis Marvel" voltei a recordar-me do porquê, realmente de todos foi o volume que menos me entusiasmou, até ao momento. O que não quer dizer que não estejam aqui algumas das melhores histórias do Capitão da década de 80, confiando na selecção feita, e que certamente agradará aos fãs desta personagem.

O Capitão América (safou-se do nome Super-América) é uma das primeiras personagens da Marvel (na altura Timely Comics), criado na década de 40 por Joe Simmon e Jack Kirby. É, como todos, filho do seu tempo e neste caso em particular isso é algo ainda mais acentuado. O Capitão surge como um herói de propaganda e inspiração para o povo americano aquando da 2º guerra mundial, período durante o qual foi a personagem com maior sucesso da editora. No entanto, com o final da guerra, também a sua popularidade se desvaneceu resultando na "reforma" do herói na década de 50. Parecia o fim para esta personificação do símbolo da liberdade, mas não. Anos mais tarde, mais precisamente em 1964, Stan Lee teve a ideia de trazer o Capitão de volta, tendo sido encontrado pela super-equipa "The Avengers" congelado no Árctico (processo ao qual sobreviveu devido às propriedades do soro de super soldado).

Talvez por tudo isto muitos não o vejam hoje com os melhores olhos, afinal de contas é um "herói fora do seu tempo", questionando a sua relevância na actualidade. O facto de o Capitão personificar o espírito Americano nem sempre tem abonado a seu favor, mas estamos a falar de Super-Heróis, não vale a pena escrutinar este herói por questões político-sociais norte-americanas, o Capitão não representa, nem pretende representar, o governo Americano, o seu objectivo é lutar pela liberdade e sonho americano e isso é algo que ele irá manter em qualquer tempo e altura, até ser necessário. Por isso sentem-se, fiquem confortáveis e desfrutem do que ele vos pretende oferecer, aventuras.

As histórias são todas da equipa criativa, Roger Stern, John Byrne e Josef Rubinstein. Byrne foi de todos o nome que mais me interessou, o senhor é uma referência na história dos comics americanos e é sempre um prazer viajar pelas suas pranchas. Stern também tem algumas ideias interessantes, em particular a história em que o Capitão tem a possibilidade de concorrer à presidência dos Estados Unidos, foi de todas a minha predilecta, pela ousadia em abordar a questão tão directamente, afinal de contas estamos perante o super-herói mais respeitado na Terra. Seria interessante ver, para variar, um Super-Herói debater-se com outro tipo de questões como a paz e a fome no mundo. Afinal de contas os Super-Heróis, tecnicamente, só contribuem para manter o mundo como ele está.
No universo da DC Comics a comunidade de Super-Heróis é bastante apreciada pela população (de uma forma geral), já na Marvel não é tanto assim, o Aranha para muitos é um criminoso, o Hulk um perigo e depois há toda a questão à volta dos mutantes. No entanto, há pelo menos dois grupos de heróis altamente respeitados, o Quarteto Fantástico e os Vingadores. Neste segundo o Capitão é talvez o mais respeitado, por tudo o que simboliza e também pelos tempos da 2º guerra. Não estou nada habituado a ver um Super-Herói ostentar o seu uniforme em plena luz do dia, mas se alguém pode é o Capitão, ninguém o julga, ninguém o incomoda, ele é um símbolo de liberdade e todos o respeitam e admiram por isso.

As qualidades que fazem do Capitão o herói que é estão bem presentes nestas histórias, bem como o seu desfasamento temporal, ele é um saudosista como diz a dada altura a alguém (um novo interesse amoroso) a quem não pode revelar a sua identidade. Por isso sim, Steve Rogers é de facto um homem "fora do seu tempo" e essa foi sempre a ideia de Stan Lee quando decidiu trazê-lo de volta e integrá-lo nas histórias daquela altura.

A última história, comemorativa do 50º aniversário, faz uma boa retrospectiva da vida do Capitão, desde os tempos em que era um jovem franzino até ter sido encontrado pelos Vingadores.

Em relação à edição, parece-me que voltámos aos problemas de tradução que já tinha sentido no primeiro volume. É pena, porque de resto é tudo bastante bom.

segunda-feira, agosto 06, 2012

The Dark Knight Rises


"The Dark Knight Rises" marca uma nova etapa neste tipo de filmes, em certo sentido é um pioneiro, ou seja, este será sempre o primeiro filme da DC Comics... a mostrar o novo símbolo da editora. Pensavam que estava a falar em termos cinematográficos? "Rises" continua, como é devido, na linha dos seus anteriores, e nesse sentido dificilmente seria um marco, até porque tudo que traz, já o seu predecessor tinha feito e, na minha opinião, até melhor. Aqui simplesmente há "cenas maiores", como é típico de sequelas de filmes com sucesso comercial e se há coisa que Christopher Nolan tem é ambição neste tipo de cenas, veja-se a sobejamente conhecida explosão do campo de futebol, há toda uma noção de espectáculo muito grande aqui presente e nisso o realizador não desilude.

Há um caminho claro na realização de Nolan ao longo desta trilogia, e não só, em certa medida os dois últimos Batman até fazem melhor par com o "Inception" do que com o "Begins". Claro que em "Begins" começa muita coisa que a partir daí foi evoluindo, tal como as sequências de combate que estão melhores nos filmes posteriores. Por outro lado também Nolan e equipa têm vindo cada vez mais a abusar de um storytelling apressado, repetitivo e por vezes incoerente ou pouco inspirado (repare-se por exemplo como uma determinada personagem sabe a identidade de Batman), que tal como em "Inception" se faz notar aqui ainda mais. Não é tanto por aqui o caminho a seguir, apesar de reconhecer em determinados pontos que uma história com esta magnitude seja difícil de gerir em tão pouco tempo, privilégios que a BD tem em relação aos filmes. É complicado mostrar tantas modificações emocionais e físicas num curto espaço de tempo e por isso é que uma das cenas mais emblemáticas na BD ao ser reproduzida fielmente neste filme acaba por não resultar (nem pode) no mesmo grau de consequências, no entanto, serve e muito bem o seu propósito. O primeiro confronto entre os antagonistas principais é uma cena que vai perdurar, a máscara quebrada que se vê no trailer espelha tudo.

Este é o capítulo que pretende encerrar a história de Bruce Wayne, um milionário órfão que usa a máscara de um morcego para livrar o mal do seu berço, Gotham City, tudo isto inspirado pela morte dos seus pais, certo? Errado, Bruce Wayne é que é a máscara, a imagem do playboy milionário que, de todo, não existe. O morcego não é um alter ego e quando digo morcego não estou a falar de fatos. Bruce pode pendurar as chuteiras, reformar-se se tiver conquistado a paz da sua cidade, sacrificou a sua imagem por ela afinal de contas, mas quem está dentro daquele corpo, quem tentará levar uma vida normal, será sempre o cavaleiro negro.


A acção desenrola-se 8 anos após os eventos do filme anterior. Após uma bela introdução ao vilão (como já nos vêm a habituar) vamos ao encontro de caras familiares, para nos deparamos com um Bruce Wayne e um Comissário Gordon bastante debilitados. Ambos fizeram um pacto para manter a imagem de Harvey Dent sã e agora passados 8 anos vemos como essa mentira os tem corroído por dentro. Gordon nunca esteve satisfeito com a sua decisão está cansado, desiludido com ele próprio e isso custou-lhe a família. Quanto a Batman desapareceu por completo e com ele o seu alter ego também. Com a capa pendurada e com a morte de Rachel, não havia nada que fizesse Bruce Wayne seguir em frente e actualmente é um eremita enclausurado na sua mansão. As mazelas físicas são notórias, algo que me fez pensar que a sua carreira como vigilante mascarado tivesse durado mais tempo e resultado em maiores ferimentos, mas não.

Ter Gary Oldman no elenco é sempre uma mais valia, um privilégio. O seu Gordon é mais que um policia é a ligação de Batman ao mundo. Christian Bale foi também um nome que desde o início me inspirou confiança, gosto do seu Batman aqui ainda mais quando não tem o fato negro. Desta vez teve de levar a sua personagem até ao abismo para depois levantá-la, aliás o título "Rises" é algo que se faz sentir constantemente no filme. Em relação à personagem, confesso que sinto alguma falta do Batman mais cerebral e detective, que por vezes surge mas sempre muito ao de leve, nada a apontar ao actor, portanto.

Agora voltando ao enredo. O problema das mentiras é que têm perna curta e na ficção, mais tarde ou mais cedo, rebentam-nos sempre na cara. A preferência de Rachel por Harvey Dent, a morte de Two-Face, tudo terá de vir à tona e as consequências serão severas. Aparentemente Gotham é na actualidade uma cidade de paz, onde um povo inspirado pelo antigo procurador geral e actos planeados pelo mesmo conduziram a uma redução drástica no crime. Com a chegada de Bane tudo isto muda, a guerra regressa às ruas de Gotham e numa escala nunca antes vista, nunca antes temida. Mais do que nunca o morcego é preciso, Batman tem de voltar, mas estará em condições, tanto fisicas como mentais, para isso? Bane é de todos os vilões aquele que representa um maior desafio em termos fisicos, ele é uma figura imponente, uma máquina de combate e ao contrário deste Batman, alguém com o espírito elevado.


O vilão é quanto a mim um dos pontos mais altos deste filme, Tom Hardy encarna um Bane aterrador, um vilão totalmente diferente do anterior, mas também extremamente intenso. Joker tinha o poder da loucura do seu lado, era assustador por causa disso, porque não tem medo de nada, porque tudo lhe é permitido. Já Bane é força, todas as cenas em que entra mostram como é detentor de uma presença quase inquebrável. E, tal como o palhaço do crime, um grande estratega. No final fica a sensação de que se podia ter ido mais longe com Bane, a dada altura os seus actos evocam um V for Vendetta, mas infelizmente, o caminho intencionado nunca foi esse e aí perde.

Em relação às restantes personagens o destaque vai para a Catwoman de Anne Hathaway que conseguiu adaptar-se muito bem neste universo de Nolan. Selina Kyle é sensual, ambígua e Humana. Uma Catwoman que evoca a de "Year One" de Frank Miller, obra que já tinha inspirado fortemente "Batman Begins". Uma coisa é certa, por muito que estas versões do Batman sejam uma visão mais realista do mesmo (visão que faz todo o sentido nesta personagem), o realizador tem ido sempre buscar inspiração à fonte original, a BD e isso é dos meus pontos predilectos nesta trilogia. Em "Rises" não foi diferente, a atmosfera do filme evoca novamente Frank Miller em "The Dark Knight Returns" e depois há o óbvio "Knightfall".

Actualmente Christopher Nolan conquistou um lugar de destaque no cinema de Hollywood, é sem dúvida um dos realizadores que mais projecção tem tido e a confiança que os estúdios lhe depositam é notória, além de ser uma máquina no marketing, goste-se ou não, nenhum dos seus filmes passa despercebido. É também um realizador que facilmente reúne um elenco de luxo e é sempre muito bom ver Morgan Freeman e Michael Caine regressarem aos papéis de Lucius Fox e Alfred Pennyworth, respectivamente. Fox continua a ser o Q de Batman trazendo sempre um pouco de humor e boa disposição ao filme. Quanto a Alfred é sem qualquer dúvida o pai de Bruce Wayne e essa ligação assume aqui contornos muito fortes, pois nenhum pai aguenta ver o filho a cair pelo abismo.

Dos novatos temos um Joseph Gordon-Levitt seguro, mas num papel que não dá margem para dúvidas. É notório (e constantemente recordado) qual a função que esta personagem irá desempenhar e que faz todo o sentido, afinal de contas estamos a fechar um ciclo e já como diziam no início, um homem pode ser destruído, mas um símbolo não. Marion Cotillard surge com a sua Miranda Tate parceira de negócios de Bruce Wayne e que ao início parece um pouco enfiada a martelo mas que ganha o seu óbvio espaço.


Hans Zimmer continua, agora sozinho, ao leme da banda sonora que segue no mesmo estilo das anteriores e mantém o nível de excelência. Os temas estão muito bem ambientados à atmosfera do filme (ou é ao contrário?), peca apenas por denunciar a cena que se aproxima, mas tal já acontecia no anterior, rapidamente sabemos a personagem que vai surgir em cena pelo tema a ser tocado. Pensemos antes que em vez de tirar tensão gera antecipação.

Gostei bastante do final, é algo que nunca vai acontecer na BD, por motivos óbvios, mas que ficou bem, foi um um momento digno e merecido."The Dark Knight Rises" encerra assim um ciclo dedicado a um dos melhores heróis de sempre da BD. Pode não tê-lo feito da forma ideal, quanto a mim os anteriores são mais bem conseguidos, mas não deixa de o ter feito bem, até porque estão aqui algumas das cenas mais emblemáticas desta trilogia, apenas o sinto como um filme menos coeso, com maiores falhas (desta vez são demais), repetindo-me, menos inspirado e como um todo perde nesse sentido. Já agora, por falar em coesão é de valor como ela se sente numa trilogia que não tinha sido planeada. De resto, é uma saga que continuará certamente a inspirar novas adaptações do género onde a marca de Nolan se fará sentir no futuro.

Antes de terminar, um pequeno aparte, mais dirigido aos conhecedores da BD. É normal que haja determinadas cenas que sejam mais óbvias para quem está familiarizado com este Universo no papel, no entanto, não deixa de ser curioso que usem algum do material original precisamente para tentar enganar o leitor, veja-se por exemplo o Henry Ducard de Liam Neeson. Ducard existe mesmo na BD e isso levou a que muitos não pensassem que ele poderia ser o verdadeiro Ra's Al Ghul. Aqui acontece algo parecido mas a dada altura é impossível não reconhecer uma determinada personagem. O que me lembra, fui só eu que pensei em determinado momento na possibilidade de existir um Damian no futuro? Bem, não interessa, não vai acontecer. Isto foi mesmo o fim, certo?

quarta-feira, agosto 01, 2012

The Dark Knight Rises: Está Quase


Escrevia eu a dada altura após "The Dark Knight" uma breve reflexão sobre possíveis vilões para o terceiro filme, pode ser lido aqui. A minha primeira aposta na Catwoman foi logo ganha e claro que o nome do Bane tinha de ser atirado no poço de sugestões. Hoje vou ver o filme, ganhei bilhetes graças ao Ante-Cinema (muito obrigado) e vou ver a derradeira conclusão a esta trilogia que marcou os filmes de super-heróis, goste-se ou não.

Não espero ver a cena da imagem escolhida, porque muito simplesmente não há tempo para o Morcego se levantar dela num filme, a confirmar daqui a umas horas. Sobre Bane também escrevi no blog, ainda há mais anos, isto:

É conhecido pelo vilão que colocou Batman numa cadeira de rodas, mas a verdade é que ele fez mais do que isso, ele descobriu a sua identidade e não só quebrou a sua coluna, como quebrou o seu espírito também, duas coisas que nunca tinham conseguido antes. Bane utiliza uma droga que dá pelo nome de “Venom”, que lhe aumenta as capacidades físicas, atingindo níveis de força sobre-humano. Foi capaz de elaborar um plano em que solta todos os maníacos de Gotham contra o homem morcego e no final do dia quando Batman chega a casa completamente destroçado, encontra Bane à sua espera pronto a destruí-lo.

Se quiserem saber o que acontece após a "Knightfall", continuem a ler:

Depois de Batman ter ficado paralisado por Bane, Gotham City precisava de um novo protector, Robin (Tim Drake) ainda não estava pronto para assumir o papel, então Bruce escolheu Azrael, uma escolha que à primeira vista teria ido para Nightwing (Dick Grayson) o primeiro Robin. Azrael assimilou então o papel de Batman, mas aqueles mais próximos do homem morcego começaram a notar as diferenças, nomeadamente Jim Gordon, este novo Batman era mais violento e cruel: Azrael até modificou o fato criando armas mais mortíferas e um aspecto mais assustador. Com o tempo começou a considerar-se o verdadeiro Batman e começou a criar o caos, primeiro expulsando o Robin afirmando que não percebe porque um Batman necessita de um Robin (tenho de afirmar que concordo a 100% com esta frase) e quase matando o rapaz numa luta. Azrael acabou por ser destronado por Bruce Wayne quando este voltou totalmente recuperado, e pronto a desempenhar o papel que toda a vida foi dele. Há que realçar um momento na estória de Azrael que foi logo após ter vestido o manto de Batman, em que este procura por Bane dando-lhe o maior excerto de porrada que alguma vez ele poderia imaginar, vingando assim a derrota de Bruce Wayne.


Os textos foram retirados do meu top 10 vilões do Batman que está a precisar ser refeito.