sexta-feira, novembro 16, 2012

A Filha do Caranguejo


Editado pela Polvo em 2001, trata-se de um curto conto a lembrar algumas das edições mais recentes do autor (Hän Solo, A Ermida).

A história segue as aventuras de um jovem viajante cuja fisionomia remete para a do próprio autor. Escolha que descubro não ter nada de acidental, uma vez que a "A Filha do Caranguejo" é inspirada num período da sua vida.

Tal como os navegadores que foram seduzidos pelos cantos das sereias, também o autor é seduzido por uma misteriosa mulher, cuja presença nos faz duvidar por vezes da sua própria existência, a filha do caranguejo. E de quem se trata este caranguejo? Aparentemente, um ex-combatente cuja vida é demasiado amarga para conter sem a ajuda constante de uma garrafa de vinho. Um homem com um destino que não seguiu o rumo desejado e que agora entra em directo conflito com as paixões do autor. Realidade ou um sonho? É nestes dois ambientes que a obra de Lacas joga, remetendo-nos também para as lendas e mitos características das zonas do interior.

A nível de desenho é a obra mais experimentalista que conheço do autor. Além do seu traço característico, Lacas usou fotografias, fez colagens e manteve até alguns traços a lápis que normalmente são eliminados. Claramente, uma obra que não está preocupada em apresentar um desenho limpo e cristalino, porque nem todas têm de o fazer, porque às vezes a "sujidade" é bem-vinda e neste caso em particular acho que funciona muito bem. "Obrigada, Patrão" pode ser o livro mais reconhecido do autor, mas este não lhe fica em nada atrás, sendo igualmente merecedor de atenção. Também prefiro o autor neste registo do que no recente "Asteroid Fighters" (do qual só li o 1º tomo), mas valorizo muito a diversidade que Lacas tem vindo a demonstrar e incentivo-a. Sem dúvida alguma, um autor a estar atento.

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