segunda-feira, abril 29, 2013

Iron Man: Extremis


Já era para ter feito isto há mais tempo, mas quero ver se este ano não falho. Falo de aproveitar a estreia de determinadas adaptações de BD, para sugerir uma leitura a quem está mais afastado da 9º arte.

Assim sendo e aproveitando a estreia de "Iron Man 3", escolhi como sugestão "Iron Man: Extremis" que até conta com edição nacional pela Levoir na segunda série da "Colecção Heróis Marvel". Escolhi o livro de Warren Ellis e Adi Granov porque o arco "Extremis" irá ter importância neste novo filme sobre Tony Stark. E vale também a pena relembrar que "Iron Man: Extremis" já havia sido uma fonte de inspiração para o primeiro filme do Iron Man.

Há que dar crédito à Marvel pelas suas inúmeras e fantásticas criações. Temos o nerd que está destinado a grandes feitos; o patriota que arriscará tudo por defender os ideais em que acredita; o cientista condenado, o anti-herói que fez de missão de vida punir os criminosos; temos ainda mutantes e deuses, entre tantos e tantos outros. E temos o Iron Man, à partida, o antónimo de um super-herói, ou não tivesse lucrado Tony Stark com a indústria do armamento. Além do mais Stark é um homem que já lutou - ou continua a lutar - contra o vício do alcoolismo, é um daqueles heróis quebrados e amargurados e por isso mesmo, uma personagem tão interessante,

Ellis, focou muito bem em "Extremis" esta faceta do herói, como podemos comprovar na fantástica cena em que Stark é entrevistado por John Pilinger (numa alusão a John Pilger). Um excelente diálogo sobre o papel que as armas de Stark têm no mundo, que vale tanto pelas questões do repórter, como pelas respostas de Stark.

É também uma história de grande importância na vida de Iron Man, é uma daquelas que irá mudar a vida da personagem tal como a conhecemos. Em "Extremis" o herói irá avançar tenoclogicamente a sua relação com a do fato de Iron Man, par aum novo nível, mas para não estragar, não entrarei em pormenores.




O desenho digital de Adi Granov (que trabalhou no desing dos filmes) é muito competente. Apesar de preferir registos mais clássicos, o trabalho digital de Granov aliado ao uso de fotografia é fantástico, mesmo a nível de acção, que me arrisco a dizer serem os melhores momentos do desenhador.

De aplaudir a edição da Marvel ter deixado passar as cenas finais do confronto. O livro tem a marca de violência de Ellis em todo o lado, mas nunca pensei que a editora a deixasse passar o final. Adorei.

A edição da Levoir ainda conta com mais quatro histórias curtas: "Railguns, power ties and titanium men" de Adam Warren e Salva Espin; "Killer Commute" de Mark Haven Britt e Nuno Plati; "Heavy Rain" de Matteo Casali e Steve Kurth; e "Hack" de Tim Fish e Filipe Andrade.

A primeira e a terceira recordam o grupo I.M.A., sendo a história de Adam Warren mais voltada para a aventura divertida e cartunesca. Em "Killer Commute" temos uma aventura centrada em Pepper e que conta com desenho e cor do português Nuno Plati, num belíssimo trabalho em que o desenhador volta a provar que tem um jeito natural para as senhoras. "Hack" foi o primeiro trabalho de Filipe Andrade que fala sobre ele e outros nos extras do livro, sem dúvida uma boa adição por parte da editora, principalmente pela oportunidade de ver os esboços do autor, pois com a adição da arte-final e da cor, o resultado muitas vezes é bastante diferente (para melhor ou pior) e neste caso vale a pena ver o trabalho original de Andrade, um dos nossos grandes desenhadores nacionais.

É pena que não tenha havido possibilidade de termos uma parte dos extras dedicadas também a Nuno
Plati.

Nota: Nos extras sobre Filipe Andrade, quando se lê que Ricardo Venâncio foi um dos desenhadores que participou em "Avengers Fairy Tales" deve ler-se Ricardo Tércio.

quarta-feira, abril 24, 2013

Jorge Coelho - Entrevista


A editora norte-americana BOOM! Studios editou, este mês, o primeiro número de “Polarity”, uma BD sobre um bipolar maníaco-depressivo que, após sobreviver a um acidente de viação, descobre que a sua medicação lhe tem bloqueado os super-poderes.

O argumento é de Max Bemis e, o desenho, do português Jorge Coelho. Coelho é um dos ilustradores e desenhadores de BD nacional que tem vindo a publicar material nos Estados Unidos. Aproveitando o lançamento deste número – o qual podem comprar em qualquer loja especializada de BD –, a Rua de Baixo convidou-o para uma pequena grande conversa.

Leiam a entrevista aqui.

sábado, abril 20, 2013

Hän Solo


Hän era um estudante Holandês de Erasmus que acabou por ficar por Portugal. Esta não é a sua história, apenas um pequeno fragmento da mesma, uma curta visão sobre uma determinada fase da sua vida. A escolha do nome Hän por parte de Lacas não é nada inocente como se comprova no título. Uma vez que Han é um solitário, quando passa por Madrid, ganha, automaticamente, a alcunha de Hän Solo.

O livro de Lacas consiste num exercício deambulatório e deve ser visto a essa luz. Seguimos esta personagem solitária pelas ruas de Lisboa e ficamos a conhecer as suas paixões (mulheres, desenho e fotografia), parte do seu passado e os seus medos - uma luta constante contra a bipolaridade. Neste sentido não é um livro que prime pelo seu argumento, contudo, considero que falha no final, num término algo abrupto e que podia ter sido contornado.

Em termos de desenho e, principalmente, storytelling, Lacas continua a provar que é um virtuoso, dá prazer passar as páginas e ver a naturalidade com que a história flui perante os nossos olhos. Em termos de cor optou-se apenas pelo uso de duas, num tom simples que se adequa muito bem à história. Lacas é também um excelente colorista.

Além da parte gráfica, o grande trunfo de "Hän Solo" é a sua autenticidade, é uma história com muito sentimento e isso passa para o leitor, não o deixando nunca indiferente. De salientar também a contextualização da narrativa onde se foca a situação actual em que vivemos, nomeadamente quando Hän fotografa a manifestação madrilena, perto do final do livro.



quinta-feira, abril 18, 2013

Moura BD 2013

 

O Festival Moura "BD" está de regresso, deixo aqui a mensagem retirada do site:

Está de regresso o Salão Internacional de Banda Desenhada de Moura, que terá a sua 18.ª edição entre 19 de Abril e 1 de Maio próximos. Tal como na edição anterior, o salão decorrerá em simultâneo com a Feira do Livro e vai distribuir vários núcleos pela cidade.

Desde logo o núcleo principal, em pleno centro da cidade, na Praça Sacadura Cabral, numa tenda gigante. Outros núcleos serão distribuidos pelo Espaço Inovinter e Cine-Teatro Caridade. O leque de autores homenageados engloba os portugueses Vassalo de Miranda e Zé Manel e o francês Hugues Barthe, que receberão os já tradicionais Troféus Balanito.

Quanto a exposições, para além das individuais dedicadas a cada um destes três autores, temos, para já garantidas as seguintes: “Eça de Queiróz na BD” e “Centenário de Willy Vandersteen” (ambas comissariadas por Luiz Beira), “Saramago em Caricaturas” (com trabalhos de autores portugueses e espanhóis), e a apresentação dos melhores trabalhos do 16.º Concurso de Banda Desenhada e do 14.º Concurso Escolar de BD (cujos regulamentos já estão disponíveis neste site – ver secção “Concursos”).

Quanto a edições, mantém-se a aposta nos Cadernos Moura BD, com um número dedicado a Vassalo de Miranda. Também a exposição de Zé Manel terá direito a catálogo numa produção da Humorgrafe/Osvaldo de Sousa.

Está, também, no ar a possibilidade de, durante o salão, as edições Polvo fazerem o lançamento de um álbum de Hugues Barthe, embora ainda não possamos confirmar esta notícia.

Mais informações serão aqui disponibilizadas nos próximos dias. 


O programa pode ser consultado nos blogs:

- Leituras de BD
- Leituras do Pedro

Indie Lisboa 2013


Começa hoje e dura até 28 de Abril, 10 dias dedicados ao cinema Indie. Consultem a página oficial aqui.

quarta-feira, abril 17, 2013

Man Of Steel - Trailer III



Continuo a acreditar que vamos ter um bom filme aqui.



Exposição Love Hole na Purple Rose



Estou muito curioso com este "Love Hole" de Afonso Ferreira e por isso vou aproveitar esta exposição para conhecer melhor a obra deste artistas. Segue o comunicado de imprensa:

Afonso Ferreira (Portugal, 1988) tem trabalhos de ilustração e BD publicados na Playboy, Cais, Lodaçal Comix e várias antologias da Associação Chili Com Carne: Destruição ou bandas desenhadas de como foi horrível viver entre 2001 e 2010, Boring Europa, Futuro Primitivo e Mesinha de Cabeceira.

No final de 2012 saiu o seu segundo livro de BD a solo Love Hole , pela Chili Com Carne e Ruru Comix, que será o motivo da exposição a inaugurar dia 18 de Abril (quinta-feira), pelas 22h, na loja Rose Purple Erotic Luxury (na Pensão Amor, Lisboa), onde regularmente tem havido exposições de ilustração erótica iniciada com o Calendário da AcontorcionistA, e continuado por exposições de Ana Menezes, Pepedelrey,...

Para esta exposição Afonso Ferreira preparou cinco novas imagens, cinco "pin-ups" homoeróticos das personagens do livro, plenos de provocação e humor, no espírito desta BD que têm confundido conservadores, hipócritas e norte-americanos politicamante correctos.

Para os coleccionadores de Arte e fetichistas do papel, foi feita ainda uma serigrafia limitada a 20 exemplares que estará à venda na inauguração. 

Apareçam e tragam o vosso excitado doppelgänger...

terça-feira, abril 16, 2013

Dia Mundial da Voz

E porque hoje é o dia da voz, deixo aqui algumas das minhas favoritas, algumas das que ouço mais e sem qualquer tipo de ordem.

Foram literalmente dos primeiros nomes que me surgiram na mente e tive de me obrigar a parar se não nunca mais saía daqui.

Saint Seiya Hades: Santuário


No "TVDependente" regresso às séries de animação Japonesa, desta vez para recordar "Saint Seiya", mais especificamente o último arco - Hades - que só surgiu passados 13 anos desde que a série havia terminado. Na altura - 2002 - foi uma excelente surpresa, uma oportunidade em regressar a este universo que prometia algumas surpresas ainda.

Quem quiser espreitar só tem de clicar aqui.

Fringe - Temporada 3



SPOILERS



"Fringe" continua a subir de qualidade, esta terceira temporada foi a melhor até ao momento. Depois na recta final da segunda, a terceira começa a alternar aventuras entre este e o outro mundo paralelo no qual a história da série incide. Ambas as Olivias estão trocadas e isso gera desenvolvimentos muito interessantes.

O Peter deve ser o único que se apercebe das mudanças em Olivia, mas como a relação de ambos havia mudado é normal que o rapaz coloque as suas dúvidas em modo de espera. Quanto à Olivia do outro lado, tal como suspeitava, a sua interacção com Walter, Peter e Astrid iria afectá-la. O seu lado pede-lhe morte e destruição e nesta equipa em que se infiltrou ela vê a busca genuína por uma resolução pacífica.

Quanto à nossa Olivia, as amizades que trava com um taxista e principalmente com Broyles não serão esquecidas. Grande Broyles! Foi bom também ver que Lincoln e Charlie começam a descobrir que muita coisa lhes foi escondida. Ainda espero grandes coisas destes dois.

Quando as Olivias são trocadas novamente, a do universo paralelo regressou com brinde. Se a sua relação com Peter começa por ser parte da missão, rapidamente evolve em outra coisa e agora ela carrega o seu filho. Não me fez muito sentido no episódio em que ela é raptada o Walternate ter revelado tanta coisa a Linconl quando na verdade era ele a mente por detrás do plano. Fez-me ainda menos sentido dizerem que a a doença hereditária de Olivia era um vírus (ou então a legendagem estava incorrecta, não garanto).

Muito estranho o episódio em que Peter andou a matar o shapeshifters, será que o desespero o levou a esta estrada ou será que foi mesmo weaponized pela máquina dos primeiros Homens, como disse Walter? Ainda por cima os shapeshifters até têm sentimentos, adorei aquele episódio em que um tenta por tudo não largar a família à qual se apegou.

Gostei também da explicação da história dos primeiros Homens. Desde que este povo surgiu, bem como a sua tecnologia avançada enterrada em partes do mundo, que algo não entranhava. Como é que rastos de um povo com tamanha tecnologia nunca vieram à tona antes. Pior, como é que a máquina foi feita especificamente para o Peter? Como podia isso ter sido pensado milénios antes? Não podia, é tão simples quanto isso e por isso quando a justificação surgiu até me senti parvo, pois na realidade é a resposta mais simples (tendo em conta a série que Fringe é). Acho que a revelação foi muito bem conseguida. Infelizmente a cena final deixa-me um travo amargo, temo o que pode acontecer com o desaparecimento de Peter. Já agora, não faltava uma peça na máquina do nosso lado roubada pela Olivia infiltrada? É que parece que não fez falta nenhuma...

De salientar também o episódio dentro da mente de Olivia em que metade do mesmo foi feito em animação. Além disso ainda tivemos um Broyles sob o efeito de LSD. Impagável.

sábado, abril 13, 2013

sexta-feira, abril 12, 2013

Abismos de pasión


Continuando a descobrir o cinema de Luis Buñuel, sigo para este "Abismos de pasión" (1954) a adaptação do livro Wuthering Heights (O Monte dos Vendavais) de Emily Jane Brontë. Antes de mais fiquei surpreendido com o número de adaptações cinematográficas que existem deste livro, parece que são tantas como as covers que há dos Depeche Mode.

O que vou dizer em seguida pode ser uma barbaridade, uma vez que não li o livro, mas fiquei com a sensação que Buñuel e Pierre Unik (os argumentistas) começaram a história a meio. Fica a sensação que faltou contar o nascimento do amor entre Alejandro (Jorge Mistral) e Catalina (Irasema Dilián), das suas aventuras e desventuras enquanto cresciam e da relação amarga entre Alejandro e Ricardo (Luis Aceves Castañeda). Evidentemente que nos situam na história, rapidamente percebemos quem são as personagens e o que as motiva, qual o seu passado, contudo não deixei de sentir este "salto" - real ou não - em termos narrativos.

O  sentimento que une Alejandro e Catalina é digno de um "Romeu e Julieta", pois sem um deles a vida do outro perde o sentido e esvai-se do corpo. Contudo, ambos são muito diferentes das personagens de Shakespeare. Alejandro é muito mais amargurado devido ao seu passado e cruel quando Catalina o recusa, já casada com Eduardo (Ernesto Alonso). Ao contrário do que esperaríamos Catalina não luta para ficar com aquele que amará para sempre, mesmo admitindo esse amor sem hesitar e mesmo não sendo capaz de viver sem ele. É como a grande maioria das grandes histórias de amor, uma tragédiam cheia de emoções fortes e dramatismos, que culminam num pathos final assombroso.

Polariy #1


Saiu este mês "Polarity" um comic com argumento de Max Bemis, desenho do português Jorge Coelho e cor de Felipe Sobreiro. A edição é da "Boom" e é uma história que estará dividida em 4 comics.

Max Bemis é o vocalista da banda Say Anything (que desconheço), o que me leva a pensar que começamos a ter uma tendência aqui. Afinal de contas também o argumentista dos "Umbrella Academy" é o vocalista dos "My Chemical Romance" - e gosto bem mais dele na BD.

A história gira à volta de alguém que sofre de bipolaridade e cujos mundos (psicológico e real) se irão misturar ao longo da história. Ainda não tenho o meu exemplar, mas não queria deixar passar mais tempo sem destacar este trabalho, especialmente por ser do Jorge Coelho um dos muitos excelentes desenhadores do nosso país e que espero que continue a prosperar neste mercado.

Já reservei o meu, quando terminarem de sair, voltarei a isto para falar do comic como um todo.

quinta-feira, abril 11, 2013

Pink Floyd - Wish You Were Here


Dead Combo: Sound Files

Foto de Orlando Almeida



O Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, foi palco do lançamento de “Dead Combo: Sound Files”, uma Banda Desenhada de Tó Trips (desenho) e Pedro Gonçalves (argumento) que pretende marcar o início da comemoração dos 10 anos dos Dead Combo, compilando uma série de tiras que ilustram vários episódios da vida deste - agora mais do que nunca - duo dinâmico. Não é uma ideia nada estranha, afinal de contas, os "Dead Combo" criaram duas figuras (Gangster e Cangalheiro) que facilmente poderiam ter saído das páginas de uma BD.

Estive presente no lançamento, onde aproveitei para ter o meu livro assinado, que ficou com um desenho bem estiloso de Tó Trips. Para lerem mais sobre o livro em si cliquem aqui, escrevi sobre ele na Rua de Baixo.

quarta-feira, abril 10, 2013

Céu Em Fogo de Tiago Manuel



Sábado 13 de Abril, pelas 17h00, na loja "Mundo Fantasma" situada no Porto, vai decorrer a inauguração da exposição "Céu em Fogo", com originais de ilustrações de Tiago Manuel, que marcará presença no evento.

Será também apresentado o livro "Mário de Sá-Carneiro: Antologia Poética" - ilustrado por Tiago Manuel -,  que é editado pela Faktoria K de Livros, uma chancela da Kalandraka. Já tinha falado desta colecção aqui, quando comprei a edição dedicada a Cesário Verde.

Para terminar recordo um poema desse ser extravagante e fundador do Orfeu.
Um sonhador e boémio que ao ver tardar a vida que imaginava… morreu.
Escreve a Pessoa, que o faz não por falta de felicidade mas por falta de dinheiro.
Esse poeta cujo primeiro nome começa por Mário e termina com Sá-Carneiro.



Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Mário de Sá Carneiro

This Is the End - Red Band Trailer



Desconhecia o mais recente projecto de Evan Goldberg e Seth Rogen. Aparentemente durante uma festa em casa de James Franco, o mundo decide chegar ao fim dos seus dias. O mais curioso é que todos protagonistas estão a interpretar-se a eles próprios.

Franco já havia revelado em "30 Rock" que não tem problemas nenhuns em brincar com ele - e quando digo brincar é um eufemismo -, aqui pelo trailer dá para ver que é algo que se mantém. Gostei da amostra, acho que temos filme para umas valentes gargalhadas. E viva o humor negro - o Michael Cera que me perdoe.

terça-feira, abril 09, 2013

A Peste



Sabiam agora que, se há qualquer coisa que se pode desejar sempre e obter algumas vezes, essa qualquer coisa é a ternura humana.


"A Peste", de Albert Camus, narra a história do povo de Orão (Argélia) quando este é afectado, algures nos anos 40, por uma nova vaga da Peste. O livro foi editado em 1947, dez anos antes do autor ser galardoado com o prémio Nobel da literatura.

Segundo a contracapa o próprio autor agrupou as suas obras em três grandes ciclos temáticos: o do absurdo, o da medida e o da rebelião. Este último onde sugerem que "A Peste" está inserido. Contudo, parece-me ser justo integrar o livro em questão no ciclo do absurdismo também. O Absurdismo é uma corrente filosófica que lida com a busca pelo sentido da vida por parte da humanidade e em como a obtenção da resposta a esta questão está condenada a falhar, o que faz com que a sua procura seja absurda. É importante referir que, segundo o absurdismo, o impossível está no Homem e, por isso, apenas nesse sentido é que tal demanda é apelidada de absurda. A partir da doença da Peste o autor explora como o Homem lida com esta teoria filosófica, o que se torna muito evidente, por exemplo, nas personagens de Tarrou e Rieux.

A história é narrada por um habitante de Orão, alguém que sofreu do mesmo martírio que os seus concidadãos, ou seja, uma testemunha. E é nesse sentido de testemunha que o narrador aborda esta crónica, afastando-se de considerações pessoais e focando-se numa descrição o mais precisa que lhe é possível e imparcial também. Ao final do livro, o narrador em questão revela-se perante nós, apenas no fim, reforçando a necessidade em não o ter feito previamente.

Apesar de o narrador descrever de uma forma geral o comportamento do povo, a história é narrada maioritariamente a partir do ponto de vista de um dos seus cidadãos, o do Doutor Bernard Rieux, um médico que acompanha a invasão da Peste desde o seu início até ao seu final. Outra personagem cujo ponto de vista é focado é o de Jean Tarrou uma personagem misteriosa e bondosa cujos cadernos foram uma das fontes de material para o narrador usar nesta crónica. Tarrou é uma personagem intrigante cujas observações do dia-a-dia, durante a peste, complementam a narrativa fornecendo uma série de pormenores secundários. Como o próprio narrador diz sobre os seus cadernos: "trata-se de uma crónica muito especial, que parece obedecer a uma ideia preconcebida de insignificância".

Ao longo de cinco capítulos Camus descreve as várias fases desta epidemia, começando com os primeiros sintomas - os ratos são os primeiros a morrer - e continuando com o seu crescimento e constante apoderamento da cidade, culminando no seu eventual desmoronamento. Durante os primeiros infectados, quando a estatística assume um determinado valor, a prefeitura não vê outra acção que não o exílio de Orão do resto do mundo - entre outras medidas comuns em situações de quarentena. O sentimento de separação do mundo em geral e da pessoa amada em particular é muito focado em "A Peste" nomeadamente no médico Rieux, que se encontra separado da esposa, e no jornalista Rambert, que apenas estava de passagem na cidade. Rambert começa por se comportar como o emigrante que é (está separado da amada e da pátria também), mas ao longo desta luta temível acaba por se tornar tanto cidadão de Orão como Rieux e os outros. O tema do exílio é também explorado a um nível mais metafísico, como a procura por uma  felicidade ou paz - que Tarrou personifica e cuja definição é de certa forma uma incógnita.

A determinada altura a situação de Orão chega a estados verdadeiramente aterradores, ao ponto de colocar em dúvida se o mal que é a peste algum dia irá desaparecer. Perante isto alguns poderão resignar-se, aceitar este fado, esta tragédia. Mas há aqueles, como Rieux, Tarrou, Rambert e também Grant, que não atiram a toalha ao chão, que se recusam a desistir de combater, mesmo que estejam todos condenados. Mesmo que a derrota seja iminente, é preciso continuar a lutar e recusar a aceitação de um mundo comandado pela doença. Curiosamente este mal que ataca sem dó nem piedade, que ataca qualquer um e a qualquer momento, acaba por não ser capaz de tornar todos os homens iguais como se poderia supor- uma vez que rico ou pobre ninguém lhe escapa - porém, tal feito conseguiu-o melhor a alegria.

A partir do padre Paneloux, o tema da religião é também abordado. Numa situação apocalíptica como esta é mais do que natural que as pessoas se voltem para a fé, na esperança de uma salvação divina. Segundo Paneloux, a peste é um desejo de Deus, como tudo na vida, um que é preciso aceitar e cujo desígnio tem um propósito. O autor usa esta personagem para colocar o dedo na ferida em algumas questões religiosas. Uma das coisas que sempre foi difícil aceitar para o Homem na religião, foi o sofrimento dos inocentes, das crianças. Nesse registo Camus coloca Paneloux frente a frente com a morte de um pequeno rapaz, evento após o qual é notório um abalo na fé da personagem, tal como se viria a provar no tom do seu segundo sermão.

A descrição da cidade de Orão é sempre feita com especial atenção aos pormenores, atente-se por exemplo no simples facto de a cidade estar escondida do mar, afastada dessas águas que simbolizam a vida., uma simbologia que, eventualmente, assume um sentido literal com a chegada da peste. Por falar em água e vida, aquela curto momento de amizade partilhado entre Rieux e Tarrou, na praia, é um daqueles momentos que vale um livro.

Muito resumidamente esta poderia ter sido a minha observação de "A Peste" contudo tive a sorte de ler na contracapa que esta história tem um duplo sentido, pois além do mencionado, é também uma alegoria para a ocupação alemã da França entre 1940 e 1944 durante a segunda guerra. Sabendo isto de antemão é impossível não olhar para a história com outra leitura também, nem que fosse pelo poder da indução. O exílio, seja ele derivado da doença ou da guerra, resulta em situações comuns: os mantimentos são escassos, a separação dos entes queridos mantém-se, bem como a exibição dos mesmos filmes e das mesmas peças de teatro. Também a peste que entra em casa das pessoas trazendo morte e separação, pode simbolizar a terrífica Gestapo.

Em relação às personagens, os já mencionados Rieux, Tarrou e Rambert, são claramente os lutadores, a resistência da cidade. Já o padre Paneloux, que culpava a cidade pela peste, simboliza aqueles que culparam a França pela invasão e que consideravam que era na submissão que se encontrava a única resposta. Uma das personagens cujo propósito ganha um brilho especial é Cottard, que aqui personifica claramente o traidor, aquele que vive bem enquanto os seus concidadãos sofrem os piores tormentos. Gosto particularmente da descrição de Cottard que não cai em julgamentos fáceis, talvez por essa descrição vir maioritariamente de Tarrou, um homem cuja empatia pelo próximo é de uma ternura inspiradora.

segunda-feira, abril 08, 2013

Hannibal


Começou na semana passada uma nova série televisiva que me chamou a atenção por duas razões. Primeiro, o título, "Hannibal". Estamos a falar de um dos assassinos em série mais conceituados da ficção. A imagem do assassino culto ficou marcada por esta personagem, muito graças ao "Silence of The Lambs" e à interpretação de Antony Hopkins, pois Tom Ripley nasceu primeiro na literatura.

Contudo, o charme de Hannibal tem vindo a diminuir de filme para filme, se começarmos a contagem no "Silence of The Lambs". O anterior "Manhunter" de Michale Mann havia sido bem interessante. Pensando melhor não diria o charme de Hannibal, esse mantém-se ainda muito forte, se não duvido que a série existisse. Será porventura mais correcto dizer que a qualidade dos filmes é que veio a diminuir, nem cheguei a ver o "Hannibal Rising" por exemplo.

O que me leva para o segundo ponto de interesse e o que me fez querer ver a série. O criador por detrás da mesma é Bryan Fuller a mesma mente creativa por detrás de "Wonderfalls", "Pushing Daisies" e "Dead Like Me". É que o nome Fuller leva-me a acreditar que isto é mais que uma mera exploração de uma personagem para gerar audiências fáceis. Recentemente também estreou "The Bates Motel", que se trata de outra prequela, só que neste caso de "Psyco". Esperemos que a TV americana não caia no mesmo erro de "Hollywood" que está constantemente a ir buscar coisas ao baú em vez de criar algumas novas.

Vi este fim-de-semana o piloto e fiquei satisfeito. Esta série é uma prequela dos acontecimentos em "Red Dragon" mostrando-nos como Will Graham e Hannibal Lecter se conheceram e vieram a trabalhar juntos. Gostei do elenco, Hugh Dancy como o mítíco Will Graham convence e gera interesse. É verdade que a personagem está diferente do que conhecemos, mas é uma abordagem que me parece de valor. Mads Mikkelsen tem a tarefa árdua de interpretar Hannibal. A sombra de Hopkins é grande e espero que isso não afaste as pessoas do seu trabalho. Gostei do que vi e é preciso ver a série com um certo afastamento dos produtos mencionados acima.

Foi um bom começo e tendo em conta que os pilotos raramente são dos melhores episódios, é uma boa premissa. Ah e ainda temos Morpheus Lawrence Fishburn no elenco.

sexta-feira, abril 05, 2013

Psicose



Editado no final do ano passado pela “El Pep”, “Psicose” é um livro de Miguel Costa Ferreira (argumento) e João Sequeira (desenho) que reúne as colaborações entre esta dupla que se conheceu na célebre Tertúlia de BD de Lisboa de Geraldes Lino.

Em “Psicose”, a história que dá título ao livro, visitamos o que parece ser um hospício para seguirmos o narrador - um dos pacientes - na sua procura pela liberdade, após um momento de aparente consciência. Consciência essa que chega ao ponto de o fazer questionar a sua própria loucura

Tudo em “Psicose” é uma incógnita: não só o espaço e o tempo, como também o próprio narrador – inclusive a sua psicose ou sanidade. Será o narrador mesmo louco porque, simplesmente, a visão que tem do mundo é diferente da dos outros? Será que aqueles cuja percepção da realidade difere drasticamente da maioria são automaticamente doidos? Ou será que estão apenas num outro patamar de sanidade, num outro extremo? Os julgamentos, esses, os autores deixaram ao critério de cada um.

O aspecto mais interessante da história, e aquele que a destaca entre as demais, é o trabalho gráfico de Sequeira, que a partir da cor negra utiliza uma série de técnicas que resultam num produto final não só lúgubre e sujo – por vezes a relembrar o “Diário de K” de Filipe Abranches -, como também disfuncional e psicótico. De salientar a secção de material extra, no final do livro, com esboços de “Psicose” que revelam um pouco do funcionamento do processo de criação de João Sequeira.

Além da história principal, podemos contar ainda com mais três curtas: “Républica”, “Movimento Perpétuo” e “The Road”, todas desenhadas por Sequeira exclusivamente a negro, tal como em “Psicose”.
“Républica” prima pelo seu argumento inteligente e irónico; em poucas páginas se mostra como o mundo continua a girar enquanto o Homem será sempre o Homem. Não é de admirar que tenha vencido o 1º prémio (escalão A+) no festival “Amadora BD”, em 2010. Já “Movimento Perpétuo” e “The Road” são, tal como “Psicose”, histórias menos sóbrias e mais surrealistas. Na primeira – vencedora do 1º prémio (escalão B) no festival Moura BD 2011 -, os autores voltam a abordar a percepção da realidade, enquanto em “The Road” (escrita em Inglês) focam que o mundo pode mudar e todos nós com ele, mas a estrada, esse caminho a percorrer, está sempre lá à nossa espera.

A edição em si é deveras curiosa. Por dentro tem um ar muito artesanal e pessoal, como se das páginas originais se tratassem – foi legendada à mão; por fora, a escolha da capa dura e da lombada demonstram um certo brio, uma certa preocupação em querer distingui-la numa qualquer livraria ou estante pessoal.




Publicado originalmente na Rua de Baixo.

quinta-feira, abril 04, 2013

Beating



Se não sou um especialista a falar de Banda Desenhada, muito menos serei a falar de ilustração. Sou apenas um apaixonados pelos trabalhos e como fã de Tommi Musturi não queria deixar passar despercebida a sua mais recente edição "Beating" da qual falei na "Rua de Baixo".

Trata-se de um livro de 128 páginas que compila vários trabalhos de ilustração do autor entre 2003 até 2013. A edição é da Huuda Huuda e da La 5e Couche, com o apoio da Bries e da MMMNNNRRRG.

Tudo isto encontra-se reunido numa bela edição em capa dura e laminada, de 243x336mm, mas fica o aviso de que houve uma tiragem de apenas 50 exemplares para Portugal e, o mais certo, é vir a esgotar bem depressa. Pode-se encomendar aqui (de salientar que quem for sócio - ou se fizer - da Chilli com Carne tem 50% de desconto).

Para lerem o meu texto sobre "Beating" cliquem aqui.

Claro que não há nada melhor do que ver algumas das ilustrações no site do autor ou da MMMNNNRRR algumas das quais coloco aqui. E já agora numa espécie de "Onde está o Wally", alguém encontra o Samuel?



 







Only God Forgives - Red Band Trailer

terça-feira, abril 02, 2013

Estraga as minhas Leituras


Já tinha mencionado aqui que juntamente com uns amigos criámos um clube de leitura. Quem escolheu o nome inspirou-se no facto de o clube ir arruinar os planeamentos de leitura pessoais que tínhamos. Ainda assim o nome pode levar à ideia errada, bem, agora já está.

A primeira sessão dedicada ao "1984" já aconteceu há uma semana e o saldo foi bastante positivo. Fomos seis pessoas, mas conto que na próxima sejamos mais.

Contudo o post era para aqui falar das leituras planeadas. Já temos uma série de livros, que foram votados pelos membros, para todos poderem comprar com antecedência e que são estes (por ordem de leitura):


- 100 anos de solidão
- Dom Quixote
- Pela Estrada Fora
- O ano da morte de Ricardo Reis
- O Idiota
-O Golpe da misericórdia
- Anna Karenina
- O primo Basílio
- Alice no país das maravilhas


Aqui ficam então as primeiras sugestões.

segunda-feira, abril 01, 2013

The Quartet of Woah!



Descobri no "Homem que Sabia Demasiado" a banda "The Quartet of Woah!", desconhecia a sua existência, bem como o facto de serem uma banda portuguesa. Ao ir à página deles, aqui, deparei-me logo com "The Path Of Our Commitment" e fiquei imediatamente rendido a este espírito rock n roll. O álbum pode ser ouvido na íntegra nessa mesma página.