domingo, outubro 31, 2010
sexta-feira, outubro 29, 2010
Bande À Parte
“Bande À Parte” consiste na adaptação cinematográfica da obra “Fools' Gold”, da autora Dolores Hitchens, pela visão de Jean Luc Godard. O filme é também uma homenagem do realizador aos policiais dos anos 40.
Esta é a história do trio Odile (Anna Karina), Arthur (Claude Brasseur) e Franz (Sami Frey). No início Franz fala a Arthur sobre uma bela mulher, Odile, que conheceu e que esta lhe contou sobre um tal Sr. Stolz, hópede da sua tia Victoria, e da enorme quantidade de dinheiro que esconde num armário sem qualquer tipo de protecção. Movidos pela ganância de um golpe fácil (e pela atracção à mulher) vão conhecê-la numa aula de inglês que ela e Franz costumam frequentar.
Apesar de contar tudo a estes dois sobre o dinheiro Odile teima em dizer que não concorda com o assalto, no entanto, mantém contacto com eles e acabar por ir alinhando nas suas intenções, facto que poderá ter a influência de esta se ter apaixonado por Arhur, o que incomoda gravemente Franz que é um grande apaixonado seu. Se juntarmos dois homens a uma bela mulher teremos quase sempre o clássico triângulo amoroso e aqui não é excepção.
O filme data de 1964 e faz parte do movimento Nouvelle Vague no Cinema, movimento este que assumiu grande importância na formação de Godard como cineasta.
Em qualquer lado que se fale deste filme há três cenas em particular que serão garantidamente mencionadas pois tornaram-se clássicas para a história deste género. Três cenas que têm vida para além do filme e que influenciaram e influenciam cineastas ao longo dos anos.
A primeira, talvez a minha predilecta, ocorre quando o trio se encontra num café. Franz discute como um minuto de silêncio pode durar uma eternidade e diz para experimentarem. Quando começam todo o som do filme é retirado e mergulhamos numa eternidade de silêncio que curiosamente acaba por ter só 36 segundos, pois Franz interrompe a situação farto.
Logo a seguir Odile pede a Arthur para dançar e rapidamente se lhes junta Franz. Apenas os três no centro de um café a dançar ao som de música. Uma cena lindíssima que influenciou Quentin Tarantino na cena de dança entre entre John Travolta e Uma Thurman em “Pulp Fiction” entre outras.
Por fim temos a cena do museu Louvre. A fim de quebrarem o recorde da visita mais rápida a este museu, os três correm desalmadamente pelos corredores do museu.
A química entre os três actores principais resulta muito bem, mas os maiores louros vão para Anna Karina. A doçura e inocência de Odile conquistam qualquer um. Um papel maravilhoso desta actriz que na altura era a mulher e musa de Godard.
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quarta-feira, outubro 27, 2010
Despertar
"Despertar" consiste na minha primeira aventura pelos contos da Banda Desenhada. A história é da minha autoria e o desenho pertence ao Rui Alex, a quem eu muito agradeço por ter dado vida às minhas palavras, foi uma experiência que gostei muito.
A BD tem quatro páginas e pode ser encontrada na revista "Zona Negra 2", dedicada ao terror.
A revista terá lançamento neste Sábado às 17:00 no Amadora BD. Eu estarei por lá.
segunda-feira, outubro 25, 2010
As Crónicas de Gelo e Fogo: A Fúria dos Reis + O Despertar da Magia
“A Fúria dos Reis” e “O Despertar da Magia” são respectivamente o 3º e 4º volume, nas edições da saída de emergência, das “Crónicas de Gelo e Fogo” do autor George R.R. Martin. Na edição original trata-se do 2º volume “A Clash of Kings”.
Quando falei dos outros dois volumes aqui, expliquei em que consiste a obra e por isso não me vou repetir sobre isso. Também vou falar de acontecimentos que ocorreram nos volumes anteriores, por isso não é aconselhado ler este post a quem os desconhece.
Este volume continua a desenvolver a guerra civil que está a ocorrer nos sete reinos de Westeros e que teve a sua origem nos volumes anteriores.
Quando antes havia apenas um Rei, agora são quatro os homens a proclamarem este título. Joffrey Barantheon o suposto primogénito do falecido Rei Robert Baratheon, que governa na fortaleza vermelha. Joffrey seria supostamente o herdeiro por direito, mas como Eddard descobriu antes da sua morte, é filho da união entre Cersei e o seu irmão gémeo, Jaime Lannister bem como todos os seus filhos. Assim sendo o herdeiro de direito é Stannis Barantheon o irmão mais velho a seguir a Robert. Stannis que sabe da verdade sobre a descendência de Robert auto-proclama-se Rei também e apesar de estar no seu direito praticamente toda a gente desconhece este segredo, o que dificulta o apoio de Stannis.
Para complicar o seu irmão mais novo, Renly Barantheon também se auto-proclama Rei. Uma grande diferença entre Renly e Stannis é que o primeiro é muito mais amado pelo povo e aliado ao poder da casa Tyrell consegue reunir um exército mais imponente que o do irmão.
Por fim temos Robb Stark. Começou por lutar pelo Pai, mas depois da sua morte foi convencido pelos seus senhores a assumir o papel de Rei do Norte e governar estas terras como os seus antepassados tinham feito antes da invasão de Aegon Targaryen.
Em poucas palavras os Sete Reinos encontram-se num enorme caos onde a guerra predomina por quase todo o continente.
No volume anterior estive à espera que Stannis surgisse a dada altura, seria o único a conhecer o temível segredo de Cersei além de Eddard e a sua ajuda bem falta fazia a Ned. Mas tal nunca chegou a ocorrer. Talvez seja por isso que para despachar as apresentações o prólogo de “A Fúria de Reis” seja sobre Stannis aquele que é descrito como justo mas severo, aquele que se fosse Rei acabaria com as casas de prostituição ao contrário do irmão que espalhou bastardos a torto e a direito por essas belas instituições. Neste prólogo ficamos a conhecer Melisandre uma sacerdotisa vermelha, crente no Deus da Luz. Diferentes povos têm diferentes deuses tais como os Stark que rezam a deuses mais antigos. No entanto a crença mais comum nos sete reinos é a dos 7 deuses, 7 expressões diferentes de um mesmo Deus. Esta era também a crença da casa de Stannis até este começar a aceitar os conselhos de Melisandre, convertendo-se assim ao Deus da Luz e destruindo os artefactos dos 7 deuses chocando assim o seu povo seguidor. Esta conversão tem mais de interesse do que de experiência religiosa. Os 7 nunca fizeram nada por Stannis, na sua opinião, pode ser que este Deus da Luz lhe dê finalmente o trono que merece.
A maior parte da história deste volume centra-se nos confrontos em Westeros. Várias batalhas e acima de tudo jogos de guerra atrás dos bastidores são aqui explorados.
Tyrion Lannister chega até à fortaleza vermelha para ser o novo Mão do Rei. Uma mudança muito bem vinda, pois Joffrey é uma desgraça e precisa de alguém com cabeça para parar com o seu reino de parvoíce. Aqui há que admirar Tyrion ele é um Lannister mas não vai pactuar com os erros crassos que a sua família cometeu. Vinga nas suas possibilidades a morte de Eddard Stark, castigando aqueles envolvidos e que o traíram (excepto a sua família claro), e retira a sua cabeça bem como as dos outros dos espigões do castelo. A partir daqui começa a esboçar um plano para se defender de eventuais ataques enquanto descobre em quem pode ou não confiar naquela terrífica fortaleza. O duende como é apelidado domina ao longo de quase todo o livro.
Sansa Stark continua captiva como noiva de Joffrey, sofrendo dos delírios do seu jovem noivo. A sua relação com o Cão da Caça continua a ser explorada aqui e cada vez capta mais o meu interesse.
Com Robb a batalhar no Sul cabe a Bran Star ser o Senhor de Winterfell, recebendo inúmeros convidados que se vêm juntar à causa do irmão. Dos vários convidados surgem Jojen and Meera Reed dois irmão bastante misteriosos. Jojem afirma que tem o dom dos sonhos verdes, sonhos que lhe contam o futuro e parece muito interessado em Bran e nos seus sonhos. Pode ser que a vida ainda reserve uma grande surpresa a Bran que depois de perder a mobilidade nas pernas e o pai não tem estado na melhor fase da sua vida.
Robb aparece muito pouco, sabemos ao longo da história que vai vencendo algumas batalhas e mais nada além disso.
Renly vai avançando lentamente até à fortaleza vermelha angariando mais lutadores pelo caminho e Stannis prepara-se para sair de Pedra do Dragão para atacar.
A união de Stannis com Melisandre vai dar frutos. Não é à toa que o titulo “Despertar da Magia” surge no 2º volume. Para um homem tão conhecido pela sua justiça Stannis acaba por “vender a alma ao diabo” para concretizar os seus fins.
Perdida para muitos anda Arya Stark. Quando assistia à sentença do pai foi apanhada por Yoren, da patrulha da noite que a reconheceu. A fim de a ajudar fá-la passar por rapaz para esta fingir que se aliou a eles e caminha para a muralha. Como a muralha fica a norte de Winterfell Yoren deixá-la-ia em casa ao passarem por lá.
Mas com a guerra os caminhos são duros e muitos perigos esperam-nos. Arya cresce muito neste livro e irá interagir com muitas e diferentes pessoas, tais como, Jaqen H'ghar, um misterioso indivíduo que se destaca por ter metade do cabelo vermelho e outra metade branco.
Por fim ainda é de salientar Theon Greyjoy. Theon era protegido de Eddard Stark há já 10 anos. Na verdade era um refém que Ned trouxe das ilhas de Ferro após a revolta dos Greyjoy a fim de manter a casa Greyjoy nos eixos. Ned sempre tratou muito bem Theon. Nunca lhe faltou conforto, educação, nada. Creceu com os filhos de Ned e desenvolveu uma forte amizade com Robb. Robb e Jon eram aqueles com idade mais próxima de Theon, mas ao contrário de Robb, Jon sempre considerou Theon uma besta ambulante.
Não é de estranhar por isso que Theon tenha combatido a lado de Robb no livro anterior. Neste volume Robb escolhe-o para uma missão mais importante, regressar às Ilhas de Ferro e pedir apoio, em troca permite-lhes usar a coroa como haviam feito antigamente. Theon sendo o primogénito adora a ideia imaginando-se já Rei das ilhas de Ferro. Para sua surpresa o pai não tem intenções de ajudar ninguém e aproveitou esta guerra para reunir todos os seus vassalos a fim de conquistar e reclamar todo o Norte como seu. Deixando Theon com uma difícil decisão para tomar, recusar o pai ou trair Robb.
Na muralha Jon e companhia preparam-se para investigar a floresta assombrada, em busca de todos os patrulheiros desaparecidos. Depois do ataque dos cadáveres no livro anterior o perigo parece ser maior do que imaginavam e o medo cresce entre eles. Há medida que avançam por entre a floresta todos os acampamentos que encontram estão vazios o que agrava as suas preocupações. Esta história avança pouco nestes volumes, no entanto há medida que se desenrola vai-se tornando cada vez melhor. No fim Jon terá de tomar a decisão mais difícil da sua vida até agora.
Acredito que a mudança na história do personagem foi uma excelente escolha e que poderá fazê-lo crescer ainda mais.
Outra história que avança pouco é a de Daenerys Targaryen que se encontra no Este, no continente das chamadas cidades livres. Após a morte de Drogo o seu povo preparava-a para a abandonar, isto até que os dragões nasceram. Dany, agora Rainha dos Dragões, continua assim o seu caminho em busca de ajuda para reconquistar os Sete Reinos.
Com dificuldades segue um estranho cometa vermelho que surgiu no céu, acreditando ser um sinal.
Esse caminho acabará por levá-la a Qarth onde os seus dragões chamam a atenção de várias pessoas. Pode ainda não ser desta que Dany reuniu o seu exército mas as cenas em que aparece valem sempre a pena, de destacar a da casa dos Imorredouros, uma casa de feiticeiros em que Dany terá várias visões.
Concluindo, esta é mais uma grande aventura que sai da mente de George R.R. Martin. Sem dúvida uma das grande sagas da actualidade. Venham os próximos.
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domingo, outubro 24, 2010
Parabéns Cebolinha
quarta-feira, outubro 20, 2010
segunda-feira, outubro 18, 2010
Lançamento da Zona Negra 2 no Amadora BD - dia 30 de Outubro
A Zona Negra 2 será lançada dia 30 de Outubro pelas 17 horas, durante o Festival Amadora BD.
Este é o quinto número da Zona, contando com trabalhos de BD, ilustração, cartoon e prosa, incluindo ainda uma entrevista ao autor Manuel Alves, colaborador regular da Zona.
Tal como o nome sugere a temática deste livro está centrada na área do terror. É composto por 96 páginas a preto e branco, fortalecendo assim o ambiente negro do seu conteúdo. A capa é a cores da autoria de Ricardo Reis. Ao todo são 28 autores participantes.
Esta é uma edição mais especial para mim, pois sou um dos autores participantes, graças ao Rui Alex que aceitou desenhar a minha história. O nosso trabalho chama-se "Despertar" e é o meu primeiro conto de BD.
Esta edição marca também o primeiro projecto a ser editado pela "Associação Tentáculo". Para quem quiser saber mais sobre o que trata esta nova associação, consultem o blog aqui.
Blade of the Immortal – Vol. 1: Blood of a Thousand
“Blade of the Immortal” é uma série de manga da autoria de Hiroaki Samura que começou por ser editada em 1994, contando até agora com 26 volumes e continuando a ser editada. O 1º volume editado em inglês pela Dark Horse tem o título de “Blood of a Thousand” e é deste que falo aqui.
A história desenrola-se no Japão em 1782-3, ou seja, durante o Shogunato Tokugawa, e conta a história do samurai imortal Manji.
Num curto início e através de flashbacks conhecemos um pouco do passado de Manji e ficamos a saber que se tornou conhecido como sendo responsável pela morte de cerca de 100 samurais. Muitas dessas mortes foram ordenadas a mando do Lorde Horii, Manji acreditava estar do lado correcto mas quando descobriu na monstruosidade dos seus actos e como tantos inocentes pereceram na sua espada, assassinou o próprio Lord Horii. Quando um policia samurai o confronta Manji tenta explicar-lhe as razões mas é obrigado a lutar. Apesar de o nome deste seu oponente lhe soar familiar, é só quando a sua irmã entra em cena, no exacto momento em que Manji o esquarteja, que se recorda que está a matar o marido da sua irmã.
Uma misteriosa mulher de nome, Yaobikuni, que afirma ter 800 anos infecta o corpo de Manji com kessen-chu um tipo de vermes capazes de regenerar qualquer tipo de feridas tornando o hospedeiro virtualmente imortal, facto que, independentemente das suas qualidades, o tornou mais descuidado enquanto lutador. Farto de não conseguir morrer, Manji tenta a todo o custo convencer Yaobikuni a livrá-lo destes vermes. Quando ela lhe pede para ele abdicar da espada e ele recusa após a sua irmã ter sido raptada, chegam a um outro acordo. A fim de purgar os seus pecados, Manji promete-lhe a morte de 1000 vilões e em troca Yaobikuni remover-lhe-à os “malditos” vermes.
Asano Rin assistiu quando criança ao assassinado dos seus pais às mãos de Kuroi Sabato, um samurai que pertence ao grupo de espadachins liderados por Anotsu Kagehisa. O objectivo de Anotsu é destruir todos os dojos para que só exista o dele, o Ittō-ryū. Após a morte dos pais só uma coisa assola a mente de Asano, vingança. Treinando arduamente o estilo que o pai ensinava durante alguns anos, decide que é altura de começar a sua vendetta pessoal, felizmente a velha Yaobikuni atravessasse-lhe no caminho e sugere que peça ajuda a Manji. E é assim que Manji e Asano se juntam para dar início a mais uma batalha sangrenta.
Uma das particularidades do personagem principal é que adoptou para seu nome e símbolo, a conhecida Crux Gammata (a swastica, que derivou do sancrito svastica que significa bem-estar. Infelizmente a swastica está condenada nos dias de hoje a ser imediatamente associado ao nazismo, mas a origem bem mais antiga deste símbolo nada tem a ver com valores anti-semitas, muito pelo contrário é um símbolo de prosperidade. A versão usada neste livro é a sauvastica cujos braços estão voltados na direcção contra-relógio, foi um símbolo muito usado por budistas no Japão e simboliza a noite e a prática de magia. Em japonês chama-se The Manji. Só por curiosidade a versão usada pelos Nazis é a hakenkreuz (cujos braços apontam na direcção dos ponteiros do relógio) que ao contrário da anterior é um símbolo solar. O facto desta história se desenrolar em 1782 devia já por si afastar quaisquer ligações ao nazismo, mas em todos os livros a explicação do uso deste símbolo está presente a fim de não criar qualquer tipo de confusão.
Ao contrário da maior parte dos mangas que são actualmente editados, “Blade of the Immortal” foi alterado para ser lido da forma ocidental, da esquerda para a direita (ainda bem que já não fazem isto). Normalmente as páginas são revertidas como se estivessem a ser vistas num espelho. Mas neste caso para preservar a arte o autor pediu para não o fazerem, usando antes a técnica do copy/paste, re-ordendando os painéis em todas as páginas excepto quando não era de todo possível (se por acaso tivessem usado a técnica do espelho a swastica de Manji passaria a ser a idêntica à usada pelos nazis). Isto por vezes gera alguns erros de continuidade, na balonagem e posição dos personagens, por exemplo, mas nada que não se perceba eventualmente. Trata-se é de algo completamente desnecessário até em termos de trabalho, se tivessem simplesmente editado na ordem japonesa.
Uma das coisas pelas quais este livro é conhecido é a linguagem usada. Samura mistura a linguagem mais tradicional da época com linguagem de rua de uma Tóquio actual. Na tradução em inglês teve-se isso em atenção, mas claro que nunca é a mesma coisa.
A história, neste primeiro volume, é simples, trata-se de um típico conto de vingança. Mas não surpreendendo em termos narrativos desenrola-se bastante bem e torna-se muito apelativa graças à qualidade dos personagens, como o samurai Kuroi Sabato que tem tanto de assassino como de poeta. A sua dedicação ao seu amor por mulheres vai deixar qualquer um de queixo caído. Depois dessa história vamos conhecer um ninja/pintor, amigo de Asuna, que está em busca de uma particular tonalidade de vermelho para um quadro em particular. A descoberta dessa tonalidade não sendo surpreendente não deixa de ser bem divertida.
A maior qualidade de “Blade of the Immortal” é sem dúvida alguma a arte. Este é dos mangas que mais me fascinou em termos de desenho. As sequências de lutas e os esquartejamentos são magistrais e aqui Samura não poupa nos detalhes nem na imaginação. Os painéis que enchem uma a duas páginas com a morte de alguém são fabulosos. Os conhecimentos que o autor tem de anatomia são muito bem empregues nesta saga.
Outra coisa que é um regalo para a vista são as inúmeras armas que Manji usa (muitas inventadas pelo autor), quase parece que tem uma por cada pessoa que já matou.
Venceu o prémio de excelência no Japan Media Arts Festival em 1997 e do Will Eisner Comic Industry Award em 2000 para a melhor edição de material estrangeiro.
A história desenrola-se no Japão em 1782-3, ou seja, durante o Shogunato Tokugawa, e conta a história do samurai imortal Manji.
Num curto início e através de flashbacks conhecemos um pouco do passado de Manji e ficamos a saber que se tornou conhecido como sendo responsável pela morte de cerca de 100 samurais. Muitas dessas mortes foram ordenadas a mando do Lorde Horii, Manji acreditava estar do lado correcto mas quando descobriu na monstruosidade dos seus actos e como tantos inocentes pereceram na sua espada, assassinou o próprio Lord Horii. Quando um policia samurai o confronta Manji tenta explicar-lhe as razões mas é obrigado a lutar. Apesar de o nome deste seu oponente lhe soar familiar, é só quando a sua irmã entra em cena, no exacto momento em que Manji o esquarteja, que se recorda que está a matar o marido da sua irmã.
Uma misteriosa mulher de nome, Yaobikuni, que afirma ter 800 anos infecta o corpo de Manji com kessen-chu um tipo de vermes capazes de regenerar qualquer tipo de feridas tornando o hospedeiro virtualmente imortal, facto que, independentemente das suas qualidades, o tornou mais descuidado enquanto lutador. Farto de não conseguir morrer, Manji tenta a todo o custo convencer Yaobikuni a livrá-lo destes vermes. Quando ela lhe pede para ele abdicar da espada e ele recusa após a sua irmã ter sido raptada, chegam a um outro acordo. A fim de purgar os seus pecados, Manji promete-lhe a morte de 1000 vilões e em troca Yaobikuni remover-lhe-à os “malditos” vermes.
Asano Rin assistiu quando criança ao assassinado dos seus pais às mãos de Kuroi Sabato, um samurai que pertence ao grupo de espadachins liderados por Anotsu Kagehisa. O objectivo de Anotsu é destruir todos os dojos para que só exista o dele, o Ittō-ryū. Após a morte dos pais só uma coisa assola a mente de Asano, vingança. Treinando arduamente o estilo que o pai ensinava durante alguns anos, decide que é altura de começar a sua vendetta pessoal, felizmente a velha Yaobikuni atravessasse-lhe no caminho e sugere que peça ajuda a Manji. E é assim que Manji e Asano se juntam para dar início a mais uma batalha sangrenta.
Uma das particularidades do personagem principal é que adoptou para seu nome e símbolo, a conhecida Crux Gammata (a swastica, que derivou do sancrito svastica que significa bem-estar. Infelizmente a swastica está condenada nos dias de hoje a ser imediatamente associado ao nazismo, mas a origem bem mais antiga deste símbolo nada tem a ver com valores anti-semitas, muito pelo contrário é um símbolo de prosperidade. A versão usada neste livro é a sauvastica cujos braços estão voltados na direcção contra-relógio, foi um símbolo muito usado por budistas no Japão e simboliza a noite e a prática de magia. Em japonês chama-se The Manji. Só por curiosidade a versão usada pelos Nazis é a hakenkreuz (cujos braços apontam na direcção dos ponteiros do relógio) que ao contrário da anterior é um símbolo solar. O facto desta história se desenrolar em 1782 devia já por si afastar quaisquer ligações ao nazismo, mas em todos os livros a explicação do uso deste símbolo está presente a fim de não criar qualquer tipo de confusão.
Ao contrário da maior parte dos mangas que são actualmente editados, “Blade of the Immortal” foi alterado para ser lido da forma ocidental, da esquerda para a direita (ainda bem que já não fazem isto). Normalmente as páginas são revertidas como se estivessem a ser vistas num espelho. Mas neste caso para preservar a arte o autor pediu para não o fazerem, usando antes a técnica do copy/paste, re-ordendando os painéis em todas as páginas excepto quando não era de todo possível (se por acaso tivessem usado a técnica do espelho a swastica de Manji passaria a ser a idêntica à usada pelos nazis). Isto por vezes gera alguns erros de continuidade, na balonagem e posição dos personagens, por exemplo, mas nada que não se perceba eventualmente. Trata-se é de algo completamente desnecessário até em termos de trabalho, se tivessem simplesmente editado na ordem japonesa.
Uma das coisas pelas quais este livro é conhecido é a linguagem usada. Samura mistura a linguagem mais tradicional da época com linguagem de rua de uma Tóquio actual. Na tradução em inglês teve-se isso em atenção, mas claro que nunca é a mesma coisa.
A história, neste primeiro volume, é simples, trata-se de um típico conto de vingança. Mas não surpreendendo em termos narrativos desenrola-se bastante bem e torna-se muito apelativa graças à qualidade dos personagens, como o samurai Kuroi Sabato que tem tanto de assassino como de poeta. A sua dedicação ao seu amor por mulheres vai deixar qualquer um de queixo caído. Depois dessa história vamos conhecer um ninja/pintor, amigo de Asuna, que está em busca de uma particular tonalidade de vermelho para um quadro em particular. A descoberta dessa tonalidade não sendo surpreendente não deixa de ser bem divertida.
A maior qualidade de “Blade of the Immortal” é sem dúvida alguma a arte. Este é dos mangas que mais me fascinou em termos de desenho. As sequências de lutas e os esquartejamentos são magistrais e aqui Samura não poupa nos detalhes nem na imaginação. Os painéis que enchem uma a duas páginas com a morte de alguém são fabulosos. Os conhecimentos que o autor tem de anatomia são muito bem empregues nesta saga.
Outra coisa que é um regalo para a vista são as inúmeras armas que Manji usa (muitas inventadas pelo autor), quase parece que tem uma por cada pessoa que já matou.
Venceu o prémio de excelência no Japan Media Arts Festival em 1997 e do Will Eisner Comic Industry Award em 2000 para a melhor edição de material estrangeiro.
sexta-feira, outubro 08, 2010
Pulp - Like a Friend
"You are the last drink I never should have drunk
You are the body hidden in the trunk
You are the habit I can't seem to kick
You are my secrets on the front page every week
You are the car I never should have bought
You are the train I never should have caught
You are the cut that makes me hide my face
You are the party that makes me feel my age
You're like a car crash I can see but I just can't avoid
Like a plane I've been told I never should board
Like a film that's so bad, but I've just got to stay 'til the end
Let me tell you now - it's lucky for you that we're friends"
quarta-feira, outubro 06, 2010
O regresso às Crónicas de Gelo e Fogo
Um dos grandes prazeres em ler uma saga é sentimento de reencontrar velhos amigos. Ao pegar em "Fúrias dos Reis" o 2º volume de as "Crónicas de Gelo e Fogo" (3º pela Saída de Emergência) volto a constatar isso sem surpresas. Tem a parte triste em que relembramos as injustiças que aconteceram antes, damos as boas vindas a novos personagens e voltamos a beber um copo com os nossos predilectos que se mantêm, como é o caso de Tyrion Lannister. O "duende" tem duas particularidades que sempre gostei num personagem, é inteligente e gozão.
INÍCIO DE SPOILERS
A sua chegada a Porto Real é muito bem vinda por mim, mostrando o seu descontentamento com o que aconteceu, é bom ver um Lannister (ao menos um) ter repeito e consideração por Ned Stark. Esclarece logo que não teve nada a ver com o ataque a Bran e castiga aqueles envolvidos na traiçãod e Ned (os que pode castigar e os que sabe que o traíram), isto promete.
FIM DE SPOILERS
Aproveito isto para falar aqui da série de TV que irá começar no próximo ano. Esta série tem tudo para ser "O" acontecimento televisivo do próximo ano. Ora vejam, a história é excelente, a escolha de actores parece-me bastante boa, vai ser produzida pela HBO que nos tem habituado a séries de grande qualidade e que provávelmente não se vai acobardar nas cenas mais intensas, e o autor está envolvido no projecto. Tem tudo para ser uma vencedora.
Tyrion Lannister será interpretado por Peter Dinklage, é possível que aquela cor de cabelo não lhe assente muito bem, mas Peter Dinklage é um grande actor acho que foi uma grande escolha e não dúvido que nos trará um Tyrion perfeito para a TV. Saliento também Sean Bean no papel de Ned Stark e deixo-vos os trailers que já saíram.
domingo, outubro 03, 2010
Crime e Castigo
o "Crime e Castigo" é considerado o primeiro grande romance que Fyodor Mikhaylovich Dostoyevsky escreveu ao atingir o seu período de maior maturidade literária.
Curiosamente a ideia inicial para este livro seria a de explorar o consumo abusivo de álcool e as suas consequências, cujo título seria "The Drunkards". No entanto um homem veio mudar isso tudo, seu nome, Pierre François Lacenaire. Inspirado pelos crimes de Lacenaire, Dostoyevsky criou o crime de Raskolonikov (personagem principal da trama) e a partir daqui a história central lidaria com outras questões morais, no entanto o tema do álcool não foi esquecido e continuou a ser abordado, agora através de personagens secundárias, o que acontece com a família Marmeládov.
Esta não seria a única mudança radical a ocorrer durante a escrita deste romance. A versão inicial do livro foi escrita na 1º pessoa através da perspectiva de Raskolonikov. Com o tempo a história crescia cada vez mais na mente de Dostoyevsky, que apesar de já ter escrito grande parte da obra, decidiu alterá-la completamente ao reescreve-la do início mas agora na 3º pessoa, tendo até anunciado que teria queimado a versão anterior, facto que foi desmentido posteriormente por Joseph Frank.
A forma como o autor acabaria por escrever o livro, ligando o narrador à consciência das diferentes personagens, foi altamente revolucionária e original na época tendo até gerado alguma controvérsia. Hoje em dia é indiscutível a sua qualidade e importância.
A história começou por ser editada no jornal "The Russian Messenger" em 1866. A relação entre o autor e os editores correu bem salvo uma excepção e essa excepção prendeu-se com uma personagem em particular, Sónia. Não se sabe especificamente em relação ao quê, mas aparentemente Dostoyevsky teve de alterar algumas partes sobre ela, algo que não foi, comrpeensivelmente, fácil para o autor.
O enredo centra-se na personagem de Rodion Romanovich Raskolnikov, um ex-estudante de direito a viver em São Petersburgo. A personagem é-nos apresentada como não estando nas melhores condições, as suas roupas são velhas e rotas, o seu quarto uma sala minúscula e não tem emprego. Desde o início do livro há uma ideia que apoquenta constantemente a sua mente, que a mantém em constante turbulência e agitação, uma ideia que a pouco e pouco tem vindo a ganhar mais relevância, a ideia de assassinar Alyona Ivanovna uma velha viúva a quem várias pessoas recorrem em tempos desesperados para penhorar os seus bens.
A início Raskolnikov nunca explica a razão por qual está a considerar efectuar este crime, revela-nos que a senhora é uma aproveitadora e que se ganharia muito mais com a sua morte uma vez que com o seu dinheiro ele poderia fazer mil acções que compensariam tal acto. Mas há muito mais por trás desta ideia que só nos será revelado mais à frente.
Enquanto considera se avança com este plano conhece Semyon Marmeladov um bêbado que lhe conta toda a sua vida e como a sua família sofre com o seu alcoolismo. Incapaz de segurar um trabalho a sua filha mais velha, Sónia, foi obrigada a prostituir-se para colocar comida na mesa do pai e da sua segunda mulher (que sofre de tísica) e mais três crianças. Ráskolnikov fica impressionado com este relato, em como o ser humano é um verdadeiro patife que se habitua a tudo, ou então, pelo contrário que não é um patife, que afinal "tudo o resto é superstição, falsos medos, e então não há barreiras, e tem de ser assim mesmo!...".
Raskolnikov é realmente uma pessoa de extremos ora sente uma enorme apatia e até repugnãncia pelas pessoas ora revela-se um grande altruísta capaz de dar o seu único dinheiro para ajudar os outros.
Rapidamente conhecemos também Razumikhin um antigo colega da faculdade e um dos seus poucos amigos que ao reencontrar Raskolnikov lhe oferece trabalho na tradução, mas este recusa.
A recusa de trabalho e as suas reflexões sobre a moral após o encontro com Marmeladov poderão ser indicadores de que a razão por qual Raskolnikov ocupa o pensamento com a ideia de um assassínio, não será baseada (ou pelo menos apenas) na sua actual pobreza. Para piorar as coisas recebe uma carta da sua mãe onde lhe revela que a sua irmã irá casar com Pyotr Petrovich Luzhin um advogado que se encontra numa boa situação financeira. Não me estendendo mais, Raskolnikov retira da carta que este casamento não é mais que um sacríficio que a sua irmã está a fazer pela família o que o incomoda profundamente.
(A partir daqui é possível que me tenha entusiasmado a falar desta obra, por isso para quem não quer saber mais sobre a história, não continue a ler).
Penso que não será surpresa, devido ao título da obra, que um crime ocorre e por consequência um castigo. O crime é revelado logo na primeira parte e é a partir daqui que começa o castigo quando Raskolnikov ao contrário do que pensava não aguenta o "peso" do mesmo que o afectam tanto psicológicamente como fisicamente. A mente quando está doente afecta o corpo e Raskolnikov começa a sofrer de febres e delírios preocupando-se obsessivamente com as repercursões do seu crime. As suas obsessões e paranoias não passam despercebidos às pessoas com quem virá a conviver e será apelidado em várias ocasiões como sendo um monomaníaco.
É em conversa com Porfiry Petrovich, o detective encarregue do assassinato de Alyona Ivanovna que descobrimos a teoria de Raskolnikov, uma teoria que consiste em dividir a sociedade em duas classes distintas: os ordinários e os extraordinários. A primeira classe é a mais comum naquela em que a maioria das pessoas se enquadra, são as "abelhas" trabalhadoras que vivem de acordo com as leis e morais, já a classe dos extraordinários que é muito mais reduzida, é constituida por pessoas excepcionais que não necessitam de seguir a lei, sendo-lhes permitido transgredi-la (o que inclui matar) se isso lhes for útil para o cumprimento dos seus objectivos (que no final serão benéficos para a humanidade), pois é esta classe de indíviduos que devem ser os líderes e ditar as regras da outra. Alguns exemplos de indíviduos extraordinários são dadas, mas é na figura de Napoleão que Raskolnikov mais se foca. Ele acreditava pertencer, há semelhança de Napoleão, na classe dos extraordinários e por isso o crime que cometeu, permitido. Efectivamente o facto de não ter conseguido lidar com as consequências do seu acto, levam-no a questionar as suas crenças e a desilusão de ter falhado espelha-se no seu corpo.
Um dos grandes temas que o autor aborda é o do niilismo Russo que naquela altura ganhava notoriedade, ideias ligadas ao utilitarianismo e racionalismo que aqui são fortemente criticados através da teoria de Raskolnikov. Dostoyevsky leva as ideologias destas filosofias, cuja ideia principal é serem altruistas, a uma espécie de "pior cenário possível", uma vez que a rejeição da autoridade (niilismo Russo) ou o facto de os fins justificarem os meios (utilitarianismo) podem criar uma série de situações altamente discutíveis ética e moralmente.
Outro aspecto literário muito interessante é a ligação que existe entre o estado do personagem e o estado da cidade, algo em que Dostoevsky também foi dos primeiros a explorar.
Quando esteve preso na Sibéria o autor tornou-se mais ligado ao cristianismo ortodoxo, experiência que se faz notar em "Crime e Castigo" pois contém vários simbolismos religiosos e onde Raskolnikov poderá através do amor e da fé renascer como um novo homem. Estamos também a falar de uma época em que a religião desempenhava um forte papel na sociedade Russa e independentemente das crenças do autor a forma como está retratada no livro faz-me todo o sentido.
"Crime e Castigo" foi um dos melhores livros que li, a forma como o autor escreve e explora a psique humana, tanto em acções conscientes como nas incoscientes, são excepcionais e tornam este livro numa peça absolutamente imperdível.
Li a edição da "Presença" uma vez que é traduzida directamente do russo, pois aparentemente existem várias edições traduzidas do inglês ou do francês. Claro que se perde sempre algo na tradução, como os nomes de algumas personagens conterem duplos sentidos. Este "jogo de palavras" existe também no título pois crime em russo, prestuplenie, significa uma transgressão, e neste caso o crime de Raskolnikov consiste na transgressão de uma barreira moral.
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