O Cinema é um mestre na arte da ilusão, engana-nos e faz-nos acreditar naquilo que momentaneamente estamos a ver. "Boyhood" de Richard Linklater eleva essa fasquia ainda mais alta, pois nunca antes vimos um filme sobre o crescimento de alguém que se aproximasse tanto da realidade. Não é que o filme de Linklater seja mais verdadeiro ou mentiroso que outros, mas o facto do realizador ter filmado esta história com os mesmos actores, durante 11 anos, confere-lhe uma aura de autenticidade muito maior, mesmo que essa autenticidade seja uma ilusão.
O tempo tem sido um elemento decisivo na carreira de Linklater. A passagem da nossa vida por esta Terra e as suas diferentes fases, já vinham a ser retratadas pelo realizador na saga que começou em "Before Sunrise". Nesta trilogia já podíamos confirmar o seu fascínio pela forma como o tempo afecta as nossas vidas. É nesta altura que Linklater começa a tentar conciliar duas coisas muito difíceis: a passagem do tempo no ecrã e na vida real. Atente-se que todos os filmes desta trilogia foram filmados passados vários anos, de forma a manter sempre os mesmos actores e com eles conferir esse tal grau de "autenticidade" aos filmes.
Em "Boyhood" o desafio foi ainda maior e, mais importante, cumprido com distinção. O crescimento de Mason resulta em um dos mais belos filmes do ano, um daqueles que é mesmo obrigatório ver, nem que seja pelo simples facto de estarmos perante História cinematográfica. "Boyhood" é único, mas mais importante ainda, é que também é um belíssimo pedaço de cinema.