sexta-feira, fevereiro 28, 2014
Viridiana (1961)
Esta será talvez a maior imagem de marca de "Viridiana" de Luis Buñuel, onde o realizador recriou a cena da última ceia a partir de um grupo de sem abrigos que abusa da hospitalidade oferecida. 10 anos depois de "Susana" o realizador espanhol surge-nos com um filme cuja crítica social não se encontra tão escondida, tão subtil.
Após a sua visualização - que já decorreu há muito tempo perdoem qualquer falta de memória - entrou logo para o leque de favoritos do realizador, que tendo em conta a qualidade do mesmo é dizer muito. A crítica social e religiosa em "Viridiana" - carregada de simbologia - é fortíssima e mostra-nos o quanto este realizador consegue ser ácido e severo, mas nunca descurando o humor ainda que seja negro.
Uma das cenas que mais me marcou foi a do cão que se encontra preso a uma carroça. A personagem Jorge, para o salvar tem de o comprar, mas ao fazê-lo surge-lhe novamente a mesma situação com outro cão. Pessoalmente considero esta uma metáfora muito rigorosa do nosso mundo. É aquela sensação de que a solução para o problema não está numa qualquer ajuda individual, ainda que esta seja relevante. Uma boa acção é melhor que nenhuma. Mesmo assim sentimos-nos esmagados com o peso do mundo onde mudá-lo é como remar contra a maré.
quinta-feira, fevereiro 27, 2014
Doctor Who: Film (1996)
SPOILERS
I love humans. Always seeing patterns in things that aren't there.
The Doctor
Após a série "Doctor Who" ter
terminado em 1989 existiu uma tentativa em a revitalizar anterior à
de Russel T. Davies que começou em 2005. Falo do filme de 1996 com Paul McGann como o
8º Doctor. Este filme foi uma co-produção entre a BBC Worldwide, a
Universal Studios, a 20th Century Fox e a American network Fox. O produtor Philip Segal
tinha bastante interesse na possibilidade de fazer regressar esta
personagem numa série que seria produzida pela Fox (a única a mostrar interesse), mas a produtora só
aceitou, primeiro, na realização deste telefilme. Nesse sentido
este filme serviria como uma espécie de piloto, que se obtivesse
resultados favoráveis daria inicio a mais uma série e nova fase do Doctor. Como
já se sabe, não teve o êxito desejado e acabou por não dar em nada. Mas, curiosamente, o 8º Doctor acabaria
por ser um triunfo bastante grande.
Se não estou em
erro este é o primeiro produto televisivo de "Doctor Who" a ser filmado
fora do Reino Unido. E quase que era o primeiro a ter um Doctor cuja
nacionalidade não fosse inglesa. Tom Hanks, Harrison Ford e Jim Carrey
foram nomes que recusaram, por exemplo. Hanks recusou por ser grande fã
da série original e achar que não devia ser um americano a interpretar
este papel. Ford por sua vez não queria trabalhar em televisão e Carrey
achou que seria odiado pelos fãs porque não conhecia a série. Foram
mesmo muitos os nomes que poderiam ter preenchido este papel, mas a
escolha recaiu sobre Paul McGann, a escolha mais feliz em todas as
relacionadas com este projecto, diga-se de passagem. A título de
curiosidade, Christopher Eccleston foi convidado para ser o 8º Doctor,
mas recusou. Alguns anos mais tarde regressaria na pele do 9º.
Se
o objectivo deste filme era conseguir o regresso da série, então há que
dizer que as opções em torno da sua história foram más. Em 2005
quando Davies trouxe "Doctor Who" de volta, ele não nos inundou no
piloto com a mitologia da série. Ele foi apresentando-a ao longo dos
episódios de uma forma que entusiasmasse os fãs antigos mas que
introduzisse os novos também. Ora no filme realizado por Geoffrey Sax,
tal não acontece. Existem os óbvios piscares de olho ao passado que são muito bons e
podem estar lá à vontade, contudo, quando falamos de referências que envolvem directamente a narrativa então o caso complica se estamos a ter em conta espectadores que estão a entrar
neste universo pela primeira vez. Começar o episódio com a sentença do Master pelos Daleks
e com uma regeneração é muito giro para quem via a série, mas para novos espectadores duvido. Mesmo eu que vi a série antiga considerei algumas opções
estranhas, como o facto do Eye of Harmony só poder ser aberto por olhos
humanos. Ora isso está relacionado com uma acção do 6º Doctor, ou seja,
quem não sabe vai apenas achar uma opção tola. Como este existem
outros exemplos, por exemplo, como é que o Master sobrevive naquele
estado? Até acho que isto só foi explicado em noutros formatos
posteriormente e não na série. Aliás como este filme foi mantido na mitologia em outras
histórias do Doctor (noutros formatos) alguns dos seus acontecimentos
foram explicados e de certa forma corrigidos.
Tendo
em conta isto, não surge como surpresa que o filme tenha ficado aquém
das expectativas quando estreou na América e que tenha obtido resultados
bem melhores no Reino Unido. Mas talvez tenha sido pelo melhor, talvez
uma produção americana de "Doctor Who" não tivesse corrido tão bem. É
verdade que houve um grande esforço por parte de Philip Segal para
manter o filme coerente dentro da mitologia. Até o 7º Doctor foi
convidado para entrar no início do filme mostrando a sua regeneração no
8º. Mas mesmo assim alguém teve a ideia de inventar que o Doctor é meio-humano.
Posteriormente isto foi desmentido numa história em BD, mas não deixa
de se notar que foi uma daquelas situações em que tentaram arranjar a melhor desculpa possível para se
esquecer esta opção - que na altura foi propositada.
Em
relação ao filme a sua história decorre durante a passagem de ano de
1999, capturando assim a atmosfera do novo milénio que se aproxima. Depois do Master ter esgotado as suas regenerações
foi julgado e exterminado pelos Daleks. Como último pedido quis que os
seus restos mortais fossem enviados para Gallifrey pelo Doctor. O 7º
Doctor acede ao pedido, mas parece que as várias alterações que o Master
fez ao seu corpo o alteraram (isto não é explicado no filme) e parte de
si sobreviveu possuindo, posteriormente, um humano (Eric Roberts).
Contudo, parece que o corpo humano não é capaz de manter o Master e
começa a degradar-se, algo que foi muito pouco focado no filme porque o
Roberts não quis usar a maquilhagem necessária por dar muito
trabalho....pois... (que porcaria).
Quanto ao Doctor
acaba por perder a vida devido a uma série de acidentes. O 7º Doctor é conhecido por ser um grande mestre de
planos e aqui acabou por ser alvejado ao sair descontraídamente da Tardis, purodescuido e azar do destino. Há uma forte ironia nesta situação. Posteriormente,
morre na mesa de operações porque o operam achando que é um humano e
não sabendo que tinha dois corações fizeram asneira. Aqui temos outro
momento muito estranho, o Doctor parece regenerar depois de ter
morrido... Engraçado que depois o 8º também morreria sendo reanimado pela irmandade de Karn para se poder regenerar.
A história não é muito apelativa e
dificilmente estimularia novos espectadores. O final também deixa bastante a desejar. Mas há uma coisa que o
filme faz muito bem e que por isso a sua visualização vale bem a pena: a criação do 8º Doctor. Paul McGann entra muito bem no papel e
facilmente se imagina uma série de aventuras televisivas lideradas por
ele. Há carisma, diversão e até sedução. Tenho ideia que este é poderá ser o
Doctor mais romântico de todos. Talvez isso tenha sido uma alteração
vinda da América, pois este Doctor não perde tempo a fazer uma coisa que
as suas versões anteriores não faziam, beijar as Companions. Claro que McGann teve pouco tempo de antena para desenvolver mais o seu Doctor, mas este deixa sem dúvida uma forte marca. Gosto particularmente da cena em que saca da arma a um polícia e para este fazer o que ele quer aponta a arma não a ele, mas a si próprio ameaçando alvejar-se. O pacifismo do Doctor em grande estilo.
Para
quem só viu a nova série é uma oportunidade também de ver um Doctor que
não tem o peso da Time War nos ombros - ainda. O 8º evoca partes de
futuras versões, sendo bastante eléctrico e excêntrico, mas sem aquele
peso, aquela aura que se fazia sentir muito quando Davies trouxe o
Doctor de volta. Aqui é interessante ver o 8º Doctor no mini-episódio
"The Night of The Doctor", onde este já viveu durante a Time War e as
evolução da personagem é bem notória. Em livros e audios existem muitas histórias que mostram essas mudanças no Doctor causadas pela guerra (nunca li nem ouvi nenhuma).
Curiosamente,
apesar de o 8º Doctor ser o que menos apareceu em TV, foi o que mais
apareceu noutros formatos. Isto ocorre porque o 8º é a encarnação desde
1996 até 2005. O que também contribuiu muito para esta situação foi o
facto de as produções Big Finish não poderem utilizar prévios Doctors,
então todo o material que publicaram foi com o 8º. O próprio McGann teve um papel activo participando em vários audiobooks.
Contudo,
em relação a este material o facto de ser canon ou não manteve-se em
dúvida. Até porque houve decisões, pelo menos no filme, que não eram
grande espingarda para a série. Em 2005 com o regresso de "Doctor Who" à
TV, ficou claro que o 8º Doctor foi sempre considerado como oficial.
Não sei se esta opção foi feita porque as várias aventuras do 8º eram
boas demais para serem esquecidas, ou se foi
pelo simples facto de McGann ter sido um Doctor merecedor de tal
lembrança. Em 2013 quando Moffat o trouxe de volta a sua autenticidade
perante a mitologia ainda ficou mais forte. É que o 8º é um Doctor muito
interessante, não só porque foi das versões que viveu mais, mas porque
apanha o início da Time War. No fundo são as suas acções que dão origem à
criação do War Doctor e, posteriormente, ao seu envolvimento na guerra
terminando-a.
A Tardis está bem diferente da versão que a conheço. A sala de controlo está mobilada o que a faz parecer mais um lar e lhe dá um ambiente algo steampunk. Vemos também, tanto no ínicio, como no fim, o Doctor a ler "The Time Machine" de H.G. Wells. Gostei deste toque, se o Doctor conhece tanto do nosso mundo artísitco, teria de tirar algum tempo para ler os nossos livros, admirar os nossos quadros e por aí fora. Apesar de o Doctor que conheço ser por norma uma pulga eléctrica,a sua 7º versão (pelo menos) parece mais calma, talvez pelo peso da idade.
Antes de terminar queria só referir que neste filme vemos que a regeneração pode causar amnésia temporária o que me remete para o que acontece no final de "The Time of The Doctor" quando aparece Peter Capaldi.
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terça-feira, fevereiro 25, 2014
Doctor Who: The Time of The Doctor (especial Natal 2013)
SPOILERS
Yes, I am dying. You've been trying to kill me for centuries, and here I am, dying of old age. If you want something done, do it yourself.
The Doctor
O Doctor já tinha avisado que não deveemos conhecer o nosso futuro, pois isso dificultará a sua alteração. Para salvar os seus amigos, na temporada passada, ele viajou até Trenzalore, o planeta que será o seu túmulo. Ele sabe onde irá morrer e fugir disso agora torna as coisas muito mais complicadas, mas se alguém o consegue, é o Doctor.
Com a introdução do War Doctor os números mudaram, Matt Smith poderá ser sempre o 11º Doctor, mas só no nome, pois na realidade ele é o 12º. Depois temos o caso extraordinário de David Tennant o único Doctor que conseguiu manter o corpo após uma regeneração (devia ter cortado novamente uma mão se queria continuar). somando isto tudo temos as 12 regenerações feitas. Não me recordo de nesta nova fase da série este assunto já ter sido mencionado, mas aqui Smith explica a Clara que um Time Lord só consegue regenerar-se 12 vezes e por isso ele chegou à sua última vida. Percebemos também porque no final da sétima temporada, na linha temporal do Doctor, só vimos versões passadas e não futuras. É suposto o Doctor morrer nesta vida e em Trenzalore. Claro que o especial anterior já nos mostrou um novo Doctor e por isso o seu salvamento nunca esteve em dúvida.
Em "The Time of The Doctor" Moffat fecha todas as linhas narrativas que tinha aberto desde o primeiro episódio da 5º temporada. As rachas no fabrico do espaço e do tempo continuam e contêm do outro lado Gallifrey que tem vindo a perguntar constantemente a grande questão que pairou sempre nestas temporadas: Doctor Who?
Várias espécies, incluindo praticamente todos os inimigos do Doctor, movem-se para Trenzalore a fim de destruirem o planeta e não deixarem os Time Lords regressarem. Felizmente a "Church of the Papal Mainframe" chegou primeiro e protegeu o planeta, deixando o Doctor ser o primeiro a visitá-lo. Tudo a partir daqui começa a encaixar. Esta ordem religiosa é a responsável pela ordem dos Silence e um grupo deles decidiu viajar ao passado para impedir o Doctor justificando tudo que aconteceu nas temporadas passadas. Melhor ainda, ao viajarem no passado e, por exemplo, rebentarem com a Tardis, acabaram por ser os responsáveis pela própria fenda que queriam impedir. Foi muito bom, mas por se tratar de tanta coisa talvez um episódio duplo tivesse dado mais tempo para desenvolvimentos mais amplos. Moffat encerra assim o ciclo de Matt Smith, uma decisão que faz todo o sentido e que coloca uma conclusão nesta enorme aventura, mas que também nos deixa as portas abertas para uma nova.
O Doctor permanece assim em Trenzalore protegendo o planeta e ameaçando fazer regressar os Time Lords caso o planeta seja atacado. Claro que não há coisa que este Time Lord mais queira do que ver o regresso do seu planeta natal, contudo se o fizer, não só traria os Time Lords de volta como a Time War também e uma que envolveria ainda mais forças destrutivas.
Enganando Clara, para a proteger, o Doctor fica centenas de anos em Trenzalore (também porque fica sem a Tardis), envelhecendo com aquela comunidade que jurou proteger. Quando Clara regressa, ele é um homem muito mais velho e ver Smith neste papel é mais um momento de puro encantamento. Este homem é sempre tão bom neste papel e o que eu me ri no início quando ele sacou da peruca. Nesta aventura além de Clara contou com uma cabeça de um Cyberman como Companion e não é que nos marca muito apesar de a sua aparição só ter a duração de um episódio? Handles vais deixar saudades também.
No final temos a guerra prometida, onde o Doctor luta lado a lado com os Silent. Quem diria que estes dois se uniriam no futuro? Tudo decorre da forma que esperamos, mas perto do fim Clara faz o impossível (ou quase), o que lhe fica muito bem, afinal de contas, ela É a "Impossible Girl". Clara consegue mudar o futuro do Doctor ao pedir ajuda aos Time Lords. Num acto de tremenda ajuda os Time Lords - através da fenda - concendem ao Doctor nova energia de regenração (no que parece ser um novo ciclo).
O 9º Doctor regenerou-se de forma algo pacífica. Já o 10º rebentou com a Tardis. Aqui notou-se que foi uma metáfora para toda aquela explosão de sentimento que tanto eles como nós sentíamos na despedida. Confesso que achei que não voltaria a ver uma explosão tão grande na regeneração, mas estava enganado. O 11º usa a energia da regeneração para rebentar com as naves dos Daleks. O fogo de artíficio ainda foi maior.
Claro que para termos um momento de despedida, o 11º não mudou logo aí, o corpo ainda ficou a trabalhar e assim, com Clara, seguimo-lo até à Tardis. Este homem fez quase o impossível. Ele conseguiu substituir Tennant e tornar instantaneamente a personagem sua. A despedida de Tennant tinha sido o momento mais emotivo para mim e quando Smith surgiu conseguiu enxugar-me as lágrimas e colocar-me um sorriso na cara logo a seguir. Agora, também a sua despedida me deixa novamente de rastos. O seu discurso é particularmente tocante porque acaba por ser tanto o da personagem como o seu, enquanto actor e é o melhor discurso de despedida que vi até agora. Após proferir a súltimas palavras surge a imagem de Amy Pond e é aqui que se torna impossível suster tanta emoção. Quem tem coração e seguiu as aventuras destes dois não conseguirá ver este momento sem sentir um qualquer aperto cá dentro. Que momento maravilhoso, que momento mágico.
Entra - sem contarmos - Peter Capaldi como o 12º Doctor. Uma entra inesperada a mais que um nível. O Doctor parece ter-se esquecido de como pilotar a Tardis. Amnésia? A despedida é triste, mas o futuro com Capaldi e Gallifrey nos planos parece promissor. A 8º temporada que chegue e depressa.
Estes textos começaram por ser uma forma de ir registando o meu acompanhamento desta série. Com o tempo acabei por ir escrevendo cada vez mais sobre as temporadas, pois se por um lado a paixão pela série era cada vez maior, por outro, quanto mais conhecia da mitologia mais tinha algo a apontar. Também o facto de Moffat ter criado enredos mais complexos ao longo da temporada, me fizeram exigir mais das suas conclusões. Se ele nos deixa tão em êxtase com as suas premissas é normal que tal aconteça, ao contrário de Davies que era mais subtil nas pistas, não tendo um planeamento tão intrincado e a longo prazo, mesmo que as suas conclusões também fossem explosivas a todos os níveis e com enredos mirabolantes (faz parte). Com isto quero dizer que os dois showrunners são claramente diferentes, ambos têm fortes qualidades e os seus respectivos defeitos, como é natural. Uma coisa é certa, tanto com um como com outro, foi um privilégio ter acompanhado estas novas aventuras de “Doctor Who”. Que continuem por muitos mais anos.
Entra - sem contarmos - Peter Capaldi como o 12º Doctor. Uma entra inesperada a mais que um nível. O Doctor parece ter-se esquecido de como pilotar a Tardis. Amnésia? A despedida é triste, mas o futuro com Capaldi e Gallifrey nos planos parece promissor. A 8º temporada que chegue e depressa.
Estes textos começaram por ser uma forma de ir registando o meu acompanhamento desta série. Com o tempo acabei por ir escrevendo cada vez mais sobre as temporadas, pois se por um lado a paixão pela série era cada vez maior, por outro, quanto mais conhecia da mitologia mais tinha algo a apontar. Também o facto de Moffat ter criado enredos mais complexos ao longo da temporada, me fizeram exigir mais das suas conclusões. Se ele nos deixa tão em êxtase com as suas premissas é normal que tal aconteça, ao contrário de Davies que era mais subtil nas pistas, não tendo um planeamento tão intrincado e a longo prazo, mesmo que as suas conclusões também fossem explosivas a todos os níveis e com enredos mirabolantes (faz parte). Com isto quero dizer que os dois showrunners são claramente diferentes, ambos têm fortes qualidades e os seus respectivos defeitos, como é natural. Uma coisa é certa, tanto com um como com outro, foi um privilégio ter acompanhado estas novas aventuras de “Doctor Who”. Que continuem por muitos mais anos.
All the Doctor's change. When you think about it, they all are differente people, all through their lives. And that's ok, that's good, they gotta keep moving. So long as you remember all the people that they used to be. I will not forget one line of the 11th. Not one single hat or bowtie (the coolest ever). I swear Raggedy Man that I will always remember, when the Doctor was you.
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segunda-feira, fevereiro 24, 2014
Doctor Who: The Day of The Doctor (50th anniversary)
SPOILERS
Clara sometimes asks me if I dream. "Of course I dream," I tell her,
"Everybody dreams". "But what do you dream about?" she'll ask. "The same
thing everybody dreams about," I tell her, "I dream about where I'm
going." She always laughs at that. "But you're not going anywhere,
you're just wandering about". That's not true. Not anymore. I have a new
destination. My journey is the same as yours, the same as anyone's.
It's taken me so many years, so many lifetimes, but, at last, I know
where I'm going, where I've always been going: Home, the long way
'round.
The Doctor
The Night of The Doctor
Neste mini-episódio temos uma surpresa maravilhosa. Paul McGann regressa como 8º Doctor para nos mostrar os seus últimos instantes, fazendo a passagem para o Doctor misterioso de John Hurt. Logo no início percebemos que o 8º Doctor tem estado afastado dos conflitos da "Time War" entre os Time Lords e os Daleks, continuando a ajudar aqueles que pode ao longo do Universo. Contudo, o facto de ser um Time Lord tem-lhe causado problemas, as pessoas já não confiam mais nele, temendo-o. Isto é importante para mostrar que neste momento os povos temem os Time Lords como temem os Daleks e que a grande Time War poderá destruir todo o Universo se não for terminada. Isto é muito importante para justificar as acções futuras do Doctor.
Outra surpresa é que o Doctor acaba por morrer ao tentar salvar uma mulher de nome Cass. Como ela recusou o salvamento acabaram os dois por se despenhar em Karn (o Doctor devia ter-se protegido na Tardis). Claro que tudo aqui parece ser obra do destino uma vez que se despenhou no planeta da Sisterhood of Karn, um grupo de mulheres que o reanimam temporariamente na esperança de que o Doctor aceite regenerar-se para terminar esta guerra. O nome Doctor é uma promessa e por isso é muito complicado para esta personagem entrar numa guerra, quando ele vive segundo o lema de que a violência gera violência. Mas tendo razão, será que se pode viver sempre sob o manto do pacifismo? Como se termina uma guerra como a Time War? Nesse momento de desespero o Doctor aceita regenerar-se de forma controlada, ou seja, a irmandade de Karn consegue criar poções que irão dar o corpo que ao Doctor mais convém. Colocando uma pausa no seu título o 8º escolhe o corpo de um guerreiro, aquele que participu na guerra, aquele que a terminou e por isso mesmo tem o seu nome esquecido da grande história desta personagem. O Doctor sem número, o War Doctor.
Existe ainda um outro mini-episódio - "The Last Day" - que nos mostra o início da batalha que levaria à queda de Arcadia.
The Day of The Doctor
Em "The Day of The Doctor" vemos o regresso de mais uns míticos vilões de Doctor Who, os Zygons (que antes apenas haviam aparecido num episódio). O mais interessante destas criaturas é a sua capacidade de assumirem a forma de outros seres vivos. Num ataque à Terra que envolve duas linhas temporais a história dos Zygons acaba por ligar o 10º e o 11º Doctor em termos narrativos. Mas a sua junção fisica ocorre por causa do War Doctor e do momento em que este decide terminar a guerra de uma vez por todas.O cerne do episódio é esse preciso momento em que o Doctor terminou a Time War.
Para terminar a guerra o War Doctor chega à conclusão que a única forma de o fazer é aniquilando Gallifrey juntamente com os Daleks. Para isso rouba "The Moment" uma arma de destruição massiva capaz de engolir galáxias. Mas devido aos seus poderes devastadores esta arma desenvolveu uma consciência que através de um interface comunica com o seu utilizador (tecnologia Time Lord). Desta forma "The Moment" assume uma figura do futuro do Doctor (achando ser do passado) para lhe mostrar o futuro após o momento em que destruiu o seu planeta de origem. Este interface é, nada mais nada menos, do que Rose Tyler quando absorve o Time Vortex, ou seja, Bad Wolf. Pensava mesmo que Rose iria aparecer no episódio, mas acho que esta foi a melhor forma de trazer Billie Piper. Rose teve um final feliz e está em outro Universo, os assuntos deste já não lhe dizem respeito. Como Donna não se pode lembrar ou Amy que já morreu, todos têm um fim, todos menos o Doctor.
Desta forma "The Moment", com uma facilidade necessária para a narrativa, junta os Doctors em vários momentos, nomeadamente no momento decisivo da Time War, evento que supostamente estava bloqueado. Mas antes de chegar aí vale a pena mencionar as aventuras que os três Doctors tiveram na Terra contra os Zygons. O episódio foi muito revivalista, algo que se notou logo com a introdução original. Este revivalismo foi muito bem desenvolvido, há uma série de referências ao passado da série que são muito bem introduzidas ao longo da aventura. E tivemos finalmente revelado mais sobre o passado entre o Doctor e a rainha Elizabeth I. A interacção entre os três Doctors é fabulosa e John Hurt assenta que nem uma luva no papel, não nos fazendo questionar a sua identidade.
Moffat gosta de mexer muito com a mitologia de Doctor Who. Ele criou um segundo Big Bang fazendo um enorme reset ao Universo; ele meteu os Silence a manipular os humanos (sabe Deus desde quando); ele criou o momento em que o Doctor morre, colocando um vilão e, posteriormente, uma companion a fazerem parte da linha temporal do Doctor. Ele gosta de grandes mudanças e desta vez trouxe-nos um novo Doctor que estraga os números, uma vez que Tennant será sempre o 10º e Smith o 11º. Para isso fazer sentido este Doctor teve um papel ingrato e por isso não é, supostamente, digno de usar o título do Doctor. Não sei se Eccleston tem aceitado regressar, se não seria ele próprio o War Doctor, não havendo necessidade para o resto. O 9º Doctor seria o único que eu vejo a encaixar neste papel, uma vez que é o que mais se assemelha a um soldado, um guerreiro. Talvez o argumento sofresse algumas alterações, o Eccleston não é de facto o War Doctor aqui descrito, ou talvez, a personagem do John Hurt sempre surgisse e Eclleston apenas seria mais um Doctor nesta grande mistela. De qualquer das formas, aqui acho que Moffat conseguiu criar algo inovador, interessante e estimulante. O War Doctor funciona. Já agora andava a imaginar um Sonic Screwdriver com a luz vermelha por isso quando vi o do War Doctor fiquei em extâse. Vermelho tinha de ser a sua cor.
Curioso que desde a fase de John Hurt que o Doctor tem vindo a ficar mais novo e, ao mesmo tempo, vindo a recuperar a vontade em viver. Talvez por esse conjunto de factores o 10º e o 11º sejam tão juvenis comparado com o War Doctor que apesar de mais novo parece bem mais velho. A guerra faz isto às pessoas. Seria era interessante ter o 9º Doctor a fazer a transição entre estes Doctor's.
No final, os três Doctors conseguem salvar a Terra (apesar de não sabermos como) e também Gallifrey. Em vez de destruirem o planeta dos Time Lords (com todos os seus inocentes) os Doctors decidem remover o planeta para um outro Universo, onde ficará perdido, mas vivo. Ao fazê-lo as hordas de Daleks irão destruir-se umas às outras (o que também justifica mais facilmente porque tantos Daleks sobreviveram). Afinal no momento mais negro da vida do Doctor ele conseguiu na mesma ir por outro caminho. Claro que para isso foram precisos todos os 13 Doctors. Sim! 13! O cameo de Peter Capaldi é mais um momento de puro fascínio neste episódio. Agora também o War Doctor faz parte deste panteão honroso, mesmo que não o venha a recordar. os Doctor's não são 11, mas sim 12 (isto vai ser caótico). A utilização de filmagens antigas para se sentir a presença de todos os Doctor's foi muito bem conseguida e conseguiu comemorar de uma forma única e especial estes 50 anos de "Doctor Who". A finalizar tivemos o cameo de Tom Baker o 4º Doctor que aqui parece regressar ao papel de Doctor, mas a qual? Talvez a um de um futuro muito distante. Um momento certamente ainda mais emocionante para os seguidores da série antiga.
Chega assim ao final o grande dia do Doctor e com ele a promessa de uma Gallifrey algures perdida. Temos aqui também o mote para a próxima temporada, a busca do Doctor pela sua casa e isso é muito aliciante.
Porém, houve uma parte em particular que me deixou com alguma pena. Falo dos acontecimentos de "End of Time". O concelho que decorre nesse episódio chefiado por Rassilon é mencionado neste especial para nos mostrar que não foi esquecido, contudo, não seria importante referir que os Time Lord esboçavam um plano para aniquilar toda a existência como foi mencionado em "End of Time"? Se nos basearmos apenas em "The Day of The Doctor" o sentimento de destruição do Universo é sentido, mas apenas como o resultado da continuada batalha entre dois povos. Em "End of Time" era claro que o presidente dos Time Lords se tinha passado ainda mais da cabeça e por esta altura o War Doctor já teria conhecimento destes planos uma vez que o 10º tinha (caso contrário nem mencionaria isto). Na altura até tinha ficado com a impressão que os Time Lords não tinham sido mortos mas presos no tempo, que o Doctor teria feito isso em vez de os matar, mas parece que fiz confusão com o facto de a gerra estar time locked. Também a profecia de que o Doctor os pararia poderia ser mencionada. Ou não era sabida por todos? De qualquer das formas esse lado negro dos Time Lords foi esquecido e reforçava a necessidade da acção do Doctor. Uma acção que afinal ele nunca tomou. Suponho que estes eventos decorram um pouco ao mesmo tempo que os "The End of Time", caso contrário esse ataque poderia nunca ocorrer e assim sendo o 10º Doctor não teria morrido. Com isto não quero deixar de salientar todo o trabalho que Moffat teve a escrever isto, a forma como interligou os acontecimentos e conseguiu construir uma peça monumental de História para esta série. Os meus sinceros parabéns Steven Moffat és um dos maiores.
Inicialmente (em 2005) o Doctor é-nos apresentado como um sobrevivente da guerra, um que teve de sacrificar o seu povo para salvar o Universo. Com o 10º Doctor essas razões foram mais aprofundadas, de certa forma, justificando-as ainda mais. Agora Moffat tirou-lhe esse peso da consciência. O Doctor conseguiu, mais uma vez, não derramar sangue (se não contarmos com os Daleks). É, novamente, uma decisão que mexe muito com a mitologia, afinal a destruição do seu povo fez parte do que era este novo Doctor. Mas acho que as coisas foram feitas com muita dedicação e cuidado (salvo o apontamento atrás) e a possibilidade de ter os Time Lords de volta é muito boa. O Doctor mais do que um herói é aquele que prometeu não ser cruel, não fazer sofrer e sempre ajudar. Não sei se será sempre possível, mas enquanto ele conseguir que seja esse herói, esse Doctor que cura o Universo vezes e vezes sem conta.
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domingo, fevereiro 23, 2014
Doctor Who - Temporada 7 (Parte 2)
SPOILERS
I walked away from the Last Great Time War. I marked the passing of the Time Lords. I saw the birth of the universe, and I watched as time ran out, moment by moment, until nothing remained. No time, no space – just me. I've walked in universes where the laws of physics were devised by the mind of a madman. I've watched universes freeze and creations burn. I have seen things you wouldn't believe. I have lost things you will never understand. And I know things. Secrets that must never be told, knowledge that must never be spoken, knowledge that will make parasite gods blaze! So, come on, then! Take it! Take it all, baby! Have it! You have it all!
The Doctor
No episódio de despedida de Amy e Rory - "The Angels Take Manhattan" - muitos como eu devem ter ficado curiosos em saber a reacção do pai de Rory a tudo isto. Pois bem, essa cena foi escrita, mas nunca filmada. Contudo é contada através de esboços no mini-episódio "P.S." que vale muito a pena ver. Foi pena a cena não ter sido introduzida, mas de certa forma também é muito similar à vista em "Blink" (porque é o que faz sentido).
Depois destes acontecimentos encontramos em "The Snowmen" um Doctor que decidiu parar de se envolver nos acontecimentos do Universo, ausentando-se numa Londres vitoriana do ano de 1842. Claro que tal só podia ser sol de pouca dura. O Doctor nunca conseguiria resistira um mistério, principalmente um que coloque a Terra em perigo. Nesta aventura acaba por conhecer, novamente, Clara Oswald, a mesma que nós já tínhamos visto em "Asylum of the Daleks". Como é possível que a mesma rapariga tenha estado em dois tempos diferentes desta forma? É que isto vai além de ser um caso de Doppelgänger's, estamos a falar literalmente da mesma pessoa e que em ambos os casos morreram. Este é, portanto, o grande mistério da segunda metade da sétima temporada. Clara é a impossible girl e isso deixa o Doctor fascinado.
"The Snowmen" foi um grande começo desta nova aventura, a química entre o Doctor e Clara é muito boa e aproveitaram para trazer de volta o gang constituído por Madame Vastra e a sua companheira Jenny e pelo divertidíssimo Drax. Este grupo já tinha provado na sexta temporada que funcionava muito bem em conjunto por isso não é de estranhar que o tenham voltado a usar - algo que voltaria a acontecer em "The Crimson Horror" e "The Name of The Doctor".
Ao sermos apresentados a mais uma versão da Tardis temos um excelente momento por parte de Clara quando ela professa a frase "It's smaller on the outside", por esta nem o Doctor esperava. Quanto ao vilão - a grande inteligência - possui a voz do grande Sir Ian McKellen e gostei da criação dos monstros de neve. De resto houve momentos hilariantes graças a Strax e, como sempre, ao grande Matt Smith que desta vez tem mesmo um momento à "Sherlock Holmes". Ficou assim trilhado o início para mais aventuras e um prometedor.
Após a morte da Clara da era Vitoriana o Doctor ausenta-se novamente até a voltar a encontrar - desta vez a viver no ano de 2013 - em "The Bells of Saint John". O episódio começou muito bem, com mais uma introdução terrífica por Moffat. também adorei que The Bells of Saint John fosse o alarme da Tardis. Já foi referido anteriormente que o cérebro é como um computador, que tem impulsos eléctricos e por isso o nosso upload para um computador não surge como algo novo na série, mesmo que aqui tenham levado isso mais longe. Mais uma vez, Clara esteve muito bem na interacção com o Doctor e, no final, voltamos a encontrar a Grande inteligência. Estava-se mesmo a ver quando o Doctor disse que esta não tinha morrido no episódio anterior, que estávamos destinados encontrá-la novamente.
Neil Cross, criador de "Luther", foi mais um nome de peso que foram buscar para escrever dois episódios de "Doctor Who". O primeiro foi "The Rings of Akhaten", o qual me fez lembrar que já há muito tempo que não visitávamos civilizações alienígenas nos seus planetas. Realmente Moffat mexe mais com o tempo do que Davies, mas por outro lado mexe menos com o espaço. Nesse sentido o episódio foi uma lufada de ar fresco, contudo, por outro lado a criação daquele sistema pareceu-me demasiado irrealista. Como já tinha acontecido no passado desta vez também tivemos um alienígena a falar numa língua não traduzida pela Tardis, o que talvez não faça muito sentido (fez foi no "The Impossible Planet/The Satan Pit"), mas se calhar é melhor ficarmo-nos pelo facto de a Tardis agir de forma misteriosa, pois se de facto traduz tudo, como é que não traduz o Allons-y do 10º Doctor para inglês? Talvez porque o Doctor fale inglês e não seja traduzido nessa língua (fiquemo-nos por aqui). Também se estranha que Clara não questione neste episódio que os ET's falam inglês e o faça apenas no episódio seguinte quando são os Russos a fazê-lo.
Mas voltando a Neil Cross, acho que se nota que o escritor tem mais qualidades em outras atmosferas e por isso o seu segundo episódio, "Hide", correu-lhe melhor. Esta pseudo-história de fantasmas tem a atmosfera certa e no final revela mais um enredo carregado de ficção-científica como é típico em "Doctor Who".
Antes tivemos então o "Cold War" onde a tripulação de um submarino Russo encontrou um Ice Warrior (um marciano" congelado desde há 5000 anos atrás, o qual sobreviveu ao processo (rói-te de inveja Capitão América). Depois de mais um flagrante mal entendido entre o alien e os humanos, cabe ao Doctor e Clara o tentarem manter a paz. Nota-se logo quando a série vai buscar uma criatura da sua mitologia antiga. Gostei de conhecer esta nova espécie e a única coisa que me deixa apreensivo nesta altura é que Clara parece receber pouca atenção no seu desenvolvimento. Acho que ela tem uma boa química com o Doctor e gosto do facto de não aceitar logo ir viajar com ele, de se impor de uma forma diferente dos outros Companions. Também estou verdadeiramente intrigado com o seu mistério, mas até ao final da temporada a personagem foi pouco desenvolvida e isso é uma pena. Mas nada disto tem a ver com a actriz à qual não tenho nada a apontar de mal.
Já sabemos que a Tardis é gigante, mas normalmente nunca saímos da sala principal. Ora "Journey to the Centre of the TARDIS" veio mudar isso. Uma aventura que nos levou pelos confins desta nave onde o Doctor e um grupo de ladrões (os irmãos Baalen) partem em busca da perdida Clara. Gostei de ver a nave actuar sob as personagens, afinal é uma entidade viva e a verdade sob os "monstros" que atacaram as personagens também resultou bem. Quando se mexe com várias linhas temporais é sempre estranho vermos a mesma pessoa várias vezes. Tal como em "Amy's Choice" parece que se matou uma das Amy's quando eram a mesma. Aqui o Doctor também acaba por morrer para salvar todas as personagens. Apesar de o Doctor apagar os acontecimentos deste episódio parece que algo ficou com as personagens pela forma como se vê pela interacção dos irmãos Baalen no final.
"The Crimson Horror" de Mark Gatiss teve tanto um vilão como uma aura excelentes. Peca a meu ver no mistério em si que podia ter sido melhor explorado. Mas, não deixa de ser um belo episódio.
Depois do maravilhoso "The Doctor's Wife" confesso que fiquei desapontado com o segundo episódio de Neil Gaiman: "Nightmare in Silver". Para começar trouxe duas crianças que me fizeram pensar que isto não são as aventuras da Sara Jane-Smith, mas pronto, também foi só neste episódio. Nota-se logo o dedo de Gaiman na ideia de um planeta inteiro ser uma feira popular, mas no final acho que ficou aquém do que prometia. Valeu muito pelo Matt Smith e pela evolução dos Cybermen, principalmente as versões insecto.
Por fim "The Name of The Doctor". Acho que posso dizer que os finais de temporada têm vindo a decrescer. Apesar de não ter gostado de um pormenor em "The Big Bang", o raio do final foi majestoso. "The Wedding of River Phonix" também foi muito bom, mas a sua introdução havia sido superior. Agora "The Name of The Doctor" foi bom, mas também deixou alguns travos mais azedos. Para começar o vilão foi pouco desenvolvido ao longo de toda a temporada. Se começou bem nesta fase, depois não me deu grande inspiração. Quanto a Clara, tivemos finalmente revelado o seu mistério, que me surpreendeu pela forma que arranjaram para que este fizesse sentido. Mesmo assim Moffat foi capaz de ter sido demasiado ambicioso, mas já lá voltarei. Outra coisa que gostei muito foi de ver as versões antigas das vidas do Doctor.
Algo com que não contava nesta parte da temporada foi o quase esquecimento de River Song. A Clara é um mulherão, compreendo e adoro isso, mas o Doctor casou ainda há pouco tempo. Não terminou a temporada anterior a falar das noites que passaria com River? Já terminaram? Já lhe disse o nome? Há muito tempo que passa e nós não vemos na série. Percebo também que ele não goste de finais, mas até tendo em conta o final da primeira parte, estava mesmo a contar ver mais de River, que apareceu apenas no último episódio e logo para se despedir.
Boa surpresa foi descobrir que esta River é a versão após "Forest of the Dead", não estava nada a contar. Já agora a Mrs Doctor se calhar não devia ter dito o nome do seu amado para abrir o seu túmulo. Não sei se este o faria eventualmente, mas as consequências podiam ter sido catastróficas. E pronto, o vilão entra na vida do Doctor para lha estragar e Clara entra para lha salvar. No final Doctor entra também na sua para a ir buscar e já não sei a quantas anda a sua linha temporal. Demasiado rebuscado (como é que ele a tirá de lá?) e contado de uma forma apressada. Mas rebuscado é o nome do meio desta série e ao menos o episódio nunca foi aborrecido tendo alguns momentos bem especiais. O túmulo com uma Tardis gigante, o encontro das personagens nos sonhos e a despedida de River Song que foi emotiva e engraçada. Mas como referi acho que a personagem merecia mais nesta temporada.
Pensava é que o nome do Doctor seria revelado, mas já percebi que é coisa que dificilmente acontecerá. No final temos a introdução de John Hurt como Doctor. Algo que infelizmente apanhei como SPOILER. Como é possível que haja outra encarnação prévia do Doctor? O que aconteceu? Um mistério a resolver no especial "The Day of The Doctor". Será que o Hurt está aqui porque o Eccleston não quis participar no especial? É pena se assim for. Caramba Eccleston a malta gosta muito de ti, gostava mesmo de te ver no aniversário.
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sábado, fevereiro 22, 2014
Guardians of the Galaxy - Trailer
Quando os "Guardians of the Galaxy" regressaram durante a saga "Annihilation: Conquest" foram um sucesso. Uma equipa completamente desequilibrada que era tanto perigosa como divertida. Contudo, não contava que a Marvel fosse apostar neles para um filme uma vez que não são das personagens mais conhecidas que a editora tem. Mas a editora tem planos a longo prazo para isto, está a introduzir a componente espacial do seu univeros que certamente continuará a ser aprofundanda. Tudo parece se encaminhar para uma "Infinity Gauntlet" com Thanos como vilão.
Quanto ao trailer do filme, já disponível, parece aquilo que devia ser, ou seja, muita diversão descomprometida. Não me recordo do Starlord ser tanto assim, mas as coisas parecem estar a funcionar e estou muito curioso por ver o Rocket Raccoon em acção. Já agora esta personagem nasce da canção dos Beatles "Rocky Raccoon".
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quinta-feira, fevereiro 20, 2014
Doctor Who - Temporada 7 (Parte 1)
SPOILERS
Hello, old friend, and here we are, you and me, on the last page. By the time you read these words, Rory and I will be long gone. So know that we lived well and were very happy. And above all else, know that we will love you, always. Sometimes I do worry about you, though. I think once we're gone, you won't be coming back here for a while and you might be alone, which you should never be. Don't be alone, Doctor. And do one more thing for me. There's a little girl waiting in a garden. She's going to wait a long while, so she's going to need a lot of hope. Go to her. Tell her a story. Tell her that if she's patient, the days are coming that she'll never forget. Tell her she'll go to sea and fight pirates. She'll fall in love with a man who'll wait two-thousand years to keep her safe. Tell her she'll give hope to the greatest painter who ever lived and save a whale in outer space. Tell her this is the story of Amelia Pond. And this is how it ends.
Afterword, by Amelia Williams
A "iniciar" a temporada temos mais um especial de Natal, desta vez "The Doctor, the Widow and the Wardrobe". Estou ansioso para ver um destes episódios na altura mais apropriada, ou seja, no Natal. Todos carregam muito bem essa aura ternurenta da época festiva em questão.
O título remete-nos logo para o clássico infanto-juvenil de C.S. Lewis. É um episódio muito bonito com um final que é, em tudo, um belo milagre de Natal. Não sou é grande fã de ver corpos a circular no espaço sem protecção (já o tínhamos visto com River) e um avião do tempo da segunda guerra a viajar pelo Time Vortex, mas pronto, não espero que Doctor Who seja muito relevante em termos científicos e por vezes é preciso deixar a lógica na mesa de cabeceira. Além disto tudo temos um dos finais mais carinhosos da série quando o Doctor vai visitar os Pond pela primeira vez após a sua suposta morte. O momento em que ele se emociona ao saber que todos os dias de Natail eles contam com ele à mesa, é de partir o coração. Maravilhoso.
O título remete-nos logo para o clássico infanto-juvenil de C.S. Lewis. É um episódio muito bonito com um final que é, em tudo, um belo milagre de Natal. Não sou é grande fã de ver corpos a circular no espaço sem protecção (já o tínhamos visto com River) e um avião do tempo da segunda guerra a viajar pelo Time Vortex, mas pronto, não espero que Doctor Who seja muito relevante em termos científicos e por vezes é preciso deixar a lógica na mesa de cabeceira. Além disto tudo temos um dos finais mais carinhosos da série quando o Doctor vai visitar os Pond pela primeira vez após a sua suposta morte. O momento em que ele se emociona ao saber que todos os dias de Natail eles contam com ele à mesa, é de partir o coração. Maravilhoso.
Antes de continuar para a sétima temporada vale a pena espreitar "Pond Life", são apenas 5 minutos de diversão (eles têm um Ood como mordomo), excepto no final que nos chocam ao mostrar o casal a romper.
Começo a ver "Asylum of the Daleks" e dou um salto na cadeira. Que valores de produção são estes? Já tinha dito que na era Moffat a série tinha melhorado os efeitos especiais, pois agora voltou a fazê-lo. A qualidade dos cenários e dos efeitos é qualquer coisa de fantástico. Eu continuo a gostar dos efeitos especiais à anos 80 da era Davies, mas há que reconhecer que isto está com bom aspecto. Quanto a esta introdução da sétima temporada posso começar por referir que se trata do segundo melhor episódio desta primeira parte. Os Daleks capturam o Doctor (nunca estiveram tão perto de o matar) para este os ajudar. Moffat costuma ter ideias de lhe tirar o chapéu, mas por vezes entala-se um pouco ao tentar justificar a razão para as mesmas acontecerem. Desta vez mergulhou na mitologia dos Daleks e criou um planeta usado como asilo daqueles que ficaram doidos e demasiado perigosos. Para justificar tal existência os Daleks tinham de nutrir algum sentimento por esses camaradas para não os exterminar logo. Ora os Daleks são conhecidos por se borrifarem para os sentimentos, lembram-se que na quinta temporada os novos Daleks mataram logo os antigos? Pois bem, porque não voltar a fazê-lo? Para a existência de este asilo fazer sentido Moffat teve de mostrar um lado destas criaturas nunca antes vistos. Eles vêem beleza na destruição e por isso os Daleks doidos são como peças de arte, ou seja, odes a esse caos violento. Foi uma opção arriscada, mas consigo ver isto a funcionar e mesmo quando Moffat falha, continuo a gostar do facto de ele ser arrojado. Mais vale arriscar que cair numa espiral de monotonia.
No geral é um episódio muito bom que tem como ponto alto a introdução de Oswin Oswald. Como sei de antemão que esta personagem será a futura Companion do Doctor o facto de ter sido convertida em Dalek foi uma genuína surpresa no final do episódio. A resposta esteve sempre na constante pergunta do Doctor: "onde ela arranja leite para fazer suflês?" Como é costume todos subvalorizam esta questão, mas o Doctor sabe muito bem o que está a dizer. Ele é um mestre na arte de iludir os outros. Fica é a questão no ar de como é que a voz de Oswald surgiu normal ao longo do episódio? Lá está, mais uma ideia genial que precisava de uma justificação melhor para fazer sentido. Mas o bom supera o mau e continuamos. Sinceramente o que esperava mesmo mais deste episódio era em relação aos Daleks no asilo. Criei uma imagem deles muito mais demente e perigosa do que o que vimos. Isto foi sem dúvida a desilusão. Aproveita-se também para voltar a unir Amy e Rory cujo amor já foi mais que provado. Arranjou-se uma razão para se separarem, mas o que nós queremos é vê-los juntos e os dois continuam a ter uma química incrível. Valeu muito a pena ver ao longo destas temporadas o crescimento destes dois.
"Dinosaurs on a Spaceship" e a "A Town Called Mercy" têm algumas coisas a seu favor, o primeiro tem dinossauros e o pai do Rory e o segundo é um Western, algo que ainda não tínhamos visto na série. Não são episódios que se destacam, mas são divertidos e o segundo em particular é uma reflexão sobre o passado sangrento do Doctor, onde curiosamente existe um outro Doctor que torturou vidas inocentes para terminar uma guerra e salvar milhões. O paralelismo entre eles é claro e o Doctor sabe-o. Contudo, há uma coisa que me faz gostar menos destes dois episódios e é a caracterização do Doctor. Em "Dinosaurs on a Spaceship" o Doctor mata o vilão (não directamente, mas é como se o tivesse feito) e em "A Town Called Mercy" quase mata o outro Doctor. Lembram-se do que o 10º Doctor fazia quando lhe colocavam uma arma na mão? Sim o 11º é um Doctor diferente, mas há valores que se mantêm, estamos a falar sempre do mesmo Doctor e este par de decisões surgiu-me como algo que destoa da personagem, pelo menos nesta fase. Obviamente que Moffat tem um conhecimento muito maior desta personagem do que eu e mesmo não tendo escrito estes dois episódios imagino que os supervisiona. Mas do que conheço senti esta incoerência, principalmente no segundo em que ele deixa o vilão morrer a sangue frio. É que o Doctor vive segundo as palavras de que a violência apenas gera violência. No terceiro ainda podemos considerar que o sofrimento e a solidão do Doctor lhe tolda o juízo, mas já vi a fúria deste Time Lord no passado e era usada em situações bem diferentes. Como o Doctor é julgado morto estranhei que lhe tivessem pedido ajuda em "Dinosaurs on a Spaceship", ao menos no primeiro episódio justificaram no início como o encontram os Daleks.
Em "The Power of Three" temos a história da invasão lenta e que afinal não era invasão nenhuma. A Terra encontra-se misteriosamente cheia de cubos negros. A fim de descobrir o que se trata o Doctor passa alguns dias com Rory e Amy. Temos uma premissa misteriosa, voltamos a encontrar o pai de Rory e conhecemos a filha do Brigadier Lethbridge-Stewart, parece-me muito bem. O final é que é apressado, bem como a introdução aos vilões, mas por tudo o resto e principalmente pelo desenvolvimento da relação dos três protagonistas, valeu muito a pena. Já agora se bem me lembro atravessar uma wormhole era perigoso, mas esta que encontramos no episódio já não parece ser.
Por fim, temos "The Angels Take Manhattan" o episódio de despedida de Amy e Rory. Já não estava habituado a isto. Na era Davies tínhamos despedidas em todas as temporadas, mas desta vez tivemos dois Companions ao longo de duas temporadas inteiras e ainda metade de uma terceira. Não dizemos adeus há muito tempo e estamos demasiado apegados a estes dois para o momento ser fácil. Não o é, é das despedidas mais sofridas na série.
O melhor episódio desta primeira além de nos trazer a despedida de Amy e Rory, trouxe também o regresso dos melhores novos vilões da série. Os Weeping Angels após a sua primeira aparição tornaram-se instantaneamente vilões de culto. Hoje fazem tanto parte da mitologia de "Doctor Who" como os Daleks. A última vez que os vimos estes andavam a preferir partir pescoços em vez de atirar as pessoas para o passado (tinham a barriguinha cheia), mas, felizmente, desta vez voltámos à rotina clássica. Estes monstros apoderaram-se de um edifício onde mantêm presas várias pessoas, a partir das quais se alimentam ao enviá-las para o passado. Rory é uma dessas pessoas e o momento em que o vemos deitado na cama a morrer de velhice é muito doloroso. É claro desde muito cedo que estamos perante um episódio carregado de sentimentos fortes. O amor de Rory e Amy é elevado aos céus e nunca o Doctor gritou tanto pela amizade que nutre por Amy (ele só grita pelo nome dela e não pelo de Rory). Pelo meio ainda temos River Song que teve momentos fantásticos com o Doctor, os dois estão realmente a tornar-se um forte casal. Adoro quando ela parte o pulso e não conta lhe conta - ela conhece-o tão bem.
No final quando tudo parecia bem Rory volta a ser enviado para o passado e Amy parte atrás dele, entregando-se ao mesmo Weeping Angel. Apesar de ser uma partida sofrida, ao menos Amy e Rory conseguiram ficar juntos e continuar a construir a sua vida. Dentro de todo o mal, isto é aquilo que os dois mais desejavam na vida e para final dos dois poderia ter sido tão mais doloroso. O Doctor é que acaba por sofrer mais, ele que não gosta de finais, despede-se desta sua melhor amiga para sempre. No fundo sabemos que já era tempo de estes três se separarem. River até avisou a mãe para que ela nunca se deixe envelhecer ao lado do Doctor, pois essa é a sina dos imortais e aquela que mais o magoa. Mas mesmo sabendo que este momento teria de chegar, não foi menos fácil por isso. Termino esta parte salientando o quão fantásticas foram as prestações deste quarteto, que vai deixar tantas, mas tantas saudades.
Mexer com os Weeping Angels obriga a certas atenções. Acho que no passado já vi alguém pestanejar e não ser afectado pelos anjos, mas desta vez acho que River desviou o olhar do anjo que a agarrava demasiadas vezes. Está amarrado, mas ainda parecia poder fazer mais qualquer coisa. Também a aparição da estátua da liberdade levanta questões, mas foi tão giro que se desculpa. Antes não explicar do que arranjar uma justificação tosca. Por fim deixo uma das coisas que mais gostei. Os anjos bebés. Aquele segmento com o Rory na cave com apenas uma caixa de fósforos foi tenebroso.
Quanto ao Doctor cujo nome se havia tornado demasiado grande no Universo, continua a trabalhar no seu esquecimento, apagando registos da sua existência. Até os Daleks nãos e lembram dele, cortesia da sua futura e misteriosa Companion.
Quanto ao Doctor cujo nome se havia tornado demasiado grande no Universo, continua a trabalhar no seu esquecimento, apagando registos da sua existência. Até os Daleks nãos e lembram dele, cortesia da sua futura e misteriosa Companion.
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quarta-feira, fevereiro 19, 2014
O Deus das Moscas
SPOILERS
"Lord of the Flies" - no original - é o primeiro romance de William Golding. O seu nome remete-nos para o demónio Belzebu cuja tradução é literalmente o "Senhor/deus das Moscas". Isto captou-me de imediato a atenção e sabia que, fosse qual fosse, o conteúdo do livro, este teria de ser profundamente negro e tenebroso. Não estava enganado.
A partir de um grupo de crianças que se despenhou numa ilha, Golding, consegue construir um trabalho de ficção em torno da natureza humana absolutamente notável. Ao lê-lo acabei por reconhecer também a sua marca em outros produtos, nomeadamente, na série "Lost".
Golding apresenta-nos à história logo após a queda de um avião. É, aliás, a partir das descrições das crianças perdidas que nos apercebemos do que aconteceu. Um avião caiu e nenhum adulto sobreviveu. Com excepção de um grupo de coro, as crianças não parecem conhecer-se, o que reforça a ideia de que esta viagem era uma de salvamento, uma fuga de um local atacado por uma bomba atómica. As crianças (que rondam os 6 e 12 anos), agora entregues a si próprias, acabam por ir construindo uma sociedade à semelhança da que conhecem e apesar das dificuldades inerentes, as suas vidas acabam por ir fluindo de forma pacífica e democrática. Contudo, com o passar do tempo assistimos à influência que as pessoas e os seus medos irracionais podem ter numa comunidade. Há toda uma dinâmica de grupo que é explorada desde o civismo até à selvajaria.
Todas as crianças que são salientadas na obra têm um papel preponderante na mesma. O protagonista Ralph é um dos que está do lado do racional e que se tornou naturalmente o líder deste grupo. Com o tempo ele reconhece as suas limitações, procurando sempre da melhor forma manter o grupo no caminho certo, que na sua opinião é o de tentarem ser salvos da ilha. Ralph espelha a democracia, uma vez que a sua liderança foi votada pelas crianças. Ao seu lado costuma estar Piggy, aquele cujo nome nunca conhecemos, e que devido às suas características (menino de óculos, gordo e com asma) é o mais gozado. Mas Piggy é também o mais racional, aquele que simboliza as ciências e a razão que, infelizmente, muitas vezes são deitadas abaixo por crenças mais bárbaras.
Do lado oposto temos Jack, que antes desta aventura já era o líder dos meninos de coro. Nesta nova comunidade ele torna-se o responsável pela caça, liderando novamente os seus colegas do coro. Se a início Jack e Ralph demonstram uma profunda amizade, com o tempo os sentimentos dos dois rapazes vão-se tornando cada vez mais distantes. Jack simboliza um lado mais negro da humanidade. Se as coisas seguirem o percurso que quer está tudo bem, mas quando confrontado não responde da forma adequada. Jack não consegue viver segundo a máxima de que as necessidades do grupo superam as necessidades individuais e pouco a pouco vai corrompendo a pequena comunidade que se havia formado. Muitos fazem o paralelismo do seu comportamento ao fascismo em directo contraste com a via democrática que Ralph tenta manter. De salientar também a forma como Jack se vai apercebendo do poder por detrás das máscaras, quando começa a camuflar-se durante as suas caçadas.
Ainda queria salientar mais duas personagem em particular. Começo por Simon porque de todos é aquele que parece nutrir os melhores sentimentos. Ele foi a única criança que não acreditou na existência de um monstro na ilha, que conseguiu ver que essa criatura apenas foi criada pelos receios de todos. Ele é claramente diferente dos outros, podendo sofrer de algum tipo de condição psicológica, mas a qual nunca é exposta. A sua morte é um dos momentos mais marcantes porque nos mostra os perigos das dinâmicas de um grupo que cede ao medo irracional e porque marca deliberadamente a perda da inocência, um dos grandes temas do livro. Curioso que a dada altura Simon acredita que Ralph será salvo, não proferindo a frase no plural.
Quanto a Roger está no espectro oposto de Simon. Ele carrega o que de mais negativo existe no Homem. A início a personagem ainda mantém um certo código que lhe foi ensinado na sua vida anterior. Mas ao compreender as repercussões da sua nova vida e que nesta não tem de se cingir pelos mesmos códigos, reverte para a sua faceta mais selvagem, tornando-se uma das crianças mais perigosas e assustadoras.
A simbologia está sempre muito presente ao longo do livro. De um lado temos o búzio e o fogo. O primeiro é usado para convocar as reuniões representando o espírito da democracia, enquanto o segundo é um símbolo de esperança e utilidade - mas também de perigo quando mal utilizado. Do outro lado temos o tal monstro existente apenas nas mentes destas crianças. A sua fragilidade começa a construir histórias que não existem, propagando um sentimento que rapidamente contagia os restante. A partir deste temor nasce o "Deus das Moscas", essa "entidade" que representa as trevas no Homem.
Depois de um último capítulo imensamente tenso, em que seguimos Ralph na sua fuga por entre a ilha na esperança de não ser apanhado pelo restante grupo, chegamos ao momento do salvamento. Quando aquele marinheiro encontra Ralph e as restantes crianças, parece que tudo cai por terra. Mas a inocência, essa foi perdida para sempre, para nunca mais regressar. Neste momento estava tão absorvido no que tinha acontecido que nem prestei muita atenção a uma cena em particular e que é a lição mais importante deste final. Após o marinheiro criticar o comportamento destas crianças ele dá um rápido vislumbre ao seu navio. Este navio simboliza a guerra dos adultos e este momento, logo após a crítica ao que aconteceu, é a cereja no topo do bolo. Acima de tudo por causa desta comparação com o mundo adulto, era essencial que esta história fosse contada com crianças como personagens.
Um livro extraordinário, um daqueles fortes murros no estômago. Para quem gosta deste tipo de histórias este é um clássico imperdível. Antes de terminar vale a pena lembrar que o livro já foi adaptado cerca de três vezes ao cinema, mas a versão mais referenciada é a de 1963. Sempre quis ler primeiro, por isso devo espreitá-la no futuro.
terça-feira, fevereiro 18, 2014
Doctor Who - Temporada 6
SPOILERS
Those reports of the sunspots and the solar flares, they're wrong. It's not the Sun, it's you. The sky is full of a million million voices saying, "Yes, of course we'll help." You've touched so many lives, saved so many people, did you think when your time came you'd really have to do more than just ask? You've decided that the universe is better off without you. But the universe doesn't agree.
River Song
O especial de Natal "A Christmas Carol" é por vezes citado como pertencendo ao final da quinta temporada, ou como sendo o episódio zero da sexta. Como, salvo excepção, tenho falado deles seguindo a segunda opção, aqui não será diferente. O importante é que "The Christmas Carol" foi surpreendente. O conto de Dickens tem sido adaptado até à exaustão, por isso não estava mesmo a contar que este fosse tão bom, mas Moffat volta a provar que a sua imaginação e escrita são ímpares. Ele faz a diferença e traz-nos um episódio mágico, clássico e carregado de espírito Natalício.
Antes de avançar na temporada vale a pena espreitar os curtos "Space" e "Time", nem que seja pela interacção de duas Amy's.
Começando a sexta temporada propriamente dita temos os soberbos "The Impossible Astronaut" e "Day of the Moon". Caramba Moffat sabe mesmo introduzir uma temporada. Temos de tudo aqui, um mistério em torno da morte do Doctor - que será seguido toda a temporada -, a introdução de novos vilões assustadores - Os Silence - e uma história em tudo épica. Como é que uma pessoa aguenta a esperar pelos episódios depois de uma introdução destas? Nós vemos uma versão futura do Doctor a convidar os seus amigos para assistir à sua morte e mesmo sabendo que ele não morrerá, passamos grande parte da temporada a imaginar como se irá safar. E aquela miúda no final a regenerar? Quantas unhas foram roídas até se descobrir que é River Song? Excelente. Curiosamente, desta vez foi o início que teve um episódio duplo e não o final. Outro aspecto que é preciso reconhecer no que toca ao talento de Moffat é a sua capacidade para criar vilões. O conceito dos Silence é assustador - que mais tarde se provariam ser uma ordem reiligosa - e a forma como o episódio se uniu à história daquele ano foi maravilhoso. Grande utilização de Nixon e grande Canton Everett Delaware III um ex-agente do FBI que se torna um parceiro muito importante do Doctor. Gostava de o rever no futuro.
O que vale toda a espera é que os episódios até chegarmos ás respostas foram muito bons. O seguinte "The Curse of The Black Spot", nem parece tanto, sofrendo de consideráveis erros narrativos. Literalmente há um marinheiro que é esquecido na história e há um segmento em que o Doctor parece usar o Sonic Screwdriver em madeira (mas talvez houvessem partes de metal no baú, enfim deixemos este pendente). O episódio até é divertido, mas este tipo de falhas deu um pequeno travo amargo ao mesmo.
Finalmente vi o primeiro episódio - "The Doctor's Wife" - escrito por Neil Gaiman para a série. Que a Tardis é uma personagem essencial desta série, sempre o soube, mas nunca antes tínhamos tido uma interacção tão grande entre os protagonistas como neste episódio. É Gaiman, por isso já se sabia que a fantasia e o romance iam imperar. Gostei muito e ainda tivemos a recordação da antiga versão desta nave extraordinária.
"The Rebel Flesh" e "The Almost People" tem uma ideia incrível ao brincar com o conceito da clonagem. Este é mais um estudo sociológico da natureza humana, onde o Doctor tenta a todo o custo fazer prevalecer a razão. Também Rory tem um papel determinante no lado dos bons. Fantástica a ideia de criar também uma cópia do Doctor que acaba por responder da forma esperada, afinal tem a mesma personalidade. É pena que no final as coisas se simplifiquem, as cópias que morrem são dos humanos que sobrevivem e vice versa. Também a forma como o segundo Doctor parte é algo brusca. O final vale muito pelo twist nos Doctors, que não sendo surpreendente, foi importante e emotivo. Depois descobrirmos o porquê dos testes de Amy Pond darem positivos e negativos em relação à sua gravidez. Ela já não está connosco há uns bons episódios.
Algo bem vincado nesta série de 2005 é que o Doctor é um pacifista. O 10º ficou bem conhecido tanto pelo seu lado altruísta, como pelas suas mudanças de humor, principalmente, quando atacam os seus amigos. Há um lado incrivelmente negro nele que pode despertar. É discutível se o 11º é tão pacifista como o seu antecessor uma vez que já armou um planeta contra uma espécie alienígena (os Silence). É discutível porque não sei realmente se havia outra solução e o que os Silence fizeram é imperdoável.Contudo, uma coisa não questiono no 11º e é a sua fúria. Quem se mete com os seus amigos terá de responder também perante a fúria deste Time Lord. Apesar de o 10º já o ter feito por vezes, acho que o 11º Doctor utiliza mais a estratégia de se deixar subestimar agindo de forma descoordenada e infantil, ele é realmente o Rei neste departamento.
"A Good Man Goes to War" mostra-nos o salvamento de Amy Pond. Um episódio que tem uma construção absolutamente notável. O Doctor reúne uma série de amigos para juntar uma equipa de valor e também os seus companions nos mostram como já se tornaram parte desta mitologia. Rory sempre será "The Last Centurion" e Amy "The Girl Who Waited". Aqui também tivemos a introdução da ordem dos "Headless Monks", que, surpresa das surpresas, não têm mesmo cabeça!
Este episódio marca também o dia em que descobrimos que River Song é a filha dos Pond e aqui só aponto um defeito. Compreende-se que o Doctor não deva ir procurar Melody Pond (nome original de River Song) enquanto bebé, uma vez que já se sabe que ela está envolvida em pontos fixos do tempo. Ela é demasiado importante no futuro, para se mexer no seu passado. Porém, Amy e Rory são os seus pais e esta questão devia ser colocada e discutida. Amy quando perde a filha fica destroçada, mas mal descobre que é River isso passa-lhe demasiado rápido.
Isto volta a notar-se em "Let's Kill Hitler" outro daqueles episódios que me apanhou de surpresa. Pensava que ia ser focado na questão de matar ou não Hitler e que o Doctor teria de explicar novamente o que é um ponto fixo no tempo. Mas não, Hitler é muito secundário aqui e curiosamente ia sendo morto por engano não fosse o Doctor. O Doctor salvou - sem querer - Hitler, a expressão na sua cara é impagável. Num ritmo muito acelerado descobrimos mais sobre a história de River Song. Aproveito para referir que não estava nada à espera destes desenvolvimentos. Já sabia que Song não veria o Doctor sempre na direcção contrária à sua linha temporal, uma vez que este ainda tem que lhe dar um sonic screwdriver. Mas que os Pond teriam um filho com características de Time Lord, essa foi puxarem-me o tapete. Apesar de o ritmo frenético nos dar um episódio sempre a abrir - no bom sentido - por outro acho que faltou desenvolvimento na relação Doctor/River Song. Por fim vale muito a pena salientar a introdução do "Teselecta" um robô pilotado por humanos encolhidos e que pode assumir a forma de qualquer pessoa. Este robô oriundo do futuro e que exerce justiça aos criminosos do passado surge-nos como a resposta para o dilema da morte do Doctor. Esta é uma forma possível e credível de ele sobreviver. O futuro provaria que estava correcto, mas nada disso arruinou o final, muito também pelo espírito que Matt Smith traz a isto, ele construiu um Doctor absolutamente brilhante.
Seguem-se quatro episódios isolados até ao grande final. "Night Terrors" relembra-nos "Fear Her" (Temporada 2), mas com um desenvolvimento mais bem conseguido. A ideia por detrás de "Fear Her" era boa, mas tenho-o na memória como um dos episódios mais aborrecidos da série. "Night Terror" não ficando na lista dos melhores superou bastante o anterior. Em "The Girl Who Waited" voltamos, novamente, aos episódios de topo. Porque além da trama ser muito estimulante, existiu um grande foco nas personagens. Adoro os Pond e ver Rory a ter de escolher entre uma versão mais velha da sua mulher e aquela com quem esteve à uns minutos atrás foi de partir o coração. Só é pena que depois de terem acontecido, estes eventos pareçam não ter feito uma mossa tão grande, deviam ser mais abordados na vida dos Companions. Mas são importantes e têm uma função. O Doctor volta a reflectir sobre a sua existência e companhia. A prova é que mesmo que Rory não tenha desistido destas viagens, o Doctor acaba por deixar os Pond após "The God Complex".
"The God Complex" foi mais um evento claustrofóbico, que desta vez mexeu com os maiores receios de todos nós. Além disso a questão do complexo divino também foi bem trabalhada, se inicialmente parecia uma coisa, com o passar do tempo percebemos que o título remete-se mais para o nosso Doctor. Não ficámos a saber qual o maior receio do Doctor, mas algo me diz que era ele próprio.
A química entre o Doctor e Craig já tinha sido bem provada em "The Lodger" (Temporada 5), por isso foi com bastante agrado que recebi novamente a reunião destes dois. A história em si dos Cybermen disse-me pouco. Apesar de clássicos não são dos vilões que mais têm marcado os episódios. Nunca voltaram a ser tão grandes como no épico final da segunda temporada. Mas pela interacção entre o Doctor e Craig o episódio valeu bem a pena. No final ficamos a saber de onde veio o tal chapéu de cowboy.
Por fim chegamos a "The Wedding of River Song" e tudo que Moffat planeou vai-se encaixando. O nome do Doctor tem vindo a tornar-se cada vez maior no Universo e por isso um nome cada vez mais temido. Para alguns povos até a palavra Doctor está associada a Mighty Warrior por sua causa e isso não é de estranhar. Assim ao longo da temporada o Doctor foi voltando àquele estado de dúvida sobre si próprio. Ele já tem demasiados fantasmas que o assombram e por isso não precisa de mais e larga os Pond enquanto é tempo. A companhia deste louco com uma caixa azul pode ser fatal. Por todo o desenvolvimento nesta direcção gostei muito do seu casamento com River Song, em especial aquele momento em que ela lhe mostra as várias respostas que obtiveram do Universo quando pediram para ajudar o Doctor. Ele pode estar a pensar que o Universo não precisa de si, mas o Universo discorda. Sim ele é o louco que viaja numa caixa azul, o louco que dedica a sua vida a salvar os outros, vezes e vezes, sem conta. Que Universo estaria melhor sem ele? Doctor é aquele que ajuda e esse significado ficou bem mais gravado no Universo do que guerreiro.
Tal como Davies, Moffat também gosta de reunir uma série de personagens que passaram pela vida do Doctor, claro que são as personagens das suas temporadas. Pode soar estranho que quando o Doctor se despede dos seus melhores amigos, apenas convide os Pond. Onde está, pelo menos, Martha Jones? Ora bem, deve estar a viver a sua vida. Este é um novo Doctor, que mesmo nunca esquecendo ninguém, acaba por ter de ir seguindo a sua vida, enquanto os outros também. Todos envelhecem e morrem, enquanto ele continua. É claro que isto não deixa de ser uma série e seria extremamente complicado manter sempre todas as personagens a aparecer, mas graças à regeneração do Doctor muita coisa consegue ser renovada na série e fazer sentido, que jogada de mestre. De qualquer das formas foi muito boa a menção a Brigadier Lethbridge-Stewart - um grande amigo do Doctor desde a segunda regeneração - e aos Companions da era Davies. Vale a pena mencionar também a forma como Amy deixou a Madame Kovarian morrer. Nada daquilo acabou por acontecer, mas finalmente vimos a fúria da mãe Amy Pond.
Na 5º temporada, pela primeira vez, não tivemos de nos despedir de ninguém. Nesta sexta o desenrolar dos acontecimentos também não surgiu como um adeus definitico (esta palavra é sempre relativa nesta série), por isso acho que a equipa vai continuar na 7º temporada por mais alguns episódios pelo menos.
Antes de parar de escrever queria ainda mencionar a forma como o 11º não queria morrer. Sendo bastante diferente do 10º são Doctors que se tocam em determinados pontos e outro é nesta vontade de viver. O 9º sempre proclamou o quão grandiosa é a vida, mas sempre teve uma aura mais melancólica em torno da sua pessoa. Uma aura que os outros também carregam, mas que conseguem não mostrar tanto pela razão apontada no início deste parágrafo.
Agora fica no ar a grande questão, aquela que traria o silêncio se fosse proclamada:
DOCTOR WHO?
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sexta-feira, fevereiro 14, 2014
As Águias De Roma IV
Novo texto no "ACalopsia", desta vez sobre o mais recente volume de "As Águias de Roma" de Marini e editado pela ASA no ano passado.
Para lerem mais sobre isto passem por lá, é só clicar aqui.
quinta-feira, fevereiro 13, 2014
Calvin & Hobbes - O Regresso às Bancas
Já tinham reparado na escassez de livros de "Calvin & Hobbes" nas livrarias? Pois bem a colecção estava praticamente esgotada. Por isso é com muito entusiasmo que aviso que a Gradiva vai reeditar tudo novamente.
Estas histórias de Bill Waterson deviam sempre estar disponíveis para se darem a conhecer. Aqueles que quiserem compeltar ou até mesmo iniciar a colecção podem começar dentro em breve. Estas novas edições serão, contudo, em formato diferente do antigo. O primeiro será chamado "O Essencial de Calvin & Hobbes" que contém as histórias publicadas nos anteriores "Calvin & Hobbes" e "Há Monstros Debaixo da Cama".
Watterson voltou a ser destacado este ano ao ter vencido o grande prémio do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, onde concorria conta outros nomes de enorme peso, como os de Alan Moore e Katsuhiro Otomo.
Segue a nota de imprensa:
A Gradiva, que lançou e publicou a obra completa de Bill Watterson,
vai reeditar, a partir do mês de Fevereiro, todos álbuns da série. Já em
Fevereiro, reedita O Essencial de Calvin & Hobbes.
Com o objectivo de divulgar junto das novas gerações (para adultos,
jovens e crianças) uma série absolutamente única na história do cartoon,
a Gradiva vai reeditar todos os álbuns que se encontravam esgotados.
A Gradiva iniciou a publicação da série Calvin & Hobbes em
1992 com um álbum com o mesmo título ao que se seguiu a publicação de
todos os outros livros da colecção cujo enorme sucesso ditou na altura a
reedição consecutiva da obra.
Para Guilherme Valente, editor da Gradiva, que, curiosamente,
descobriu a série no jornal South China Morning Post de Hong Kong e a
levou aos seus amigos do então nascente jornal Público, quando
preparavam o número zero, que o acolheram com muito entusiasmo (mais
particularmente Henrique Cayatte que logo o quis editar, de tal modo que
Guilherme Valente costuma gracejar dizendo que o Calvin teve em
Portugal dois pais) - «A obra de Bill Watterson é absolutamente única,
um clássico, e, por isso, aproveitando o facto de as tiras estarem agora
a ser republicadas pelo jornal Correio da Manhã, decidimos relançar
todos os álbuns investindo significativamente na promoção desse
lançamento, porque achamos que a série merece absolutamente ser lida
pelas novas gerações.»
Bill Watterson, o autor da série Calvin & Hobbes, nasceu
em Washington DC em Julho de 1958. Formou-se em Ciência Política no
Kenyon College em 1980 tendo começado a trabalhar de seguida no
Cincinnati Post como cartoonista. As tiras Calvin & Hobbes
foram publicadas pela primeira vez em Novembro de 1985 e hoje em dia
estão traduzidas em mais de 40 línguas tendo vendido cerca de 30 milhões
de exemplares em todo o mundo.
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HAWK - Lançamento
Para quem está mais a par do panorama de BD nacional, o nome de André Oliveira não será desconhecido. A sua participação em vários fanzines e projectos ligados à BD, rapidamente fizeram sobressair o seu nome enquanto argumentista de BD.
Já tinha falado de "Living Will" o mini-comic que começou a publicar no final do ano passado. Agora venho avisar sobre "HAWK" a sua primeira BD (mais longa) a ver a luz do dia sob a chancela Kingpin Books. PArece que chegou a altura de os trabalhos mais longos de Oliveira começarem a ver a luz do dia. Isso são excelentes notícias para quem já era fã do seu estilo de escrita.
O desenho está a cargo de Osvaldo Medina, um dos nomes que mais tem estado associado à "Kingpin" nestes últimos anos, contando com trabalhos como "Fórmula da Felicidade", "Mucha" ou "Super Pig: Roleta Nipónica". Na cor temos a estreante Inês Falcão (a ironia) Ferreira.
Segue a nota de imprensa sobre o lançamento oficial:
Vicente percebe que está à beira do colapso.
Sem emprego, sem uma família presente e com uma relação amorosa ainda por resolver, passa os dias em casa da sua recém-falecida avó cuja morte decidiu não enfrentar. Quando o pai anuncia que vai deixar de poder pagar-lhe as sessões de psicanálise, sente que está definitivamente entregue às fobias de sempre. Mas, à beira de mais um fim-de-semana de reclusão, algo de inesperado acontece...
HAWK é uma história autêntica e emocionante que fala de prisão e de liberdade, onde uma pequena experiência pode significar grandes mudanças.
Escrito por André Oliveira (Living Will), ilustrado por Osvaldo Medina (prémio FIBDA de Melhor Desenho para Álbum Português com Super Pig – Roleta Nipónica) e colorido a aguarela tradicional por Inês Falcão Ferreira, HAWK é mais um álbum com a chancela de excelência da Kingpin Books. O lançamento oficial está marcado para o dia 14 de Fevereiro, pelas 18h, na Sala Ogival do Castelo de São Jorge, em Lisboa, seguindo-se uma apresentação no dia seguinte, às16h, na Kingpin Books.
80 Páginas, cor.
Formato: 23,2x17,6cm, capa dura.
PVP (C/IVA): 13,95EUR (Preço de lançamento: 12,99EUR)
ISBN: 978-989-8673-04-6
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quarta-feira, fevereiro 12, 2014
Doctor Who - Temporada 5
SPOILERS
Amy Pond: I thought... Well, I started to think you were just a mad man with a box.
The Doctor: Amy Pond, there's something you better understand about me 'cause it's important and one day your life may depend on it: I am definitely a mad man with a box.
A temporada 5 marca mais uma fase regenerativa, não só do Doctor, como da própria série. Depois de dizermos adeus a Russel T. Davies e a David Tennant, é tempo de abrir os braços para receber Steven Moffat e Matt Smith.
Apesar da tristeza natural de uma despedida, o sentimento de que "Doctor Who" ficaria em boas mãos tornava-nos, ao mesmo tempo, expectantes. Moffat já nos tinha dado alguns dos melhores episódios da série e Smith teve uma entrada triunfal quando surgiu pela primeira vez. São escassos minutos, mas minutos onde Smith nos faz enxugar as lágrimas e sorrir. Cuspindo numa Tardis em chamas e gritando "Geronimo" aí vai ele a cair e nós seguimo-lo.
A mudança no leme da série fez-se logo sentir no primeiro episódio, "The Eleventh Hour", o episódio introdutório ao novo Doctor, mas também à nova Companion, nova Tardis, nova roupa (e sim Laços são altamente), novo tema musical e até novo sonic screwdriver - já agora novos efeitos especiais também. Nesta história podemos encontrar, pelo menos, duas características que já haviam sido vincadas por Steven Moffat nesta série - durante a era de Davies. Ele gosta de explorar as potencialidades das linhas temporais e gosta de nos mostrar um Doctor com uma presença imponente. Em relação à primeira atente-se, por exemplo, às semelhanças entre a história do Doctor e da Amelia Pond com a do Doctor e da Reinette em "The Gir in the Fireplace" (Temporada 2). Em relação à segunda é claro que a forma como o Doctor se apresenta aos seus adversários do planeta Atraxi nos recorda a que havia feito aos Vashta Nerada em "Forest of the Dead" (Temporada 4).
Independentemente disso tudo a relação que nasce entre o Doctor e Amelia Pond neste "The Eleventh Hour" é absolutamente deslumbrante e digna de figurar entre as mais belas histórias de encantar (se estas puderem ter sci-fi, monstros e afins). Como é que estas raparigas podem conseguir não ficar encantadas com esta personagem que surgiu nos seus momentos de maior aflição para as salvar? É impossível. Posso afirmar já que terminada a temporada este continua a ser o episódio que mais me marcou e um daqueles que merece figurar na lista dos melhores da série.
Todos os Doctors são diferentes e, principalmente, por isso faz sentido que todos tenham o seu predilecto, aquele por quem nutrem maior empatia. Mas independentemente disso há que dar o mérito à série de ter conseguido criar sempre Doctors fascinantes (restringindo-me à série de 2005) cujo actor foi tremendamente bem escolhido. Matt Smith logo no primeiro episódio dele prova-nos isto tudo que estou a dizer, ele é "o" Doctor e um dos melhores. Smith acaba por ser também o Doctor mais novo na história da série e isso vai além do físico. Estamos a falar de uma personagem com cerca de 900 anos, mas que neste corpo mais juvenil acaba por trazer um certo espírito infantil e destrambelhado aos episódios, mantendo, ao mesmo tempo toda aquela experiência de vida. Smith consegue captar todas estas nuances maravilhosamente. Obviamente que se nota também neste Doctor muita coisa de Moffat, para começar no humor. Estamos a falar do criador da hilariante "Coupling" e, de facto, há aqui falas divertídissimas. Outro aspecto que achei curioso é que como o Doctor é um génio - com uma mente que trabalha a mil à hora -, por vezes o Moffat retrata-o de uma forma que me faz lembrar o seu Sherlock na série da BBC, até a forma como determinados planos nos mostram uma qualquer dedução remetem para a série mencionada.
Aliado à ruiva, que esperou por ele desde criança, o Doctor continua assim as suas aventuras em "The Beast Below", episódio onde tivemos de tudo um pouco: o excelente humor, uma trama misteriosa e uma resolução cheia de bons sentimentos. Um episódio tão bom que peca por no final se esquecerem que aquela baleia parece alimentar-se de humanos e isso foi um problema que ficou por resolver. Tudo bem não é claro, mas a dada altura afirmam que deitam para a sua boca as pessoas menos produtivas ou os opositores. Vamos ainda a dois episódios e tanto o Doctor como a Companion parecem perfeitos um para o outro e para nós.
"Victory of the Daleks" é menos apelativo, apesar de nos mostrar que o Doctor é amigo de Winston Churchill. Mas mesmo tendo sido dos episódios mais fracos da temporada, há que reconhecer que estes têm sempre graça. Veja-se "The Vampires of Venice", já o vi em listas de piores episódios, mas tem frases tão, mas tão divertidas que não vejo como se pode não gostar dele.
Pelo meio dos dois anteriores ainda tivemos "The Time of Angels" e "Flesh and Stone", uma história que trouxe duas personagens de volta e que foram criadas por Moffat: River Song e os Weeping Angels. Sobre os Angels, não esperava um "Blink 2" e felizmente não o tivemos. Moffat deu a conhecer um pouco mais as criaturase teve a sufocante ideia de colocar um weeping angel
escondido numa gruta rodeado de outras estátuas. Posteriormente saberíamos que
não era bem assim, mas essa componente narrativa foi bem planificada e trouxe
novamente um dos episódios mais sufocantes. Os Weeping Angels são exímios
nisso.
Agora concentremo-nos em River Song. A ideia de ter uma
personagem importante na vida do Doctor (estou cada vez mais convencido que é a sua mulher)
a encontrar-se com ele em diferentes momentos do tempo (de cada um) é genial. Para
ser ainda mais interessante seria engraçado ter diferentes versões do Doctor a encontra-la
e não só uma. Por isso Moffat aproveitou para introduzir a personagem com o
David Tennant, que acabaria por ser a primeira vez que o Doctor a conheceu e,
consequentemente, a última. Agora a personagem volta a surgir e interagir com
Matt Smith, mas espero que não seja este
o Doctor que ela conheceu primeiro, seria ainda mais giro se houvesse pelo
menos mais uma versão, por exemplo, a 12º com Peter Capaldi. Mas isso o futuro
o dirá.
Nestes episódios ficamos a saber que River está presa porque
matou um dos melhores homens do Universo. Terá sido o Doctor? Será ela a
causadora da sua próxima regeneração? O storytelling de Moffat é realmente
empolgante, ele atira-nos uma série de possibilidades à face e é impossível não
querer devorar os episódios. Infelizmente no final é que nem tudo é resolvido
da melhor forma, mas já lá vamos. Outro aspecto a salientar é que Moffat parece mais interessado em criar novos vilões, ao invés de ir beber à mitologia antiga para os eventos principais.
No final dos anjos quando Pond e o Doctor se encontram no quarto dela, na véspera do seu casamento com Rory, temos um daqueles momentos que nos provam o quanto ele não é humano. Como é que ele conseguiu resistir aos encantos de Miss Amy Pond? Só mesmo sendo um ser extraterrestre. É a partir daqui que Rory se junta ao gang, uma adição que tem especial ênfase em "Amy's Choice" que se trata de mais uma peça exemplar de um episódio de "Doctor Who". Repleto de mistério é um episódio que nos coloca a distinguir entre sonho e realidade, aproveitando para desenvolver melhor estes novos companions e também este novo Doctor. O final foi soberbo e até tivemos direito a vislumbrar o lado negro do Doctor de uma forma que nunca tínhamos visto antes. Este é um ponto que a série parece não querer esquecer, ou seja, o facto de que há um lado perigoso dentro do salvador do Universo e que isso pode ser o seu pior inimigo.
"The Hungry Earth" e "Cold Blood" trouxeram-nos os Homo Reptilia, criaturas que evoluiram a partir dos répteis e se encontram a viver debaixo da Terra. Um episódio que podia ter marcado a diferença no Tempo, criando um tratado entre os Homo Sapiens e os Homo Reptilia mais cedo, mas que acabou por ser involuntariamente sabotado por uma humana. Foi um episíódio que se aventurou muito no lado da fantasia, mas que me parece ter resultado. Ainda que não se destaque entre os melhores, valeria sempre a pena pela forte componente sociológica. No final tivemos a morte de Rory que se sacrifica pelo Doctor. Aqui como já sabia que ele iria aparecer no futuro, não temi pelo rapaz, cuja quimica é cada vez maior na série.
Depois, antes do grande final, tivemos "Vincent and The Doctor" e "The Lodger", que se destacam também entre os favoritos da temporada (não, da série toda). Existem vários géneros de episódios nesta série e a interacção com personalidades históricas é um clássico. Vincent Van Gogh ficará registado como uma das personalidades que mais marcou o universo de Who, aquele final com ele a vislumbrar admirado o sucesso que terá no futuro foi mesmo muito poderoso. Como não gostar deste trio de aventureiros?
"The Lodger" deixou Amy um pouco de lado (e em perigo) e focou-se mais no Doctor cujas aventuras foram dignas de uma sitcom ao estilo de "Terceiro Calhau a Contar do Sol". Divertídissimo episódio e o mistério em questão, do qual esperava pouco, até foi bem engraçado.
Por fim chegamos à conclusão daquilo que começou a ser revelado em "The Eleventh Hour". Ao longo de toda a temporada a racha que vislumbramos no quarto de Amy foi ficando cada vez mais vísivel. Por vezes o seu poder até eliminava pessoas da existência, era como se estas nunca tivessem nascido sendo esquecidas por todos. Este tenebroso poder foi crescendo, bem como referências à caixa de Pandorica e à destruição da Tardis. Tudo planeado para despoletar no episódio duplo: "The Pandorica Opens" e "The Big Bang".
Russel T. Davies era conhecido por criar finais de temporada épicos. Em cada temporada ele elevava mais a fasquia acabando por colocar os heróis num canto. A única forma de estes se salvarem e ao Universo, por norma, envolvia um acontecimento quase divino. Apesar de o estilo ser tão diferente entre Davies e Moffat, o segundo acabou por se aproximar do primeiro na parte do "colocar os heróis num canto". Também Moffat criou uma situação estimulante mas muito dificil de o Doctor superar. De forma a dar a vitória aos heróis, ele não introduziu compenentes divinas, mas mexeu com aquilo de que mais gosta, o Tempo. Infelizmente isso não me convenceu. Já sabemos que aqui o tempo não é linear, que acontecimentos como os que ocorreram em "Blink" podem acontecer. Contundo, quando o Doctor é salvo da prisão porque uma versão sua do futuro o ajuda, parece batota por parte de Moffat. Ele não pode recorrer sempre a este mecanismo, soa a repetitivo e, neste caso, tirou poder ao episódio. Foi um golpe fácil e não esperava isso dele, até porque Moffat sabe trabalhar bem os seus enredos, aquele momento em que vemos o Doctor ir ter com Amy no episódio dos Weeping Angels foi um dos momentos mais formidáveis do episódio. Também adorei que os vilões do Doctor formassem uma aliança, algo nunca
visto até aqui, mas que se compreende tendo em conta que toda a existência está em jogo. Ainda assim porque não matar o Doctor em vez de o prender?
Quantoa o resto, é normal que os acontecimentos sejam grandiosos, que seja necessário um Big Bang 2 para salvar o mundo e que Amy não esqueça o Doctor para ele não ficar fora desta nova criação. Tudo isto é "Doctor Who" e faz parte deste majestoso épico de fantasia. Quem diria que a vida de Pond estavam tão ligada a toda a temporada? E como não adorar o Rory de plástico que vestido de centurião romano vigiou Amy durante 2000 anos?
A ameaça nesta season finale foi digna de ser equiparada com qualquer uma das de Davies. Contudo, Moffat gosta de complicar mais as coisas e isso pode ser muito interessante. Claro que para complicar é preciso trazer resoluções à altura e apesar de a história fluir muito depressa, de uma forma geral acho que o espectador preenche aquilo que lhe falta. O meu maior problema foi mesmo aquele já mencionado. Moffat não pode recorrer sempre ao mesmo truque. De resto nem tudo foi resolvido, ainda há mistérios por decifrar, mas isso agora é para a próxima temporada.
No geral, adorei a temporada, contudo se já contava com as qualidades de Moffat, agora enquanto showrunner, também lhe começo a detectar os defeitos, que todos temos - Davies também tinha os seus. Estamos claramente perante uma direcção diferente, mas uma igualmente estimulante. Venha a 6º temporada e:
GERONIMO!!!!!
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