Para descrever o que este filme é para mim, vou pedir emprestadas as palavras mais proferidas por Abed Nadir de "Community" e que são: "Cool, cool, cool". "The Avengers" tem muita pinta e é pura diversão ao mais alto nível, é tudo aquilo que esperava de um filme deste calibre e que consegue a proeza máxima, aquilo que todos os filmes deste género deviam almejar, que é despertar a criança que há em nós.
Pela ambição, este projecto seria sempre lembrado, é afinal de contas, a primeira vez em Cinema que se junta uma equipa destas. Claro que já existem filmes de equipas de Super-Heróis, temos os "X-Men" com alguns títulos soberbos e os "Fantastic Four", infelizmente dispensáveis. Porém, todas estas nasceram já como equipas na BD, os Avengers não. Os Avengers, tal como a Liga da Justiça para a DC é aquela equipa com que todo o leitor de BD sonha, a equipa em que se reúnem os Super-Heróis individuais mais populares. Por isso mesmo foi uma sábia decisão terem introduzido todos os protagonistas em filmes individuais primeiro, tal como havia sido feito na BD. A espera para chegar até aqui foi mais longa, mas compensou, em "Avengers" não se perde tempo a introduzir as personagens, isso já foi feito e se fosse de outra maneira metade do filme seria gasto nisso.
Mas, vamos por partes. Porque é que este filme funciona assim tão bem? Na minha opinião vou salientar os factores que considero mais relevantes. Para começar "o homem do leme", Joss Whedon, temos aqui um senhor que percebe de BD, que aliás, já escreveu para BD e por isso sente-se que as personagens foram bem entregues, há não só respeito por elas como as suas personalidades são muito bem exploradas aos quais Whedon adiciona o seu toque de humor. Se há coisa que sempre apreciei neste senhor foi precisamente o seu sentido de humor aguçado que para quem está familiarizado com o seu trabalho ("Firefly", "Buffy") irá certamente reconhecer o seu toque neste filme também. Outra coisa importante é que Whedon sabe realizar filmes, como já provou em "Serenety" (sim é uma boca ao "Spirit"). As sequências de acção em "Avengers" são muito bem pensadas, ver esta equipa a lutar em todo o seu esplendor e glória é magnífico. Aliás todo o espírito de diversão da BD é algo que se sente muito neste filme, essa transposição ocorreu na perfeição, são vários os momentos icónicos a que assistimos, desde um Hulk a tentar levantar o Mjolnir ou um Tony Stark a experimentar a sua nova armadura.
Chris Hemsworth interpreta novamente Thor, o deus nórdico do trovão, pessoalmente sou dos que gostou muito da escolha. O seu Thor é seguro, imponente, divertido e acima de tudo, com um sentido de honra fortíssimo. Neste filme gostei particularmente da forma como exploram a sua relação com Loki, pois para todos os restantes Loki é apenas o vilão, mas para Thor é o seu irmão também. Por falar no deus da trapaça o que dizer de Tom Hiddleston? Nada, além de elogios. Excelente escolha para vilão, de todos os filmes anteriores era o que tinha mais estofo para ameaçar uma super equipa destas. Hiddleston já tinha sido um dos pontos mais fortes no filme "Thor", aqui regressa à sua personagem, que anseia por vingança mais do que nunca, e volta a entregar-nos uma representação fascinante que o coloca no pedestal dos grandes vilões de BD adaptados ao cinema. Os seus discursos sobre a liberdade, focando que com a sua liderança o nosso mundo conheceria a verdadeira paz, tornam-no um vilão ainda mais interessante.
De todos estes Super-Heróis, o mais mal tratado foi o Hulk, que é também a pedra no sapato deste franchise, não só por o "Incredible Hulk" de Louis Leterrier ser o pior de todos, mas porque o actor teve de mudar também. Claro que este factor inicialmente negativo acabou por ser muito bom, para mim Mark Ruffalo tem mais de Bruce Banner do que Edward Norton, não desfazendo o grande actor que este senhor é. E felizmente o Hulk surge aqui como a força da natureza que é, esqueçam o passado, este sim é o verdadeiro monstro verde que rouba todas as cenas em que entra e cuja voz volta a ser dada por Lou Ferrigno. Pessoalmente preferia que tivessem feito a ponte com o Hulk de Ang Lee, melhor filme e também com um bom Banner (Eric Bana), e essa ponte nem seria difícil de construir, os filmes facilmente se uniriam, não fosse pelo pequeno pormenor de dizerem que o Banner se transformou quando tentava recriar a fórmula do super soldado que criou o Captain America.
Por fim, temos Black Widow e Hawkeye, a espia e o sniper, os humanos e únicos membros da SHIELD a integrarem a equipa e que por isso partilham uma ligação maior entre eles os dois. Filme que é de Joss Whedon tem de ter uma rapariga jeitosa a distribuir quilos de porrada, Scarlett Johansson é essa rapariga e se não era nada uma escolha óbvia para esta personagem, tem cada vez mais ganho a minha simpatia. Jeremy Renner que tinha tido um cameo curto mais precioso em "Thor" regressa agora com bastante mais tempo de antena. O uso das suas variadas setas foi muito bem conseguido e sempre com muito estilo, dá realmente para acreditar que nos dias de hoje alguém ainda privilegie este tipo de armas.
A SHIELD revela-se finalmente neste filme, agora sim temos uma boa visualização do funcionamento desta equipa. Quando vemos a sua base de operações é um momento que qualquer fã da BD vai vibrar e por isso mesmo não me vou estender mais sobre o assunto para não estragar a surpresa. Nick Fury está de regresso e desta vez mais do que meros minutos. Há uma diferença muito significativa entre Samuel L. Jackson e os restantes actores. É que ao contrário dos outros, Jackson já tinha sido escolhido na própria BD como Nick Fury. Não na versão clássica, mas na versão "Ultimate" (ver aqui). Por falar em "Ultimates" as influências deste universo são muito notórias nas novas adaptações da Marvel, neste filme é-nos novamente recordado isso logo ao início quando revelam que o exército reunido por Loki é do povo Chitauri, nome pelo qual os Skrull são mais conhecidos na Terra do universo "Ultimate". Se gostaram deste filme, aconselho a espreitarem o segundo volume de "Ultimates" não só porque é bestial, mas porque a história também recai sobre a invasão dos Chitauri.
Como braço direito e esquerdo de Fury temos o já bem conhecido Agent Phil Coulson (Clark Gregg) e a estreante (em Cinema) Agent Maria Hill (Cobie Smulders). Phil é a personagem da SHIELD que estabeleceu maior ligação com os heróis como é visível nos filmes anteriores, pode ser uma personagem secundária mas a sua importância é tudo menos isso. Quanto a Cobie Smulders foi bom vê-la fora de "How I Met Your Mother" mesmo sendo uma aparição relativamente curta.
Esta é a história sobre a reunião da equipa de heróis mais poderosa da Terra. Indivíduos tão únicos e dispares que acabam por unir forças em prol de um bem maior. Banner diz a dada altura que isto não é uma equipa, é uma bomba-relógio, no final, fica a sensação de que mais do que isso, agora, é uma família e no fundo é tão simples quanto isso. Quem gosta deste tipo de filmes, não vai certamente sair desiludido, temos aqui aquele que será não só um dos melhores blockbusters do ano, mas também um dos melhores filmes do género feitos até à data. Isto sim é entretenimento do melhor e tendo sido o primeiro filme da Marvel a ser distribuído pela Walt Disney é caso para dizer que esta aquisição tem tudo para dar grandes frutos.
Gostava era de ver as personagens da Marvel mais unidas no Cinema e não tão separadas por diferentes produtoras. Não seria excepcional ver cameos do Spider-Man, do Wolverine ou do (cof cof) Silver Surfer? Posso estar a sonhar alto, mas depois deste filme, como é possível não o fazer? Principalmente depois de ver o potencial vilão da sequela após os créditos finais.